Estudos da Torá
Parashá nº 38 – Kôrach (Coré)
Bamidbar/Números Nm 16:1-18:32,
Haftará (Separação) 1Sm 11:14-12:22; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 19:1-30:47; Jd 1-25
Tema: Há justiça em meio à rebeldia
RELEMBRANDO
Semana passada na parashá Shelach Lecha estudamos sobre o ponto de vista de quem está em teshuvah em relação aos mandamentos e às promessas do Eterno com o desenvolvimento e o cumprimento das promessas. Na porção desta semana falaremos sobre algumas pessoas que alcançaram misericórdia do Eterno, em meio ao desastre de Kôrach, Datan, Aviram e seus seguidores, porque fizeram teshuvah (retorno, arrependimento, conversão). Veremos como uma verdadeira teshuvah com um coração repleto de verdadeira kavanah/intenção pode mudar uma história.
A PARASHÁ DA SEMANA
A Parashá Kôrach, segundo o site Chabad, começa com a infame rebelião liderada por Kôrach contra seus primos, Moshê e Aharon, alegando que os dois haviam usurpado o poder do restante do povo de Israel.
Após tentar convencer os rebeldes a uma retirada, Moshê diz aos dissidentes e a Aharon que cada um deve oferecer incenso a D'us. A oferenda do verdadeiro líder seria aceita pelo Eterno, enquanto que o restante do povo teria uma morte não natural. A um pedido de Moshê, D'us faz com que a terra miraculosamente se abra e engula Kôrach, enquanto o restante dos líderes da rebelião são consumidos por uma chama enviada por D'us. Quando os sobreviventes reclamam sobre a morte em massa, D'us ameaça destruí-los também, e irrompe uma peste.
Mais uma vez, Moshê e Aharon intervêm, oferecendo incenso para impedir a extinção do resto do povo. Deste modo, e com o miraculoso brotar do cajado de Aharon dentre aqueles dos outros líderes das tribos, Moshê e Aharon provam ser os líderes escolhidos. O papel de Aharon como Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é reiterado, e a Torá descreve os dons a serem concedidos aos Cohanim como recompensa por seu serviço no Mishkan (Tabernáculo), incluindo o direito de comer determinadas porções dos Corbanot (Sacrifícios). Os Levitas devem também ser sustentados pela sua dedicação recebendo ma'asser, ou a décima parte de todas as colheitas produzidas pelo povo na Terra de Israel.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Enquanto estudava as palavras escritas nesta porção da Torá de HaShem, me dei conta de que algumas pessoas não foram contadas dentre os mortos no desastre daqueles homens invejosos e rancorosos, a saber, Kôrach, Datan e Aviram, que levaram consigo mais duzentos e cinquenta homens para o abismo. Essas pessoas que não morreram muitas vezes passam despercebidas. Mas eu pretendo mostrar o caminho delas, e revelar que mesmo em meio a pessoas rebeldes pode haver justiça. E quero começar de forma redundante, ou seja, do início. Vamos caminhar juntos por alguns midrashim do povo de Yisrael, que trazem algumas histórias e explicações de algumas situações. Porém, é claro que não perderemos o foco das Escrituras, uma vez que nosso princípio é a própria Torá, pois é a nossa base, nossa bússola, nosso prumo e fonte da verdade. Comecemos então por ela, veja o texto inicial dessa parashá.
E desligaram-se da congregação, Kôrach, filho de Yitshar, filho de Kehat, filho de Levi, e Datan e Aviram, filhos de Eliab, e On, filho de Pélet, os quais eram da tribo de Reuven; e estes levantaram-se perante Moshê com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Yisrael, líderes da congregação, chamados à assembleia, varões de renome. Nm 16:1-2.
Ainda há pouco lemos o capítulo 16 de Bamidbar/Números, e se você está atento percebeu que nestes primeiros versos fala de um homem que estava com os revoltosos, seu nome era On o filho de Pélet, no entanto, o nome dele não aparece depois no decorrer do capítulo.
Para onde ele foi? O que houve com ele?
Outra coisa que devemos perceber também, é que este capítulo não menciona nada dos filhos de Kôrach. E para uma pessoa desatenta pode parecer que eles estavam junto com o pai. Mas a Torá, aqui se cala em relação a eles, porém em uma parashá mais na frente falará deles, e mostraremos aqui.
Então, neste início de estudo, já estabelecemos quem são as pessoas que não estavam com os homens que se levantaram contra Moshê. Eles são, On e os filhos de Kôrach. Como será que era o caráter deles? Será que eles concordavam com seus familiares e amigos? Ao longo do estudo as respostas a estas perguntas virão. Vamos então seguir em frente, fique aqui até o final do estudo.
Inveja: um problema a ser resolvido.
No estudo desta parashá no ano passado eu comentei, com alguns detalhes, a respeito do caráter desses homens que se rebelaram contra Moshê e Aharon, e do problema deles com a inveja. Se quiser saber mais sobre o assunto, acesse o estudo nos canais Sou Peregrino na Terra ou Kahal Teshuvah Brasil no YouTube, e em texto no blog souperegrinonaterra.blogspot.com.br.
Vamos aqui relembrar apenas alguns pontos daquele estudo, somente para contextualizar este estudo. Naquela ocasião eu disse que o comentário da Torá da Editora Sêfer nos diz o seguinte a respeito do primeiro verso dessa porção:
“Esta porção semanal registra a primeira revolta contra a autoridade de Moshê e Aharon. Os interesses pessoais de Kôrach motivaram a sua rebeldia. O descontentamento deste, nos diz o Midrash, surgiu porque Elitsafan, seu primo irmão, obteve um cargo ao qual Kôrach se achava no direito de ocupar. Porém, Elitsafan tinha mais méritos: ele era mais apto que Kôrach para as funções que lhe eram confiadas e Moshê não podia sacrificar o interesse geral em nome de idade e de família. Quanto a Datan e Aviram, a tradição nos ensina serem aqueles dois hebreus que brigaram no Egito e disseram então a Moisés: “Quem te pôs por homem, príncipe e juiz sobre nós?” (Ex 2:13-14) Eles eram também os mesmos homens que infringiram a prescrição de D’us relativa ao Maná (Ex 16:20). Kôrach, conhecendo as más disposições destes, apoiou-se sobre essa classe de gente na sua revolta injusta.” (Torá – A Lei de Moisés, Ed. Sefer, 2001, Página 436)
Na leitura dessa porção, podemos perceber que o nome da parashá é o primeiro nome que aparece no texto, Kôrach (Coré), assim como também encontramos o nome de outros três. Segundo o que lemos no comentário da Torá transcrito acima, onde nos é informado o motivo pelo qual levou este homem a questionar a autoridade de Moshê.
Podemos assim, perceber que a Torá quer nos apontar algo sobre o caráter deste homem chamado Kôrach. Embora fosse rico, estimado entre sua tribo e honrado com a tarefa de cuidar da Arca da Aliança, conforme Nm 4:15:
“Quando Aharon e os seus filhos terminarem de cobrir os utensílios sagrados e todos os artigos sagrados, e o acampamento estiver pronto para partir, os descendentes de Kehat virão carregá-los. Mas não tocarão nas coisas sagradas; se o fizerem, morrerão. São esses os utensílios da Tenda do Encontro que os descendentes de Kehat carregarão.”
Kôrach não tinha sido nomeado líder dos Coatitas, mas sim Elisafã, um primo mais jovem. O avô de Kôrach, era Kehat (Coate), cf. Êxodo 6:18-22.
“Os filhos de Coate foram Anrão, Isar, Hebrom e Uziel. Coate viveu cento e trinta e três anos. Os filhos de Merari foram Mali e Musi. Esses foram os clãs de Levi, por ordem de nascimento. Anrão tomou por mulher sua tia Joquebede, que lhe deu à luz Arão e Moisés. Anrão viveu cento e trinta e sete anos. Os filhos de Isar foram Corá, Nefegue e Zicri. Os filhos de Uziel foram Misael, Elizafã e Sitri.”
O pai de Kôrach era Izar, irmão de Uziel. E este era o pai de Elisafã. O pai de Kôrach era mais velho que o pai de Elisafã. Uziel mesmo sendo mais novo, seu filho Elisafâ foi eleito para ser o líder dos Coatitas, Conforme Nm 3:29-31.
“Os clãs coatitas tinham que acampar no lado sul do tabernáculo. O líder das famílias dos clãs coatitas era Elisafã, filho de Uziel. Tinham a responsabilidade de cuidar da arca, da mesa, do candelabro, dos altares, dos utensílios do santuário com os quais ministravam, da cortina e de tudo o que estava relacionado com esse serviço.”
A inveja desses homens os levaram a dizer coisas que tinham aparência de verdade, como por exemplo o que Kôrach disse a Mosheh:
“Vocês se valorizam em demazia! Afinal, toda a comunidade é sagrada, todas as pessoas, e Adonai está entre eles. Porque, então, vocês se elevam acima da assembleia de Adonai?”(Nm 16:3)
Toda a comunidade é santa, todas as pessoas, disse Kôrach, ou seja, todos poderiam exercer o ministério, mas isso contrariava a ordem de HaShem, que disse que somente os levitas poderiam servir. Devemos ter muito cuidado com meias verdades, pois elas são sofismas que servem somente para nos enganar. Veja o significado de sofisma no dicionário:
“argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa.”
Tendo entendido o contexto do que levou aqueles homens a agirem daquela forma tão egoísta, talvez devêssemos parar e pensar um pouco no assunto. Em conversa com o Rav Yochanan Ben Yaacov sobre alguns pontos dessa parashá, ele me lembrou de uma coisa muito importante, que talvez, assim como eu, você não tenha se apercebido. Ele falou que o mesmo problema de Kôrach nós temos também, a inveja, claro que em nível menor, porém se não cuidarmos da yetser hará podemos chegar naquele nível. Todos temos um pouco de Kôrach, quando não reconhecemos nossas limitações, e não entendemos que não temos todos os dons e que alguém perto de nós tem um don diferente e que pode parecer ser mais valorizado, ou que o Eterno usa mais que a nós. E no lugar de cuidar dos nossos pensamentos, e nos contentarmos com o que recebemos ficamos focados no don do irmão. A solução para isso é paramos de olhar para fora, ou seja, para os dons dos outros, e olharmos para dentro de nós, a fim de descobrirmos o que e como podemos melhorar, a fim de não sermos tragados como foi Kôrach.
Segundo os rabinos em Pirkê Avot/Ética dos Pais 4:28, "inveja, desejo e honra removem uma pessoa deste mundo." O desejo de fazer o trabalho do Kohen e ter a honra reservada somente aos Kohanim certamente alimentou esta inveja.
Os que foram poupados
Os primeiros que citaremos aqui serão os filhos de Kôrach, cujos nomes são mencionados em Shemot/Êxodo 6:24, vejam o texto:
Os filhos de Kôrach foram Asir, Elkanah e Aviasaf. Essas foram as famílias korchi. Êxodo 6:24
No decorrer da Torá ainda encontramos informações de que os korchi/koraítas como os demais membros das famílias dos descendentes de kehat ficaram responsáveis por cuidar dos utensílios do Mishkan. Ou seja, eles tinham uma responsabilidade diante das coisas do Eterno. E no texto em estudo, eles não aparecem, e podemos assim, compreender uma informação codificada na Torá. Os filhos de Kôrach não concordavam com as idéias, as atitudes e as ações de seu pai. Eles refletiam sobre a honra que o Eterno lhes tinha atribuído, ao cuidar das coisas do tabernáculo.
Depois da morte daqueles duzentos e cinquenta e três insurgentes, os filhos de Kôrach voltam a ser mencionados na Torá, na parashá Pinchás, em Bamidbar/Números 26:9-11, veja o texto:
e os filhos de Eliav foram Nemuel, Datan e Aviram. Estes, Datan e Aviram, foram os líderes da comunidade que se rebelaram contra Moshê e contra Aharon, estando entre os seguidores de Kôrach quando se rebelaram contra o Eterno. A terra abriu a boca e os engoliu juntamente com Kôrach, cujos seguidores morreram quando o fogo devorou duzentos e cinqüenta homens, que serviram como sinal de advertência. E os filhos de Kôrach não morreram. Números 26:9-11
Podemos ver no texto que os filhos de Kôrach não morreram, e no TaNaK ainda encontraremos textos mencionando os descendentes de Kôrach, e falaremos sobre isso no final.
A outra pessoa que foi poupada neste triste episódio, e que vivia no meio daqueles que se rebelaram contra Moshê e Aharon, foi um homem chamado On. Seu nome aparece nos dois primeiros versos do texto do nosso estudo.
E desligaram-se da congregação, Kôrach, filho de Yisthar, filho de Kehat, filho de Levi, e Datan e Aviram, filhos de Eliab, e On, filho de Pélet, os quais eram da tribo de Rubem; e estes levantaram-se perante Moshê com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Yisrael, líderes da congregação, chamados à assembleia, varões de renome. Nm 16:1-2.
E só neste texto On é mencionado. Não encontrei outra menção dele. E depois que virmos os midrashim, ficará mais claro o entendimento do motivo dessa omissão.
Os midrashim acerca dos que foram poupados
Encontramos nos midrashim dos sábios do povo de Yisrael algumas explicações a respeito dos filhos de Kôrach.
Quando Kôrach foi tragado pelo abismo, seus três filhos, Asir, Elkanah e Aviasaf também rolaram para baixo. Contudo, não foram arrastados às profundezas, mas milagrosamente foram descansar sobre elevadas plataformas que o Todo Poderoso ergueu para eles, desta forma, permaneceram vivos. Os filhos de Kôrach estavam entre os leviyim que, mais tarde, cantaram no Beit Hamikdash/Templo Sagrado.
O midrash pergunta, por qual mérito sobreviveram?
E nos explica que em seus corações, os filhos de Kôrach estavam cientes da verdade. Acompanhe o que este ensino continua a mostrar.
Moshê foi visitar Kôrach em sua tenda, enquanto a família estava sentada à mesa, pensaram: “Se nos levantarmos para Moshê, ofenderemos nosso pai. Por outro lado, se ficarmos sentados, transgrediremos a mitsvá de levantar-se perante um Sábio. Não devemos violar o mandamento da Torá, mesmo se nosso pai ficar enraivecido.” Por isso, levantaram-se em honra a Moshê.
Quando a destruição de Kôrach e seus seguidores começou, os filhos de Kôrach fizeram teshuvá em seus corações. Ao testemunharem a terra se abrindo e engolindo seu pai e seguidores, ficaram paralisados de medo, e incapazes de confessar seus pecados oralmente. O Todo Poderoso, contudo, que conhece os pensamentos da pessoa, viu que sua intenção era diferente. Por isso, Ele lhes permitiu sobreviver. Podemos entender a importância de uma teshuvah com verdadeira kavanah, ou seja, verdadeira intenção do coração, pois o Eterno vê o que está dentro de nós.
O midrash continua seu ensino, e menciona um versículo que diz: “Para o condutor, sobre rosas, para os filhos de Kôrach, um cântico de afeto.” (Tehilim 45:1). Por que denomina os filhos de Kôrach “rosas”?
Pessoas que os viram costumavam dizer: “São ‘espinhos’, exatamente como seu pai.”
O midrash fala isso, pois talvez as pessoas pensassem que os filhos de Kôrach teriam o mesmo caráter do pai. As pessoas costumam ser afetadas pelo meio que vivem, porém os verdadeiros servos de HaShem não devem sofre com esse problema, já que o seu modelo é a Torá.
E segue dizendo que na hora da destruição, todavia, o Eterno protegeu as rosas de serem queimadas junto com os espinhos.
Os filhos de Kôrach compuseram diversos salmos no Livro dos Salmos, dentre esses um que descreve como foram quase confinados ao Inferno: “Minha vida foi arrastada próxima ao inferno, fui ostracisado junto com os que desceram ao fundo do poço…” (Tehilim 88:4-5).
O midrash ainda menciona que no salmo 49, eles apelam a toda a humanidade que aprenda a lição moral do destino de seu pai:
“Os que se fiam em suas forças e de suas riquezas imensas se vangloriam, nem mesmo a seus irmãos podem eles redimir, nem a D’us oferecer resgate por sua morte. Não inveje nem tema ao homem que enriquece e alcança glórias pois, ao morrer, nem sua glória nem nada mais levará consigo. O homem que se engrandece e não tem entendimento para seguir as sendas traçadas por D’us, parecem-se com os animais que perecem e não deixam sequer lembrança.”
Agora, veremos o que o midrash fala a respeito de On, filho de Pélet.
Outro seguidor de Kôrach, On, também escapou da morte. Era membro da tribo de Reuven, vizinho da família de Kôrach, e, como tal, participou da rebelião. Ao voltar para casa da primeira reunião, contou à esposa que estava tomando parte numa rebelião. Ela argumentou: “O que você ganha com isso? Sua posição será a mesma, quer Aharon quer Kôrach seja o Sumo-sacerdote.” O midrash diz que On reconheceu a lógica das palavras da esposa, mas explicou que já não podia mais desligar-se do partido de Kôrach, uma vez que jurara oferecer incenso na manhã seguinte.
“Não se preocupe” – disse a esposa – “cuidarei disso.” Naquela noite, a esposa de On misturou um vinho muito forte à sua bebida. On caiu imediatamente num sono muito pesado. Enquanto isso, sua esposa sentou-se à entrada da tenda, e fez algo que nenhuma esposa judia faria: descobriu seus cabelos.
Logo chegaram os mensageiros de Kôrach para chamar On para a reunião. Porém, viram a esposa de On, com os cabelos descobertos! Deram meia-volta e foram embora. Kôrach enviou outros mensageiros. Eles também não se aproximaram da mulher de On. Os mensageiros iam e voltavam. Assim, On não apareceu ante o Santuário.
Kôrach, segundo o midrash, falou bem ao descrever os judeus como uma “congregação sagrada em meio a qual está a Shechiná.” O nível de recato da Torá era aceito pela geração inteira. Era lógico e natural que nem mesmo os mensageiros de Kôrach se dirigissem a uma mulher casada cujos cabelos estivessem descobertos.
Quando a morte golpeou os perversos, a cama onde On dormia começou a escorregar em direção ao abismo. A esposa de On agarrou a ponta e rezou: “Mestre do Universo, On desligou-se da corja de Kôrach. Ele jurou em Seu Grande Nome que não é seguidor de Kôrach. Se alguma vez violar sua palavra, então Você poderá puni-lo.” On foi poupado, e logo sua esposa censurou-o: “Agora, vá a Moshê e peça desculpas!” “Estou envergonhado demais para encará-lo,” replicou On. A esposa de On, então, foi a Moshê, soluçando amargamente e relatando o que acontecera a seu marido.
Ao receber o relato, Moshê caminhou até a tenda de On e falou com ele de maneira encorajadora, dizendo: “Saia! Que o Todo Poderoso o perdoe!” Pelo resto de sua vida, On não parou de lamentar-se e fazer teshuvá por uma vez ter ficado ao lado de Kôrach. Aqui fica bem claro o motivo da omissão na Torá de outras referências a este homem, que ia entrando no erro, mas devido a esposa sábia, foi salvo da destruição.
Seu nome indica isso: On – ele estava em estado de luto (oninut – luto).
Filho de Pelet – um filho (homem) que foi resgatado da destruição através de um milagre (Pelet refere-se a Pele – milagre). “A sábia entre as mulheres constrói sua casa.” (Mishlê 9:1) O midrash diz que o versículo de provérbios refere-se à esposa de On, cuja sabedoria resgatou seu lar da destruição. “Mas a mulher perversa o demole com suas próprias mãos.” Refere-se à esposa de Kôrach, que arruinou seu marido e todo o seu lar. Quando se trata de assuntos práticos, o marido deve ouvir os conselhos da esposa.
Entendimentos práticos e proféticos
Passando agora para a parte final deste estudo, depois de termos visto um pouco do contexto histórico e os comentários e ensinos dos midrashim dos sábios do povo de Yisrael. Vamos refletir mais um pouco a respeito do nosso tema. O fato da Torá, conforme mostramos antes, relatar os filhos de Kôrach em Shemot, e nesta parashá, no momento da morte de seu pai omitir sua presença junto dele. Para então, alguns trechos depois voltar a mencioná-los esclarecendo que eles não morreram de forma tão nítida, só pode ser para nos revelar uma informação importante. Da mesma forma que o primeiro verso fala de On, e depois, em toda a parashá e mesmo após ela, nada mais fala a respeito dele, também deve querer nos revelar alguma informação importante. Mas que informação?
Você sabe que Torá é instrução, direção, ensino do Eterno. Eu sempre repito o quanto a Torá é didática. Mais uma vez temos a oportunidade de reconhecer isso, e de glorificar o Eterno.
Esse trecho da parashá, em um sentido literal e prático, quer nos ensinar que mesmo em meio a pessoas que são rebeldes, invejosas e transgressoras, pode haver pessoas que tenham um coração que pode se voltar para o Eterno. Sempre haverá alguém para fazer teshuvah, para se arrepender. Sempre haverá alguém que busca seguir os conselhos do Eterno, por livre e espontânea vontade como no caso dos filhos de Kôrach ou motivado por outra pessoa, como no caso de On.
Nisto podemos e devemos reconhecer como é importante nosso papel em meio à sociedade em que vivemos ou em meio aos nossos familiares e amigos. Mesmo os que pensamos que estão perdidos por estarem vivendo no erro ou no engano. Nossa prática de justiça diária e nossa disposição em estar sempre prontos a ensinar a verdade pode mudar uma história. E nessa parashá vimos como isso é importante.
Essas pessoas que foram poupadas da destruição devido a um certo nível de justiça mesmo vivendo no meio de tanta injustiça, inveja e rebeldia é um apontamento profético para os remanescentes que estão espalhados ao redor do mundo. É um apontamento profético para mim e para você que estava em um ou outro sistema religioso, seja o cristianismo ou o judaísmo, pois um dia estávamos lá no meio do erro, e o Eterno teve misericórdia de nós. Ele olhou nossa kavanah e viu que nossa intenção era verdadeira, mas estávamos enganados. Por isso nos deu uma chance.
Os filhos de Kôrach não morreram como vimos em Nm 26:11, e sua descendência continuou servindo ao Eterno no decorrer da história no TaNak. E um parente deles ficou muito famoso, a saber Asaf. Vemos vários Salmos escritos pelos descendentes de Kôrach, tais como 42, 44 ao 49; 84, 85, 87 e 88. E também Asaf escreveu doze salmos o 50, 73 ao 83. Encontramos referências aos koraítas no preparo dos utensílios e na inauguração do Beit Hamikdash/Casa da Santidade/Templo Sagrado e em vários textos em Divrei-Hayamim Alef/1 Crônicas, em Divrei-Hayamim Bet/2 Crônicas.
É importante destacar que o TaNaK fala de pelos menos outros dois Kôrach, mas eles não são da tribo de Levi e descendentes de Kehat.
Falando mais um pouco de contexto profético, quando olhamos para Asaf como um parente dos descendentes de Kôrach, pois de acordo com 1Crônicas 6:39-43, Asaf era descendente de Gershon, filho de Levi, assim como Kôrach era descendente de Kehat, filho de Levi. Eles eram parentes! Assim, como eu e você estamos servindo ao Eterno, e algum parente não está, nossa justiça pode atingi-los no futuro próximo ou até no futuro distante. Profeticamente os descendentes de Kôrach apontam para todos os que recebem a Torá de HaShem e fazem teshuvah, e por isso são salvos de cair no abismo, vivendo uma vida justa e sendo testemunha da misericórdia do Eterno.
Para finalizar nosso estudo, leiamos o 73 e reflitamos como esse parente próximo dos filhos de Kôrach lembra o desastre daqueles homens. O texto desse salmo fala claramente a respeito dos sentimentos e caráter de Korach, Datan e Aviran nessa parashá. Em um sentido profético, mas ao contrário, no lugar de falar do futuro, ele retorna ao passado. Ao mesmo tempo em que ele fala da corrupção de alguns dos sacerdotes de seu próprio tempo, já quase no fim de sua vida e também trata a respeito do futuro. Esse futuro fala do nosso tempo e também dos tempos vindouros. O Rav Yochanan me mostrou que cada um dos três, Kôrach, Datan e Aviran representam uma congregação de um milênio, ou seja, três milênios. E olhando ainda mais um pouco nesse tema de hoje, também podemos dizer que os filhos de Kôrach, chamados Asir, Elkanah e Aviasaf, também apontam para três milênios, sendo que esses são apontamentos para os milênios com os nazarenos justos. Então note, três milênios de injustiças ou com pessoas injustas e três milênios de justiça ou com pessoas justas, isso forma seis milênios.
E talvez você diga, mas falta um para completar o sétimo milênio! Esse é justamente o apontamento de On, que por causa de sua esposa, que representa a congregação nazarena, alcançou misericórdia e perdão e não foi mais citado. Assim, como Yeshua, que aos olhos dos judeus é corrupto, e nem é citado por eles, mas que virá no sétimo milênio depois de estar sumido tanto tempo. Ele trará a justiça e se apresentará diante do povo como o rei que traz perdão. E muitos se prostrarão diante dele para reconhecer que é o representante do Eterno Baruch HaShem.
Que possamos ser as testemunhas que mostram ou revelam a justiça para os que a procuram, assim como para os filhos de Kôrach e On. E se nós formos em algum momento um pouco de Kôrach, que possamos parar e impedir a yetser hará de crescer e nos levar para o caminho da inveja, arrogância e rebeldia, a fim de alcançarmos um coração grato.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr./Rav Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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