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quinta-feira, 31 de março de 2022

Estudo da Parashá Tazria (Conceber)

 

Estudos da Torá


Parashá nº 27 – Tazría(Conceber)

Vayicrá/Levítico Lv 12:1-13:59,

Haftará (Separação) 2Rs 4:42-5:19; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mc 15:1-16:20; Lc 8:42-48


1 - INTRODUÇÃO

Veremos agora no resumo da parashá, que após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá (impureza) resultante de animais mortos, a Parashá Tazria introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat. Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma doença espiritual, ou seja, devido à desobediência, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.

Conhecida como metsorá, que será a parashá que estudaremos semana que vem, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele, está sujeita a uma série de exames por um cohen (sacerdote), que declara se o paciente está tahor ou tamê. Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.

Essa semana estudaremos sobre algumas impurezas que podem afligir o ser humano, entre elas o fluxo de sangue da mulher ao dar a luz e a “tsaráat”, que conforme já disse, foi equivocadamente traduzida como lepra. E o que essas impurezas significam nas vidas dos servos de HaShem. Poderemos ver que muito do que é falado e ensinado pela Torá é profético, e parte já se cumpriu na vida de Yeshua, e se cumprirá na vida de todos os que lhe são fiéis.


2 – ESTUDO DO TEXTO

12:1-2 “E falou o Eterno a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: A mulher, quando conceber e der a luz um varão, será impura por sete dias; como nos dias da impureza de sua indisposição será impura


Antes de iniciar o comentário do texto da parashá Tazria, quero trazer à nossa reflexão algo que achei interessante, um artigo sobre Dores do Parto - Por Yoel Spotts, do site chabad.org. Ele começa dizendo que, ao escrever um romance, o escritor certamente será cuidadoso para arranjar a trama de maneira lógica e ordenada, fazendo as transições de um tópico a outro de maneira suave. Da mesma forma, poder-se-ia esperar que a Torá, sendo a fonte da vida para o povo judeu e tendo muito mais importância que um romance, seguisse a mesma linha. Entretanto, a seção introdutória da porção desta semana da Torá parece divergir desta consistência requerida.

Segundo o mencionado artigo, a Parashá Tazria começa com uma discussão das leis sobre o status de uma mulher que acaba de dar à luz, e os vários procedimentos que devem ocorrer com ela e a criança. A Torá então imediatamente prossegue com uma descrição detalhada dos diferentes tipos de manchas e descolorações que podem tornar um indivíduo um metsorá (afligido). Estes dois assuntos – a mulher que acaba de dar à luz e uma pessoa que está sofrendo de tsaráat – poderiam parecer totalmente desconectados. Por que então estão colocados tão próximo um do outro?

Lembre-se que nada nas Palavras do Eterno (Hakadosh Baruch hu) estão soltos ou são sem propósitos. Sendo assim o autor continua seu artigo, afirmando que para responder esta pergunta, seria lógico examinar primeiro os detalhes destas duas leis. Em Vayicrá/Levítico 12:7, lemos que uma mulher que teve um filho deve trazer uma oferenda: "O Cohen oferecê-la-á perante D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu sangue; esta é a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina."

Esta lei provoca uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?

O artigo continua, e nos diz que os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante a este problema: enquanto está sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta mulher tenha jurado jamais retornar a seu marido, a fonte e causa de seu sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra totalmente, volta para seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade está quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob grande angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida de realizar qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não pode ser desprezado. Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de obter completo perdão ao trazer uma oferenda.


Se mudarmos nossa atenção, agora ao segundo ponto em questão, aponta o autor do artigo, a aflição da tsaráat, descobrimos que a Torá inicia sua discussão da pessoa atacada por esta doença sem nenhum tipo de introdução; o leitor é lançado imediatamente numa discussão abrangente das várias formas e manifestações da tsaráat. A Torá não menciona a causa do tsaráat em lugar algum, dessa forma deixando a pessoa imaginar qual pecado poderia precipitar esta doença no corpo ou na propriedade de alguém. Rashi oferece uma resposta baseada sobre o Talmud, de que a causa primária do tsaráat é o grave crime de lashon hará (língua maliciosa). A fim de avaliar a gravidade de suas ações, aquele que fala lashon hará é afligido com tsaráat. Não apenas a pessoa afetada deve lidar com lesões cobrindo seu corpo, como também é forçada a separar-se da comunidade em geral, e suportar um longo processo de cura, assinalado por repetidas visitas do Cohen, para determinar o status e o desenvolvimento da doença.

Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento e leve-a ao arrependimento, explica o autor. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição destes assuntos aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", o Judaísmo atribui muito mais importância e significado à palavra falada.

O artigo do mencionado site conclui dizendo que, toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em meio as dores do parto deve ser contabilizado. Até um comentário aparentemente inofensivo sobre alguém deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos permitir que nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado. Assim como a Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu, mas através da palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e santificar nossas palavras.

Então ao começar nosso estudo do texto, podemos perceber que, no início dessa porção, logo no verso 1, lemos que a Torá nos fala sobre a mulher que “concebe” – “Tazría” – e dar a luz um varão ficará impura por sete dias. Perceba que conceber é diferente de dar à luz. A concepção acontece normalmente 38 semanas antes de um parto normal. O momento da concepção terá influência no futuro da criança. Os rabinos de Israel afirmam que, se os pais se relacionam intimamente em santidade e pureza, a criança é concebida em santidade e pureza. No entanto, se um dos pais tem lascívia sexual, esse espírito é transmitido ao feto no momento da concepção e no futuro é muito provável que essa criança tenha problemas para dominar os seus desejos sexuais. Observe o que está escrito em 1 Tes 4:3-5:


Porque esta é a vontade de Elohim, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição; Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; Não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Elohim.


O termo “vaso é uma referência ao corpo. E indica que devemos saber cuidar do nosso corpo em santidade. E se observarmos bem, nesse caso, pode referir-se também ao corpo da esposa. E aprendemos com isso, como é importante tratar a esposa com santidade e honra, sem lascívia sexual como os gentios que não sabem dominar os seus instintos animais.

Depois da concepção, após as 38 semanas vêm o parto, e a mulher fica em um estado de impureza ritual, em hebraico “tamé” como no tempo da sua menstruação. A palavra hebraica que foi traduzida como separação é “nidá”, e significa “impureza”, “separação”, “menstruação” e vem da raiz “nadad” que significa “errar”, “fugir”, “afastar-se”. A ideia que a Torá nos dá é que o tempo de “nidá” (separação) é um tempo de afastamento da mulher relativamente ao seu marido, para se curar da sua ferida interna. E segundo a Torá, este período é de sete dias, mais trinta e três dias, se for menino, mas se for menina o período é de duas semanas mais sessenta e seis dias, conforme lemos no verso 2 a 5 dessa porção e também em Lv 15:19. Depois do período de “nidá”, ela submerge-se em águas purificadoras em uma mikvê (tanque de imersão ou banheira), para se poder unir novamente ao seu marido.

No verso 2, encontramos o seguinte: “...dias de impureza de sua indisposição será impura.” O comentário da Torá da Editora Sefer diz que, essa impureza da mulher, motivo pelo qual ela se afasta do marido por sete dias durante a menstruação, chama-se em hebraico “nidá”, que de acordo com o mencionado acima, significa entre outros “separação” e nela está proibida toda intimidade com seu marido. As leis de “nidá” baseiam-se naquilo que está escrito em Levítico 15:19-24, que veremos na próxima parashá. Além disso, existe um tratado completo no Talmud como o mesmo nome, dedicado à amplificação dessas leis.

Ainda segundo esse comentário, os cientistas maravilham-se diante do fato de que os antigos hebreus praticavam o mais alto padrão de higiene sexual reconhecido nos tempos atuais. E tem sido demonstrada também a existência de uma substância tóxica no soro do sangue, na saliva, na transpiração, na urina e em todas as outras exudações da mulher durante o período da menstruação.

Com isso, podemos observar, como o Eterno cuida de seu povo, dando mandamentos benéficos para a vida do ser humano. Verdadeiramente a Torá é vida para os servos do Eterno!

Vamos entender, então claramente, no caso do nascimento de um menino, a mãe entra num estado de “nidá” ou seja, impureza absoluta, durante os primeiros sete dias depois do parto, igual ao período da menstruação. O dia do parto é contado como o primeiro dia, ainda que falte apenas uma hora para o pôr-do-sol, o início de um novo dia. Nesse estado havia proibições como não ser permitido tocar ou comer as coisas sagradas, não podia entrar no santuário e nem comer do cordeiro de Pessach. Segundo o comentário da Torá da Editora Sêfer, depois terá trinta e três dias de interdição menos rigorosa, este tempo chamava-se Demê Taborá (período de purificação). Ao final dos 40 dias, se fosse menino, fazia a tevilá, imersão em uma mikvê para se purificar. E segundo o texto passaria ao estado de “Tamé”, ou seja, pura. No verso 4 entendemos que mesmo que haja sangue nesses 33 dias de purificação, não será necessário acrescentar mais tempo, pois aqui não se aplica a mesma lei de Lv 15.19.

Quando nasce uma menina o tempo de “nidá” e de “tamé” são dobrados. A Torá não explica a razão pela qual isso acontece. Mas o fato de fazer com que a mulher fique mais tempo em recuperação depois do nascimento de uma menina, não é para discriminar a mulher ou o homem, mas sim por outras razões que não conhecemos. O fato é que todos os mandamentos foram dados para o bem do ser humano. No entanto, de acordo com o site “emunah a fé dos santos” encontramos o seguinte:


Contudo, podemos encontrar algumas explicações que nos podem dar um pouco de luz sobre esta diferença. Os pediatras modernos provaram que depois do nascimento de uma menina, ela tem mais necessidade psicológica do que um menino de permanecer perto da sua mãe. Logo este mandamento foi dado, entre outras razões, para ajudar a menina a ter um bom desenvolvimento psicológico, e possivelmente, também da mãe.”


No verso 6 lemos que após cumprir os dias de purificação, a mãe deveria levar um cordeiro para holocausto e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado. Então seriam dois sacrifícios um para ascenção (holocausto – olá) e outro para expiação de pecado (chatat).


Para que servia o holocausto (olá)?

Como vimos nas porções anteriores, esse sacrifício representa entrega total. E podemos aprender em primeiro lugar que a mãe agora tem a oportunidade de renovar sua entrega total ao Eterno, através deste sacrifício. O primeiro mandamento deve ser observado em qualquer situação de nossas vidas, ou seja, amar a Deus acima de todas as coisas, mas durante sua gravidez a mulher pode vir a perder a observância desta lei, e o holocausto é a oportunidade para mostrar ao Senhor que ela ainda observa a Torá. Apesar do nascimento do filho ou da filha, ela continua a viver para HaShem.

Por outro lado, o sacrifício de olá, também representa a entrega da criança ao Eterno. Os filhos não pertencem aos pais, mas ao Pai dos espíritos/sopros. Os pais têm a responsabilidade de educar as crianças no caminho de Deus, porque nasceram para Ele, como lemos em Malaquias 2:15:


E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade.”


O Eterno quer ter uma geração de muitos filhos. Os pais colaboram com Ele para que tenham muitos filhos, assim cumprem com o Seu desejo. Os filhos não são dos pais, são do Eterno. Então a olá que a mãe entrega ao Eterno representa a entrega de si mesma e também do seu filho ao Eterno.

Uma outra pergunta pertinente é: Porque razão uma mulher teria que dar uma oferta pelo pecado depois de dar a luz? Qual teria sido o pecado da mulher?

Os rabinos apontam para essas alternativas:


a. Há uma necessidade de expiar os seus pecados por causa de ter passado por uma prova. Numa prova todos cometem pecados. (Abarbanel);


b. O pecado entrou no mundo pela mulher, e mediante o sacrifício do pecado ela faz expiação por esse erro. (Bechai);


c. Todo o processo de procriação foi afetado quando o pecado entrou no mundo. Um parto doloroso é o resultado do pecado de Eva, cf. Génesis 3:16. A concepção e o parto de uma criança dão-se num mundo de pecado, como está escrito no Salmo 51:5: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” O yetser hará (inclinação para praticar o mal) é transmitido à criança quando é formada. É uma herança pecaminosa. Por essa transmissão há uma culpa sobre a mãe e tem que apresentar um sacrifício pelo pecado.; e


d. Podem ser transmitidos à criança, ainda estando no ventre da sua mãe, complexos, atitudes de rejeição, inferioridade e outras atitudes originadas no pecado. A mulher não pode gerar um filho perfeito, sem pecado. Terá que apresentar a oferta, por ter trazido ao mundo um ser pecador, contrariamente aquilo que o Eterno desejou desde o princípio.


Se fizermos uma leitura em textos da Brit Hadashá, chamado de Novo Testamento, veremos que cada uma dessas observâncias da Torá foram cumpridas na vida da mãe de Yeshua, quando deu à luz ao menino. Em Lucas 2:21-23 vemos sua mãe cumprindo a lei da circuncisão ao oitavo dia, também vemos sua mãe oferecendo os sacrifícios conforme determina a porção em estudo, bem como em Lucas 2:24 encontramos a entrega da oferta de quem era pobre, conforme estudamos em parashiot passadas. E nesse texto vemos também que apesar de não terem condições de darem o cordeiro, eles estavam com o cordeiro. Esse era o cordeiro que Deus tinha determinado, por isso não precisavam de outro cordeiro, apenas dos dois pássaros, que representava a entrega total da mãe e do filho ao Eterno.

Aqui é importante frisar que Maria não passou o Yetser Hará a Yeshua, como podemos entender na leitura de Rm 8.3.


Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, HaShem, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne;”


Yeshua não tinha “carne de pecado”, ou seja, não tinha pecado, na sua carne. Maria deu à luz um corpo que tinha a “semelhança de carne de pecado”. Ele tinha um corpo como de qualquer pessoa, mas ele não usou seu corpo para transgredir aos mandamentos. Yeshua viveria sua vida de forma a não pecar ou transgredir aos mandamentos do Eterno, e isso o faria ser reconhecido como um justo, sem pecado, o que renderia para ele, no futuro um corpo como o havia tido Adão, antes de cair, assim como todos que vierem a ressuscitar quando ele voltar. Apesar de Yeshua ter sido incorruptível, estava em carne, e essa carne que é semelhança da carne do pecado mencionado por Rav Shaul.

Nessa porção também podemos entender que o mito da imaculada conceição de Maria se desfaz mediante o estudo da Torá. Pois Maria cumpriu a entrega do sacrifício pelos seus pecados. Podemos mencionar outros textos que mostram que a Mãe de Yeshua tinha pecados e precisava do perdão por eles:


Em Lucas 1:47 está escrito: “E o meu espírito se alegra em Elohim meu Salvador;” Ela precisava de um salvador como qualquer outro, para que não morresse em seus pecados.


Em Marcos 3:21, 31-35 está escrito:


E, quando os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. (…) Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar. E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe.”


Neste momento, Maria pensava que Yeshua estava louco, e por isso veio com os seus outros filhos para buscá-lo e resolver o problema. Por esse motivo Yeshua não a reconhece como sua mãe e diz que os seus parentes são quem faz a vontade do Pai. Fica claro que ela estava equivocada em relação ao chamado de seu filho, confirmando o que lemos em Salmos 69:8.


Tenho-me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe.”


Isto nos mostra que num momento da vida de Yeshua, nem sua mãe, nem os seus irmãos, filhos de sua mãe, creram nele, conforme João 7:5 diz: “Seus irmãos não criam nele.”


13:2 “Quando um homem tiver na pele da sua carne, inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, na pele de sua carne como praga da lepra [tsaráat], então será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes.”


Conforme encontramos no comentário dessa parashá no site “emunah a fé dos santos”, aqui a Torá introduz o tema acerca da impureza causada por uma praga que é chamada “tsaráat”. Essa praga não tem os mesmos sintomas que a enfermidade chamada “lepra”. Portanto, ao traduzir a palavra “tsaráat” como “lepra” cria-se uma ideia equivocada aos leitores. Aqui não se trata de lepra, mas sim de outra coisa.

Há duas principais ideias fundamentais relativamente a esta praga. Alguns dizem que se trata de uma enfermidade extinta, mas a maioria dos analistas, pensam que é uma praga sobrenatural que o Eterno coloca sobre as pessoas que cometem certos pecados, especialmente o de lashón hará (a calúnia, a má língua ou a língua maliciosa). Isso pode ser observado em dois largos capítulos dessa parashá, o que demonstra que é um assunto muito importante, tanto para o entendimento literal do texto, quanto para o sentido profético, uma vez que toda a Torá é profética. Há outros textos nas Escrituras que falam desta praga. Esses textos podem ensinar algo mais sobre a sua origem e sobre o entendimento de que a lashón hará pode ser uma causa para essa doença.


Em Êxodo 4:6-7 está escrito:


E disse-lhe mais HASHEM: Põe agora a tua mão no teu seio. E, tirando-a, eis que a sua mão estava leprosa, branca como a neve. E disse: Torna a por a tua mão no teu seio. E tornou a colocar sua mão no seu seio; depois tirou-a do seu seio, e eis que se tornara como a sua carne.”


Moisés teve tsaráat na sua mão como um sinal. Ele tinha falado lashón hará contra o povo de Israel dizendo que não iriam acreditar nele, cf. Êxodo 4:1.


Em Números 12:1-10 está escrito:


E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita. E disseram: Porventura falou HASHEM somente por Moisés? Não falou também por nós? E HASHEM o ouviu. E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. E logo HASHEM disse a Moisés, a Arão e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então HASHEM desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, HASHEM, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? Assim a ira de HASHEM contra eles se acendeu; e retirou-se. E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Miriã ficou leprosa como a neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa.”


O texto hebraico mostra que a praga que veio sobre Miriam é da mesma classe que a que aparece em Levítico 13. Miriam foi atacada pelo Eterno com esta praga por ter falado mal contra Moisés. Vemos aqui como o lashon hará causou esta intervenção divina.


Em Deuteronômio 24:8-9 está escrito:


Guarda-te da praga da lepra, e tenhas grande cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado de o fazer. Lembra-te do que HASHEM teu Deus fez a Miriã no caminho, quando saíste do Egito.”


Este texto insta-nos a ter cuidado com esta praga e recordar o que se passou com Miriam.


Em 2 Crônicas 26:16-19 está escrito:


“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra HASHEM seu Deus, porque entrou no templo do Eterno para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e com ele oitenta sacerdotes de HASHEM, homens valentes. E resistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante HASHEM, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isto para honra tua da parte do Eterno Deus. Então Uzias se indignou; e tinha o incensário na sua mão para queimar incenso. Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu à testa perante os sacerdotes, na casa do SENHOR, junto ao altar do incenso.”


O Rei Uzias foi castigado por entrar no ministério sacerdotal que não lhe competia. Isto nos ensina que esta praga não cai apenas sobre uma pessoa que cometeu o pecado de lashón hará, mas também pode vir por outros motivos.


Em 2 Reis 5:1-27 o texto bíblico nos ensina que Naamã, um gentio, tinha tsaráat. Logo esta praga não cai somente sobre os filhos de Israel mas também sobre os gentios. O servo de Eliseu, Geazi, mentiu e furtou e por estes dois pecados veio a tsaráat sobre ele e sobre os seus filhos. Isto nos ensina que não é apenas aplicada sobre aquele que peca com lashon hará mas também por outros delitos. O Talmude menciona sete pecados que trazem a praga de tsaráat sobre aquele que não se arrepende: calúnia; assassinato; imoralidade: falso juramento; arrogância; roubo e avareza


13:3 “E o sacerdote examinará a praga na pele da carne; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará, e o declarará por imundo.”


Observando os versos seguintes até o verso 10, podemos perceber que esta praga tinha três sintomas:


1. Os pêlos são brancos e a área afetada parece mais profunda que o resto da pele;

2. A mancha estende-se sobre a pele;

3. Há carne viva na mancha, v. 10


Eram os sacerdotes que tinham a autoridade para declarar puro ou impuro, uma pessoa ou um objeto. Quando a pessoa tem esta praga não é considerada impura até que o sacerdote o comprove.


Veja que Yeshua uma vez curou uma pessoa com essa doença e determinou que fosse mostrar-se ao sacerdote…


Imediatamente a lepra o deixou, e ele foi purificado. Em seguida Yeshua o despediu, com uma severa advertência: "Olhe, não conte isso a ninguém. Mas vá mostrar-se ao sacerdote e ofereça pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho". Mc 1:42-44


Yeshua cumpria e ensinava a cumprir Torá, e vemos isso no texto mencionado acima, e entendemos como a vida do Messias está ligada à Torá. Neste texto não se fala de curar uma enfermidade, mas sim, de limpar a praga de “tsaráat”. Yeshua não diz: “sê curado”; mas sim “sê limpo”. Yeshua não o curou, mas sim limpou-o. Isto leva-nos a crer que não se trata de uma enfermidade como as outras, mas sim de uma praga sobrenatural sobre aquele que não se arrepende em tempo útil.


A pessoa não poderia se tornar pura antes do sacerdote o declarar, após uma análise detalhada. Yeshua sabia disso, por isso mandou o homem ir até o sacerdote. Logo, é a palavra do sacerdote que decide quando a pessoa está pura ou impura. A declaração do sacerdote tinha uma implicação social importante.

Olhando com uma visão profética nesse texto da Torá, e nesse ensino, podemos ver que o sacerdote representa Yeshua, que através do crivo da sua vida justa, nos examina e após uma acurada observação daquilo que podemos ser, nos declara como puros. Baruch Hashem!!!

Outro ponto profético é que o afetado pela praga não podia viver dentro da comunidade, mas sim fora, fora do acampamento ou fora da cidade se estivesse murada. Assim também aqueles que estão vivendo no pecado não podem viver junto com o povo de D’us, mas afastado, por isso o sacerdote, Yeshua, nos declara puros, para que possamos viver com seu povo em comunidade.

Muito há que se falar nessa parashá, mas este comentário ficaria muito extenso, e não é este o propósito, pois sempre há o próximo ano para estudar novamente essa porção. Assim, que possamos estar firmes e constantes no estudo da Torá e dos profetas, e prossigamos nossa teshuváh (retorno)com emunáh(firmeza, fé).


Que o Eterno lhes abençoe!!!

Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)

quinta-feira, 24 de março de 2022

Estudo da Parashá Shemini (Oitavo)

 

Estudos da Torá


Parashá nº 26 – Shemini (Oitavo)

Vayicrá/Levítico Lv 9:1-11:47,

Haftará (Separação) 2Sm 6:1-7:17, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mc 7:1-23; 1Pe 1:14-16


1 - INTRODUÇÃO

No nosso resumo, vemos que a Parashá Shemini começa discutindo os eventos que ocorreram no oitavo e último dia de melu'im, serviço de inauguração do Mishkan. Após meses de preparação e antecipação, Aharon e seus filhos são finalmente instalados como cohanim, em um serviço elaborado.

Aharon abençoa o povo, e toda a nação se rejubila quando a presença de D’us paira sobre eles. Entretanto, o entusiasmo é interrompido abruptamente quando os dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, são consumidos por um fogo celestial e morrem no Mishkan, enquanto ofereciam ketoret, incenso, sobre o altar. A Torá declara que eles morreram porque trouxeram um "fogo estranho" no santuário interior do Mishkan, cujo significado é discutido pelos comentaristas à exaustão.

Aharon recebe ordens de que os cohanim são proibidos de entrar no Mishkan enquanto impuros, e a Torá continua a relatar os eventos que ocorreram imediatamente após a morte trágica de Nadav e Avihu. A porção termina com uma lista dos animais casher e não-casher, e várias leis sobre tumá, ou seja, impureza.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS


Iniciando o estudo das palavras do texto, lembremos que os últimos versos da porção passada nos dizem o seguinte:


E da entrada da tenda da reunião não saireis sete dias, até o dia de cumprir-se os dias de vossa consagração; pois por sete dias Ele vos consagrará. Como se fez neste dia, assim ordenou o Eterno fazer, em expiação por voz. E à porta da tenda da reunião permanecereis dia e noite, sete dias, e guardareis a prescrição do Eterno, e não morrereis, pois assim me foi ordenado. E fizeram Aarão e seus filhos todas as coisas que ordenou o Eterno por meio de Moisés.” Vayicrá/Levítico 8:33-36


Lendo esse texto percebemos que ainda estamos nos dias da consagração do Mishkan (tabernáculo) e dos sacerdotes. E nos primeiros sete dias de consagração, segundo a tradição judaica, Moshê montou o Mishkan e o desmontou todos os dias. A cada dia ele oferecia os corbanot (ofertas) ordenadas por D’us.

Enfim chegou o Shemini (oitavo) e último dia de dedicação! Era Rosh Chôdesh Nissan (início do mês de Nissan). E segundo a tradição do povo do Eterno, D’us ordenou a Moshê: “Hoje deves armar o Mishkan, mas não o desmontes novamente. Também, pela primeira vez, Aharon e seus filhos oferecerão corbanot. “Enviarei um fogo do céu para consumir seus corbanot.” O fogo que Adonai enviaria para consumir as ofertas demonstraria que Ele tinha perdoado os pecados do bezerro de ouro e que Sua Shechiná (presença) repousava no meio deles novamente.

Essa porção começa Assim:


Vaihi bayon hashemini - E foi no oitavo dia...”. Vayicrá 9:1


O comentário da Torá nos diz que, o Midrash Rabá comenta que o termo “Vaihi” “E foi”, usado neste versículo, indica aflição (enquanto que o termo “Vehaiá” prenuncia alegria). Durante todo o período de construção do Tabernáculo, os filhos de Israel viviam em constante tensão, pois não sabiam com certeza, se a Shechiná (presença) de Deus repousaria entre eles, e se esta obra erguida para servir como centro espiritual do povo seria do agrado do Eterno, pois não se podiam livrar do pesadelo do abominável ato do bezerro de ouro, receando talvez não terem ainda conquistado o perdão de Deus. Apesar de Moshê os ter acalmado dizendo que a ordem de construir o Mishkan lhe fora determinada por Deus como sinal do Seu perdão, tiveram medo do que aconteceria.

A porção dessa semana trata sobre o início do período sacerdotal, de fato, e também sobre os primeiros erros cometidos por homens que quiseram estabelecer o seu padrão ao invés do que fora ditado pelo Eterno. Tratando-se do ponto de vista profético, os acontecimentos dessa parashá apontam para o que ocorre após o sétimo milênio, quando o Messias de Israel inicia o período em que, como Sumo Sacerdote Supremo, e Rei de todas as nações iniciará seu ministério-reinado de ensino da Torá de HaShem, uma Torá mais plena que a atual.

De acordo com o site ShemaYsrael, é interessante notarmos que Moshê chama Aharon e seus filhos para fora da tenda da congregação justamente ao oitavo dia. Na hermenêutica judaica o oito é o número da ressurreição, do novo recomeço. Percebemos isso já na criação, quando o Eterno criou tudo em seis dias, ao sétimo descansou e no oitavo dia iniciou as atividades de Adão no Paraíso. Ou seja, quando o ciclo de sete fecha-se, ao oitavo tudo inicia-se novamente. É quando, após o descanso (shabat), dava-se início a uma nova caminhada em todos os aspectos da vida. E quando olhamos para isso, no sentido profético, vemos Yeshua, como o apóstolo Paulo o chama, de segundo Adão, levando a cabo a vontade do Eterno, o propósito de ensinar a Torá plena, de guematria 9, às pessoas da segunda ressurreição. E ao final, no nono milênio, o Olam habá, ou seja a restauração de todas as coisas, quando ele já implantou seu reino e já derrotou todos os inimigos. Será nesse período que haverão novos céus e nova terra! No sentido espiritual, o shemini (oitavo) vai significar um início revigorado, com todas as potencialidades recuperadas no dia ou milênio anterior. A revelação, a unção e a glória já vieram, agora o novo homem se levanta e reinicia seu andar em comunhão com HaShem!

Esta é uma parashá muito linda, devido a sua importância no contexto profético. E mesmo dentro do contexto literal, veja que segundo Rashí e um Midrash, este oitavo dia coincidia com o primeiro dia do primeiro mês do segundo ano, o 1 de Abib, cf. Êxodo 40:2, 17.

Note que segundo eles, o oitavo dia que se segue a um período de sete dias é um dia especial nas Escrituras:

 O dia de circuncisão dos meninos;

 O oitavo dia depois da festa de Sukot, chamado Sheminí Atseret (O oitavo grande dia). Lembrando que foi neste dia que Yeshua levantou a voz no templo e Jerusalém e disse “...Se alguém tem sede, venha a mim, e beba,” Jo 7:37-39;

 Como um dia representa mil anos, o oitavo dia simboliza o oitavo milênio depois da criação do homem, quando após a torá ser ensinada a todos que desejarem aprender, serão instituídos os novos céus e nova terra, e o Reino será entregue pelo Messias ao Pai.

Outra informação importante sobre o oito. Na cidade de Jerusalém há oito portões, destes sete estão abertos até o dia de hoje. O portão que está fechado é chamado de “Portão Dourado”, ele esteve aberto quando o Messias Yeshua, passou por lá, hoje porém, está fechado com pedras.





Este portão será aberto quando o Mashiach vier para reinar com seu povo! Aí teremos então um novo começo, um recomeço para a cidade de Jerusalém e também um recomeço para toda a humanidade! Isso nos demonstra que o Eterno sempre nos dá uma nova chance para recomeçarmos. Não é incrível como a Torá nos instrui em diversos aspectos? No aspecto da Palavra em si, no aspecto espiritual e também no aspecto profético.

Voltando ao verso 1, depois destas informações passadas acima, reparemos que o texto mostra determinações do Eterno a Arão, a seus filhos e ao povo de Israel para que se preparassem com sacrifícios – santificando-se – pois o Eterno apareceria à eles naquele mesmo dia! Vejam o texto:


E disse a Aharon: Toma um bezerro, para expiação do pecado, e um carneiro para holocausto, sem defeito; e traze-os perante o Eterno. Depois falarás aos filhos de Israel, dizendo: Tomai um bode para expiação do pecado, e um bezerro, e um cordeiro de um ano, sem defeito, para holocausto; também um boi e um carneiro por sacrifício pacífico, para sacrificar perante o Eterno, e oferta de alimentos, amassada com azeite; porquanto hoje o Eterno vos aparecerá. Então trouxeram o que ordenara Moshe, diante da tenda da congregação, e chegou-se toda a congregação e se pôs perante o Eterno Lv 9:2-5.

Moshe estava informando a Aharon e ao povo algo que aconteceria de forma extraordinária: O Eterno estaria entre eles com sua presença! Ou seja, Aquele que os guiara pelo deserto agora literalmente “desceria” para estar entre eles! Quando Moshe diz:


também um boi e um carneiro por sacrifício pacífico, para sacrificar perante o Eterno, e oferta de alimentos, amassada com azeite; porquanto hoje o Eterno vos aparecerá”,


No original temos alguns detalhes muito importantes. O primeiro é que a palavra que define o Eterno é o tetragrama. Isso nos diz que o Eterno se tornará aquilo que seu povo necessita naquele momento! Um segundo detalhe muito importante é que a palavra “aparecerá” em hebraico é ra´â e significa “ver, olhar, inspecionar”. Mas o que significa isso? Significa que o Eterno estaria vendo, contemplando aquilo que seu povo faria para então liberar sua bênção sobre eles!

Novamente seguem-se instruções exatas daquilo que deveria ser feito para que o povo de Israel possa então, “ver a glória do Eterno”.


E disse Moshe: Esta é a coisa que o Senhor ordenou que fizésseis; e a glória do Eterno vos aparecerá Lv 9:6.


Devemos perceber duas coisas: Novamente a palavra que define o Eterno é o tetragrama e isso significa que “Aquele que se torna o que precisamos” já havia emitido ordens que precisavam ser cumpridas; quando isso acontecesse Ele então permitiria que sua glória fosse vista entre o povo! A obediência aos mandamentos do Eterno atrai a presença d´Ele para o meio de seu povo!

Perceba ainda, que segundo o site Emunáh a fé dos santos, este verso aponta para os passos que se deve seguir para poder experimentar a glória do Eterno:

- “Esta é a coisa que o Eterno ordenou” – corresponde ao estudo da Torá.

- “que fizésseis” – corresponde à obediência à Torá.

- “a glória do Eterno vos aparecerá” – o resultado dos dois primeiros.

E disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar, e faze a tua expiação de pecado e o teu holocausto; a faze expiação por ti e pelo povo; depois faze a oferta do povo, e faze expiação por eles, como ordenou o Eterno.” Lv 9:7


Aqui notamos, que pela segunda vez, Moisés diz a Arão que apresente a sua oferta. Isto leva-nos a pensar que Arão estava a duvidar e por isso não se atrevia a aproximar-se do altar. No comentário da Torá da Editora Sefer, sobre o verso 2, há algo que complementa esse entendimento. O referido comentário diz que na linguagem do Midrash, Moisés disse a Arão: “O bezerro de ouro que ajudaste a fabricar desacreditou-te na opinião do povo, contribuindo para desvanecer o teu prestígio para o cargo do sacerdócio; mas com este bezerro de pecado que vais oferecer, serás reabilitado; este sacrifício servirá como uma demonstração pública que tu e o povo vos arrependestes do pecado praticado, e de hoje em diante a glória do Eterno aparecerá a vós.”

No entanto, parece que mesmo assim, Arão ainda estava meio temeroso, envergonhado, arrependido, e provavelmente com remorso por ter participado daquela rebelião contra o Eterno.

Assim, Moisés motiva-o novamente para que assuma o seu lugar como sumo-sacerdote e faça o seu trabalho. Esta escritura ensina-nos que não nos devemos envergonhar-nos em demasia pelos nossos pecados, sabendo que o Eterno providenciou um sacrifício perfeito para que possamos ter acesso ao serviço sagrado diante de Ele. O Eterno tinha perdoado a Arão. É possível que ele tivesse a consciência pesada e vergonha pelo seu grande pecado. Mas esta escritura ressalta a grande misericórdia de Elohim ao permitir a um grande pecador ocupar o posto mais alto da nação. Arão é um excelente exemplo do perdão do Eterno. Não podemos permitir que o sentimento de culpa e o remorso nos paralise, devemos nos arrepender, confessar nosso erro, receber o perdão e seguir em frente. Pois Provérbios 28:13 diz:


O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.”


Caro irmão, se te arrependeste de todos os teus pecados, entre os quais, possivelmente, alguns terão sido muito graves aos olhos de HaShem, e se confessaste os teus pecados pedindo perdão e colocaste a tua confiança na misericórdia do Eterno, podes estar seguro de que Ele te perdoou, como lemos em 1 João 1:9:


Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.”


E em Jeremias 31:34b: “porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”


Este texto de Jeremias ensina ainda que quando o Eterno perdoa, também esquece o nosso pecado. Contudo, conforme alguém vai amadurecendo no espírito apercebe-se da gravidade dos pecados que cometera no passado, como lemos no Salmo 25:7


Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Eterno”.


Segundo o site Emunah a fé dos santos, o ato de recordar o pecado da juventude vem do Espírito do Eterno que nos instrui acerca de todas as coisas. A princípio quando alguém se arrepende dos pecados, não é realmente consciente da gravidade deles. Assim, quanto mais maturidade espiritual existe numa pessoa, mais pecador se considera ao olhar para trás, envergonhando-se pelo que fez, e isso vem do Eterno.

O autor do site mencionado Faz a seguinte pergunta reflexiva: Mas não é a Escritura que diz que o Eterno nunca mais se lembrará dos pecados no pacto renovado?

Sim, é certo, ele irá esquecê-los no sentido de que nunca, nunca nos punirá mais por esses pecados passados, e não nos lembrará mais deles com o propósito de nos sentirmos culpados. Isso é o que faz o acusador, Satanás (HaSatan = opositor).

Quando HaShem perdoa, ele faz de verdade, e considera-nos como se nunca tivéssemos cometido esses pecados. Contudo, por outro lado, existe um crescimento na consciência do pecador arrependido acerca da gravidade do que cometeu, não para condenar ou se envergonhar, mas sim para o ensinar a respeito da imensa misericórdia do Eterno e o resultado poderoso da redenção do Messias.

O Espírito de HaShem faz-nos lembrar também o que fizemos para que não nos orgulhemos mas sim que nos mantenhamos humildes. E nunca nos esqueçamos de onde nos tirou o Eterno!

Certamente os nossos pecados foram apagados e perdoados pela morte do Messias, representada nos sacrifícios do pecado. Mas conforme vamos crescendo espiritualmente entendemos cada vez mais a gravidade daquilo que fizemos. Então surge em nós mesmos uma imensa gratidão que produz um louvor eterno a HaShem pela obra redentora mediante o Messias, que fez chegar até nós.

Veremos agora um outro princípio sobre os líderes.


Então Aharon se chegou ao altar, e degolou o bezerro da expiação que era por si mesmoLv 9:8.


Interessante notar que Aharon chega-se ao altar. Altar é lugar de sacrifício, lugar de morte, lugar de apresentar oferta ao Eterno, mas também de vida, pois dali se saía com as transgressões cobertas. Ali ele chega com o bezerro da expiação. Em nosso texto bíblico, em português, faltou uma palavra que viria após o termo “expiação”. Esta palavra seria o termo “pecado”, que em hebraico é hata’ que significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado”. Significa ainda “errar o alvo”, “ficar aquém do padrão”. Aqui Aharon dá exemplo público de algo que já era uma realidade em sua vida. Ele e seus filhos já haviam passado sete dias diante do Senhor. Porém, agora Aharon torna pública sua humanidade quando vai ao altar e leva seu sacrifício pela culpa (pecado) e o oferece ao Senhor para poder capacitá-lo à oficiar à face do povo! Mesmo os santos precisam pedir perdão!

Quando se peca, é preciso então do sacrifício expiatório! Então, veremos que “expiação” em sua raiz tem múltiplos significados:

- Kapar – Expiação – fazer expiação, fazer reconciliação, purificar.

- Koper – resgate, dádiva, obter favor.

- Kippur – expiação (perdão) usado na expressão IOM KIPPUR (Dia do perdão).

Isso nos demonstra que a expiação deve ser feita em primeiro lugar pelos líderes (que com esse ato dirão ao seu povo: eu também sou pecador!), para que haja reconciliação com o Eterno, e então possa haver o resgate de si mesmo, obtendo-se assim o favor do Eterno! Disso vem o fato de alcançarmos o perdão e de termos também a obrigação de perdoarmos aqueles que nos ofenderam! Infelizmente, não vemos os líderes terem esse entendimento, por falta do conhecimento verdadeiro da Torá. E é por isso que há tantas pessoas agindo mal nos chamados altares do sistema religioso, por falta de arrependimento verdadeiro e perdão. Temos a confirmação deste princípio implícito aqui numa declaração explícita de Yeshua no Evangelho de Mateus:


Então Kefa, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Yeshua lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes seteMt 18:21-22.


A continuação deste princípio vem a seguir:


Mas a gordura, e os rins, e o redenho do fígado de expiação do pecado, queimou sobre o altar, como o Eterno ordenara a Moshe” Lv 9:10.


A gordura (que simboliza fartura, abundância) é queimada no altar! As entranhas indicam também o centro das emoções, o afeto e a mente que estavam sendo oferecidas sobre o altar do Senhor! Após a vítima ter sido morta, oferece-se então sua gordura e suas entranhas! Mas percebemos que esta entrega é puramente pessoal! A fé era ingrediente indispensável nessa ocasião! Quando isso era feito – conforme o que fora estabelecido e ordenado pelo Eterno – então novamente Ele se tornava aquilo que seu povo precisava! E isso continua sendo assim até o dia de hoje, e será sempre.

Antes de terminar o estudo dessa semana, vamos falar um pouco de outro assunto que está nessa parashá e que é muito importante em nossa teshuvá. Trata-se do texto de Vayicrá/Levítico 11 e os animais que são alimento e os que não são alimento.


Fala aos filhos de Israel, dizendo: Estes são os animais, que comereis dentre todos os animais que há sobre a terra;” Lv 11:2


Neste capítulo o Eterno define quais são os animais apropriados para alimento e quais não são, ou seja são proibidos aos filhos de Israel, dando uma lista bem específica e detalhada. Os filhos de Israel foram separados dos demais povos para serem diferentes, literalmente separados, santos. Portanto, estas leis são para todos os que são parte do povo de Israel, tanto os naturais como aqueles que foram adotados ou enxertados pela conversão ao Eterno através dos méritos da vida justa de Yeshua.

Segundo o mencionado site, nenhum animal foi criado com o propósito de ser comido, isso só acontece após o pecado entrar no mundo, e cerca de um milênio e meio depois da criação, após o dilúvio é que passa a ser permitido aos homens comer animais, devido ao facto de toda a vegetação ter desaparecido por causa da destruição diluviana, conforme lemos em Gn 9:2 e 3. É lícito comer carne, porém para uma boa alimentação é necessário haver os vegetais. A base da dieta alimentar inicialmente definida pelo Eterno, que não incluía carne, somente frutas e o fruto da terra (cereais e legumes) conforme lemos em Gn 1:29 e 30, é muito mais saudável e apropriado para o organismo humano.

A dieta é uma das coisas mais importantes que marca a diferença entre os filhos de Israel e os demais povos. Este capítulo ensina-nos aquilo que o Eterno considera apropriado para a alimentação humana. Desde o princípio que Ele se preocupa com a alimentação humana.

O primeiro mandamento que foi dado ao homem estava relacionado com a alimentação. O pecado entrou no mundo através de um alimento proibido. Logo, se o Eterno considera que isso é importante, o homem também deve considerar.

É o Eterno quem estabelece o que é muito importante e o que não é tão importante. As Escrituras ensinam que a alimentação é muito importante, pois está relacionada com a santidade e com o pecado. Aqueles mandamentos que estão relacionados com a alimentação limpa e não limpa, são considerados “ chukim ”, isto é, aqueles que não têm (ou que pelo menos naquela época não tinham) explicação lógica.

Pois hoje em dia a opinião dos nutricionistas é unânime ao considerar a dieta recomendada pelas Escrituras como benéfica para a saúde humana, e que se toda a gente a seguisse, grande parte das doenças cancerígenas não existiriam.

Uma alimentação que é considerada “apropriada” para um israelita é chamada “kasher”, que significa “permitido”, “reto”, “própria”, “apta”, “apropriada”. A palavra “kasher” aparece três vezes nas Escrituras, cf. Eclesiastes 10:10; 11:6; Ester 8:5.

Existem muitas explicações diferentes relativamente ao porquê de certos animais serem considerados impuros e outros impuros, mas facto é que o homem tem que reconhecer que não entende de todo a razão pela qual o Eterno deu essas instruções, há coisas que estão além do nosso conhecimento como nos diz a palavra em Deuteronômio 29:29.

A razão pela qual devemos considerar estes animais como impuros é simplesmente porque a Torá diz que são, ponto final, pois devemos entender que mandamento não se discute ou questiona, se cumpre. E se logo queremos aprofundar além do que está escrito, corremos sempre o risco de nos equivocarmos na nossa análise.

O site Emunah a fé dos santos, afirma que, como princípio podemos dizer que a nossa obediência a estes mandamentos não tem a ver em primeiro lugar com higiene, nem relativamente à natureza, nem com perigos de intoxicação ou efeitos secundários no corpo humano. Uma vez que nada é dito sobre isso.

Tem a ver com a nossa relação com o Eterno. Pelo fato do Eterno nos ter instruído assim, nós obedecemos. É certo que a obediência aos mandamentos traz larga vida e saúde aos nossos corpos, e é certo que muitos animais impuros são nocivos ou podem conter elementos perigosos para o homem. É certo que a natureza do animal está no sangue e se se come algo com sangue, o qual é inevitável acontecer quando se come carne, é provável que a natureza do animal afete o carácter daquele que o come. Mas todas estas coisas são secundárias, e a Torá não se foca nelas. A Torá diz que aquele que deixa de se alimentar de certos animais que são considerados impuros, torna-se santo, separado, consagrado.

Estas leis tem a ver em primeiro lugar com a santidade, e a santidade tem muito a ver com a alimentação. Agora, a obediência a estes mandamentos também traz saúde, e como uma consequência desta obediência, há saúde e prosperidade em tudo, mas o propósito principal destes mandamentos não é a saúde do homem mas sim a sua santidade. Assim, podemos inferir que o que trás saúde ao homem é a santidade, ou seja, a obediência aos mandamentos de HaShem.

Há muita verdade nos ditados: “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” ; e “nós somos aquilo que comemos” . O sistema religioso cristão no geral, alega que as leis alimentares foram abolidas, e fundamentam essa ideia em vários textos do chamado “Novo Testamento” tirados fora do contexto.

Neste capítulo vemos que os animais estão classificados em quatro grupos gerais, cf. Levítico 11:46:

- Animais que caminham sobre a terra, 11:2-8;

- Animais que existem nas águas, 11:9-12;

- Aves e outros animais que voam, 11:13-23;

- Animais que se arrastam sobre a terra, 11:29-43;

Que o possamos compreender que devemos obedecer e seguir na caminhada sempre, pois as consequências da obediência acompanham aos fiéis.

Que HaShem lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)