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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

 


Estudos da Torá

Parashá nº 16Beshalach (Depois de ter deixado)

Shemot/Êxodo Ex 13:17 – 17:16

Haftará (separação) Jr 4:4 – 5:31 e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 2:22-24; Jo 6:25-35; Ap 15:1-4


Tema: Você é povo ou filho?


No estudo dessa parashá veremos que a Toráh define grupos diferentes de pessoas que saíram do Egito e poderemos aprender com essa descrição e verificar se estamos sendo povo ou se estamos sendo filhos de Yisrael. Teremos a oportunidade de aprender que nesses grupos de pessoas descritos na Toráh, ainda hoje muitos estão se encaixando na descrição. Dessa forma, devemos fazer a escolha de que tipo de pessoa classificada na Toráh queremos ser.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

O povo hebreu é libertado do Egito e D’us os conduz pelo deserto, não pelo caminho mais curto que cruza a terra dos filisteus, mas pelo mais longo para que não tivessem que lutar contra inimigos imediatamente, e desta forma desejarem retornar ao Egito, arrependidos e amedrontados de terem que enfrentar a imprevisível jornada. D’us os protegia através de nuvens durante o dia andavam à sua frente e uma coluna de fogo para iluminar o caminho à noite. O faraó arrepende-se de ter enviado o povo judeu em liberdade e segue à frente de seu exército a fim de persegui-los e aniquilá-los. O povo reclama a Moshê porque ele os tirou do Egito? Para perecerem agora no deserto?

Moshê fala que nada devem temer. D’us comanda a Moshê que levante a vara e fenda o mar. Ocorre um grande milagre e as águas do Yam Suf (mar de juncos) abrem caminho seco no meio do mar, formando paredes imensas em ambos lados, totalizando doze caminhos por onde passam as doze tribos. E as águas se fecharam castigando e trazendo a morte sobre os egípcios. E Miriam apanha um pandeiro e as mulheres saem atrás dela dançando. Após a travessia o povo judeu não encontra água por três dias, apenas águas amargas em Mará. D’us realiza novamente um milagre transformando as águas amargas em potável.

O povo continua reclamando, desta vez é por fome, D’us então envia alimento dos céus, o maná, na exata porção para cada um, sem sobras e sem poder ser guardado ou armazenado, pois apodrecia. Apenas Erev Shabat o man (maná) caia em porções duplas e estes deveriam ser guardados para o dia seguinte, pois era Shabat. Moshê reserva um man em um frasco a mando de D’us para ser descoberto por gerações futuras como testemunho da grandeza do Criador. E após recomeçarem nova jornada, há falta de água, mas Moshê bate na rocha e todos podem beber da fonte que jorra dela. A parashá termina com a luta entre Amalêc e Yehoshua com a vitória de Yehoshua e a promessa de D’us de que a memória de Amalêc será extinta.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO

E foi ao enviar o faraó ao povo, o Eterno não os guiou pela estrada principal que atravessa a terra dos P’ilishtim, por causa de sua proximidade – Elohim pensou que, ao ver a guerra, o povo poderia mudar de idéia e voltar ao Egito. Em vez disso, Elohim guiou o povo por uma rota indireta, através do deserto junto ao mar de Suf. Os filhos de Yisrael subiram armados da terra do Egito. Shemot/Ex 13:17 e 18


O texto nesta porção nos mostra várias coisas interessantes. Dentro do aspecto literal e histórico podemos verificar alguns fatos. O Eterno não conduz o povo pelo caminho dos filisteus que era mais acessível e mais rápido também, com o intuito de protegê-los evitando que vissem os horrores da guerra. Guardem este fato! Falaremos sobre ele mais adiante. E no lugar disso, faz com que o povo dê a volta pelo deserto até ao mar de juncos.

A Toráh nos citados versos ainda diz que os filhos de Yisrael saem do Egito armados. O site Emunah a fé dos santos, no comentário dessa parashá diz que o Faraó deixou ir o povo com a condição de que não voltassem mais, conforme pode ser visto em Ex 11:11 e 14:5. O Eterno não faz nada ilegal ou injusto, e por isso era muito importante que a saída deles fosse feita com o consentimento do Faraó, pois se não fosse assim, teria sido um furto, um ato ilegal. O Eterno não iria quebrar a sua própria Torah, pois ela é a expressão do seu caráter, é seu nome.

Essas coisas que mencionei acima são apenas uma pincelada nos fatos históricos a respeito dos versos, entretanto há mais coisas que podemos e devemos observar nestes versos, e que muitas vezes acabam passando desapercebidos em nossa leitura. Repare neles abaixo, agora com algumas palavras em negrito.



17 וַיְהִ֗י בְּשַׁלַּ֣ח פַּרְעֹה֮ אֶת־הָעָם֒ וְלֹא־נָחָ֣ם אֱלֹהִ֗ים ֚דֶּרֶךְ אֶ֣רֶץ פְּלִשְׁתִּ֔ים כִּ֥י קָרֹ֖וב ה֑וּא כִּ֣י׀ אָמַ֣ר אֱלֹהִ֗ים פֶּֽן־יִנָּחֵ֥ם הָעָ֛ם בִּרְאֹתָ֥ם מִלְחָמָ֖ה וְשָׁ֥בוּ מִצְרָֽיְמָה׃

18 וַיַּסֵּ֨ב אֱלֹהִ֧ים׀ אֶת־הָעָ֛ם דֶּ֥רֶךְ הַמִּדְבָּ֖ר יַם־ס֑וּף וַחֲמֻשִׁ֛ים עָל֥וּ בְנֵי־יִשְׂרָאֵ֖ל מֵאֶ֥רֶץ מִצְרָֽיִם׃


17 VAYEHY BESHALACH PAROH ET-HAAM VELO-NACHAM ELOHIM DEREKH ERETS PELISHTYM KY QAROV HU KY AMAR ELOHIM PEN-YNACHEM HAAM BIREOTAM MILECHAMAH VESHAVU MITSERAYEMAH:

18 VAYASEV ELOHIM ET-HAAM DEREKH HAMIDBAR YAM-SUF VACHAMUSHIM ALU BNEY-YISRAEL MEERETS MITSERAYM:


E foi ao enviar o faraó ao povo, o Eterno não os guiou pela estrada principal que atravessa a terra dos P’ilishtim, por causa de sua proximidade – Elohim pensou que, ao ver a guerra, o povo poderia mudar de idéia e voltar ao Egito.

Em vez disso, Elohim guiou o povo por uma rota indireta, através do deserto junto ao mar de Suf. Os filhos de Yisrael subiram armados da terra do Egito.


Já falei em outros estudos que a Toráh deve ser estudada com atenção e observação, pois sempre há coisas mais profundas em sua páginas que as meras letras no papel. Por exemplo, quando a Toráh repete palavras, escreve algo aparentemente errado, etc, devemos nos ater a estes detalhes para encontrar alguma coisa mais que o Eterno quer nos passar.

Nos versos que citamos acima no texto hebraico, transliterado e traduzido, é possível reparar algumas coisas. Vemos a palavra “povo” repetir três vezes e no final vemos o termo “filhos de Yisrael”. E com certeza isso tem um motivo!! Nada na Toráh é por acaso. E é nessa observação que entraremos no tema do nosso estudo.

Então vimos que “povo” repete três vezes, e com um pouco de guematria podemos entender que o número 3 aqui pode remeter aos 3 milênios depois que mashiach exerceu a primeira parte de seu ministério, onde neles pessoas tem libertas da escravidão do pecado e passam a servir ao Eterno através da obediência à Toráh. Guardem esse número, pois voltaremos a falar nele.

O autor Bruno Summa, em seu comentário da parashá Beshalach, no livro Sha’arei Torah, afirma que a Toráh faz diversas distinções entre os homens, inclusive dentre o Povo de Yisrael, o qual é separado em três classes: israelitas, levitas e sacerdotes. Segundo o autor, da mesma maneira, a Toráh também distingue os seres humanos, as pessoas, em três classes: homens que são criaturas de HaShem, homens que são povo de HaShem e homens que são chamados filhos de HaShem, e aqui sugiro guardar a palavra “filho”.


As classes de pessoas

Há diferenças claras entre essas classes de pessoas. A diferença encontrada entre o homem que é criatura de HaShem e o que é povo de HaShem é nítida, o primeiro é um homem comum, um simples vivente, que não reconhece o criador ou que o define através de conceitos idólatras. Já o que é povo de HaShem é aquele que de alguma forma está ligado ao Eterno através da Torah, mas falta algo nessa ligação. No entanto, o que muitos não conseguem compreender é a diferença que há entre ser povo de HaShem e ser filho de HaShem. Porque muitos acreditam que desde o momento em que um homem passa a fazer parte do povo do Eterno ele já é considerado filho. E aí está o engano que leva muitos ao legalismo, pois é preciso bem mais do que isso. Já dissemos em estudos anteriores que nem todos os que saíram do Egito eram hebreus, e nem todos os hebreus eram verdadeiramente filhos de Yisrael. Aqueles que se misturaram ou foram assimilados ao Egito e conseguiram sair com os demais, com certeza não era tratado pelo Eterno da mesma forma que os membros da tribo de Levi que não se contaminaram com o sistema egípcio, eles eram os remanescentes verdadeiros.

O mencionado autor diz que os versos lidos não apenas ensinam a diferença entre “povo” e “filho”, como também ensina que ser povo não significa necessariamente ser filho de HaShem. Cabe-nos então fazer uma pergunta: Quem são os filhos de HaShem?

A Toráh, nestes versos 17 e 18, se refere a Yisrael de uma forma genérica, como Haam - הָעָ֛ם - povo - durante 3 vezes consecutivas, no entanto, no final do verso 18, ao falar que estavam armados, ela os chama de Bney - בְנֵיfilhos. Vamos responder a pergunta, mas antes, outra pergunta: por que o Eterno na Toráh muda a forma de tratá-los? É aqui que está um Sod, um segredo! O Autor Bruno Summa, ainda faz outras perguntas: porque eles só são chamados de filhos quando é dito que estão armados? E como poderia uma nação que era escrava sair armada? E se estavam armados porque não poderiam lutar contra os filisteus e seguir pelo caminho mais curto? Essas perguntas mostram as dificuldades, e estas mostram o que o Eterno busca dos homens e como eles se diferenciam perante os olhos do Criador.


Uma Torah para cada tribo

Para chegarmos na resposta da nossa pergunta sobre quem são os filhos, devemos seguir por um caminho e buscar o entendimento sobre a própria Toráh. Ela também é chamada dentre o povo de CHUMASH - חומשׁ - é um termo derivado de CHAMESH - חמשׁ - que é o nome do numeral 5, é uma alusão direta aos 5 livros que a compõe. Outro fato importante a respeito da Torah que muitos não conhecem é que o livro de B’midbar/Números é um compêndio de 3 livros, e se fossem separados, a Toráh seria composta de 7 livros. Está atento? Vai prestando atenção! Vemos aqui, profeticamente, um livro da Torah para cada dia da semana e para cada um dos 7 milênios. Segundo o Rav Yochanan Ben Yaakov, da Kahal Teshuvah Brasil, o livro de Devarim/Deuteronômio é um compêndio de 5 livros. Então temos Bereshit, Shemot, 3 em Bamidbar, Vayicrá e 5 em Devariam, que fazem 11 livros, mais a Toráh oral, que faria com que a Toráh ficasse com 12 livros. E dentro dos códigos seria um livro da Toráh para cada uma das tribos. E pensem, qual tribo ficaria com a Toráh oral? Se você pensou tribo de Levi, acertou!!

Essas informações são muito importantes para entendermos o que é dito no verso 18, e para compreendermos quem é chamado de filho. Esse verso diz que os filhos de Yisrael saíram armados, e a palavra hebraica que a Torá utiliza é CHAMUSHIM - חֲמֻשִׁ֛ים – e repare que tanto CHUMASH quanto CHAMUSHIM são da mesma raíz hebraica e possuem a mesma origem, e como CHUMASH é um dos nomes da Toráh, podemos entender claramente que as “armas” que os filhos de Yisrael possuíam, profeticamente falando, quando saíram do Egito não eram meras espadas e lanças, mas sim a Toráh. Os filhos de Yisrael saíram do Egito armados com a Toráh. Mas como poderia ser isso, se eles ainda não tinham chegado ao Sinai e a Toráh ainda não lhes tinha sido dada?

Segundo Bruno Summa, “armados” em hebraico é CHAMUSHIM - חֲמֻושִׁ֛ים, porém nesse verso está escrito CHAMUSHIM - חֲמֻשִׁ֛ים, sem a letra Vav (ו). E essa palavra escrita dessa forma pode também ser lida como CHAMASHIM, que significa 50, que vai dar a raíz guemátrica de 5, que é uma alusão à Toráh. Ou seja, eles tinham a Toráh oral recebida dos descendentes de Shem, e mesmo sem terem a Toráh escrita ainda eles já tinham atingido alguns níveis de sabedoria apenas através da observância de alguns mandamentos específicos. Atingiram certos níveis de justiça, com uma vida de obediência.

Assim, podemos entender sobre o sentido real e profético das “armas” dos filhos de Yisrael e o que significa estar armados com a Toráh. Não significa carregá-la embaixo do braço, decorá-la ou praticar por praticar, mas estar armado com a Toráh significa obter sabedoria verdadeira, que só pode ser conquistada por aqueles que a estudam e aprendem a aplicar suas instruções nos momentos certos. Quando Yisrael juntou a sabedoria da Toráh à oração e ao louvor que é citado por David no Samos 119:164, que diz: Sete vezes por dia eu te louvo. Nada poderia ficar em seu caminho, nada nesse mundo pode impedir de seguir em frente. E isso é verdadeiro em nossos dias também.


Os filhos de Yisrael

Agora vamos responder à pergunta. Depois de tudo o que dissemos até aqui, fica mais fácil compreender o motivo de a Toráh se referir às pessoas que saíram do Egito como povo por 3 vezes e depois como filhos de Yisrael. Veja, povo é uma alusão às pessoas egípcias e de outras nações que saíram com os hebreus, e também é uma referência aos hebreus que não eram os remanescentes obedientes da tribo de Levi. E filhos de Yisrael é um apontamento para os remanescentes da tribo de Levi que obedeciam a Toráh, ou seja, que realmente estavam armados, conforme vimos acima.

Aquela multidão formada por diversas pessoas chamada de povo não podem ser filhos até que ajam como tal, até que a Toráh seja parte de sua vida e lhes dê sabedoria como deu aos levitas, pois perante os olhos de HaShem, filhos são os que adquirem sabedoria da Toráh e se armam com ela. O autor Bruno Summa diz que, dentre as pessoas que servem ao Eterno e tentam ser parte de Yisrael, existem pessoas e pessoas, ou seja, haverá os que servem ao Eterno por tradição, por legalismo ou como meio de conseguir uma vida melhor, e até mesmo pela salvação. E esses são considerados por HaShem como seu povo. Entretanto, no meio dessas pessoas há os poucos que observarão a Toráh por amor, sem expectativas de recompensas pelo que fazem, sem barganhar com o Eterno e vislumbrando mais a vontade do criador do que os seus próprios desejos pessoais. Esses não serão apenas povo, eles serão chamados de Filhos, são os que estarão mais próximos ao messias fazendo parte do sacerdócio, da mesma forma que os que foram chamados de filhos de Yisrael ao sair do Egito.


Os filhos de Efraim

Retornando ao número 3, que eu falei para guardarem no início. Há um midrash em Shemot Rabbah 20:11 afirmando que parte da tribo de Efraim cometeu um erro ao calcular a contagem dos 400 anos de escravidão no Egito. Isso fez com que essas pessoas resolvessem se levantar, tomarem suas coisas e partirem por conta própria, deixando a terra do Egito. Isso ocorreu antes do Faraó da época de Moshê decidir escravizar o povo. Eles saíram na mesma época que Yóv, Yitróh e Bilam. O citado midrash, diz que ao saírem, no meio do caminho, havia a terra dos filisteus que ao verem trezentos mil homens atravessando suas terras, os atacaram e os mataram em um massacre deixaram seus cadáveres à vista. Os hebreus que permaneceram no Egito souberam disso e ficaram com medo.

Agora vamos a alguns apontamentos proféticos. A tribo de Efraim era de pessoas justas, mas resolveram deixar seus irmãos e sair do Egito. Sua justiça serviu de expiação para os hebreus que no futuro deixariam o Egito. Note, que 3 milhões de pessoas saíram do Egito com Moshê, e as vidas justas dos 300 mil ajudou a expiar seus pecados. Repare ainda no número de 300 mil homens, essa é uma raiz 3, que aponta para os 3 milênios em que pessoas tem sido retiradas dos sistemas religiosos através da obra de mashiach. Esses que saem das nações através da obra de mashiach também são conhecidos nas profecias como filhos de Efraim, casa de Efraim ou Casa de Yisrael. Eles são os remanescentes!

Outra coisa que é importante destacar, é que através do citado midrash entendemos o possível motivo de o Eterno não querer levar os hebreus pelo caminho dos filisteus, conforme vemos n verso 17. Eles se lembrariam do que aconteceu com os da tribo de Efraim e sentiriam medo e desejariam voltar ao Egito. Por isso o Eterno sabendo de seus temores os poupa e leva-os pelo deserto, onde tratariam seus medos e aprenderiam a depender do Eterno.

Encerrando então o estudo, podemos mais uma vez comprovar que nada que está escrito nos textos sagrados é por acaso, e é por isso que são sagrados, pois nada nessa terra se compara às palavras do Eterno. E você precisa refletir: tu és povo ou filho? Espero que depois desse estudo, se tinha alguma dúvida, possa decidir em que classe de pessoas está e viver como filho.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Pr/Rav Marcelo Peregrino Silva (Marcelo Santos da Silva - Moshê Ben Yosef)


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

 


Estudos da Torá

Parashá nº 15Bo (Vá)

Shemot/Êxodo Ex 10:1 – 13:16

Haftará (separação) Jr 46:13 - 28 e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 1Co 11:20-34; Gl 5


Tema: Aprenda a usar a liberdade.


No estudo dessa semana temos a oportunidade de refletir a respeito da liberdade. A liberdade que o povo de Yisrael recebeu ao ser liberto do domínio egípcio. A liberdade que o messias trouxe para todos que desejam seguir o padrão de vida estabelecido pela Torah. E refletiremos sobre o que é feito dessa liberdade. Será que sabemos usufruir dela? O apóstolo Paulo fala sobre esse assunto em sua carta aos Gálatas, veremos como o assunto está ligado.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

No resumo dessa parashá, vemos o Eterno falar para Moshê e Aharon irem até o faraó para que este liberte o povo hebreu da escravidão, e se assim não o fizer, D’us castigará o Egito enviando a 8a. praga, a de gafanhotos, que cobrirá toda a terra e acabará com todo alimento e plantações que restaram, após a praga de granizo.

Ao saber que Moshê pretendia levar todo o povo hebreu, homens, mulheres, crianças e todo o seu gado, o faraó não permitiu que todos partissem, mas apenas os homens. O faraó volta as costas para Moshê e Aharon e então o Eterno manda os gafanhotos, dando início a destruição. A praga só é interrompida quando o faraó novamente implora a Moshê que reze a D’us para que interrompa a praga. Mas logo em seguida, assim que desapareceram os gafanhotos, endureceu novamente seu coração não deixando os hebreus partirem. D’us então envia a 9a. praga: a escuridão completa. As trevas só afetavam os egípcios que permaneciam no mesmo lugar, sentados ou em pé, sem poder se mover por três dias, e somente para os hebreus havia luz. O faraó apela novamente para Moshê, mas permite que partam desde que deixem seu gado para trás. Moshê não concorda, pois o gado servirá de oferta de sacrifícios para D’us. O faraó então não os deixa partir.

D’us envia a última praga ao Egito: morte aos primogênitos. D’us instruiu Moshê e Aharon sobre o mês de Nissan que será para o povo de Yisrael o primeiro dos meses do ano e todos os detalhes envolvendo o Cordeiro Pascal, que seriam preparados para a refeição que precede o Êxodo. O sangue dos cordeiros foi colocado como sinal nas casas dos hebreus para que D’us "saltasse" sobre suas casas, ferindo somente os egípcios.

O Eterno estabelece a comemoração de Pêssach e a proibição de ingerirmos alimentos fermentados. Também nos instrui, através de Moshê e Aharon, sobre a obrigação de todos os anos, nesta data, relatarmos o Êxodo do Egito e os milagres com que Ele nos libertou da escravidão a nossos filhos, em todas as gerações. A parashá termina estabelecendo a mitsvá de Pidyon Haben (Resgate do Primogênito) e da colocação de tefilin.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO

Conforme já mencionei, a parashá Bo fala das últimas três pragas que caíram sobre o Egito, e consequentemente o Êxodo do povo Hebreu.

E da mesma forma que nas ocasiões anteriores o faraó não deixa o povo sair, o que culmina com a morte dos primogênitos e a saída do povo de Yisrael, em liberdade, das terras egípcias. E aqui começamos a ver um grupo de pessoas constituídos não apenas de hebreus, mas também de pessoas de outras nações saindo do Egito, inclusive egípcios que se converteram ao D’us de Yisrael. Todos eles saíram libertos da escravidão e da tirania daquele faraó. Mas eles ainda não eram um povo, pois para isso necessitariam de Leis, que receberiam no Sinai. A liberdade e ser um povo requer algumas coisas, que muitas vezes são desprezadas, e falaremos sobre isso.

Encontramos no site Chabad uma mensagem dessa parashá muito interessante que passo a transcrever abaixo:

Nessa porção semanal lemos que D’us falou a Moshê e Aharon para que transmitissem uma ordem aos filhos de Israel. Deveriam orientá-los para que começassem a preparar alicerces para a futura construção do Tabernáculo de D’us. Esta ordem parece pouco realista e prematura, visto ser dada em meio à escravidão e ao sofrimento.

O objetivo de liberdade de uma nação geralmente encontra expressão em alguma proeminente instituição física ou espiritual. A liberdade do Egito encontrou sua expressão nas pirâmides, as quais nada mais eram que túmulos glorificados para os reis, às custas da miséria de milhares de escravos. A antiga Grécia, após ganhar sua liberdade dos Persas, construiu templos na Acrópole, glorificando o corpo humano.

Israel, ao ganhar sua liberdade, tinha como objetivo o Sinai, onde após lhe ser entregue a Toráh, todo o povo se uniu para construir um Tabernáculo onde deveria repousar a Presença Divina. A essa finalidade, todo o Êxodo foi dedicado desde o início. E, de fato, ao estudarmos a história de Yisrael, após sua entrada na Terra Prometida, encontramos o clímax de toda a história judaica, quando o rei Salomão construiu o Templo de Jerusalém.

O significado espiritual da Porção Bô constitui um desafio ao mundo de hoje, onde cada vez mais, pequenas nações conquistam sua independência. Ao nível individual pode ser sentida mais intensamente se levarmos em conta as condições econômicas que tendem a dar-nos cada vez mais tempo livre. O que fazemos com este tempo livre? Há duas chances: ou é tão mal aplicado a ponto de nossos dias tornarem-se uma fonte de aborrecimentos, ou por outro lado, seguindo o exemplo de Yisrael, utilizamos nossos dias para preparar os "alicerces para o Tabernáculo de D’us".

Vamos então refletir em algumas questões a respeito da liberdade que o povo de Yisrael recebeu. Eles receberam a liberdade e como eles a usaram? Como agiram no decorrer da caminhada? Veremos textos de parashiot posteriores.

- Medo e falta de confiança.

¹⁰ Ao aproximar-se o faraó, os israelitas olharam e avistaram os egípcios que marchavam na direção deles. E, aterrorizados, clamaram ao Senhor.

¹¹ Disseram a Moisés: "Foi por falta de túmulos no Egito que você nos trouxe para morrermos no deserto? O que você fez conosco, tirando-nos de lá?

¹² Já não lhe tínhamos dito no Egito: Deixe-nos em paz! Seremos escravos dos egípcios! Antes ser escravos dos egípcios do que morrer no deserto! " Êxodo 14:10-12


- Queixas pela falta de algo.

Chegaram a Marah, mas não podiam beber a água de lá, pois era amarga. Esse é o motivo de a chamarem Marah (amargor). O povo queixou-se de Moshê e perguntou: O que beberemos? Moshê clamou ao Eterno; e o Eterno mostrou-lhe um pedaço de madeira, que, ao ser lançado na água, tornou-a de sabor agradável. Ali o Eterno estabeleceu para eles leis e regras de vida, e ali ele os testou. Ele disse: Se vocês ouvirem com atenção a voz do Eterno, seu Elohim, e fizerem o que ele considera certo, prestarem atenção às suas mitsvot e guardarem sua leis, eu não atingirei com nenhuma das doenças com as quais afligi os egípcios, pois eu sou o Eterno que cura vocês. Ex 15:23-26


- Saudade das coisas do Egito.

Ali, no deserto, toda a comunidade do povo de Yisrael queixou-se de Moshê e Aharon. O povo de Yisrael lhes disse: Desejaríamos que o Eterno tivesse usado a própria mão paranos matar no Egito. Ali nos assentávamos à volta de panelas com carne cozida e dispúnhamos de alimento conforme desejássemos. No entanto, vocês nos tiraram de lá e nos trouxeram a este deserto para fazer toda a assembleia morrer de fome. Êxodo 16:2-3


- A recusa em obedecer ao mandamentos.

Moshê disse: Hoje comam isso; porque hoje é um shabat para o Eterno. Hoje vocês não acharão no acampamento. Juntem-no durante seis dias, mas o sétimo dia é o shabat, nesse dia, não haverá nada. Contudo, no sétimo dia, algumas pessoas saíram para recolher e não encontraram nada. Êxodo 16:25-27


É importante notar que o objetivo de o Eterno ter libertado Yisrael era para que eles se tornassem um povo, uma nação santa. E para isso acontecer eles deveriam se atentar para as orientações do Eterno, isto é, obedecer aos mandamentos. Isto significa construir o tabernáculo, não o físico e local, mas o que é o corpo e a vida de cada indivíduo.


Agora observemos também a liberdade que cada um de nós recebemos à partir do messias Yeshua. E para isso, vejamos o que Shaul HaShaliach fala em sua carta aos Gálatas no capítulo 5.

Em meu E-book Entendendo os textos de Paulo, podemos perceber que ao lermos os textos dos capítulos anteriores ao capítulo 5, poderemos perceber que o Apóstolo Paulo está falando de seu evangelho, de ex-gentios tornarem-se filhos de D’us, e também de salvação pela Fé (emunáh – firmeza, confiança, obediência) no Messias, está dizendo que antes da salvação o homem era escravo da natureza pecaminosa, veja o que ele diz em Gl 4.8:

No passado, quando vocês não conheciam a D’us, serviram como escravos a seres que na realidade não são deuses.”

O Apóstolo está falando dos crentes não judeus, que antes de conhecerem a Yeshua, eram idólatras, entre outras coisas. Com isso, podemos perceber que o contexto desses capítulos é a justificação e a libertação, a qual o Messias trouxe àqueles que depositam sua confiança no D’us de Yisrael, através dele. O Apóstolo não está de maneira nenhuma, colocando-se contra a Lei de D’us, ou dizendo que ela foi abolida. Ao contrário disso, ele está dizendo que a observância legalista dela não traz nenhum benefício. Se lermos essa carta com cuidado poderemos entender perfeitamente o assunto tratado em seu escopo.

O fato é que, apareceram algumas pessoas que se diziam verdadeiros crentes em Yeshua, mas seus verdadeiros objetivos eram escusos, pois eram religiosos legalistas. É o que Sha’ul chama de “outro evangelho”, ou de “evangelho falso”, como podemos ver:

“Estou estarrecido com o fato de vocês terem me trocado tão rapidamente, àquele que os chamou pela graça do Messias, por outras supostas ‘boas-novas’, que não são boas-novas de forma nenhuma! A realidade é que certas pessoas estão aborrecendo vocês e tentando perverter as genuínas boas-novas do Messias...” Gal 1.6-7.

Note que Sha’ul (Paulo) está repreendendo os crentes da Galácia por terem-no rapidamente trocado por outros mestres, que vieram lhes trazendo ensinamentos diferentes acerca da justificação. Entretanto, tais ensinamentos não eram apenas ideias diferentes das que ele tinha ensinado, mas deturpadas e contrárias à Verdade contida nas Escrituras que o Apóstolo lhes tinha apresentado. A verdade é que o Evangelho, ou Boas Novas, só são verdadeiras se forem do Messias, que é de acordo com a Toráh, qualquer outra mensagem será falsa, e é isso que ele passa através de seus textos.

Agora, para uma boa compreensão do contexto, é necessário que relembremos o que é essa observância legalista da lei.

Uma vez que dizemos que a carta fala da justificação pela Fé (emunáh – firmeza, confiança, obediência) em detrimento das obras da lei (ma’assei hatoráh), necessitamos entender isso de forma correta. David H. Stern, em sua obra “Comentário Judaico do Novo Testamento”, define o legalismo como “o falso princípio de que D’us concede aceitação às pessoas, considerando-as justas e dignas de estarem em sua presença, com base na obediência delas a um conjunto de regras, e isso à parte de colocarem sua confiança em D’us, sujeitando-se aos cuidados dele, amando-o e aceitando o seu amor por elas.” É fácil entender o que é legalismo, quando percebemos que Paulo queria dizer que seria uma prática meramente ritualística, sem princípio verdadeiro nas Escrituras, como invenções e costumes humanos criados a partir das Leis ou Mandamentos dados pelo Eterno, com a clara intenção de alcançar a justificação por meio deles. É contra isso que o Apóstolo estava falando, e não contra os Mandamentos ou Leis em si mesmos. Paulo estava pregando contra aqueles que insistiam em que os ex-gentios salvos em Yeshua, deveriam guardar os ritos da Lei, como o da circuncisão, por exemplo, antes da plena compreensão, para serem justificados.

Então, quando vemos algumas pessoas falando sobre judaizar a igreja, percebemos que elas não sabem seu significado, pelo fato de entenderem o texto de Paulo de forma errada. “Judaizar” na verdade, conforme os textos que estamos lendo, seria exigir que um não judeu se converta ao judaísmo ou vire judeu, a fim de que possam serem justificados pela pela prática legalista dos mandamentos, e era o que aquelas pessoas estavam fazendo com os gálatas. Exemplo disso é o que Paulo fala nessa carta sobre a circuncisão, que é para os judeus de sangue e para ex-gentios que queiram fazer parte da aliança demonstrando entendimento e amor ao Eterno. Os gentios que se aproximam do povo de D’us não precisam se circuncidar logo que chegam a fé, sem entendimento algum, conforme lemos em Atos 15. Porém, há Mandamentos que devemos começar a cumprir logo que nos aproximamos do povo e do Eterno, porque são para todos, é a Palavra de Deus também.

Sendo assim, a liberdade que o Apóstolo está falando no capítulo 5, não se trata de estar livre para não obedecer às Leis de D’us, mas a liberdade da escravidão do pecado, que é a transgressão da Lei, conforme 1Jo 3:4. A liberdade da condenação advinda do pecado, que é mencionada no capítulo 4, por isso ele fala de justificação pela Fé, e a tentativa de justificação por cumprir a circuncisão. Veja os versos 13 a 15:

“Porque, irmãos vocês foram chamados para serem livres. Apenas não permitam que a liberdade se transforme em desculpa para darem margem à sua velha natureza. Ao contrário, sirvam uns aos outros em amor. Porque a Torah toda é resumida em uma frase: “Ame o próximo como a si mesmo”. Mas se vocês se morderem e arrancarem pedaços uns dos outros, cuidado: vocês acabarão se destruindo!”.

O foco do autor é combater a velha natureza e não o cumprimento das Leis de D’us, até porque elas são santas, justas e boas, conforme o Apóstolo Paulo fala em Romanos 7.12. E se são boas, por quê Sha’ul as combateria, afinal? Isso nos comprova a falibilidade dessa teologia ensinada e pregada nas igrejas, emissoras de rádio e em programas de tv. Uma teologia sem o contexto correto das Escrituras, sem verdadeiramente as Escrituras, pois se estudassem com sinceridade, humildade e verdade, poderiam perceber seus erros, assim como também um dia eu e muitos outros que agora abraçam a Visão da Restauração perceberam.

Finalmente, ao ler o texto em estudo, precisamos compreender que o Eterno está transmitindo, através de seu Ruach (Espírito), pelos escritos de Paulo, que a liberdade dada pelo Messias (primeiramente para os judeus que creram Nele, e a nós que éramos gentios e fomos enxertados em Israel, por meio da Fé no testemunho Dele, conforme Romanos 11) é para vivermos verdadeiramente como filhos que entendem sua responsabilidade no Reino do Pai. Recebemos a liberdade do poder do pecado e não da Lei do Eterno. Sha’ul quer transmitir que a liberdade recebida não pode nos conduzir de volta ao pecado e à carnalidade, e que por meio da Fé no testemunho de Yeshua, temos agora condições de obedecer às Leis e Mandamentos porque somos salvos, e não para sermos salvos através delas. Até porque, salvação significa exatamente receber de D’us condições de viver, porque estávamos destinados a morte, e a vida Eterna nós recebemos ao obedecermos as palavras da Torá de HaShem. Por esse motivo devemos voltar às raízes da nossa Fé e ao contexto original das Escrituras, a fim de buscar compreensão verdadeira de vivermos o caminho que foi preparado para vivermos, a Torá. E dessa forma usar a liberdade que recebemos com sabedoria, obedecendo a vontade do Eterno para construir nosso tabernáculo, ou seja, nossa vida de justiça com o Eterno conforme o messias nos demontrou.

Que não cometamos os mesmos erros do povo de Yisrael no deserto, mas aprendamos a usar a liberdade recebida com sabedoria.


Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Pr/Rav Marcelo Peregrino Silva (Marcelo Santos da Silva - Moshê Ben Yosef)


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Estudo da Parashá Shemot - Os erros dos homens de D'us

 



Estudos da Torá

Parashá nº 13Shemot (Nomes)

Shemot/Êxodo Ex 1:1 – 6:1

Haftará (separação) Is 27:6 – 28:13; 29:22-23; Jr 1:1-2:3 e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 22:23-33; 41-46; Hb 11:23-26


Tema: Os erros dos homens de D’us.


No estudo dessa semana veremos através dos erros de alguns homens de D’us que apesar de muitos os colocarem em altares de incorruptibilidade ou em patamares elevadíssimos de caráter, eles eram homens e como tal eram falhos e cometiam pecados e erros diante de D’us. Teremos a oportunidade de entender que mesmo sendo servos do Eterno e tentando cumprir seus mandamentos da melhor forma possível, ainda somos passíveis de erros e isso não era diferente com nenhum dos Patriarcas ou profetas anteriores a nós. No entanto, a diferença está na kavanah que temos de sempre tentar acertar, e ao cometer algum pecado como um acidente de percurso, nos arrepender e corrigir nosso caminhar, pois o Eterno vê e nos sonda a todo momento.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

De acordo com o site Chabad e Emunah a fé dos santos, a parashá Shemot, inicia o segundo livro da Torá, e começa citando os nomes dos filhos de Yaakov. Os que foram para o Egito são doze, cada um foi com a sua família. A Torah nos informa que de Yaakov saíram no total 70 almas, enfatizando suas gerações por terem se conservado fiéis aos ensinamentos dos Patriarcas, apesar de habitarem no Egito, uma nação idólatra. No entanto, conforme temos visto em vários estudos anteriores, os descendentes dos que entraram no Egito não se mantiveram totalmente fiéis aos ensinos da Toráh Oral que lhe fora passado, ao ponto de perderem um pouco dela.

Ainda segundo o site, o faraó governa o Egito, esquecendo os benefícios que trouxe Yosef para o país, que o tornou rico e próspero. Leis cruéis que visavam o enfraquecimento do Povo de Israel através da aflição e sofrimento foram decretadas pelo seu impiedoso poder.

Duas parteiras hebréias, Shifrá e Puá negam-se a cumprir o plano do faraó de matar todo menino hebreu recém-nascido, dispostas a sacrificar a própria vida. Foram recompensadas em sua descendência formada por cohanim, leviim e reis.

Nasce Moshê que é lançado por sua mãe nas águas do Rio Nilo para que sua vida fosse poupada. A filha do faraó, Batia, estende seu braço e salva o menino. Moshê sofre com o trabalho escravo do povo judeu e acaba matando um egípcio em um episódio onde este golpeava covardemente um judeu. Moshê foge para Midian e acaba conhecendo Yitrô e casa-se com sua filha, Tsipora.

D’us se revela para Moshê através do fogo na sarça ardente e lhe incumbe a missão de libertar o povo judeu do Egito. D’us promete a Moshê que estenderá Sua mão e ferirá o Egito e por haver ainda temor por parte de Moshê, D’us lhe mostra Seu poder através de milagres; transforma um bastão em cobra e novamente em bastão; a mão de Moshê fica com a doença de tsaraát e torna a ficar sã, novamente.

Moshê, acompanhado de sua família, segue para o Egito a fim de salvar seu povo. Mas ao ver que tornou-se ainda maior a ira do faraó impondo mais intensamente sua crueldade sobre os hebreus, Moshê clama a D’us que lhe responde que com mão forte ferirá todo o Egito.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO

Não apenas nessa parashá, mas em todas elas, podemos ter plena certeza de que o Eterno cumpre as suas promessas, mas nessa porção a promessa feita a Avraham a respeito de multiplicar a descendência é vista de forma muito plena. Aqui vemos no verso 7 o texto dizer que:


E os filhos de Yisrael frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles.” Ex 1:7


Mesmo Yisrael sendo a menor das nações no mundo com o passar do tempo ele se tornou muito numeroso, vemos o Faraó falando sobre isso no verso 9:


O qual [faraó] disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós.” Ex 1:9


Por isso, quando analisamos profeticamente a situação, podemos entender que no final o povo de Yisrael será maior que o resto do mundo. E isso nos referindo aos que formam realmente o povo de Yisrael, ou seja, judeus, e os que sendo casa de Yisrael espalhados pelo mundo retornam aos caminhos do Eterno, ex-gentios, e todos por meio de Yeshua são enxertados neste povo santo.

Compreendemos que os que fazem parte do povo do Eterno são poucos, os que seguem os passos do messias Yeshua são um pequeno grupo, mas apenas se olharmos para uma geração isolada, porém quando olhamos para todas as gerações esse número cresce muito, pois muitos serão ressuscitados ou transformados os que estiverem vivos na época.

No entanto, esses servos de D’us de todas as épocas são pessoas que cometeram transgressões contra a Toráh enquanto tentavam acertar. Erraram mesmo caminhando no caminho da verdade do Eterno, assim como hoje nós também erramos. E é justamente isso que vamos falar nesse estudo.

Para iniciarmos no tema desse estudo, vamos aos versos 1 e 2 do capítulo 2 dessa porção.


E foi um homem da casa de Levi e casou com uma filha de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que ele era formoso, escondeu-o três meses.” Ex 2:1 e 2


Aqui nesses versos a Torah nos mostra os pais de Moshê sem mencionar seus nomes e nem dar detalhes sobre eles. Será que há algo aqui para vermos? O que estava acontecendo nesse momento histórico? Porque falar que um homem da casa de Levi se casou com uma filha de Levi? Isso não seria a mesma coisa? O significado não seria o mesmo?

Com certeza, já temos mostrados através de vários estudos anteriores que sempre podemos aprender algo a mais com a Torah, ainda mais quando ela faz algum tipo de mistério com um assunto. E esse texto aqui é mais um desses momentos em que a Torah quer que nós nos debrucemos sobre o assunto e nos aprofundemos um pouco mais.


Um pouco de contexto histórico...

Os nomes dos pais de Moshê somente aparecerão mais à frente, na próxima parashá, em Ex 6:20.


E tomou Amram a Yochéved, sua tia, por mulher, e deu à luz, para ele, a Aarão e a Moshê, e foram os anos da vida de Amram cento e trinta e sete anos.


Amram era neto de Levi filho de Yaakov, e segundo o comentário de rodapé da Torah da editora Sefer, era o líder espiritual de sua geração. Já a mulher a quem ele toma por esposa era Yochéved, a filha de Levi, e segundo o texto nos conta, tia de Amram.

Encontramos no texto hebraico a palavra דֹּדָתוֹ - dodato, que significa “tia dele” ou “sua tia”. O termo hebraico “dod” é tio. E a palavra doda é tia, e é exatamente “dodato” que aparece no texto acima.

Porque será que a Toráh nos relata que ela era tia dele? Há um erro nesse relacionamento, já que sabemos que a Toráh afirma ser pecado esse tipo de relacionamento proibindo-o em Lv 18:12-14.


¹² "Não se envolva sexualmente com a irmã do seu pai; ela é parenta próxima do seu pai.

¹³ "Não se envolva sexualmente com a irmã da sua mãe; ela é parenta próxima da sua mãe.

¹⁴ "Não desonre o irmão do seu pai aproximando-se da sua mulher para com ela se envolver sexualmente; ela é sua tia.

Levítico 18:12-14


O que estava acontecendo? Afinal, se anos mais tarde, no Sinai, a Toráh escrita ao sera dada o povo de Yisrael fazia essa proibição, com toda a certeza a Toráh Oral já mencionava isso. Por qual motivo Amram desobedeceu então um mandamento sério desses? Será que a Toráh antes não falava sobre isso?

Com certeza a Torah Oral já mencionava o assunto, pois sabemos que a Toráh escrita é complementada pela Toráh Oral e vice e versa. Vou falar algo que muitos podem não concordar, mas o que falo está de acordo com a Torah, e não com os pensamentos humanos. O judaísmo criou uma série de informações a respeito da história de Amram e Yochéved e seu casamento, a fim de justificarem algo que eles sabem ser errado, tudo para não manchar a imagem de um de seus mais proeminentes líderes no Egito. Porém, cabe a nós analisarmos os fatos frios e entender o que a Toráh deseja que saibamos, a fim de vivermos segundo a vontade de HaShem.

Quando dizemos para ter cuidado com alguns ensinos do midrash é por isso, ele afirma que quatro tsadikim ou justos morreram sem pecar e suas mortes foram decretos do Todo Poderoso, que havia decretado a morte da humanidade depois do pecado de Adam, são eles: Binyamin, filho de Yaakov; Amram, o pai de Moshê; Yishai, pai de David e Kilav, filho de David com Abigail. No entanto, sabemos que eles não foram totalmente justos, por exemplo, o pai de David se envolveu com uma prostituta que gerou a David. E temos também Amram, que falaremos agora.

A Toráh Oral diz que depois que os filhos de Yaakov morreram seus descendentes foram se perdendo no Egito, e começaram a abandonar os mandamentos do Eterno. A tribo de Levi resistiu por algum tempo, mas também acabou cedendo às práticas pecaminosas permanecendo então, apenas alguns remanescentes. Amram era de fato o líder religioso, mas já havia se esquecido de muito dos mandamentos que lhe fora ensinado.

Devido ao nível de transgressão daquela geração dos filhos de Yisrael a escravidão se agravou muito, até que chegasse o tempo determinado pelo Eterno. E por essas transgressões o cordeiro precisou ser sacrificado e seu sangue colocado no umbrias das portas de todos os hebreus, os que não obedeceram perderam seus primogênitos.

Mas voltando a Amram e Yochéved. Ela era sua tia, irmã de seu pai, filha de seu avô Levi. Amram não poderia se casar com ela, mas eles cometem transgressão e se casam. E desse casamento nasce Miriam, Aharom e Moshê. Há toda uma história contada pelo midrash acerca disso, mas não mencionaremos isso aqui.

Mesmo dessa união pecadora, o Eterno levanta aqueles que seriam os líderes dom povo durante a libertação do Egito e a chegada a Kenaam. É importante que destaquemos que isso não os condena totalmente, claro que pecaram diante do Eterno e sua vontade, mas a remissão desses erros foi retornar ao caminho correto e seus filhos viverem uma vida de obediência. E mesmo os filhos deles também erraram no caminhar dessa vida.

Vemos Miriam que em determinado tempo falou contra a liderança de Moshê. Também vemos Aharon que constrói forçadamente ou não o bezerro de ouro, que levou muitos à idolatria no deserto. Ambos se arrependeram e obtiveram o perdão do Eterno e continuaram a viver em justiça.


Outros homens de D’us que pecaram

- Noach se embriagou com o fruto de sua vinha e fez coisas que geraram problemas familiares (Gn 9:20-26);

- Avraham aceitou dormir com Hagar, a serva de sua mulher Sarah (Gn 16:1-4);

- Yitschak permitia que seu filho Esav lhe subjugasse com palavras e fazia distinção entre ele e Yaakov;

- Yaakov enganou seu pai e teve mais de uma esposa;

- Moshê não circuncidou seus filhos e obedeceu ao Eterno no caso da Meriváh;

- David matou seu amigo Urias por ter adulterado com a mulher dele;

- O rei Shlomoh teve tantas mulheres que caiu em idolatria para agradá-las;

- Elias perdeu a confiança no Eterno quando a rainha Izevel lhe fez ameaças e fugiu para se esconder;

Há um infinidade de outros personagens que as Escrituras relatam seus erros e todos eles eram homens justos, que erraram tentando acertar.


O mais importante...

Depois de tudo o que vimos até aqui, devemos destacar o que é mais importante nessa parashá e nesse tema de hoje. O mais importante não é olhar para os erros dos homens de D’us, mas sim buscar entender o que eles fizeram errado e corrigir o nosso rumo, para que não venhamos cometer ou permanecer nos erros. Errar enquanto buscamos acertar é algo normal e faz parte da caminhada. E nossas vidas o pecado é um acidente de percurso. O mais importante é reconhecer o erro, se arrepender, pedir o perdão ao Eterno corrigindo seus passos e seguir em frente.

O Eterno estava agora levantando Moshê para libertar o povo de Yisrael do Egito não porque o povo merecesse ou porque eles estavam arrependidos, mas em primeiro lugar para cumprir a parte na aliança com Avraham, e em segundo lugar, porque havia um remanescente justo arrependido entre a tribo de Levi e alguns dentre outras tribos que buscavam viver segundo os preceitos do Eterno. Por isso a redenção estava chegando!

O TaNaK nos diz que quem confessa o pecado e deixa, alcança misericórdia! Veja:


Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia. Pv 28:13


Por isso, mesmo que todos esses homens de D’us tenham transgredido algum mandamento, eles encontraram a misericórdia do Eterno porque se arrependeram e confessaram. E esse mesma prática devemos nós fazer.


Apontamentos proféticos

Conversei com o Rav Yochanan sobre esse tema, e em nossa conversa mencionamos que essa passagem clara do erro de Amram é uma profecia a respeito do casamento das pessoas com os sábios do judaísmo, ou com os dogmas criados por eles. E assim, como o Eterno aproveitou os filhos desse casamento errado para libertar o povo, nós somos aproveitados pelo Eterno e geramos também libertação.

Não estou dizendo que não podemos usar os comentários dos sábios e nem ler o que eles escreveram, mas devemos balizar tudo pela Torah e pelo profetas, e rejeitar o que não está de acordo.


Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Pr/Rav Marcelo Peregrino Silva (Marcelo Santos da Silva - Moshê Ben Yosef)