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sexta-feira, 11 de março de 2022

Estudo da Parashá Vayicrá (E chamou)

Estudos da Torá


Parashá nº 24 – Vayicrá (E chamou)

Vayicrá/Levítico Lv 1:1-6:7,

Haftará (Separação) Is 43:21-44:23, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mc 11:1-12:44; Rm 8:1-13


1 - INTRODUÇÃO

Depois de termos lido um trecho da porção da semana, iniciamos nosso estudo, como de costume, com um resumo da parashá. Encontramos no site Chabad que, este Shabat finaliza o início da leitura do terceiro livro da Torá, o Sêfer Vayicrá, que trata principalmente dos serviços e responsabilidades dos Cohanim. Esta e a próxima porção semanal concentram-se em muitas das oferendas a serem levadas ao recém-construído Mishkan - Tabernáculo.

A Parashá Vayicrá que vai de Vayicrá/Levítico 1:1-5:26, começa com D'us chamando Moshê para o Mishcan, onde ele receberá as muitas mitsvot relevantes a serem definitivamente passadas ao povo de Israel. A primeira metade da Porção da Torá descreve os vários corbanot ou sacrifícios, opcionais trazidos por indivíduos.

Os sacrifícios podem ser classificados em três categorias gerais, cada qual dividida em várias graduações de tamanho e custo: o corban olá (oferenda de elevação) que é completamente consumido sobre o altar; o corban minchá (oferenda de refeição) a qual, por causa de seu conteúdo, é geralmente trazido por pessoas de poucos meios; e o corban shelamim (oferenda de paz) parcialmente queimado sobre o altar, com o restante dividido entre os donos e os Cohanim.

A segunda metade da porção discute as oferendas requeridas de chatat (pecado) e ashan (culpa), a serem levadas como expiação por transgressões involuntárias.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

O terceiro livro da Torá ou Pentateuco chama-se, como já mencionamos, Vayicrá (E chamou/E Ele chamou), palavra que inicia este livro e esta porção. A versão bíblica “Septuaginta” (versão dos setenta) deu-lhe o nome de Levítico. Porém, esta denominação está em desacordo com o seu conteúdo, pois o livro só trata dos Levitas esporadicamente, dedicando sua maior parte aos “Cohanim” (Sacerdotes) e ao culto em geral. Talvez tenham decidido chamá-lo assim, pelo fato de Aarão e seus filhos, os sacerdotes, pertencerem à tribo de Levi.


Chamou o Eterno a Moisés e, da tenda da congregação, lhe disse: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando algum de vós trouxer oferta ao Eterno, trareis a vossa oferta de gado, de rebanho ou de gado miúdo.” Lv 1:1-2


No final da Parashá da semana passada, lemos que Moshê terminou a obra do Mishkan (tabernáculo), e logo depois a Shekinah (presença) de Adonai encheu o lugar, de forma que Moisés não podia entrar. E a parashá dessa semana começa exatamente onde a anterior termina, ou seja, Moisés não podia entrar por causa da presença de Adonai que lá estava. Porém, agora o Eterno o chama de dentro do Mishkan. Os sábios judeus dizem que D’us honrou a Moshê mais do que a qualquer outro hebreu. Apenas ele foi convidado por D’us a entrar no Mishkan e ouvir suas palavras. E a razão deste proceder é que Moshê sempre se sentiu humilde e pouco importante. Ele não era homem de perseguir honras, mas fugia de honrarias e elogios. Uma pessoa que é modesta e se sente humilde, eventualmente irá receber de D’us a honra que merece, mas aquela que está cheia de orgulho, no final não será honrada. Moshê foi muito honrado por Deus, já que nunca se considerou grandioso ou importante.

Por estas coisas notamos que profeticamente, Moshê nessa passagem está sendo um apontamento profético para o Messias Yeshua, que tinha as mesmas características apontadas acima, a respeito de Moshê. Yeshua era humilde, fugia de chamar a atenção para si mesmo, sentia-se pouco importante, embora tivesse uma importância tamanha para os planos do Eterno, não buscava honras e elogios. Por isso o Eterno honrou mais que a Moshê, lhe dando o título de raiz de David, Rei de Israel, que governará o mundo.

Na porção desta semana iniciaremos o estudo neste livro, e conheceremos um pouco sobre os sacrifícios e cada uma de suas funções no culto ao Eterno. A Torá nos diz como e por que cada um daqueles sacrifícios deveriam ser feitos e qual a finalidade deles. Espero que com a leitura que você já fez durante esta semana tenha absorvido muitos ensinamentos para sua vida com o Eterno, mas aqui trataremos mais algumas coisas, pois a fonte da Palavra de HaShem é inesgotável.

Repare que anteriormente D’us falava com Moisés no monte Sinai, não permitindo que ninguém se aproximasse, agora porém, fala da tenda da congregação, da nuvem que estava em cima do propiciatório no Santo dos Santos, permitindo que o adorador se aproxime dele por intermédio das ofertas (Korban).


Sobre o termo Vayicrá

Na imagem acima vemos a mesma palavra escrita de duas formas distintas. Essa palavra é וַיִּקְרָא (Vayicrá) que significa “e chamou”. A primeira vez que aparece, está acima do texto é o nome do livro e da porção. A segunda está no texto propriamente dito. E esta palavra está escrita com a última letra, o Aleph, em tamanho menor que as outras letras. E segundo a hermenêutica judaica quando acontece algo assim, devemos parar e procurar mais informações sobre o texto, pois se o Eterno fez com que o escritor fizesse isso, é porque queria nos ensinar algo que está além do texto, e é preciso sair da mera letra e entrar no segundo nível de interpretação.

Nesse sentido, os sábios de Israel, que receberam os textos e suas interpretações, e passaram de pai para filho, afirmam o seguinte em seus midrashim - ensinos:


Moshê era muito humilde. E quando D’us lhe disse para escrever “Vayicrá”. Ele respondeu: “Eu devo escrever que o Senhor chamou apenas a mim para o Mishkan? Me parece muito arrogante. Me permita retirar a letra aleph do fim da palavra, assim a palavra será “vayiker, que significa que o Senhor me chamou por acaso.” D’us teria ordenado a Moshê: “Não, você deve adicionar a letra Aleph à palavra. No entanto, permitirei que você a escreva menor do que as outras letras.”


Desta forma, podemos aprender que aquela letra menor nos lembra quão humilde era Moshê. Assim como também, aponta para o Messias Yeshua, que sendo servo do Eterno vivendo uma vida justa de obediência, foi tratado como o menor em meio aos homens devido a sua já mencionada humildade, mas que tem uma grande importância e não poderia estar fora da história. Repare que a letra Aleph em tamanho menor está apontando para a humildade, uma vez que a palavra vayicrá sem ela é vayiker que dá um significado de chamado por acaso, enquanto com a letra mostra chamado com propósito. E Yeshua, assim como Moshê foi chamado com propósito.

Entretanto, há outra linha de entendimento dos sábios de Israel a respeito dessa letra minúscula na palavra Vayicrá. No comentário da Torá, traz a seguinte informação:


Os comentaristas da Torá, que encontraram em cada palavra, às vezes em cada letra, pontos de apoio para os seus ensinamentos éticos, chamam a nossa atenção para a palavra Vayicrá com que começa este livro. Não apenas nos livros impressos, mas também na própria Torá, a última letra da primeira palavra – a letra Aleph – é minúscula (pequena), dando-nos neste contexto duas belíssimas lições:

1) O prazer e a alegria de oferecer algo deve ser ensinado mesmo às crianças pequenas na mais tenra idade. Se ela é favorecida pela sorte e tem muitos livros ou brinquedos, deve aprender a dar aquilo que possui a mais ao seu amigo ou amiga e a um pobre que não tem nada ou muito pouco.

2) Que cada Aleph – e a letra Aleph vale um – cada qual, mesmo com recursos muito limitados, não se pode excluir nem esquivar de contribuir, na medida de suas posses, para objetivos nobres e caritativos...Portanto, podemos concluir que o Aleph diminuto da palavra Vayicrá indica que, para se tornar um servo de Adonai consciente de seus deveres e responsabilidades, para conhecer e para se aprofundar nos eternos valores espirituais, é necessário estudar a Torá desde pequeno, desde a tenra infância.


Perceba que, para que alguém possa ser consciente a ponto de ser útil em sua comunidade, podendo ajudar quem precisa, sendo doador e se aproximando das pessoas, deve estudar a Torá em seus detalhes desde muito cedo. Isso porque a Torá nos abre o entendimento a respeito do certo e errado, a respeito do que é bom ou não. E com isso, vivemos dentro dos parâmetros que o Eterno estabeleceu, e o amor ao próximo, a tsedaká fazem parte destes parâmetros. Somando as duas tradições, podemos aprender que a humildade e um caráter doador advém da observância da Torá. Por isso nosso messias Yeshua é o nosso modelo de observância da Torá, pois era humilde e tinha o caráter doador.

Sobre os sacrifícios ao Eterno


No verso 2, desse primeiro capítulo, lemos: “Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: quando algum de vós oferecer sacrifício ao Eterno...” À partir daqui, a Torá começa a enumerar as leis dos sacrifícios e a missão dos Cohanim (sacerdotes). E faz isso de forma bem explicada, oferta por oferta. No entanto, cabe ressaltar o grande erro que podemos cometer ao confundir os sacrifícios enumerados nesse livro, com os dos povos pagãos da Antiguidade, os quais faziam com os seus sacrifícios descer as suas divindades ao nível das paixões humanas atraindo-as a seu favor, e praticar algumas vezes atos abomináveis; sendo que os sacrifícios descritos na Torá têm como base a adoração ao Eterno, agradecer Suas bondades, pedir perdão por faltas cometidas involuntariamente ou por uma falta voluntária após tê-la reparado. Os sacrifícios dos israelitas tinham que ser acompanhados pela Cavaná (intenção) de voltar ao bom caminho, e geralmente, por uma prece ou oração.

O Eterno inicia usando a palavra “fala”. Esta palavra em hebraico é “davar” e significa “falar, declarar, ordenar, advertir”. Já a palavra “dizer” em hebraico é “amar” e esta palavra significa “ordenar”. Aqui o termo “amar” tem força de uma ordem dada a alguém. O termo “oferecerá” em hebraico é “qarab” e significa “aproximar, chocar-se”. E isso demonstra que devemos nos aproximar juntamente com a oferta do lugar onde será realizado o sacrifício. E sabemos que o lugar onde isso acontece é o altar! Já o termo “oferta” em hebraico é “korban” (sacrifício, imolação, oblação, oferta) e denota aquilo que é trazido para perto. Nessa porção as ofertas são divididas em:


- Olá - Holocausto/ascenção (queimadas) – Lv 1:1-17;

- Minhchá - Manjares (alimento) – Lv 2:1-16;

- Shlamim - Pacífica (paz, comunhão) – Lv 3:1-17;

- Chatat - Pelo Pecado (involuntário) – Lv 4:1-5:13;e

- Asham - Pela Culpa (voluntário) – Lv 5:15-6.7.


Leia com cuidado cada uma das referências acima, medite sobre elas e poderá perceber muitas minúcias da vida e obra do Messias Yeshua.

A oferta “Olá” e a oferta “minchá” são irmãs, assim como “chatat” e “asham” são irmãos, ou seja, são oferecidos de forma similar, seguindo as mesmas orientações, e se assemelham entre si.

As três primeiras são voluntárias, e as outras são obrigatórias. O texto diz que o korban (oferta) deveria ser trazida ao Senhor (HaShem). A palavra que foi traduzida como Senhor” no texto hebraico é o tetragrama, é o nome que o Eterno se apresentou a Moshê no Sinai, significando “Serei o que serei ou eu me torno o que me torno”. E isso nos mostra que o Eterno se tornaria para os ofertantes aquilo que eles necessitassem, ou seja o perdão de seus pecados, o louvor ou o agradecimento. Podemos aprender disso que, o propósito dos sacrifícios é aproximarmo-nos do Eterno e apresentarmo-nos diante Dele. No entanto, não é possível nos aproximar do Eterno sem sacrifícios. O sacrifício é necessário para nos aproximar e permanecer na sua presença, como lemos em Ex 23:15b; 34:20b e Deut 16:16b, que diz:


Ninguém se apresentará diante de mim com as mãos vazias”.


Sobre o Holocausto


No verso 3 lemos:


Se a sua oferta for holocausto de gado, oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da congregação a oferecerá [qarab], de sua própria vontade, perante o Eterno


O Eterno agora, através da Torá, nos fala sobre o holocausto, que em hebraico é “olá ou olâ” e significa “oferta queimada”. Esta palavra vem da raiz “alâ” e significa “subir, escalar”. O holocausto é o único meio de fazer o ofertante “subir” até a presença de D’us. A fumaça da oferta queimada é o símbolo da vida do ofertante que está sobre o altar e é queimada, devorada pelo fogo! “Olah” significa também “oferta total ou oferta inteira”. O ato de queimar é secundário em relação à entrega da criatura toda ao Senhor. O korban olâ ou holocausto é voluntário e pode ser oferecido por qualquer homem ou mulher, israelita ou não.


Sobre Qualidade versos a Quantidade


O Rabino Chaim Goldberger, escreveu para o site Chabad o seguinte:


De todos os sacrifícios introduzidos na Porção desta semana da Torá, o único que não requer o sacrifício de um animal é o corban minchá, uma oferenda de farinha misturada com óleo e incenso trazido como uma alternativa de menor custo que as demais, entre as quais as oferendas de novilho ou ave. Mesmo assim, quando a Torá descreve as pessoas que levam cada uma das várias oferendas ao Templo, a única que é destacada e identificada como sendo uma "nefesh - alma" é a pessoa que traz o simples corban minchá.

O Talmud (Tratado Menachot 104b) desenvolve: "Por que o corban minchá recebe destaque e seu portador é chamado de nefesh, alma? D'us declara: 'Quem geralmente oferece corban minchá? O pobre. Considero seu ato como se ele sacrificasse sua alma por inteiro.' "

Pode-se deduzir que para alguém que está empobrecido, o ato de separar-se de boa farinha, que de outra forma poderia alimentá-lo e aplacar sua fome, é um ato de sacrifício ainda maior que aquele do homem rico doando um animal de alto preço. Para o pobre, a farinha é mais que uma grande parte de suas posses: é sua própria vida. A Torá está nos ensinando que não é o tamanho do presente que determina a importância do sacrifício; pelo contrário, a importância está nas intenções do doador e nas circunstâncias.

Quando Yaacov despachou seus filhos para encontrar o misterioso governante do Egito, enviou com eles um presente. Este tributo era de fato pequeno - "um pouco de bálsamo, cera, lótus, pistache e amêndoas" - mas a importância não estava no tamanho. Estes itens haviam sido cuidadosamente considerados e especialmente selecionados. Eram iguarias não disponíveis no Egito àquela época. Sua mensagem era de cuidadoso esmero e consciencioso interesse. E de forma bem apropriada, Yossef chamou o presente de "um minchá".

De todas as nossas preces diárias, a mais curta é Minchá, o serviço vespertino. Não contém o longo segmento de introdução nem o de encerramento do serviço matinal de Shacharit, nem as preces Shemá e Barchú do serviço noturno de Maariv.

Basicamente, é composto pelo Shemonê Esrê, mesmo assim o serviço vespertino é o único que chamamos de "Minchá". Por quê? Porque, por mais "pobre" como esse serviço possa parecer, é o único que ocorre em meio a nosso dia de trabalho; é o único que nos pede para deixarmos de lado aquilo que estamos fazendo e nos lembremos de que somos apenas súditos de nosso Mestre Todo Poderoso.

Minchá é o único serviço de prece que nos pede para desligar de nossa inclinação mundana e nos retirar para um súbito e total encontro com o Divino. Pode levar apenas quinze minutos, mas é um Minchá. Lembra-nos da motivação necessária para doações de todos os tipos, e que não é o tamanho que importa; o significado e as intenções são igualmente importantes.

Que possamos entregar nosso minchá ao Senhor e que cada dia possamos estar diante dele com ações de graça, mas acima de tudo confiando naquele que viveu uma vida justa e foi morto como korban pelas nossas vidas, nosso amado Yeshua HaMashiah!


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/24-_vayikr_e_chamou.pdf

- http://shemaysrael.com/parasha-vayicra/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822844/jewish/Mensagem-da-Parash.htm




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