Estudos da Torá
Parashá nº 27 – Tazría(Conceber)
Vayicrá/Levítico Lv 12:1-13:59,
Haftará (Separação) 2Rs 4:42-5:19; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mc 15:1-16:20; Lc 8:42-48
1 - INTRODUÇÃO
Veremos agora no resumo da parashá, que após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá (impureza) resultante de animais mortos, a Parashá Tazria introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat. Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma doença espiritual, ou seja, devido à desobediência, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.
Conhecida como metsorá, que será a parashá que estudaremos semana que vem, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele, está sujeita a uma série de exames por um cohen (sacerdote), que declara se o paciente está tahor ou tamê. Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.
Essa semana estudaremos sobre algumas impurezas que podem afligir o ser humano, entre elas o fluxo de sangue da mulher ao dar a luz e a “tsaráat”, que conforme já disse, foi equivocadamente traduzida como lepra. E o que essas impurezas significam nas vidas dos servos de HaShem. Poderemos ver que muito do que é falado e ensinado pela Torá é profético, e parte já se cumpriu na vida de Yeshua, e se cumprirá na vida de todos os que lhe são fiéis.
2 – ESTUDO DO TEXTO
12:1-2 “E falou o Eterno a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: A mulher, quando conceber e der a luz um varão, será impura por sete dias; como nos dias da impureza de sua indisposição será impura”
Antes de iniciar o comentário do texto da parashá Tazria, quero trazer à nossa reflexão algo que achei interessante, um artigo sobre Dores do Parto - Por Yoel Spotts, do site chabad.org. Ele começa dizendo que, ao escrever um romance, o escritor certamente será cuidadoso para arranjar a trama de maneira lógica e ordenada, fazendo as transições de um tópico a outro de maneira suave. Da mesma forma, poder-se-ia esperar que a Torá, sendo a fonte da vida para o povo judeu e tendo muito mais importância que um romance, seguisse a mesma linha. Entretanto, a seção introdutória da porção desta semana da Torá parece divergir desta consistência requerida.
Segundo o mencionado artigo, a Parashá Tazria começa com uma discussão das leis sobre o status de uma mulher que acaba de dar à luz, e os vários procedimentos que devem ocorrer com ela e a criança. A Torá então imediatamente prossegue com uma descrição detalhada dos diferentes tipos de manchas e descolorações que podem tornar um indivíduo um metsorá (afligido). Estes dois assuntos – a mulher que acaba de dar à luz e uma pessoa que está sofrendo de tsaráat – poderiam parecer totalmente desconectados. Por que então estão colocados tão próximo um do outro?
Lembre-se que nada nas Palavras do Eterno (Hakadosh Baruch hu) estão soltos ou são sem propósitos. Sendo assim o autor continua seu artigo, afirmando que para responder esta pergunta, seria lógico examinar primeiro os detalhes destas duas leis. Em Vayicrá/Levítico 12:7, lemos que uma mulher que teve um filho deve trazer uma oferenda: "O Cohen oferecê-la-á perante D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu sangue; esta é a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina."
Esta lei provoca uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?
O artigo continua, e nos diz que os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante a este problema: enquanto está sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta mulher tenha jurado jamais retornar a seu marido, a fonte e causa de seu sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra totalmente, volta para seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade está quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob grande angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida de realizar qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não pode ser desprezado. Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de obter completo perdão ao trazer uma oferenda.
Se mudarmos nossa atenção, agora ao segundo ponto em questão, aponta o autor do artigo, a aflição da tsaráat, descobrimos que a Torá inicia sua discussão da pessoa atacada por esta doença sem nenhum tipo de introdução; o leitor é lançado imediatamente numa discussão abrangente das várias formas e manifestações da tsaráat. A Torá não menciona a causa do tsaráat em lugar algum, dessa forma deixando a pessoa imaginar qual pecado poderia precipitar esta doença no corpo ou na propriedade de alguém. Rashi oferece uma resposta baseada sobre o Talmud, de que a causa primária do tsaráat é o grave crime de lashon hará (língua maliciosa). A fim de avaliar a gravidade de suas ações, aquele que fala lashon hará é afligido com tsaráat. Não apenas a pessoa afetada deve lidar com lesões cobrindo seu corpo, como também é forçada a separar-se da comunidade em geral, e suportar um longo processo de cura, assinalado por repetidas visitas do Cohen, para determinar o status e o desenvolvimento da doença.
Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento e leve-a ao arrependimento, explica o autor. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição destes assuntos aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", o Judaísmo atribui muito mais importância e significado à palavra falada.
O artigo do mencionado site conclui dizendo que, toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em meio as dores do parto deve ser contabilizado. Até um comentário aparentemente inofensivo sobre alguém deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos permitir que nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado. Assim como a Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu, mas através da palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e santificar nossas palavras.
Então ao começar nosso estudo do texto, podemos perceber que, no início dessa porção, logo no verso 1, lemos que a Torá nos fala sobre a mulher que “concebe” – “Tazría” – e dar a luz um varão ficará impura por sete dias. Perceba que conceber é diferente de dar à luz. A concepção acontece normalmente 38 semanas antes de um parto normal. O momento da concepção terá influência no futuro da criança. Os rabinos de Israel afirmam que, se os pais se relacionam intimamente em santidade e pureza, a criança é concebida em santidade e pureza. No entanto, se um dos pais tem lascívia sexual, esse espírito é transmitido ao feto no momento da concepção e no futuro é muito provável que essa criança tenha problemas para dominar os seus desejos sexuais. Observe o que está escrito em 1 Tes 4:3-5:
“Porque esta é a vontade de Elohim, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição; Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; Não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Elohim.”
O termo “vaso é uma referência ao corpo. E indica que devemos saber cuidar do nosso corpo em santidade. E se observarmos bem, nesse caso, pode referir-se também ao corpo da esposa. E aprendemos com isso, como é importante tratar a esposa com santidade e honra, sem lascívia sexual como os gentios que não sabem dominar os seus instintos animais.
Depois da concepção, após as 38 semanas vêm o parto, e a mulher fica em um estado de impureza ritual, em hebraico “tamé” como no tempo da sua menstruação. A palavra hebraica que foi traduzida como separação é “nidá”, e significa “impureza”, “separação”, “menstruação” e vem da raiz “nadad” que significa “errar”, “fugir”, “afastar-se”. A ideia que a Torá nos dá é que o tempo de “nidá” (separação) é um tempo de afastamento da mulher relativamente ao seu marido, para se curar da sua ferida interna. E segundo a Torá, este período é de sete dias, mais trinta e três dias, se for menino, mas se for menina o período é de duas semanas mais sessenta e seis dias, conforme lemos no verso 2 a 5 dessa porção e também em Lv 15:19. Depois do período de “nidá”, ela submerge-se em águas purificadoras em uma mikvê (tanque de imersão ou banheira), para se poder unir novamente ao seu marido.
No verso 2, encontramos o seguinte: “...dias de impureza de sua indisposição será impura.” O comentário da Torá da Editora Sefer diz que, essa impureza da mulher, motivo pelo qual ela se afasta do marido por sete dias durante a menstruação, chama-se em hebraico “nidá”, que de acordo com o mencionado acima, significa entre outros “separação” e nela está proibida toda intimidade com seu marido. As leis de “nidá” baseiam-se naquilo que está escrito em Levítico 15:19-24, que veremos na próxima parashá. Além disso, existe um tratado completo no Talmud como o mesmo nome, dedicado à amplificação dessas leis.
Ainda segundo esse comentário, os cientistas maravilham-se diante do fato de que os antigos hebreus praticavam o mais alto padrão de higiene sexual reconhecido nos tempos atuais. E tem sido demonstrada também a existência de uma substância tóxica no soro do sangue, na saliva, na transpiração, na urina e em todas as outras exudações da mulher durante o período da menstruação.
Com isso, podemos observar, como o Eterno cuida de seu povo, dando mandamentos benéficos para a vida do ser humano. Verdadeiramente a Torá é vida para os servos do Eterno!
Vamos entender, então claramente, no caso do nascimento de um menino, a mãe entra num estado de “nidá” ou seja, impureza absoluta, durante os primeiros sete dias depois do parto, igual ao período da menstruação. O dia do parto é contado como o primeiro dia, ainda que falte apenas uma hora para o pôr-do-sol, o início de um novo dia. Nesse estado havia proibições como não ser permitido tocar ou comer as coisas sagradas, não podia entrar no santuário e nem comer do cordeiro de Pessach. Segundo o comentário da Torá da Editora Sêfer, depois terá trinta e três dias de interdição menos rigorosa, este tempo chamava-se Demê Taborá (período de purificação). Ao final dos 40 dias, se fosse menino, fazia a tevilá, imersão em uma mikvê para se purificar. E segundo o texto passaria ao estado de “Tamé”, ou seja, pura. No verso 4 entendemos que mesmo que haja sangue nesses 33 dias de purificação, não será necessário acrescentar mais tempo, pois aqui não se aplica a mesma lei de Lv 15.19.
Quando nasce uma menina o tempo de “nidá” e de “tamé” são dobrados. A Torá não explica a razão pela qual isso acontece. Mas o fato de fazer com que a mulher fique mais tempo em recuperação depois do nascimento de uma menina, não é para discriminar a mulher ou o homem, mas sim por outras razões que não conhecemos. O fato é que todos os mandamentos foram dados para o bem do ser humano. No entanto, de acordo com o site “emunah a fé dos santos” encontramos o seguinte:
“Contudo, podemos encontrar algumas explicações que nos podem dar um pouco de luz sobre esta diferença. Os pediatras modernos provaram que depois do nascimento de uma menina, ela tem mais necessidade psicológica do que um menino de permanecer perto da sua mãe. Logo este mandamento foi dado, entre outras razões, para ajudar a menina a ter um bom desenvolvimento psicológico, e possivelmente, também da mãe.”
No verso 6 lemos que após cumprir os dias de purificação, a mãe deveria levar um cordeiro para holocausto e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado. Então seriam dois sacrifícios um para ascenção (holocausto – olá) e outro para expiação de pecado (chatat).
Para que servia o holocausto (olá)?
Como vimos nas porções anteriores, esse sacrifício representa entrega total. E podemos aprender em primeiro lugar que a mãe agora tem a oportunidade de renovar sua entrega total ao Eterno, através deste sacrifício. O primeiro mandamento deve ser observado em qualquer situação de nossas vidas, ou seja, amar a Deus acima de todas as coisas, mas durante sua gravidez a mulher pode vir a perder a observância desta lei, e o holocausto é a oportunidade para mostrar ao Senhor que ela ainda observa a Torá. Apesar do nascimento do filho ou da filha, ela continua a viver para HaShem.
Por outro lado, o sacrifício de olá, também representa a entrega da criança ao Eterno. Os filhos não pertencem aos pais, mas ao Pai dos espíritos/sopros. Os pais têm a responsabilidade de educar as crianças no caminho de Deus, porque nasceram para Ele, como lemos em Malaquias 2:15:
“E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade.”
O Eterno quer ter uma geração de muitos filhos. Os pais colaboram com Ele para que tenham muitos filhos, assim cumprem com o Seu desejo. Os filhos não são dos pais, são do Eterno. Então a olá que a mãe entrega ao Eterno representa a entrega de si mesma e também do seu filho ao Eterno.
Uma outra pergunta pertinente é: Porque razão uma mulher teria que dar uma oferta pelo pecado depois de dar a luz? Qual teria sido o pecado da mulher?
Os rabinos apontam para essas alternativas:
a. Há uma necessidade de expiar os seus pecados por causa de ter passado por uma prova. Numa prova todos cometem pecados. (Abarbanel);
b. O pecado entrou no mundo pela mulher, e mediante o sacrifício do pecado ela faz expiação por esse erro. (Bechai);
c. Todo o processo de procriação foi afetado quando o pecado entrou no mundo. Um parto doloroso é o resultado do pecado de Eva, cf. Génesis 3:16. A concepção e o parto de uma criança dão-se num mundo de pecado, como está escrito no Salmo 51:5: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” O yetser hará (inclinação para praticar o mal) é transmitido à criança quando é formada. É uma herança pecaminosa. Por essa transmissão há uma culpa sobre a mãe e tem que apresentar um sacrifício pelo pecado.; e
d. Podem ser transmitidos à criança, ainda estando no ventre da sua mãe, complexos, atitudes de rejeição, inferioridade e outras atitudes originadas no pecado. A mulher não pode gerar um filho perfeito, sem pecado. Terá que apresentar a oferta, por ter trazido ao mundo um ser pecador, contrariamente aquilo que o Eterno desejou desde o princípio.
Se fizermos uma leitura em textos da Brit Hadashá, chamado de Novo Testamento, veremos que cada uma dessas observâncias da Torá foram cumpridas na vida da mãe de Yeshua, quando deu à luz ao menino. Em Lucas 2:21-23 vemos sua mãe cumprindo a lei da circuncisão ao oitavo dia, também vemos sua mãe oferecendo os sacrifícios conforme determina a porção em estudo, bem como em Lucas 2:24 encontramos a entrega da oferta de quem era pobre, conforme estudamos em parashiot passadas. E nesse texto vemos também que apesar de não terem condições de darem o cordeiro, eles estavam com o cordeiro. Esse era o cordeiro que Deus tinha determinado, por isso não precisavam de outro cordeiro, apenas dos dois pássaros, que representava a entrega total da mãe e do filho ao Eterno.
Aqui é importante frisar que Maria não passou o Yetser Hará a Yeshua, como podemos entender na leitura de Rm 8.3.
“Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, HaShem, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne;”
Yeshua não tinha “carne de pecado”, ou seja, não tinha pecado, na sua carne. Maria deu à luz um corpo que tinha a “semelhança de carne de pecado”. Ele tinha um corpo como de qualquer pessoa, mas ele não usou seu corpo para transgredir aos mandamentos. Yeshua viveria sua vida de forma a não pecar ou transgredir aos mandamentos do Eterno, e isso o faria ser reconhecido como um justo, sem pecado, o que renderia para ele, no futuro um corpo como o havia tido Adão, antes de cair, assim como todos que vierem a ressuscitar quando ele voltar. Apesar de Yeshua ter sido incorruptível, estava em carne, e essa carne que é semelhança da carne do pecado mencionado por Rav Shaul.
Nessa porção também podemos entender que o mito da imaculada conceição de Maria se desfaz mediante o estudo da Torá. Pois Maria cumpriu a entrega do sacrifício pelos seus pecados. Podemos mencionar outros textos que mostram que a Mãe de Yeshua tinha pecados e precisava do perdão por eles:
Em Lucas 1:47 está escrito: “E o meu espírito se alegra em Elohim meu Salvador;” Ela precisava de um salvador como qualquer outro, para que não morresse em seus pecados.
Em Marcos 3:21, 31-35 está escrito:
“E, quando os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. (…) Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar. E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe.”
Neste momento, Maria pensava que Yeshua estava louco, e por isso veio com os seus outros filhos para buscá-lo e resolver o problema. Por esse motivo Yeshua não a reconhece como sua mãe e diz que os seus parentes são quem faz a vontade do Pai. Fica claro que ela estava equivocada em relação ao chamado de seu filho, confirmando o que lemos em Salmos 69:8.
“Tenho-me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe.”
Isto nos mostra que num momento da vida de Yeshua, nem sua mãe, nem os seus irmãos, filhos de sua mãe, creram nele, conforme João 7:5 diz: “Seus irmãos não criam nele.”
13:2 “Quando um homem tiver na pele da sua carne, inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, na pele de sua carne como praga da lepra [tsaráat], então será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes.”
Conforme encontramos no comentário dessa parashá no site “emunah a fé dos santos”, aqui a Torá introduz o tema acerca da impureza causada por uma praga que é chamada “tsaráat”. Essa praga não tem os mesmos sintomas que a enfermidade chamada “lepra”. Portanto, ao traduzir a palavra “tsaráat” como “lepra” cria-se uma ideia equivocada aos leitores. Aqui não se trata de lepra, mas sim de outra coisa.
Há duas principais ideias fundamentais relativamente a esta praga. Alguns dizem que se trata de uma enfermidade extinta, mas a maioria dos analistas, pensam que é uma praga sobrenatural que o Eterno coloca sobre as pessoas que cometem certos pecados, especialmente o de lashón hará (a calúnia, a má língua ou a língua maliciosa). Isso pode ser observado em dois largos capítulos dessa parashá, o que demonstra que é um assunto muito importante, tanto para o entendimento literal do texto, quanto para o sentido profético, uma vez que toda a Torá é profética. Há outros textos nas Escrituras que falam desta praga. Esses textos podem ensinar algo mais sobre a sua origem e sobre o entendimento de que a lashón hará pode ser uma causa para essa doença.
Em Êxodo 4:6-7 está escrito:
“E disse-lhe mais HASHEM: Põe agora a tua mão no teu seio. E, tirando-a, eis que a sua mão estava leprosa, branca como a neve. E disse: Torna a por a tua mão no teu seio. E tornou a colocar sua mão no seu seio; depois tirou-a do seu seio, e eis que se tornara como a sua carne.”
Moisés teve tsaráat na sua mão como um sinal. Ele tinha falado lashón hará contra o povo de Israel dizendo que não iriam acreditar nele, cf. Êxodo 4:1.
Em Números 12:1-10 está escrito:
“E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita. E disseram: Porventura falou HASHEM somente por Moisés? Não falou também por nós? E HASHEM o ouviu. E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. E logo HASHEM disse a Moisés, a Arão e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então HASHEM desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, HASHEM, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? Assim a ira de HASHEM contra eles se acendeu; e retirou-se. E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Miriã ficou leprosa como a neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa.”
O texto hebraico mostra que a praga que veio sobre Miriam é da mesma classe que a que aparece em Levítico 13. Miriam foi atacada pelo Eterno com esta praga por ter falado mal contra Moisés. Vemos aqui como o lashon hará causou esta intervenção divina.
Em Deuteronômio 24:8-9 está escrito:
“Guarda-te da praga da lepra, e tenhas grande cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado de o fazer. Lembra-te do que HASHEM teu Deus fez a Miriã no caminho, quando saíste do Egito.”
Este texto insta-nos a ter cuidado com esta praga e recordar o que se passou com Miriam.
Em 2 Crônicas 26:16-19 está escrito:
“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra HASHEM seu Deus, porque entrou no templo do Eterno para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e com ele oitenta sacerdotes de HASHEM, homens valentes. E resistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante HASHEM, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isto para honra tua da parte do Eterno Deus. Então Uzias se indignou; e tinha o incensário na sua mão para queimar incenso. Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu à testa perante os sacerdotes, na casa do SENHOR, junto ao altar do incenso.”
O Rei Uzias foi castigado por entrar no ministério sacerdotal que não lhe competia. Isto nos ensina que esta praga não cai apenas sobre uma pessoa que cometeu o pecado de lashón hará, mas também pode vir por outros motivos.
Em 2 Reis 5:1-27 o texto bíblico nos ensina que Naamã, um gentio, tinha tsaráat. Logo esta praga não cai somente sobre os filhos de Israel mas também sobre os gentios. O servo de Eliseu, Geazi, mentiu e furtou e por estes dois pecados veio a tsaráat sobre ele e sobre os seus filhos. Isto nos ensina que não é apenas aplicada sobre aquele que peca com lashon hará mas também por outros delitos. O Talmude menciona sete pecados que trazem a praga de tsaráat sobre aquele que não se arrepende: calúnia; assassinato; imoralidade: falso juramento; arrogância; roubo e avareza
13:3 “E o sacerdote examinará a praga na pele da carne; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará, e o declarará por imundo.”
Observando os versos seguintes até o verso 10, podemos perceber que esta praga tinha três sintomas:
1. Os pêlos são brancos e a área afetada parece mais profunda que o resto da pele;
2. A mancha estende-se sobre a pele;
3. Há carne viva na mancha, v. 10
Eram os sacerdotes que tinham a autoridade para declarar puro ou impuro, uma pessoa ou um objeto. Quando a pessoa tem esta praga não é considerada impura até que o sacerdote o comprove.
Veja que Yeshua uma vez curou uma pessoa com essa doença e determinou que fosse mostrar-se ao sacerdote…
Imediatamente a lepra o deixou, e ele foi purificado. Em seguida Yeshua o despediu, com uma severa advertência: "Olhe, não conte isso a ninguém. Mas vá mostrar-se ao sacerdote e ofereça pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho". Mc 1:42-44
Yeshua cumpria e ensinava a cumprir Torá, e vemos isso no texto mencionado acima, e entendemos como a vida do Messias está ligada à Torá. Neste texto não se fala de curar uma enfermidade, mas sim, de limpar a praga de “tsaráat”. Yeshua não diz: “sê curado”; mas sim “sê limpo”. Yeshua não o curou, mas sim limpou-o. Isto leva-nos a crer que não se trata de uma enfermidade como as outras, mas sim de uma praga sobrenatural sobre aquele que não se arrepende em tempo útil.
A pessoa não poderia se tornar pura antes do sacerdote o declarar, após uma análise detalhada. Yeshua sabia disso, por isso mandou o homem ir até o sacerdote. Logo, é a palavra do sacerdote que decide quando a pessoa está pura ou impura. A declaração do sacerdote tinha uma implicação social importante.
Olhando com uma visão profética nesse texto da Torá, e nesse ensino, podemos ver que o sacerdote representa Yeshua, que através do crivo da sua vida justa, nos examina e após uma acurada observação daquilo que podemos ser, nos declara como puros. Baruch Hashem!!!
Outro ponto profético é que o afetado pela praga não podia viver dentro da comunidade, mas sim fora, fora do acampamento ou fora da cidade se estivesse murada. Assim também aqueles que estão vivendo no pecado não podem viver junto com o povo de D’us, mas afastado, por isso o sacerdote, Yeshua, nos declara puros, para que possamos viver com seu povo em comunidade.
Muito há que se falar nessa parashá, mas este comentário ficaria muito extenso, e não é este o propósito, pois sempre há o próximo ano para estudar novamente essa porção. Assim, que possamos estar firmes e constantes no estudo da Torá e dos profetas, e prossigamos nossa teshuváh (retorno)com emunáh(firmeza, fé).
Que o Eterno lhes abençoe!!!
Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)
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