Páginas

Boas Vindas

Seja Bem Vindo e Aproveite ao Máximo!
Curta, Divulgue, Compartilhe e se desejar comente.
Que o Eterno o abençoe!!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Estudo da Parashá Vayishlach - Dináh: uma profecia sobre Yisrael.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 8 – Vayishlach (E enviou)

Bereshit/Gênesis 32:4-36:43

Haftará (separação) Os 11:7-12:12 e

B’rit Hadashah (nova aliança) 1Co 5:1-13; Ap 7:1-12


Tema: Dináh: uma profecia sobre Yisrael.


Na parashá dessa semana, temos a história de Dináh, que é mais um relato intenso e desafiador do TaNaK. Embora, à primeira vista, pareça tratar-se apenas de uma tragédia familiar, os elementos descritos aqui revelam profundas lições éticas e proféticas que ecoam ao longo das Escrituras e dos escritos nazarenos. Dináh, a única filha de Yaakov, torna-se o centro de uma narrativa que aborda questões de honra, santidade, aliança e principalmente fidelidade ao Eterno. Essa passagem levanta reflexões sobre como o povo de D’us, Yisrael, em todas as gerações, deve lidar com pressões externas, evitando comprometer sua identidade e a missão dada pelo Eterno.

Neste estudo, veremos como a história de Dináh indica a importância que devemos dar ao chamado de separação e fidelidade ao Eterno. Traçaremos paralelos entre este relato e as advertências e promessas dos profetas, bem como os ensinamentos de Yeshua e seus talmidim. Por meio dessa singela análise, veremos que o chamado à santidade transcende os desafios de um único evento, apontando para o propósito eterno de Yisrael como luz para as nações. Essa é uma mensagem que permanece relevante e urgente para todos que desejam trilhar os caminhos do Eterno.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

A narrativa desta semana nos conduz a momentos intensos da vida de Yaakov, repleta de encontros marcantes, lutas internacionais e profundas provas. Tudo começa com Yaakov se preparando para encontrar seu irmão Esav, de quem se separou anos atrás sob circunstâncias de tensão. O temor e a incerteza permeiam seu coração, levando-o a enviar mensageiros com presentes generosos para apaziguar seu irmão. Mas Yaakov não confiava apenas em estratégias humanas; ele recorre ao Eterno em oração, buscando proteção para si e sua família, demonstrando sua confiança firme.

Antes do reencontro esperado, algo misterioso e profundo acontece. Durante a noite, Yaakov lutou com um malach, um mensageiro do Eterno. Essa luta representa mais do que um confronto físico; é um debate espiritual e emocional. Ao amanhecer, Yaakov emerge marcado fisicamente, mas com um novo nome: Yisrael, que significa “aquele que luta com os homens e com Elohim, e prevalece”. Essa transformação simboliza um novo nível de conexão e propósito em sua jornada com o Eterno.

Quando finalmente encontra Esav, o momento não é de hostilidade, mas de lágrimas e abraços. Apesar de toda a tensão, o reencontro termina pacificamente, e os dois irmãos seguem caminhos diferentes, com Yaakov voltando ao foco em sua missão e promessa.

A história toma um tom trágico e revoltante quando Diná, filha de Yaakov e Leah, é violentada por Siquém, o príncipe de uma cidade homônima. O texto revela a dor profunda da família e a ocorrência impiedosa de Shimon e Levi, que orquestraram um plano para vingar sua irmã. Enganando os homens da cidade, eles desligam que todos se circuncidem e, aproveitando sua fraqueza, matam todos os homens da cidade. O ato é condenado por Yaakov, que tem repercussões entre os povos vizinhos.

Em meio a essas turbulências, a família continua sua jornada. Raquel, a amada esposa de Yaakov, morre ao dar à luz a Binyamin, o filho mais novo. Seu falecimento marca um momento de dor profunda para Yaakov, que enterra Raquel em Beit-Lechem. O patriarca finalmente retorna a seu pai, Yitzchak, em Hebron. Pouco depois, Yitzchak morre com 180 anos, sendo sepultado por seus dois filhos, Yaakov e Esav.

A parashá conclui com a genealogia de Esav, destacando sua separação definitiva da linha escolhida para cumprir as promessas do Eterno. Apesar de sua proximidade inicial, Yaakov e Esav seguem destinos muito diferentes, cumprindo as palavras proféticas que Rivkah recebeu: "Duas nações estão em seu ventre...".

Assim, Vayishlach é uma porção que nos convida a refletir sobre os desafios da reconciliação, o peso das escolhas, e a fidelidade às promessas do Eterno, mesmo em meio às dificuldades da vida.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

A narrativa de Dináh e Shikhém em Bereshit 34 é intensa e carregada de camadas significativas de ensinos e de profecias. Lembrando que é muito importante ter cuidado ao fazer paralelos alegóricos ou proféticos, buscando antes de tudo o entendimento literal e o que o texto nos ensina sobre os valores e mandamentos do Eterno.

Entretanto, refletindo sobre essa passagem de acordo com a mentalidade judaica, algumas conexões proféticas podem ser feitas com base em princípios que aparecem ao longo das Escrituras. Imagine Dináh sendo uma representação da casa de Yisrael, a ideia de que ela foi tomada à força e depois convencida a permanecer com quem a capturou pode refletir o perigo de se acomodar em situações que não estão em conformidade com os mandamentos do Eterno ou de se colocar em uma situação de transgressor. Assim como Yaakov é a representação do povo de Yisrael, pois permite o casamento por entender que não tem mais jeito. Mesmo em meio ao erro de Shimon e Levi, a casa de Yisrael é chamada a se separar de todas as formas de engano ou opressão. Shikhem representa o engano, ao agir movido pelo desejo e não pela justiça, ele simboliza também os sistemas religiosos que tentam impor sua autoridade ou domínio sobre aqueles que deveriam ser livres para servir ao Eterno. Seu pai Hamor, ao propor um acordo, reflete os líderes que negociam com base em interesses próprios, sem considerar a santidade e a vontade do Eterno.

Porém, Yaakov como pai e patriarca, hesitou em reagir diretamente, talvez por buscar preservar a paz em meio à tensão resolveu concordar com o casamento. Isso lembra que o povo de Yisrael, por acharem que a casa de Yisrael está perdida para as nações aceitam que “não podem fazer mais nada” para resgatar-lhes a honra, isto é, trazer-lhes de volta para casa. Assim, acabam deixando-os no meio da idolatria, considerando-os como gentios. Ao contrário disso porém, quando confrontado com sistemas ou práticas que não estão de acordo com as instruções do Eterno, devem buscar coragem para se manterem fiéis, sem se deixarem convencer de que "não há mais jeito" e buscar seus irmãos perdidos, foi isso que o messias veio ensinar a fazer.

No entanto, para ampliar nosso entendimento, precisamos observar com cuidado o que aconteceu no contexto literal para melhor entendermos os apontamentos proféticos já citados. O texto do capítulo 34 diz que Dináh saiu para ver as filhas da terra. O que isso significa? A Toráh oral nos relata que Dináh era desobediente, ao passo que a Toráh escrita nada diz claramente sobre o caráter dela, deixando apenas pista, que juntas aos ensinos orais se completam. Os rabinos tecem alguns comentários sobre essa filha do patriarca, como podemos encontrar um exemplo no comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer, veja abaixo:


Dináh, a filha única de Yaakov entre os doze filhos, que devia ser o adorno da cora do patriarca, se converteu em tristeza e vergonha da família. Um príncipe pagão (Shikhem) a desonra, e os dois irmãos da jovem (Shimeon e Levi) vingam este crime com um crime maior. Eles acham pouco tomar vingança do culpado e a tomam de todo um povo inocente. Tudo isso porque Dináh saiu. Ela saiu das tradições e da decência da família de Avraham e expiou cruelmente sua imprudência. Severa lição que ensina a mulher, principalmente virgem, a cuidar-se; e de como a curiosidade e a imprudência podem levá-la ao precipício. Página 98


Reparou que o autor do comentário acima, afirmou que Dináh deveria ser o adorno da cora de Yaakov, mas ela acabou gerando tristeza e vergonha, e tudo porque ela saiu. Ela saiu da obediência, saiu da fidelidade ao Eterno saiu para encontrar com outras jovens da daquela terra, o que significa que ela buscava amizade com elas. Tal atitude facilitou o encontro com Shikhém, o que acarretou no abuso. As ações de Dináh a levaram na direção contrária às orientações do Eterno aos descendentes de Avraham. E aqui inicia os apontamentos dessa jovem com a casa de Yisrael, pois ao desobedecer ao seu pai e ao Eterno, buscando se confraternizar com pessoas dos povos e seus deuses Dináh acabou sofrendo abuso, assim como as dez tribos acabaram sendo levadas e espalhadas pelas nações.

Embora o texto da Toráh não explique exatamente as motivações da filha do patriarca, o contexto e a escolha das palavras no texto sugerem implicações importantes, que são confirmadas pela Toráh oral e pelos midrashim, especialmente no que diz respeito à relação entre as ações ao ir às jovens filhas dos hivi e ao relacionamento entre o povo de Yisrael e as culturas ao seu redor.

No Tanakh, o ato de "sair" pode simbolizar tanto um movimento físico de sair de um lugar quanto uma disposição em obedecer, como foi o caso de Yaakov na parashá passada, que saiu em obediência aos seus pais para a terra dos seus antepassados, a fim de encontrar uma esposa. Contrariamente, Dináh, filha de Yaakov e Leah, ao "sair" para ver as filhas da terra, parecia buscar um ambiente estrangeiro, possivelmente para observar ou interagir com os costumes e práticas locais. Embora isso não seja explicitamente condenado no texto, há um contraste implícito entre a santidade da família de Yaakov e o ambiente corrupto das nações cananeias ao redor.

Esse "sair" pode ser entendido como um gesto de curiosidade ou desejo de explorar algo fora do ambiente protegido de sua família. No entanto, essa escolha expôs a sua vulnerabilidade diante de um sistema que não compartilhava os valores de justiça, santidade e proteção configuradas pelo Eterno para o povo de Yisrael. E por conta dessa vulnerabilidade o rapaz a tomou forçadamente. Sua saída reflete o perigo de buscar envolvimento ou observação das práticas das nações, bem como dos sistemas religiosos, distanciando-se das instruções e mandamentos do Eterno.

Como já demonstramos, profeticamente, as "filhas da terra" mencionadas no texto, representam as nações com quem a casa de Yisrael se relacionou desde que foram dispersos pelos Assírios, um povo cujos costumes frequentemente se opunham aos Caminhos do Eterno. As Escrituras frequentemente alertam contra a assimilação cultural e espiritual, como em Devarim/Dt 7:3-4, onde o Eterno instrui os israelitas a não se adaptar com os povos da terra para evitar o afastamento dos mandamentos. Ao "sair" para vê-las, Dináh estava se colocando em um ambiente de influências culturais, que eram desalinhadas com o propósito e a santidade da casa de Yaakov, como servo do Eterno. O texto não diz que Dináh participou dos costumes das "filhas da terra", mas o simples ato de buscar interação com elas pode ser entendido como uma aproximação a algo que estava fora da esfera de proteção e instrução de sua família, pois a kavanah, a intenção do coração, demonstrava qual era realmente seu desejo. Essa curiosidade pode ter sido inocente, mas a narrativa sugere que a colocou naquela posição de vulnerabilidade, culminando no ato de violência.

Entendam que não estamos aqui colocando justificativas para amenizar o que Shikhém fez, pois foi algo horrível! De forma alguma! Mas estamos usando o ocorrido para aprender que nossas ações geram consequências que podem ser desastrosas em nossas vidas. E no contexto histórico e profético, para a casa de Yisrael, isso representou o afastamento do povo do Eterno. Podemos colocar esse exemplo em várias situações de nosso cotidiano e o princípio deverá ser o mesmo.


1. Um Chamado à Vigilância Contra a Acomodação

A narrativa desse ato de desobediência de Dináh é um alerta poderoso sobre as consequências de alianças comprometedoras. Após ser tomada à força por Shikhém, este busca legitimar sua ação por meio do casamento, através da mediação de seu pai, Hamor. Esse episódio simboliza situações em que sistemas religiosos ou influências externas buscam capturar o povo de D’us, oferecendo propostas que, à primeira vista, podem parecer conciliatórias, mas que comprometem sua identidade e santidade. A relação com o sistema só faz com que a pessoa se afaste mais do Eterno, se tornando cada vez mais desobediente.

Yaakov, ao hesitar em responder imediatamente, demonstra o desafio de lidar com situações que tocam na honra e nos valores do povo de Yisrael. Sua ocorrência mostra como a acomodação a influências externas pode parecer uma solução prática, mas não é aceitável diante do chamado à santidade. Já a atitude impulsiva de Shimeon e Levi reflete uma resposta humana que, embora movida por zelo, não está alinhada ao caminho do Eterno, trazendo consequências graves para a família de Yaakov.

Em um contexto mais amplo, o relato de Dináh aponta também para a necessidade de resistir à assimilação e manter-se fiel aos mandamentos. Assimilação é a aceitação e adaptação da forma de viver dos que não seguem o padrão ético do Eterno, que é a Toráh. Essa separação ou santificação não é apenas física, mas espiritual no sentido de obediência e cultural, garantindo que o povo permaneça como luz para as nações, nas suas práticas cotidianas, ao obedecer aos mandamentos, conforme descrito em Yeshayahu 49:6:


"Também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até os confins da terra."


Também vemos o Shaliach Sha’ul, o apóstolo Paulo, ensinar aos Romanos nessa mesma linha de entendimento, veja:


Não vos conformeis com este mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade do Eterno. Rm 12:2


2. Advertências Contra Alianças Comprometedoras

Os profetas do TaNaK constantemente anunciavam a Yisrael sobre os perigos das alianças com as nações vizinhas, que muitas vezes levavam à idolatria, à corrupção moral e ao desvio dos caminhos do Eterno. Hoshea utilizou a metáfora de um casamento corrompido para descrever a infidelidade de Yisrael ao buscar outros deuses e sistemas: "Pois a terra se prostituiu, desviando-se do Eterno" Oséias 1:2.

Assim como Dináh foi capturada por Shikhém, Yisrael frequentemente foi seduzido por práticas e alianças que comprometiam sua pureza levando-o a serem capturados e expulsos da terra. A escolha da casa de Yisrael foi a mesma de Dináh, e isso os levou à assimilação.

Em Yirmeyahu 2:13, o profeta denuncia o povo por abandonar o Eterno, a fonte de água viva, para cavar cisternas rachadas que não retém água. Esse verso ilustra a tolice da confiança em sistemas e alianças humanas em vez de confiar no Eterno. A história de Dináh reflete essa dinâmica: aceitar as condições impostas por Hamor e Shikhém seria como cavar cisternas rachadas, buscando segurança e ameaças por meio de alianças que trariam apenas ruína.

Por outro lado, os profetas também apontavam para a restauração de Yisrael, quando eles voltarem ao Eterno. Em Yeshayahu 52:11, o chamado é claro: "Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis em coisa impura; saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os utensílios do Eterno." Esse clamor pela separação reforça o princípio de que a santidade exige uma postura firme contra tudo que contamina ou compromete a aliança com o Eterno. Da mesma forma como vemos a mensagem se repetindo no livro das Revelações:


Então ouvi outra voz do céu que dizia: sai dela, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cais sobre ela não os atinjam. Ap 18:4


3. Santidade e Resistência ao Engano

Yeshua, em seu ministério, reforçou o chamado à santidade e a importância de discernir entre o que é santo e o que é profano. Em suas palavras, ele anuncia sobre os perigos do engano, afirmando: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro" Mattityahu/Mt 6:24. Esse ensinamento é uma exortação direta para que os seguidores permaneçam fiel ao Eterno, rejeitando alianças ou práticas que dividam seu coração.

Os talmidim também destacaram a necessidade de santidade em todas as áreas da vida. Shaul, por exemplo, escreveu: "Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos, pois que a sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?" 2 Coríntios 6:14. Esse ensinamento ecoa a mensagem central da história de Dináh: o povo do Eterno deve evitar qualquer aliança que comprometa sua identidade e fidelidade ao Eterno.

Além disso, Kefa/Pedro exortou os da casa de Yisrael que estavam em diáspora e lá creram no testemunho do messias, a viverem como um povo santo e separado, dizendo: "Vós sois uma geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquelas que vos chamaram das trevas para sua maravilhosa luz” 1 Kefá 2:9. Assim como Yisrael foi chamado a ser luz para as nações, os seguidores do Eterno devem refletir essa santidade em todas as suas ações.

Concluindo nosso estudo, vimos que a história de Dináh, unida às palavras dos profetas e aos ensinamentos de Yeshua e seus talmidim, apresentam uma mensagem poderosa e atemporal: o povo de Yisrael é chamado a ser santo, separado e fiel ao Eterno, rejeitando alianças que comprometem sua identidade e missão. Missão esta que Yeshua e os shaliachim cumpriram e nós ainda estamos cumprindo, ou seja, resgatar as ovelhas perdidas da casa de Yisrael que foram assimilados mundo afora. A tentativa de ceder às pressões externas ou aceitar compromissos práticos é constante, mas o chamado à santidade exige coragem, discernimento e obediência.

Como está escrito em Vayicrá/Lv 20:26: "Sereis santos para mim, porque eu, o Eterno, sou santo e vos separei dentre os povos, para que sejam meus." Que possamos viver de acordo com esse chamado, confiando no Eterno para nos guiar em meio aos desafios e permanecendo como luz para as nações. Assim como Dináh foi resgatada do engano de Shikhém, a casa de Yisrael está sendo resgatada do domínio dos sistemas corrompidos e retornar ao seu propósito junto ao Eterno.


Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

YESHUA TEVE PECADOS OU O NOVO TESTAMENTO ESTÁ ERRADO ?

 


Este estudo é do Rav Yochanan Ben Yaakov da Kahal Teshuvah Brasil, foi postado originalmente no grupo do Facebook da Kahal Teshuvah Brasil.


YESHUA TEVE PECADOS OU O NOVO TESTAMENTO ESTÁ ERRADO ?
Como um único verso é capaz de derrubar alguns dos principais pilares da fé cristã.
Sem dúvida nenhuma, todas as linhas cristãs, incluindo os chamados judeus messiânicos ex-cristãos que ainda carregam dogmas do Cristianismo, ambos acreditam como fundamentais dois pontos que iremos estudar hoje.
Após aprendermos um pouco sobre esses pontos iremos analisá-los à luz das Escrituras, ou seja, da Bíblia Hebraica. Afinal de contas, o Judaísmo Messiânico e Nazareno, e o Cristianismo concordam que a Bíblia Hebraica é a palavra de D'us e que tudo que ela contém é verdadeiro.
O primeiro ponto que iremos estudar é muito conhecido. Cristãos acreditam que Yeshua era livre de qualquer pecado. Nasceu sem pecado e nunca pecou. Encontramos esses argumentos em algumas passagens do Novo Testamento. Observe abaixo:
"Visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Yeshua, o filho de D'us, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado." (Hebreus 4:14-15)
"Àquele (Yeshua) que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de D'us." (2 Coríntios 5:21)
O segundo ponto está diretamente ligado ao primeiro e constitui o fundamento principal do cristianismo: Yeshua morreu como um sacrifício pelos pecados da humanidade. De acordo com o cristianismo somente alguém sem pecados poderia realizar um feito desses, da mesma forma que os sacrifícios no Templo não podiam ter defeito algum. Como conclusão, uma vez que Yeshua morreu pelos pecados da humanidade, sua morte anulou por completo a necessidade de qualquer outro sacrifício.
"Porque morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas..." (Romanos 6:10)
"Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção." (Hebreus 9:12)
"Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Yeshua o Messias, oferecido uma vez por todas...Onde essas coisas foram perdoadas, não há mais necessidade de sacrifício pelo pecado." (Hebreus 10:10-18)
É importante ressaltar, que esses princípios são fundamentais no cristianismo, e aceito por absolutamente todas as denominações cristãs. É simplesmente impossível ser um cristão e não acreditar nesses pontos.
Tendo dito isso, levantamos a seguinte questão: O que a Bíblia Hebraica (Torah e Profetas) tem a dizer a respeito disso?????
Obviamente quando digo Bíblia me refiro à Bíblia Hebraica, conhecida pelos cristãos como Velho Testamento. Leve em consideração que no primeiro século do cristianismo, o Novo Testamento não tinha sido ainda canonizado, e para convencer um Judeu a se converter eles precisavam se basear na nossa Bíblia. Vamos entender agora porque não tiveram sucesso.
Se estamos falando sobre o Messias, nada melhor que observamos uma das principais passagens da Bíblia sobre ele. Essa passagem começa no capítulo 34 do livro do profeta Ezequiel. Do capítulo 34 até o final do livro (cap. 48), o profeta descreve a Era Messiânica. Após lamentar a terrível situação do povo Judeu no exílio, o profeta começa a apresentar uma mensagem de conforto e introduz o principal personagem dessa história.
וְהוֹשַׁעְתִּי לְצֹאנִי וְלֹא תִהְיֶינָה עוֹד לָבַז וְשָׁפַטְתִּי בֵּין שֶׂה לָשֶׂה. וַהֲקִמֹתִי עֲלֵיהֶם רֹעֶה אֶחָד וְרָעָה אֶתְהֶן אֵת עַבְדִּי דָוִיד הוּא
יִרְעֶה אוֹתָם וְהוּא יִהְיֶה לָהֶן לְרֹעֶה. וַאֲנִי יְהֹוָה אֶהְיֶה לָהֶם לֵאלֹהִים וְעַבְדִּי דָוִד נָשִׂיא בְתוֹכָם אֲנִי יְהֹוָה דִּבַּרְתִּי
"Portanto hei de salvar o Meu rebanho (povo Judeu), para que não sirvam mais de presa, e julgarei entre uma ovelha e outra. E sobre elas porei um pastor, e ele as apascentará; o Meu servo David é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor. E Eu, o Eterno serei seu D'us, e o Meu servo David será príncipe no meio delas; Eu, o Eterno, o disse." (Ezequiel 34:22-24)
Aqui encontramos uma promessa de D'us ao povo Judeu. D'us vai nos resgatar e nos enviar alguém para nos liderar. Esse alguém é chamado de "Meu servo David" e ele será "Um príncipe" entre nós. Judeus e cristãos concordam que o verso se trata do Messias e é chamado aqui de David pois existe uma promessa que o Messias seria um descendente de David e seu filho Salomão (2 Samuel 7:12-14; 1 Crônicas 22:9-10).
Só para confirmar que essa também é a interpretação cristã, vejamos como o teólogo Charles Ryre comenta o verso acima:
"Meu servo Davi: Não se trata do rei Davi ressurreto, mas do Descendente maior de Davi, o Messias." (Charles C. Ryre, Bíblia Anotada, comentário em Ezequiel 34:23, página 1049)
Reparem que além de se referir ao Messias como "Meu servo David", D'us também o apresenta com outro título: "Meu servo David será um príncipe no meio delas". Logo vamos entender porque é importante lembrar disso.
No capítulos seguintes o profeta começa a escrever belíssimas passagens sobre a restauração de Israel, a reconstrução do Templo (em Jerusalém), e destaca a liderança do Messias entre nós.
"E Meu servo David será Rei sobre eles, e todos eles terão um só pastor; e andarão nos Meus juízos e guardarão os Meus estatutos, e os observarão." (Ezequiel 37:24)
"E habitarão na terra que Dei a Meu servo Jacó, em que habitaram vossos pais; e habitarão nela, eles e seus filhos, e os filhos de seus filhos, para sempre, e David, Meu servo, será seu príncipe eternamente." (Ezequiel 37:25)
"E os gentios saberão que Eu, o Eterno que santifico a Israel, quando estiver o Meu santuário no meio deles para sempre." (Ezequiel 37:28)
Como o melhor sempre fica para o final, vamos analisar o verso prometido. Vimos que uma das promessas transmitidas pelo profeta Ezequiel é que David será nosso "príncipe" eternamente. Já entendemos que se trata de uma referencia ao Messias que reinará em Israel no fim dos tempos. Mas, de acordo com Ezequiel, o príncipe fará algo que entrará em conflito direto com os dois fundamentos da fé cristã apontados acima.
Após a descrição em detalhes sobre o Terceiro Templo, o profeta começa a descrever os procedimentos para sua inauguração. Entre esses procedimentos teremos sacrífcios realizados para purificação do Templo. Presta bem atenção em cada palavra do verso a seguir e veja o sacrifício que será trazido pelo Príncipe nesse dia.
.וְעָשָׂה הַנָּשִׂיא בַּיּוֹם הַהוּא בַּעֲדוֹ וּבְעַד כָּל עַם הָאָרֶץ פַּר חַטָּאת
"E trará o Príncipe, nesse dia, por ele e por todo o povo da terra, um bezerro como sacrifício de pecado." (Ezequiel 45:22)
Apesar de estar claro, quero tentar deixar ainda mais explícito. Pelo que vemos no verso acima, a Bíblia nos diz que o Messias trará um sacrífcio para expiar os seus pecados e também o pecado de todo o povo. De acordo com o cristianismo isso é impossível. Se Yeshua é o Messias, não tinha pecado algum e sua morte encerrou qualquer necessidade de sacrifícios, como explicar esse verso?
E tem mais. Se continuarmos a leitura veremos que nos capítulos que seguem, o profeta nos mostra que o Messias seguirá os mandamentos da Torá, cumprirá Shabat (não domingo) e as festas Bíblicas (e não as católicas), oferecerá sacrifícios no Templo e terá filhos (Ez. 45:16-18). Alguma semelhança com o messias cristão com seus ensinamentos? Parece que não.
Missionários em uma tentativa desesperada de encontrar uma resposta, alegam que esses sacrifícios são simbólicos, lembranças do sacrifício feito por Yeshua. Mas voltando para a Bíblia vemos que nossos profetas não dizem isso e sim que os sacrifícios serão ofertas reais, agradáveis e aceitas por D'us como eram no passado.
"Então as ofertas de Judá e de Jerusalém serão agradáveis ao Eterno, como nos dias passados, como nos tempos antigos." (Malaquias 3:4)
Se o Sumo Sacerdote fazia sacrifícios por si mesmo primeiro para depois pelo povo Yeshua HaMashiach não faria o mesmo?
Yochanan Ben Yaakov יוחנן בן יעקוב

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Estudo da Parashá Vayetse - Gerando filhos para o Eterno.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 7 – Vayetse (E saiu)

Bereshit/Gênesis 28:10-32:3

Haftará (separação) Os 12:12-14:10 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Jo 1:43-51


Tema: Gerando filhos para o Eterno.


“Dá-me filhos, ou morrerei” Bereshit/Gn 30:1.Você já parou para pensar nesse clamor de Rachel? As palavras desse clamor ecoam não apenas a angústia de uma mulher estéril, mas também um profundo anseio, que é o desejo de continuidade, de propósito e de ver a promessa do Eterno se cumprindo. Essa história tão antiga fala diretamente aos corações de cada um de nós que buscamos viver para algo maior, a participação do plano divino de redenção e restauração.

O que significa, afinal, desejar “gerar filhos para o Eterno”? Como esse clamor de Rachel se conecta ao povo de Yisrael, à missão de Yeshua e à tarefa de seus talmidim? E mais importante ainda, como isso reflete a obra do Eterno de reunir e restaurar Seu povo, a casa de Yisrael, preparando o mundo para a plenitude do Seu Reino? Neste estudo pretendo levar você a explorar essas questões com um pouco mais de profundidade, mergulhando na relação entre a dor de Rachel, as promessas proféticas e o papel de Yeshua como instrumento de multiplicação e restauração. Percorreremos os relatos de Moshê em Bereshit, as vozes dos profetas, os ensinamentos de Yeshua e a obra dos talmidim, descobrindo assim, como o desejo de Rachel aponta para algo muito maior do que sua própria história.

Junte-se a mim nessa jornada reflexiva e instrutiva pelas Escrituras, conectando o passado, o presente e o futuro, iluminando como o clamor de uma mulher representa uma profecia, e como essa promessa nos inclui. Que este estudo inspire seu coração e renove sua esperança na fidelidade do Eterno, que sempre cumpre o que promete. Vamos desvendar as riquezas dessa profunda história e entender como ela pode transformar a maneira como vemos nosso papel como agentes no plano divino.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

A parashá Vayêtse relata uma das jornadas mais significantes das Escrituras, a marcante história da vida de Yaakov, destacada por desafios, revelações e promessas do Eterno. O relato começa com Yaakov, fugindo de seu irmão Esav, deixando a casa dos pais e partindo em direção a Charan, onde residiria com seu tio Lavan. No caminho, ele passa a noite em um lugar especial, onde tem um sonho impactante. Ele vê uma escada que conecta os céus à terra, com malachim/anjos subindo e descendo. Do topo, o Eterno reafirma a aliança feita com Avraham e Yitschak, prometendo a Yaakov que sua descendência herdará a terra de Kena'an e será numerosa como o pó da terra.

Ao chegar em Charan, Yaakov encontra Rachel junto a um poço, logo se apaixona e se oferece para trabalhar para Lavan durante sete anos em troca de sua mão em casamento. No entanto, Lavan engana Yaakov, substituindo Rachel por Lea na noite do casamento. Após uma semana, Yaakov casa-se também com Rachel, mas em troca de mais sete anos de serviço.

A narrativa continua e mostra a rivalidade entre Lea e Rachel. Lea dá à luz seis filhos e uma filha, enquanto Rachel, inicialmente estéril, recorre à sua criada Bilá para ter filhos através dela. Zilpá, criada de Lea, também gerou filhos de Yaakov. Eventualmente, o Eterno se lembra de Rachel curando-a, e ela dá à luz a Yossef.

Durante seus vinte anos na casa de Lavan, Yaakov enfrentou diversas tentativas de engano, mas o Eterno o abençoa fazendo-o prosperar com grandes rebanhos e riquezas. Por fim, depois desses vinte anos, após consultar suas esposas, Yaakov decide fugir de Lavan. Este, indignado, persegue-os alegando de roubar seus ídolos, que Rachel havia escondido sem o conhecimento de Yaakov. Após uma busca infrutífera e uma discussão, eles firmam um pacto de paz e seguem caminhos separados.

Vayêtse é uma parashá que destaca a fidelidade do Eterno às suas promessas, a luta de Yaakov para superar os desafios e a construção de sua família, que se torna o alicerce das doze tribos de Yisrael.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

A fala de Rachel, “Dá-me filhos, ou morrerei” em Bereshit 30:1, é um clamor, uma oração ou intercessão que transcende o contexto pessoal de sua dor. Esse clamor toca em uma dimensão espiritual profunda, o anseio pela continuidade e pelo cumprimento das promessas do Eterno à casa de Yisrael. A angústia da matriarca reflete o desejo de frutificação e crescimento, mas também restauração, ecoando o propósito do Eterno de restaurar os dispersos e formar um povo santo que guarde Seus mandamentos e seja luz para as nações. O comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer nos fala que:


Quatro pessoas consideram-se como mortas, disse-nos Rabi Shemuel Bar Nachmani: o cego, o leproso, quem não tem filhos e o pobre. Os três primeiros vivem em constante sofrimento físico e moral, e o quarto é realmente como se não existisse (Ialcut 117). O exegeta Rashi comenta que Elifaz, filho de Esav, foi enviado por seu pai para matar Yaakov. Este disse então ao sobrinho: Toma tudo que eu possuo e poderás dizer a teu pai que já cumpriste a sua ordem. Sendo pobre, serei considerado como um morto, mesmo estando vivo. (página 83)


Esse comentário nos mostra que viver longe dos propósitos do Eterno é o mesmo que estar morto. Se observarmos, Rachel tinha esse pensamento, pois sabia que para o propósito ser cumprido na vida dela era preciso ter filhos. E isso é verdade e vai além dos filhos naturais, a conexão com as profecias de restauração pode ser amplamente explorada através das Escrituras Sagradas e dos textos dos Escritos Nazarenos.


1 – O anseio por filhos e o plano do Eterno

Rachel reflete o desejo ardente pela frutificação, que também é o chamado da casa de Yisrael. O Eterno ordenou em Bereshit/Gn 1:28:


"Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra".


Este mandamento não é apenas físico, mas também profético, isto é, chamar a casa de Yisrael de volta ao caminho e também gerar "filhos para o Eterno", ou seja, pessoas que O sirvam e caminhem em Suas instruções, obedecendo aos seus mandamentos. Esse anseio reflete o papel profético do messias e da congregação em atrair pessoas das nações para o Eterno, conforme Yeshayahu 49:6:


"ele diz: É coisa pequena demais para você ser meu servo para restaurar as tribos de Yaakov e trazer de volta aqueles de Yisrael que eu guardei. Também te farei luz para os gentios, para seres a Minha salvação até os confins da terra".


Rachel representa Yisrael ou a congregação desobediente, que muitas vezes esteve estéril espiritualmente falando, pois afastou-se do Eterno. O clamor da matriarca pode ser comparado à situação espiritual de Yisrael ao longo da história, especialmente em tempos de exílio e dispersão. Os profetas frequentemente comparavam a nação à mulher estéril que ansiava por filhos, o que comprova o uso pelo povo judeu, da palavra chave mulher em se tratando de congregação, como em Yeshayahu/Is 54:1: “Canta, ó estéril... porque mais são os filhos da desolada do que os filhos da casada.” Essa promessa de restauração foi reafirmada pelo Eterno em Yirmeyahu/Jr 31:15-17, onde Rachel chora por seus filhos perdidos, mas está confortada com a garantia de que eles voltarão. Assim, a dor de Rachel antecipa o destino de Yisrael que, mesmo em esterilidade aparente, seria restaurada e multiplicada pela graça do Eterno.

Há outras profecias, como lemos por exemplo, em Oséias 14:4-7, falam da cura dessa esterilidade, prometendo que Yisrael florescerá novamente:


"Curarei a sua rebeldia e os amarei espontaneamente...eles florescerão como a videira, e a sua fama será como o vinho do Líbano".


2 – Yosef como símbolo de crescimento e restauração

Depois de um tempo, o Eterno atende ao clamor de Rachel, e cura-a da esterilidade fazendo-a conceber um filho. E ela lhe dá o nome de Yosef, que significa “que ele acrescente”, em Bereshit/Gn 30:24, profetizando assim, não apenas o nascimento de outro filho que viria ser chamado de Binyamin, mas também a multiplicação e a restauração do povo. Yosef e o significado de seu nome são apontamentos claros para o messias Yeshua e seu propósito messianico de resgatar as ovelhas perdidas de Yisrael. Isso reflete a promessa feita a Avraham, reiterada a Yitzchak e Yaakov, de que a descendência de Yisrael seria como as estrelas dos céus e a areia do mar. Assim como Yossef preservou sua família durante a fome, Yeshua trouxe sustento da Torah para a casa de Yisrael em tempos de aridez e desobediência. Ele ensinou que o Reino do Eterno é como uma semente que cresce e se multiplica, como lemos em MatityahuMt 13:31-32, simbolizando o aumento prometido pelo Eterno.

E vemos que no decorrer da história do povo a dor de Rachel ecoa as palavras de Yirmeyahu 31:15-17, ao falar do choro de Rachel por seus filhos perdidos, simbolizando o exílio e a dispersão de Yisrael.


Isto é o que Adonai diz: Uma voz é ouvida em Ramah, lamento e choro amargo. É Rachel chorando por seus filhos, recusando ser confortada, porque seus filhos não vivem mais. Isto é o que Adonai diz: Cessem seu lamento e sequem seus olhos, porque seu trabalho será recompensado, dia Adonai. Eles retornarão da terra dos inimigos, de modo que há esperança para seu futuro, diz: Seus filhos retornarão a seu próprio território.


No entanto, reparem que a profecia garante: "Há esperança para o teu futuro, diz o Eterno, e os teus filhos voltarão à sua própria terra". Assim, o desejo de Rachel por filhos aponta para o anseio do Eterno de restaurar toda a casa de Yisrael, reunindo as tribos dispersas. Quando correlacionada ao ministério de Yeshua e aos ensinamentos de seus talmidim, essa história aponta para o papel de Yisrael na redenção e a importância da geração de “filhos espirituais” que andem segundo as instruções divinas.


3 – O ministério de Yeshua como restauração de Yisrael

Os ensinamentos de Yeshua e o ministério de seus talmidim depois dele, refletem claramente o cumprimento e a aplicação prática das profecias relacionadas à restauração da casa de Yisrael e o anseio por "filhos para o Eterno". A fala de Rachel e o nome dado a Yosef conectam-se diretamente ao chamado de Yeshua e à missão dada aos seus seguidores, mostrando como o Eterno trabalha para reunir e restaurar Seu povo.

Yeshua em seus ensinos enfatizava a necessidade de frutificar no Reino do Eterno, isso quer dizer, gerar frutos ou filhos para o reino. Em Yohanan/Jo 15:8, Yeshua ensina: "Nisto é glorificado o meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus talmidim". Assim como Rachel ansiava pelos filhos, os talmidim como integrantes da congregação, são chamados a multiplicar o povo do Eterno por meio da obediência e do ensino da Palavra. Yeshua instruiu seus talmidim em Matityahu 28:19-20: "Portanto, ide e fazei talmidim de todas as nações, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado". Esse "fazer talmidim" é o equivalente profético do anseio de Raquel por filhos que sigam os passos do messias e andem em nas instruções do Eterno.

O próprio Yeshua afirmou que veio para "as ovelhas perdidas da casa de Yisrael" em Matityahu/Mt 15:24. Isso reforça a promessa do Eterno de restaurar a descendência dispersa de Yaakov, como profetizado em Yirmeyahu/Jr 31:10: "Aquele que incluiu Yisrael o reunirá". Yeshua, isto é, sua missão, é a escada que conecta os céus e a terra, conforme o sonho de Yaakov Bereshit/Gn 28:12 e Yohanan 1:51, apontando para o papel central de sua missão na reconciliação entre o Eterno e Yisrael. Dessa forma, podemos perceber que o ministério de Yeshua também inclui a incorporação de pessoas das nações, que desejam se aproximar, ao povo do Eterno, como parte do cumprimento das promessas feitas a Avraham de que sua descendência seria uma bênção para "todas as famílias da terra" (Bereshit 12:3). Rav Shaul explica em Efésios 2:11-19 que os gentios que estavam "longe" foram trazidos "para perto" e feitos "concidadãos dos santos", participando das promessas da aliança.

Esse acréscimo de pessoas das nações restauradas aponta para o cumprimento do papel da casa de Yisrael como luz para as nações, um tema central das profecias em Yeshayahu/Is 49:6.

Os talmidim de Yeshua continuaram esse trabalho de multiplicação e geração de filhos. Shaul/Paulo, por exemplo, descreve a si mesmo como "gerando filhos" espiritualmente, como em 1 Coríntios 4:15: "Pois ainda que tivésseis muitos mestres em Mashiach, não tende muitos pais; porque eu vos gerei no Mashiach Yeshua por meio do anúncio das Boas Novas".

Assim como Rachel ansiava por filhos, os talmidim deveriam ansiar por gerar discípulos, ou seja, pessoas que andam nos caminhos do Eterno e se tornam parte da casa restaurada de Yisrael. Rav Shaul escreveu aos Romanos 9:2-3 sobre sua grande tristeza pelo estado de seus irmãos segundo a carne, Yisrael, mostrando como esse anseio por restauração e multiplicação continua nos seguidores de Yeshua.


4 – O Papel da congregação nazarena

A congregação nazarena, composta pela casa de Yehudah, casa de Yisrael, e ex-gentios aproximados ao Eterno, ou seja, por aqueles que seguem as instruções do Eterno e o testemunho de Yeshua, é chamada a gerar "filhos" para o Eterno, pessoas que retornam à aliança e obedecem aos mandamentos. Como Rachel, essa congregação não pode descansar enquanto não houver frutificação. Em Yeshayahu 54:1, lemos:


"Canta, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e clama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da desolada do que os filhos da casada, diz o Eterno".


Essa passagem conecta a esperança de Rachel ao papel da congregação em reunir as nações ao Eterno. Rachel esperou por muitos anos até que o Eterno a atendesse e lhe desse um filho. Isso nos ensina que o crescimento e a frutificação vêm no tempo do Eterno, conforme Sua vontade e promessa. Este é um lembrete para a congregação nazarena de que deve permanecer firme, mesmo em tempos de aparente esterilidade, sempre devemos confiar no Eterno seguindo sua Torah, ensinando-a para trazer os filhos.

Em resumo, a fala de Rachel, o nascimento de Yossef e as profecias sobre a restauração de Yisrael se conectam profundamente. Eles nos apontam para o plano do Eterno: gerar um povo santo e fiel, que viva segundo Suas instruções e seja luz para as nações. Esse anseio por "filhos" é o anseio pela plenitude do Reino do Eterno, em que todas as tribos serão reunidas e a Terra estará cheia do conhecimento do Eterno, como as águas cobrem o mar (Yeshayahu 11:9). Em Apocalipse 7:4-10, vemos os representantes das doze tribos de Yisrael e uma grande multidão de todas as nações diante do Eterno, uma realização plena do desejo expresso por Raquel e da promessa dada a Avraham, Yitzchak e Yaakov.

No futuro, veremos o cumprimento pleno dessa restauração, conforme profetizado em Yirmeyahu 31:31-34, com a nova aliança escrita no coração de todos os membros da casa de Yisrael. O clamor de Raquel, se realizará plenamente quando todos os seus "filhos" retornarem à Terra Prometida e ao Eterno, conforme descrito em Yechezkel 37:21-22: “Eu os tomarei dentre as nações... e os trarei para a sua terra, e farei deles uma só nação.” Esse cenário final será o testemunho do trabalho iniciado por Yeshua e seus talmidim, concluindo o ciclo da redenção e trazendo a plenitude ao Reino do Eterno.

Concluindo nosso estudo, o clamor de Rachel é o clamor do povo do Eterno por restauração, frutificação e cumprimento das promessas. O ministério de Yeshua e a missão de seus talmidim refletem esse mesmo anseio, trazendo uma dimensão profética à geração de filhos para o Eterno, multiplicando e ampliando Yisrael e reunindo tanto os dispersos da casa de Yisrael quanto das nações para o Eterno. O trabalho continua, pois o Eterno deseja "muitos filhos" que andem em Suas instruções e sejam luz para o mundo, até que Sua vontade seja feita plenamente na terra.


Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)