Estudos da Torá
Parashá nº 6 – Toldot (Gerações)
Bereshit/Gênesis 25:19-28:9
Haftará (separação) Ml 1:1-2:7 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Rm 9:6-16; Hb 11:20; 12:14-17
Tema: Seja uma fonte de água limpa.
Vivemos em tempos de desafios, onde obedecer aos mandamentos e perseverar nas promessas do Eterno parecem ser atitudes quase impossíveis, apesar de não ser. Muitas vezes, os obstáculos geram desanimo, e o peso das lutas podem conduzir ao pensamento de desistir da caminhada. Mas é justamente nesses momentos que a Palavra do Eterno, a Torah, nos inspira a buscar força e direção. Nessa porção, a história de Yitschak, narrada na parashá Toldot, nos oferece um ensinamento poderoso: assim como ele cavou poços em meio a conflitos, persistiu diante da oposição e encontrou paz em Rechovot (alargou), também somos chamados a sermos fontes de água limpa em um mundo árido.
Neste estudo, exploraremos algumas lições práticas ensinadas nessa narrativa sobre perseverança, fé e obediência ao Eterno. Veremos como essa passagem ecoa nas palavras dos profetas e se cumpre de maneira profeticamente no Messias e em seus seguidores. Por fim, observaremos também os ensinamentos de Yeshua e seus emissários para descobrir como podemos nos tornar poços de água limpa que trazem vida e renovação aos que estão ao nosso redor.
Se você deseja encontrar inspiração para superar as dificuldades, renovar sua confiança no Eterno e compreender como as Escrituras se conectam de forma prática e profética, este estudo é para você. Descubra como Yitschak nos ensina a caminhar em direção a um "Rechovot" - alargamento em nossas vidas - um lugar de paz, abundância e espaço amplo sob a bênção do Eterno, em um futuro vindouro.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
A parashá Toldot nos leva a mergulhar na vida de Yitschak e Rivca, revelando como o plano do Eterno começa a tomar forma através de suas descendências. Esta é a única porção semanal dedicada integralmente a Yitschak, mas sua mensagem é profundamente rica e cheia de ensinamentos, tanto éticos quanto proféticos.
O texto nos apresenta o clamor de Yitschak e Rivca, um casal unido pela confiança no Eterno, que, após vinte anos de esterilidade e insistente interseção, vê suas orações atendidas. Rivca descobre que sua gravidez não era comum devido à agitação que sentia dentro de si: havia uma batalha no ventre, representando dois filhos que darão origem a duas nações. O Eterno revela que o mais novo prevalecerá sobre o mais velho.
Essav, o primogênito, nasce forte e peludo, enquanto Yakov, agarrado ao calcanhar do irmão, já mostra sinais de sua determinação. Enquanto Essav se torna um caçador, um homem do campo, Yakov cresce nos caminhos da integridade, habitando nas tendas. A narrativa nos apresenta uma reviravolta: faminto após uma caçada, Essav despreza sua primogenitura e vende a Yakov por um prato de lentilhas, revelando as diferenças profundas entre eles.
Em outro episódio, Yitschak revive a experiência de Avraham ao enfrentar o medo em Gerar, chamando Rivca de irmã para envolvê-la. Apesar das dificuldades, ele prosperou, reabrindo os poços de seu pai e cavando novos, até encontrar paz em um lugar chamado Rechovot.
Já na velhice, cego e desejando abençoar Essav, Yitschak é surpreendido pela astúcia de Rivca e Yakov. Em um ato que une fé e ousadia, Rivca veste Yakov com as roupas de Essav, e ele recebe uma vitória proveniente do primogênito. Este evento muda para sempre o curso da história.
A tensão entre os irmãos explode, e Yakov precisa fugir. Ele parte rumo a Haran, onde buscará refúgio e também uma esposa na casa de Lavan, irmão de sua mãe. Enquanto isso, Essav, em uma tentativa de apaziguar seus pais, toma uma esposa da linhagem de Ismael.
Toldot nos desafia a reflexão sobre escolhas, fé e os designs do Eterno. É uma história de conflitos, reconciliações e promessas que se estendem por gerações, mostrando que mesmo os caminhos mais difíceis estão sob a soberania do Eterno. Que esta narrativa inspire sua busca pelas Escrituras e fortaleça sua confiança nas promessas do Eterno!
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Iniciando o estudo propriamente dito, dessa parashá, vamos fazer a leitura da passagem que nos encaminha ao assunto. Leiamos Bereshit/Gn 26:13-22.
Nessa parashá, a passagem em que Yitschak reabre os poços que Avraham tinha aberto, cava novos recebendo resistência e encontra paz em Rechovot, é um marco na parashá Toldot. Mais do que um relato histórico, ela nos ensina sobre a perseverança em meio às dificuldades, sobre a necessidade de manter viva a esperança na promessa em obediência aos mandamentos, profeticamente, aponta para os tempos de restauração e justiça no plano do Eterno. Por meio de um estudo reflexivo, veremos como essa narrativa inspira práticas diárias, oferece uma visão profética sobre o Messias e está profundamente conectada aos ensinamentos de Yeshua e seus emissários.
1. Reabrindo os poços: perseverança em tempos de dificuldade
Dos três patriarcas Yitschak foi o que teve a vida mais tranquila, e mesmo assim, enfrentou desafios importantes. Em Gerar, terra tomada pelos filisteus, que historicamente vieram de ilhas do mediterrâneo, Yitschak teve de lidar com conflitos constantes. Mesmo assim, seguiu cavando, reabrindo os poços que seu pai Avraham havia escavado. Esses poços, fonte de água em uma terra árida, representam a continuidade da herança e da bênção do Eterno. Profeticamente, assim como dos poços fluem água limpa e pura, pessoas que recebem a Torah em sua vida, fluem água pura e limpa, ou seja, os poços representam pessoas que de seu interior fluem ações práticas de Torah, veremos mais à frente, as palavras de Yeshua para a mulher samaritana. E essas pessoas começam a praticar o que aprenderam e se tornam fonte para outas pessoas também.
A cada novo poço, Yitschak demonstrava resiliência, paciência e confiança no Eterno. Porém mesmo assim, encontrou resistência externa, pessoas que não queriam deixar os poços com o patriarca. Apenas no terceiro poço, chamado Rechovot, ele encontrou tranquilidade e espaço para prosperar. Esse poço é uma representação das atividades das pessoas no reino do Eterno depois do sétimo milênio.
Yitschak abriu outra vez os poços cavados durante os dias de Avraham, seu pai, os que os p’lishtim fecharam após a morte de Avraham, e chamou-os pelos nomes que seu pai lhes deu. Os servos de Yitschak cavaram no vádi e descobriram uma fonte de água. Contudo, os pastores de Gerar discutiram com os pastores de Yitshcak, afirmando: Essa água é nossa! Por isso ele chamou o poço Esek – discussão, pois eles discutiram com ele. Eles cavaram outro poço, e houve discussão por causa desse também. Assim, ele o chamou Sitnah – inimizade. Ele partiu dali e cavou outro poço, e não houve discussão por causa dele. Então, ele o chamou Rechovot – amplos espaços abertos, e disse: Agora Adonai preparou-nos um espaço, e seremos produtivos na terra. Gn 26:18-22
Este relato nos desafia a perseverar em nossas próprias vidas. Muitas vezes, enfrentamos “filisteus modernos”, isto é, obstáculos que tentam impedir nosso progresso. Este progresso diz respeito a crescer em obediência e nos aproximar cada vez mais da vontade do Eterno.
Yitschak não desistiu, mas trabalhou diligentemente, confiando que o Eterno abriria um caminho de paz. Assim como ele, somos chamados a preservar a herança da fé, escavando "poços", ou seja pessoas, por meio de oração, obediência, confiança e, principalmente, instrução da Torah, mesmo quando confrontados por adversidades. Esse poços após serem limpos tornam-se fontes de águas limpas que purificam e matam a sede de outros.
2. Os poços e a visão profética do futuro
A escavação e reabertura dos poços por Yitschak, conforme disse acima possui significado profundo, e amplia o entendimento nos escritos dos profetas. Em Yeshayahu/Isaías, lemos sobre a água como símbolo de justiça e salvação:
“Com alegria tirareis águas das fontes da salvação” Yeshayahu 12:3.
Este versículo aponta para um tempo em que o povo do Eterno encontrará restauração e refrigério, tornando-se fontes de salvação, ao levarem a palavra do Eterno aos perdidos, Leia todo o capítulo mencionado acima, e confirme esses apontamentos proféticos.
Rechovot, que significa “espaço amplo”, também ecoa o que os profetas disseram sobre a vinda de dias em que haverá espaço para a paz e justiça entre as nações.
Em Mikhah/Miqueias está escrito:
“E julgará entre muitos povos e resolverá problemas de nações poderosas; converterão suas espadas em arados e suas lanças em foices. Nenhuma nação erguerá a espada contra outra, e não aprenderão mais a guerra” Mikhah 4:3.
O encontro de paz em Rechovot reflete a esperança de um tempo em que o Messias traz restauração total à terra, inaugurando uma era de harmonia e prosperidade. É uma clara referência ao período do sétimo milênio, tempo que o messias governará o mundo e os remanescentes serão reis e sumo sacerdotes, e assim, levarão a verdade às pessoas, transformando-as em fontes de água.
Essa visão profética não se limita ao povo de Yisrael, mas se estende a pessoas de todos os povos. Assim como Yitschak abriu os poços para que todos se beneficiassem, o Messias trouxe a verdadeira água viva que saciará a sede de justiça de todas as nações.
3. A água viva nos ensinamentos de Yeshua e seus emissários
Yeshua HaMashiach utilizou a água como um dos símbolos centrais de seu ensino. Em uma ocasião, disse:
“Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” Yochanan 4:14.
Este ensino encontra paralelos profundos com a narrativa de Yitschak. E isso demonstra com clareza a ampliação da revelação profética e seu cumprimento no decorrer dos tempos. Assim como Yitschak cavou poços que trazem vida, Yeshua oferece água-viva que sacia a necessidade de justiça e confiança nas promessas do Eterno para seu povo e para os que desejam se unirem a ele. Observe mais um texto:
E se alguém der mesmo que seja apenas um copo de água fria a um destes pequeninos, porque ele é meu discípulo, eu lhes asseguro que não perderá a sua recompensa. Mt 10:42
Os emissários também ampliaram essa ideia, ensinando sobre a necessidade de purificação e renovação. Em Efessiyim/Efésios, Shaul escreve:
“Ele nos purifica pela lavagem da água, pela palavra” Efessiyim 5:26.
Assim como Yitschak persistiu em abrir fontes de água limpa, somos chamados a manter nossas vidas como fontes puras, oferecendo aos outros a vida que vem por meio da obediência e da confiança no Eterno, Yakov, irmão de Yeshua, também destaca a importância de sermos fontes de bênçãos para outros. Em Yaakov 3:11, ele pergunta:
“Pode uma fonte jorrar do mesmo lugar água doce e amarga?”
Este ensino se conecta à prática diária de sermos pessoas que promovem paz, justiça e fidelidade, como Yitschak fez em sua busca até alcançar Rechovot, espaço amplo.
Um pouco de Gematria
Confirmando que devemos ser uma fonte de água limpa, vamos usar um pouco de gematria.
Yitschak abriu outra vez os poços cavados durante os dias de Avraham, seu pai, os que os p’lishtim fecharam após a morte de Avraham, e chamou-os pelos nomes que seu pai lhes deu. Os servos de Yitschak cavaram no vádi e descobriram uma fonte de água. Contudo, os pastores de Gerar discutiram com os pastores de Yitshcak, afirmando: Essa água é nossa! Por isso ele chamou o poço Esek – discussão, pois eles discutiram com ele. Eles cavaram outro poço, e houve discussão por causa desse também. Assim, ele o chamou Sitnah – inimizade. Ele partiu dali e cavou outro poço, e não houve discussão por causa dele. Então, ele o chamou Rechovot – amplos espaços abertos, e disse: Agora Adonai preparou-nos um espaço, e seremos produtivos na terra. Gn 26:18-22
Se tomarmos os versos que analisamos acima em hebraico, e somarmos todos os versos teremos um valor gemátrico total de 22083, somando esse número teremos o valor 15, e se por último somarmos 1+5 teremos a raiz 6. Agora notem, 6 é a letra ו Vav, que nos pictogramas antigos representa prego, gancho, adicionar ou acrescentar. Daí que entendemos que o número 6 é um número que aponta para o homem, pois mostra atividades humanas. Mas repare que um dos significados do pictograma é adicionar, o que nos aponta para o fato de o homem que vive de acordo com a vontade do Eterno, seguindo os ensinos do messias, torna-se uma fonte de águas limpas, ou seja, uma fonte de ensino de Torah.
Observe ainda que o termo רְחֹבֹ֔ות rechovot tem o valor gemátrico de 616. Isso é interessante, pois esse valor aponta para o que dissemos acima. Veja:
- 6 aponta para homem;
- 1 é o valor da letra א Alef, que aponta para o Eterno;
- 6 aponta para homem.
Sendo assim, 616 aponta para o homem (6) que vive de acordo com o Eterno (1) transforma outros homens (6). Se somarmos 6+1+6 = 13, que tem a raíz 4. O número 4 é a letra ד Dálet, cujo significado nos pictogramas é porta, caminho. Se levarmos em conta que Yeshua teve seu início de ministério no 4 milênio, e que ele disse que é a porta e o caminho que leva as pessoas ao Eterno, então entendemos que a palavra rechovot na parashá, cujo significado é alargar, nos revela os propósitos do Eterno. Tudo está conectado!
Concluindo nosso estudo, podemos perceber que a narrativa de Yitschak nos inspira a sermos fontes de água limpa em nossas gerações. Ela nos ensina a perseverar, mesmo em meio aos conflitos, a garantir as bênçãos do Eterno, que mesmo durante aflições podem ser alcançadas e a confiar que Ele nos conduzirá a um tempo de paz. Profeticamente, os poços apontam para as pessoas que vivendo segundo a vontade do Eterno, ajudam a restaurar vidas e a estabelecer o Reino de D’us que o Messias inaugurará, oferecendo vida e abundância a todos os que perseverarem no Eterno.
Finalmente, os ensinamentos de Yeshua e de seus emissários reforçam a importância de vivermos como fontes puras e benéficas, espalhando a água viva do Eterno em um mundo sedento. Que possamos, assim como Yitschak, continuar escavando e encontrando Rechovot, um lugar de espaço amplo e paz, tanto em nossas vidas quanto nas pessoas ao nosso redor.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)