Estudos
da Torá
Parashá
nº 40 – Balák (Balaque)
Bamidbar/Números
Nm
22:2-25:9,
Haftará
(Separação) Mq
5:6-6:8; e
B’rit
Hadashah (Nova Aliança) Lc
22:1-71
1
- INTRODUÇÃO
A
parashá (porção) dessa semana interrompe o relato da caminhada dos
filhos Israel no deserto para falar de dois homens que não eram
israelitas, mas os seus motivos e atitudes contra o povo de D’us
nos servem de instrução. A Torá nos conta a história de
Balák(Balaque) e Bilam (Balaão) em sua tentativa de amaldiçoar os
filhos de Israel e a relação que tudo isso tem com a vida daqueles
que servem a Adonai.
2
- ESTUDO DAS PALAVRAS
Tendo
lido o texto de Bamidbar/Números 22:2-21, encontramos a menção do
nome de quatro povos e dois homens, sendo Israel, os Amorreus, os
Moabitas e os Midianitas, e também Balák e Bilam.
Com
isso, cabe-nos fazer uma pergunta: Quem eram os Amorreus, os Moabitas
e os Midianitas?
Os
Amorreus eram descendentes de Canaã que era filho de Cam, filho de
Noé (Gn 10:1, 6, 15 e 16).
Já
os Moabitas são descendentes de Ló por meio da relação incestuosa
com sua filha mais velha (Gn 19:36-37).
E
o outro povo era os Midianitas, descendente de Midiã que era filho
de Avrahan(Abraão) e Quetura (alguns historiadores e rabinos dizem
que é a mesma Hagár, também mãe de Ismael – Gn 25:2; 37:28,36),
e muitas vezes os nomes são mesclados entre ismaelitas e midianitas.
Balák
era filho de Tsipor (Zipor), de descendência midianita.
Bilam
era filho de Beor, da cidade de Petor próximo do rio Eufrates, que
era próximo de Haran, de onde veio Avrahan, podendo
ser
descendente de Labão, sogro de Yacov (Jacó).
Entendendo
o contexto e o Motivo de Balák
A
porção passada termina com a vitória dos exércitos de Israel
contra duas grandes nações, Seom rei dos amorreus e Ogue rei de
Basã.
Ocorre
que Moabe era vizinha dessas grandes
nações, e quando os moabitas ouviram sobre a derrota daqueles dois
reis decidiram juntar forças com uma outra nação que era seu
inimigo de longa data, os midianitas. Seu intuito era unir forças
contra um inimigo comum, os filhos de Israel. Com isso levantaram um
novo rei, que representasse essa coalizão, seu nome era Tzur, que ao
ser consagrado como rei recebeu o nome de Balák, que significa
“devastador”. Ele não era de linhagem real, apenas um nobre, um
conhecido herói de guerra, além de ser um feiticeiro conhecido
entre seu povo.
No
lugar de se preparar militarmente contra Israel, ele e seu conselho
de anciãos, entendendo que D’us era com o povo de Israel, decidem
contratar um outro “feiticeiro ou profeta” muito conhecido pelos
povos ao redor e ainda mais poderoso, chamado Bilam (Balaão). Tenha
em mente que na época os termos vidente, feiticeiro e profeta tinha
uma mesma conotação.
O
verdadeiro motivo por trás de tudo era o antissemitismo, ou seja, o
desejo de destruir o povo de Israel, mas Balák queria fazer isso
primeiro no plano espiritual, pois
entendia que se quebrasse a barreira espiritual poderia investir
contra o povo.
Era comum naquela época e região as pessoas crerem nos poderes de
palavras de bençãos e maldições. Quem sabe, aquele rei pensou que
se combinasse seus poderes com o de Bilam, poderiam vencer Israel,
pois se houvesse uma interferência no mundo espiritual, no mundo
físico a sua vitória se manifestaria e não teria como ser
derrotados pelos israelitas.
Nesta
situação, o que podemos inferir e contextualizar para nossas vidas
é que, em muitos momentos o inimigo planeja te destruir por meios
espirituais, mas ele sabe que você é guardado pelo Eterno.
A
fama de Bilam o precedia
Não
foi sem motivos que Balák e os anciãos decidiram chamar Bilam, pois
ele era considerado um dos maiores inimigos de Israel. Seu nome
significa “destruidor de povos”, e devido à sua reputação
deveria ser muito requisitado. Podemos perceber que era verdadeira a
informação da fama de Bilam, quando olhamos para o verso 6, pois
nos apontada: “...pois
sei que, a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu
amaldiçoares será amaldiçoado.”
A
benção e a maldição são opostas. Benção vem do termo hebraico
“barak”, que significa “dar poder a alguém para ser próspero,
bem sucedido e fecundo em tido o que fizer.”, vemos isso em Dt 28.
Opostamente, o termo “arar” em hebraico é amaldiçoar, e
significa “prender por encantamento, cercar com obstáculos, deixar
sem forças para resistir.” Dessa forma, podemos entender que uma
pessoa que seja abençoada pelo Eterno é difícil que seja
amaldiçoada, pois a benção funciona como um escudo de proteção
contra as forças do mal. No entanto, uma pessoa pode ser alcançada
pela maldição se houver desobediência, porque a benção é
consequência da obediência, assim como a maldição o é da
desobediência. Ou seja, a benção pode operar em algumas áreas da
vida, mas a maldição pode operar em outras áreas onde a Torá não
tem sido respeitada.
O
Eterno usa o profeta para nos instruir que devemos lembrar o que se
passou com Balak
e Bilam. Porque esse acontecimento é uma das coisas mais importantes
na história do nosso de Israel, como está em Miqueias 6:5:
“Povo
meu, agora do que consultou Balaque, rei de Moabe, e o que lhe
respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu desde Sitim até
Gilgal, para que conheças a justiça do Eterno.”
Bilam
o Profeta ou Feiticeiro?
No
site “emunah a fé dos santos”, na parashá referente a esta em
estudo, encontramos o seguinte: “O
nome hebraico Balãao (Bilam), escreve-se com as letras: bet; lamed;
ayin e mem. Como o texto original não tem vogais, é possível ler o
seu nome também como “bliam” que significa
“sem povo”.”
Ele não fazia parte do povo de Israel, poderia ter se unido a eles
assim como Jetro, mas não o fez, e vivia como um profeta solitário.
Alguns
dizem que o fato de Bilam receber ofertas ou pagamentos pelas
profecias foi o motivo de sua queda, mas não podemos considerar o
assunto dessa forma. Isso porque era comum na época, que os profetas
recebessem ao serem consultados pelas pessoas. Leia o texto de 1Sam
9:6-8:
“O
servo, contudo, respondeu: "Nesta cidade mora um homem de Deus
que é muito respeitado. Tudo o que ele diz acontece. Vamos falar com
ele. Talvez ele nos aponte o caminho a seguir".
Saul
disse a seu servo: "Se formos, o que poderemos lhe dar? A comida
de nossas sacos de viagem acabou. Não temos nenhum presente para
levar ao homem de Deus. O que temos para oferecer? "
O
servo lhe respondeu: "Tenho três gramas de prata. Darei isto ao
homem de Deus para que ele nos aponte o caminho a seguir."”
Se
seguirmos pela análise acima, o profeta Samuel mencionado nesses
versos também era mercenário. Contudo, olhando
para o texto da porção em estudo, no capítulo 22, não encontramos
nada que denigra a imagem dele como profeta, ou que diga que ele é
um falso profeta. Até então, estávamos vendo o que Balák queria
que ele fizesse, pois sabemos qual era a intenção dele.
Pelo
texto bíblico, a respeito de Bilam, inicialmente, podemos inferir
que ele era um profeta de Adonai. Podemos entender que ele conhecia o
D’us de Avrahan, devido seus pais terem tido contato com Yaácov
(Jacó), e portanto possa ter ouvido falar de seu D’us. Podemos
entender que o YHWH possa tê-lo dotado com um dom natural para
receber e transmitir palavras de profecia. E podemos também
considerar, que o Eterno o tenha se revelado a ele, pela forma como
Bilam se refere à Adonai, chamando-o pelo tetragrama, o nome de
D’us, como lemos no verso 13. Não
há motivos para considerar Bilam santo, ou honrado diante de D’us,
ou mesmo que sua lealdade ao D’us de Israel era real. Mas
precisamos aceitar, de acordo com o texto em estudo, que Bilam foi um
gentio “profeta” usado pelo Eterno. Que ouviu diretamente de
Adonai, o Senhor do Universo. Ele
não foi a favor de Moabe e Midiã, e nem foi contra Israel, ele foi,
na verdade, moralmente neutro. O problema é que para o Eterno não
existe tal coisa, não existe “em cima do muro”. É ilusão achar
que para D’us uma pessoa é neutra, pois ou ela é a favor ou é
contra, não há meio termo.
Porém,
no decorrer do texto podemos perceber que ele não usa o
dom que
recebeu para
o bem comum, mas para seu benefício próprio, pois a ganância o
corrompe. E com isso as
Escrituras nos mostram
que, o que o fez
se
tornar falso
profeta, foi
quando ele ensina a Balák a forma de destruir Israel (Nm 25:1-9;
31:16; 2Pe 2:15; Jd 11 e Ap 2:14), o que ficou conhecido como
“Doutrina de Balaão”.
Bilam
era um profeta, mas virou mercenário devido o amor que tinha pelas
riquezas e pelo reconhecimento, a fama. Vemos Yeshua falando sobre os
lobos devoradores em Jo 10.
Os
rabinos de Israel afirmam que ele podia ter chegado a ser, para os
gentios, o que Moisés era para os Israelitas. Ele poderia ter sido
um dos personagens mais influentes no mundo gentio, devido ao dom de
profecia que tinha. Mas
talvez nos perguntemos, porque D’us dera-lhe o dom da “nevu’ah”
- profecia? Ou porque ele tinha acesso ao D’us de Israel? Os sábios
judeus afirmam que talvez, o Eterno o tenha permitido se tornar um
profeta para que as nações, os gentios, não pudessem dizer que,
“se D’us tivesse nos dado um profeta tão grande como Moisés,
teríamos também servido a Adonai”. E com isso podemos notar o
plano do Senhor através da história e das nações, de trazê-las
para perto de Israel, de unir os povos em torno de sua Torá.
No
entanto,
sua sede de fama, honra e bens o derrubaram levando-o à ruína.
Bilam
é citado nos manuscritos do Mar Morto como sendo o “homem que
recebe o dom de D’us para orar e ser atendido, mas buscou seus
próprios interesses, sendo tomado por Satanás” (4Q175-339).
Apesar
de conhecer ao Eterno, ele tinha conceitos distorcidos, achando que
poderia levar palavras malditas contra o povo, pois acreditava que
D’us estava
além de coisas materiais. Dessa mesma forma, muitos hoje em dia
estão trilhando esse caminho, ensinando que o Eterno não se envolve
em coisas materiais, que
não importa o que você come, que dia você guarda, que festas você
celebra, que
só importa o espiritual. É por essas coisas que entram doutrinas
falsas no meio do povo, como lemos em Atos 20:17-38 e 2Pe 2:1-4,
doutrina de Balaão, que está aí até hoje para afastar o povo de
Deus, de Israel e gerar destruição por meio de iniquidade (do
grego anomia
– falta de lei, de obediência).
Bilam
é mencionado em outros textos nas Escrituras Sagradas, como: Dt
23:5-6; Js 13:22; 24:9-10 e Ne 13:2.
As
palavras da terceira profecia de Bilam (Nm
24:5) são
mencionadas diariamente nos lares dos judeus e nas sinagogas durante
a oração do “Ma
Tovu”. Esta é uma oração recitada quando entram da sinagoga, e é
derivada da Nm 24:5; Sl 5:8; 26:8; 95:6 e 69:14. Em relação ao
primeiro verso recitado na oração, os sábios interpretam as
“tendas de Yaakov” como sendo tendas de aprendizado e oração.
Em um sentido mais profundo, uma casa atinge o mais alto nível
quando se torna um local de estudo da Palavra e oração, tal qual
ocorre na sinagoga. Veja abaixo uma parte dessa oração:
“Ma
tovu ohalecha, Ya’akov, mishkenotecha, Yisrael Va’ani, berov
chasdecha avo veitecha. Eshtachaveh el heichal kodshecha
b’yiratecha.”
“Quão
amáveis são as suas tendas, Ó Ya’akov, e os seus tabernáculos,
Ó Israel.
Quanto
a mim, através de sua abundante compaixão entrarei em Tua Casa.”
Bibliografia:
-
Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer
-
Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
-
http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
-
http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
-
http://shemaysrael.com/parasha-balaq/
-
http://www.yeshuachai.org/forums/topic/%D7%91%D7%9C%D7%A7-balak-parasha-numeros-222-a-2509/
-
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/921247/jewish/Os-Moabitas-Escolhem-Balac-como-Lder.htm
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