Estudos
da Torá
Parashá
nº 38 – Kôrach (Coré)
Bamidbar/Números
Nm 16:1-18:32,
Haftará
(Separação) 1Sm
11:14-12:22; e
B’rit
Hadashah (Nova Aliança) Lc
19:1-30:47; Jd
1-25
Tema:
Há justiça em meio à rebeldia
RELEMBRANDO
Semana
passada na parashá Shelach Lecha estudamos sobre o ponto de vista de
quem está em teshuvah em relação aos mandamentos e às promessas
do Eterno com o desenvolvimento e o cumprimento das promessas. Na
porção desta semana falaremos sobre algumas pessoas que alcançaram
misericórdia do Eterno, em meio ao desastre de Kôrach, Datan,
Aviram e seus seguidores, porque fizeram teshuvah (retorno,
arrependimento, conversão). Veremos como uma verdadeira teshuvah com
um coração repleto de verdadeira kavanah/intenção pode mudar uma
história.
A
PARASHÁ DA SEMANA
A
Parashá Kôrach, segundo o site Chabad,
começa com a infame rebelião liderada por Kôrach contra seus
primos, Moshê e Aharon, alegando que os dois haviam usurpado o poder
do restante do povo de Israel.
Após
tentar convencer os rebeldes a uma retirada, Moshê diz aos
dissidentes e a Aharon que cada um deve oferecer incenso a D'us. A
oferenda do verdadeiro líder seria aceita pelo Eterno, enquanto que
o restante do povo teria uma morte não natural. A um pedido de
Moshê, D'us faz com que a terra miraculosamente se abra e engula
Kôrach, enquanto o restante dos líderes da rebelião são
consumidos por uma chama enviada por D'us. Quando os sobreviventes
reclamam sobre a morte em massa, D'us ameaça destruí-los também, e
irrompe uma peste.
Mais
uma vez, Moshê e Aharon intervêm, oferecendo incenso para impedir a
extinção do resto do povo. Deste modo, e com o miraculoso brotar do
cajado de Aharon dentre aqueles dos outros líderes das tribos, Moshê
e Aharon provam ser os líderes escolhidos. O papel de Aharon como
Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é reiterado, e a Torá descreve os dons
a serem concedidos aos Cohanim como recompensa por seu serviço no
Mishkan (Tabernáculo), incluindo o direito de comer determinadas
porções dos Corbanot (Sacrifícios). Os Levitas devem também ser
sustentados pela sua dedicação recebendo ma'asser, ou a décima
parte de todas as colheitas produzidas pelo povo na Terra de Israel.
ESTUDO
DO TEXTO DA PARASHÁ
Enquanto
estudava as palavras escritas nesta porção da Torá de HaShem, me
dei conta de que algumas pessoas não foram contadas dentre os mortos
no desastre daqueles homens invejosos e rancorosos, a saber, Kôrach,
Datan e Aviram, que levaram consigo mais duzentos e cinquenta homens
para
o abismo.
Essas
pessoas que não morreram muitas vezes passam despercebidas. Mas
eu pretendo mostrar
o caminho delas, e
revelar que mesmo em meio a
pessoas rebeldes pode haver justiça. E
quero
começar de forma redundante, ou
seja, do
início. Vamos
caminhar juntos por alguns midrashim do povo de Yisrael, que trazem
algumas histórias e explicações de algumas situações. Porém,
é claro
que não
perderemos
o foco das Escrituras, uma vez que nosso
princípio é a própria Torá, pois é a nossa base, nossa bússola,
nosso prumo
e fonte da verdade. Comecemos
então por ela, veja o texto inicial dessa parashá.
E
desligaram-se da congregação, Kôrach,
filho de Yitshar,
filho de Kehat, filho de Levi, e Datan e Aviram, filhos de Eliab, e
On, filho de Pélet, os quais eram da tribo de Reuven;
e estes levantaram-se perante Moshê com duzentos e cinquenta homens
dos filhos de Yisrael, líderes da congregação, chamados à
assembleia, varões de renome. Nm
16:1-2.
Ainda
há pouco lemos o capítulo 16 de Bamidbar/Números, e se você está
atento percebeu que nestes primeiros versos fala de um homem que
estava com
os revoltosos, seu nome era On o filho de Pélet, no entanto, o nome
dele não aparece depois no decorrer do capítulo.
Para
onde ele foi? O que houve com ele?
Outra
coisa que devemos perceber também, é que este capítulo não
menciona nada dos filhos de Kôrach. E para uma pessoa desatenta pode
parecer que eles estavam junto com o pai. Mas
a Torá, aqui se cala em relação a eles, porém
em
uma
parashá mais na frente
falará
deles, e mostraremos aqui.
Então,
neste início de estudo, já estabelecemos quem são as pessoas que
não estavam com os homens que se levantaram contra Moshê. Eles são,
On e os filhos de Kôrach. Como
será que era o
caráter deles?
Será que eles concordavam com seus familiares e amigos? Ao longo do
estudo as respostas a estas perguntas virão. Vamos então seguir em
frente, fique
aqui até o final do estudo.
Inveja:
um problema a ser resolvido.
No
estudo desta parashá no ano passado eu comentei, com alguns
detalhes, a respeito do caráter desses homens que
se rebelaram contra Moshê e Aharon,
e do
problema deles
com
a inveja. Se quiser saber mais sobre o assunto, acesse o estudo nos
canais Sou Peregrino na Terra ou Kahal Teshuvah Brasil no YouTube, e
em texto no blog souperegrinonaterra.blogspot.com.br.
Vamos
aqui relembrar apenas
alguns
pontos daquele estudo, somente
para contextualizar este estudo. Naquela
ocasião eu disse que o
comentário da Torá da Editora Sêfer nos diz o seguinte a respeito
do primeiro verso dessa porção:
“Esta
porção semanal registra a primeira revolta contra a autoridade de
Moshê e Aharon. Os interesses pessoais de Kôrach motivaram a sua
rebeldia. O descontentamento deste, nos diz o Midrash, surgiu porque
Elitsafan, seu primo irmão, obteve um cargo ao qual Kôrach se
achava no direito de ocupar. Porém, Elitsafan tinha mais méritos:
ele era mais apto que Kôrach para as funções que lhe eram
confiadas e Moshê não podia sacrificar o interesse geral em nome de
idade e de família. Quanto a Datan e Aviram,
a tradição nos ensina serem aqueles dois hebreus que brigaram no
Egito e disseram então a Moisés: “Quem te pôs por homem,
príncipe
e juiz sobre nós?” (Ex 2:13-14) Eles eram também os mesmos
homens que infringiram a prescrição de D’us relativa ao Maná (Ex
16:20). Kôrach, conhecendo as más disposições destes, apoiou-se
sobre essa classe de gente na sua
revolta injusta.” (Torá – A Lei de Moisés, Ed. Sefer, 2001,
Página 436)
Na
leitura dessa porção, podemos perceber que o nome da parashá é o
primeiro nome que aparece no texto, Kôrach (Coré), assim como
também encontramos o nome de outros três. Segundo o que lemos no
comentário da Torá transcrito acima, onde nos é informado o motivo
pelo qual levou este homem a questionar a autoridade de Moshê.
Podemos
assim, perceber que a Torá quer
nos apontar algo sobre o caráter deste homem chamado Kôrach. Embora
fosse rico, estimado entre sua tribo e honrado com a tarefa de cuidar
da Arca da Aliança, conforme Nm 4:15:
“Quando
Aharon e os seus filhos terminarem de cobrir os utensílios sagrados
e todos os artigos sagrados, e o acampamento estiver pronto para
partir, os descendentes de Kehat virão carregá-los. Mas não
tocarão nas coisas sagradas; se o fizerem, morrerão. São esses os
utensílios da Tenda do Encontro que os descendentes de Kehat
carregarão.”
Kôrach
não tinha sido nomeado líder dos Coatitas, mas sim Elisafã, um
primo mais jovem. O avô de Kôrach, era Kehat (Coate), cf. Êxodo
6:18-22.
“Os
filhos de Coate foram Anrão, Isar, Hebrom e Uziel. Coate viveu cento
e trinta e três anos. Os filhos de Merari foram Mali e Musi. Esses
foram os clãs de Levi, por ordem de nascimento. Anrão tomou por
mulher sua tia Joquebede, que lhe deu à luz Arão e Moisés. Anrão
viveu cento e trinta e sete anos. Os filhos de Isar foram Corá,
Nefegue e Zicri. Os filhos de Uziel foram Misael, Elizafã e Sitri.”
O
pai de Kôrach era Izar, irmão de Uziel. E este era o pai de
Elisafã. O pai de Kôrach era mais velho que o pai de Elisafã.
Uziel mesmo sendo mais novo, seu filho Elisafâ foi eleito para ser o
líder dos Coatitas, Conforme Nm 3:29-31.
“Os
clãs coatitas tinham que acampar no lado sul do tabernáculo. O
líder das famílias dos clãs coatitas era Elisafã, filho de Uziel.
Tinham a responsabilidade de cuidar da arca, da mesa, do candelabro,
dos altares, dos utensílios do santuário com os quais ministravam,
da cortina e de tudo o que estava relacionado com esse serviço.”
A
inveja desses homens os levaram a dizer coisas que tinham aparência
de verdade, como por exemplo o que Kôrach disse a Mosheh:
“Vocês
se valorizam em demazia! Afinal, toda a comunidade é sagrada, todas
as pessoas, e Adonai está entre eles. Porque, então, vocês se
elevam acima da assembleia
de Adonai?”(Nm
16:3)
Toda
a comunidade é santa, todas as pessoas, disse Kôrach, ou seja,
todos poderiam exercer o ministério, mas isso contrariava a ordem de
HaShem,
que disse que somente os levitas poderiam servir. Devemos
ter muito cuidado com meias verdades, pois elas são sofismas que
servem somente para nos enganar. Veja o significado de sofisma no
dicionário:
“argumento
ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da
verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica,
apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente,
incorreta e deliberadamente enganosa.”
Tendo
entendido o contexto do que levou aqueles homens a agirem daquela
forma tão egoísta, talvez devêssemos parar e pensar um pouco no
assunto. Em
conversa com o Rav Yochanan Ben Yaacov sobre alguns pontos dessa
parashá, ele me lembrou de uma coisa muito importante, que talvez,
assim como eu, você não tenha se apercebido. Ele falou que o mesmo
problema de Kôrach nós temos também, a inveja, claro que em nível
menor, porém se não cuidarmos da yetser hará podemos chegar
naquele nível. Todos temos um pouco de Kôrach, quando não
reconhecemos nossas limitações, e não entendemos que não temos
todos os dons e que alguém perto de nós tem um don diferente e que
pode parecer ser mais valorizado, ou que o Eterno usa mais que a nós.
E no lugar de cuidar dos nossos pensamentos, e nos contentarmos com o
que recebemos ficamos focados no don do irmão. A solução para isso
é paramos de olhar para fora, ou seja, para os dons dos outros, e
olharmos para dentro de nós, a fim de descobrirmos o que e como
podemos melhorar, a
fim de não sermos tragados como foi Kôrach.
Segundo
os
rabinos em Pirkê Avot/Ética dos Pais 4:28, "inveja, desejo e
honra removem uma pessoa deste mundo." O desejo de fazer o
trabalho do Kohen
e ter a honra reservada somente aos Kohanim
certamente alimentou esta inveja.
Os
que foram poupados
Os
primeiros que citaremos aqui serão os filhos de Kôrach, cujos nomes
são mencionados em Shemot/Êxodo 6:24, vejam o texto:
Os
filhos de Kôrach foram Asir, Elkanah e Aviasaf. Essas foram as
famílias korchi. Êxodo
6:24
No
decorrer da Torá ainda encontramos informações de que os
korchi/koraítas como
os demais membros das famílias dos descendentes de kehat ficaram
responsáveis por cuidar dos utensílios do Mishkan.
Ou
seja, eles tinham uma responsabilidade diante das coisas do Eterno. E
no texto em estudo, eles não aparecem, e podemos assim, compreender
uma informação codificada na Torá. Os filhos de Kôrach não
concordavam com as idéias, as atitudes e as ações de seu pai. Eles
refletiam sobre a honra que o Eterno lhes tinha atribuído,
ao cuidar das coisas do tabernáculo.
Depois
da morte daqueles duzentos e cinquenta e três insurgentes, os filhos
de Kôrach voltam a ser mencionados na Torá, na parashá Pinchás,
em Bamidbar/Números 26:9-11, veja o texto:
e
os filhos de Eliav foram Nemuel, Datan e Aviram. Estes, Datan e
Aviram, foram os líderes da comunidade que se rebelaram contra Moshê
e contra Aharon, estando entre os seguidores de Kôrach quando se
rebelaram contra o Eterno. A terra abriu a boca e os engoliu
juntamente com Kôrach, cujos seguidores morreram quando o fogo
devorou duzentos e cinqüenta homens, que serviram como sinal de
advertência. E
os filhos de Kôrach não morreram.
Números
26:9-11
Podemos
ver no texto que os filhos de Kôrach não morreram, e no TaNaK ainda
encontraremos textos mencionando os descendentes de Kôrach, e
falaremos sobre isso no final.
A
outra pessoa que foi poupada neste triste episódio, e que vivia no
meio daqueles que se rebelaram contra Moshê e Aharon, foi um homem
chamado On. Seu nome aparece nos dois primeiros versos do texto do
nosso estudo.
E
desligaram-se da congregação, Kôrach, filho de Yisthar, filho de
Kehat, filho de Levi, e Datan e Aviram, filhos de Eliab, e On, filho
de Pélet, os quais eram da tribo de Rubem; e estes levantaram-se
perante Moshê com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Yisrael,
líderes da congregação, chamados à assembleia,
varões de renome. Nm
16:1-2.
E
só neste texto On é mencionado. Não encontrei outra menção dele.
E depois que virmos os midrashim, ficará mais claro o entendimento
do motivo dessa omissão.
Os
midrashim acerca dos
que foram poupados
Encontramos
nos midrashim dos sábios do povo de Yisrael algumas explicações a
respeito dos
filhos de Kôrach.
Quando
Kôrach
foi tragado pelo abismo, seus três filhos, Asir, Elkanah
e Aviasaf também rolaram para baixo. Contudo, não foram arrastados
às profundezas, mas milagrosamente foram descansar sobre elevadas
plataformas que o Todo Poderoso ergueu para eles, desta forma,
permaneceram vivos. Os filhos de Kôrach
estavam entre os leviyim que, mais tarde, cantaram no Beit
Hamikdash/Templo
Sagrado.
O
midrash pergunta, por
qual mérito sobreviveram?
E
nos explica que em
seus corações, os filhos de Kôrach
estavam cientes da verdade. Acompanhe
o que este ensino continua a mostrar.
Moshê
foi visitar Kôrach
em sua tenda, enquanto a família estava sentada à mesa, pensaram:
“Se nos levantarmos para Moshê, ofenderemos nosso pai. Por outro
lado, se ficarmos sentados, transgrediremos a mitsvá de levantar-se
perante um Sábio. Não devemos violar o mandamento da Torá, mesmo
se nosso pai ficar enraivecido.” Por isso, levantaram-se em honra a
Moshê.
Quando
a destruição de Kôrach
e seus seguidores começou, os filhos de Kôrach
fizeram teshuvá em seus corações. Ao testemunharem a terra se
abrindo e engolindo seu pai e seguidores, ficaram paralisados de
medo, e incapazes de confessar seus pecados oralmente. O Todo
Poderoso, contudo, que
conhece os pensamentos da pessoa, viu que sua
intenção era diferente.
Por isso, Ele lhes permitiu sobreviver. Podemos
entender a importância de uma teshuvah com verdadeira kavanah, ou
seja, verdadeira intenção do coração, pois o Eterno vê o que
está dentro de nós.
O
midrash
continua seu ensino, e menciona um versículo
que
diz: “Para o condutor,
sobre rosas, para os filhos de Kôrach,
um cântico de afeto.” (Tehilim 45:1). Por que denomina os filhos
de Kôrach
“rosas”?
Pessoas
que os viram costumavam dizer: “São ‘espinhos’, exatamente
como seu pai.”
O
midrash fala isso, pois
talvez
as
pessoas
pensassem que os
filhos de Kôrach
teriam o mesmo caráter do pai. As pessoas costumam ser afetadas pelo
meio que vivem, porém os verdadeiros servos de HaShem não devem
sofre
com esse problema, já
que o seu modelo é a Torá.
E
segue dizendo que na
hora da destruição, todavia, o
Eterno
protegeu as rosas de serem queimadas junto com os espinhos.
Os
filhos de Kôrach
compuseram diversos salmos no Livro dos Salmos, dentre esses um que
descreve como foram quase confinados ao Inferno: “Minha vida foi
arrastada próxima ao inferno, fui ostracisado junto com os que
desceram ao fundo do poço…” (Tehilim 88:4-5).
O
midrash ainda menciona que no
salmo
49, eles apelam a toda a humanidade que aprenda a lição moral do
destino de seu pai:
“Os
que se fiam em suas forças e de suas riquezas imensas se vangloriam,
nem mesmo a seus irmãos podem eles redimir, nem a D’us oferecer
resgate por sua morte. Não inveje nem tema ao homem que enriquece e
alcança glórias pois, ao morrer, nem sua glória nem nada mais
levará consigo. O homem que se engrandece e não tem entendimento
para seguir as sendas traçadas por D’us, parecem-se com os animais
que perecem e não deixam sequer lembrança.”
Agora,
veremos o que o midrash fala a respeito de On,
filho
de Pélet.
Outro
seguidor de Kôrach,
On, também escapou da morte. Era membro da tribo de Reuven, vizinho
da família de Kôrach,
e, como tal, participou da rebelião. Ao voltar para casa da primeira
reunião, contou à esposa que estava tomando parte numa rebelião.
Ela argumentou: “O que você ganha com isso? Sua posição será a
mesma, quer Aharon quer Kôrach
seja o Sumo-sacerdote.” O
midrash diz que On reconheceu
a lógica das
palavras da
esposa,
mas explicou que já não podia mais desligar-se do partido de
Kôrach,
uma vez que jurara oferecer incenso na manhã seguinte.
“Não
se preocupe” – disse a esposa – “cuidarei disso.” Naquela
noite, a esposa de On misturou um vinho muito forte à sua bebida. On
caiu imediatamente num sono muito pesado. Enquanto isso, sua esposa
sentou-se à entrada da tenda, e fez algo que nenhuma esposa judia
faria: descobriu seus cabelos.
Logo
chegaram os mensageiros de Kôrach
para chamar On para a reunião. Porém, viram a esposa de On, com os
cabelos descobertos! Deram meia-volta e foram embora. Kôrach
enviou outros mensageiros. Eles também não se aproximaram da mulher
de On. Os mensageiros iam e voltavam. Assim, On não
apareceu ante o Santuário.
Kôrach,
segundo
o midrash, falou
bem ao descrever os judeus como uma “congregação sagrada em meio
a qual está a Shechiná.” O nível de recato da Torá era aceito
pela geração inteira. Era lógico e natural que nem mesmo os
mensageiros de Kôrach
se dirigissem a uma mulher casada cujos cabelos estivessem
descobertos.
Quando
a morte golpeou os perversos, a cama onde On dormia começou a
escorregar em direção ao abismo. A esposa de On agarrou a ponta e
rezou: “Mestre do Universo, On desligou-se da corja de Kôrach.
Ele jurou em Seu Grande Nome que não é seguidor de Kôrach.
Se alguma vez violar sua palavra, então Você poderá puni-lo.” On
foi poupado, e logo sua esposa censurou-o: “Agora, vá a Moshê e
peça desculpas!” “Estou envergonhado demais para encará-lo,”
replicou On. A esposa de On, então, foi a Moshê, soluçando
amargamente e relatando o que acontecera a seu marido.
Ao
receber o relato, Moshê caminhou até a tenda de On e falou com ele
de maneira encorajadora, dizendo: “Saia! Que o Todo Poderoso o
perdoe!” Pelo resto de sua vida, On não parou de lamentar-se e
fazer teshuvá por uma vez ter ficado ao lado de Kôrach.
Aqui
fica bem claro o motivo da omissão na Torá de outras referências a
este homem, que ia entrando no erro, mas devido a esposa sábia, foi
salvo da destruição.
Seu
nome indica isso: On – ele estava em estado de luto (oninut –
luto).
Filho
de Pelet – um filho (homem) que foi resgatado da destruição
através de um milagre (Pelet refere-se a Pele – milagre). “A
sábia entre as mulheres constrói sua casa.” (Mishlê 9:1) O
midrash
diz que o versículo
de
provérbios refere-se
à esposa de On, cuja sabedoria resgatou seu lar da destruição.
“Mas a mulher perversa o demole com suas próprias mãos.”
Refere-se à esposa de Kôrach,
que arruinou seu marido e todo o seu lar. Quando se trata de assuntos
práticos, o marido deve ouvir os conselhos da esposa.
Entendimentos
práticos e proféticos
Passando
agora para a parte final deste estudo, depois de termos visto um
pouco do contexto histórico e os comentários e ensinos dos
midrashim dos sábios do povo de Yisrael. Vamos refletir mais um
pouco a respeito do nosso tema. O fato da Torá, conforme mostramos
antes, relatar os filhos de Kôrach em Shemot, e nesta parashá, no
momento da morte de seu pai omitir sua presença junto dele. Para
então, alguns trechos depois voltar a mencioná-los esclarecendo que
eles não morreram de forma tão nítida, só pode ser para nos
revelar uma informação importante. Da mesma forma que o primeiro
verso fala de On, e depois, em toda a parashá e mesmo após ela,
nada mais fala a respeito dele, também deve querer nos revelar
alguma informação importante. Mas que informação?
Você
sabe que Torá é instrução, direção, ensino do Eterno. Eu sempre
repito o quanto a Torá é didática. Mais uma vez temos a
oportunidade de reconhecer isso, e de glorificar o Eterno.
Esse
trecho da parashá, em um sentido literal e prático, quer nos
ensinar que mesmo em meio a pessoas que são rebeldes, invejosas e
transgressoras, pode haver pessoas que tenham um coração que pode
se voltar para o Eterno. Sempre haverá alguém para fazer teshuvah,
para se arrepender. Sempre haverá alguém que busca seguir os
conselhos do Eterno, por
livre e espontânea vontade como no caso dos filhos de Kôrach ou
motivado por outra pessoa, como no caso de On.
Nisto
podemos e devemos reconhecer como é importante nosso papel em meio à
sociedade em que vivemos ou em meio aos nossos familiares e amigos.
Mesmo os que pensamos que estão perdidos por estarem vivendo no erro
ou no engano. Nossa
prática de justiça diária e nossa disposição em estar sempre
prontos a ensinar a verdade pode mudar uma história. E nessa parashá
vimos como isso é importante.
Essas
pessoas que foram poupadas da destruição devido a um certo nível
de justiça mesmo vivendo no meio de tanta injustiça, inveja e
rebeldia é um apontamento profético para os remanescentes que estão
espalhados ao redor do mundo. É um apontamento profético para mim e
para você que estava em um ou outro sistema religioso, seja o
cristianismo ou o judaísmo, pois um dia estávamos lá no meio do
erro, e o Eterno teve misericórdia de nós. Ele olhou nossa kavanah
e viu que nossa intenção era verdadeira, mas estávamos enganados.
Por isso nos deu uma chance.
Os
filhos de Kôrach não morreram como vimos em Nm 26:11, e sua
descendência continuou servindo ao Eterno no decorrer da história
no TaNak. E um parente
deles
ficou muito famoso, a
saber Asaf. Vemos
vários Salmos escritos pelos descendentes de Kôrach, tais como 42,
44 ao 49; 84, 85, 87 e 88. E
também Asaf
escreveu doze salmos o 50, 73 ao 83. Encontramos referências aos
koraítas no preparo dos utensílios e na inauguração do Beit
Hamikdash/Casa da Santidade/Templo Sagrado e em vários textos em
Divrei-Hayamim Alef/1 Crônicas, em Divrei-Hayamim Bet/2
Crônicas.
É
importante destacar que o TaNaK fala de pelos menos outros dois
Kôrach, mas eles não são da tribo de Levi e descendentes de Kehat.
Falando
mais um pouco de contexto profético, quando olhamos para Asaf como
um parente dos descendentes de Kôrach, pois de acordo com 1Crônicas
6:39-43, Asaf era descendente de Gershon, filho de Levi, assim
como Kôrach era descendente de Kehat, filho de Levi. Eles eram
parentes! Assim, como eu e você estamos servindo ao Eterno, e algum
parente não está, nossa justiça pode atingi-los no futuro próximo
ou até no futuro distante. Profeticamente os descendentes de Kôrach
apontam para todos os que recebem a Torá de HaShem e fazem teshuvah,
e por isso são salvos de cair no abismo, vivendo uma vida justa e
sendo testemunha da misericórdia do Eterno.
Para
finalizar nosso estudo, leiamos o 73 e reflitamos como esse parente
próximo dos filhos de Kôrach lembra o desastre daqueles homens. O
texto desse salmo fala claramente a respeito dos sentimentos e
caráter de Korach, Datan e Aviran nessa parashá. Em um sentido
profético, mas ao contrário, no lugar de falar do futuro, ele
retorna ao passado. Ao mesmo tempo em que ele fala da corrupção de
alguns dos sacerdotes de seu próprio tempo, já quase no fim de sua
vida e também trata a respeito do futuro. Esse futuro fala do nosso
tempo e também dos tempos vindouros. O Rav Yochanan me mostrou que
cada um dos três, Kôrach, Datan e Aviran representam uma
congregação de um milênio, ou seja, três milênios. E olhando
ainda mais um pouco nesse tema de hoje, também podemos dizer que os
filhos de Kôrach, chamados Asir,
Elkanah e Aviasaf, também
apontam para três milênios, sendo que esses são apontamentos para
os milênios com os nazarenos justos. Então note, três milênios de
injustiças ou com pessoas injustas e três milênios de justiça ou
com pessoas justas, isso forma seis milênios.
E
talvez você diga, mas falta um para completar o sétimo milênio!
Esse é justamente
o
apontamento de On, que por causa
de sua
esposa, que representa a congregação nazarena, alcançou
misericórdia e perdão e não foi mais citado. Assim, como Yeshua,
que aos olhos dos judeus é corrupto, e nem é citado por eles, mas
que virá no sétimo milênio depois de estar sumido tanto tempo. Ele
trará a justiça e se apresentará diante do povo como o rei que
traz perdão. E
muitos se prostrarão diante dele para reconhecer que é o
representante do Eterno Baruch HaShem.
Que
possamos ser as testemunhas que mostram ou revelam a justiça para os
que a procuram, assim como para os filhos de Kôrach e On. E se nós
formos em algum momento um pouco de Kôrach, que possamos parar e
impedir a yetser hará de crescer e nos levar para o caminho da
inveja, arrogância e rebeldia, a fim de alcançarmos um coração
grato.
Que
HaShem lhes abençoe!
Pr./Rav
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben
Yosef)