Estudos da Torá
Parashá nº 37 – Shelach Lechá (Envie para
você)
Bamidbar/Números Nm 13:1-15:41,
Haftará (Separação) Js 2:1-24; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 17:1-18:43
1 - INTRODUÇÃO
Esta parashá trás uma carga de
emoção muito forte, pelo menos ao meu ver. Aqui a Torá já nos mostrou tudo o
que o Eterno Criador dos céus e da terra, o Libertador, fez por este povo e
agora prestes a entrar na terra a qual herdariam cometem algo que os impedem de
seguir em frente e conquistar a vitória. O que me deixa emocionado nessa porção
são os motivos do povo de Israel para agirem como agiram e suas atitudes após o
que fizeram. Vamos seguir neste estudo pois ele é maravilhoso!
2 - ESTUDO DAS PALAVRAS
“Adonai Deus disse a Mosheh: “Envie
alguns homens para fazer o reconhecimento da terra de kena’an, que dou ao povo
de Yisrael. De cada tribo ancestral, envie alguém que seja líder da tribo”.
Mosheh enviou-os do deserto de Pa’ran, como Adonai lhe tinha ordenado; todos
eles eram homens da liderança dentre o povo de Yisrael.” (Nm
13:1-3 - BJC)
A
porção anterior da Torá finaliza no verso 16 com o Eterno guiando o povo até o
deserto de Paran, onde acampam mais uma vez. E ali no deserto de Paran Adonai
manda que Moisés envie doze homens para espiarem, ou melhor observarem a terra,
conforme lemos nos versos acima, o termo espiar não é muito correto aqui,
conforme é tradicionalmente entendido e veremos mais adiante. Veremos que a
idéia inicial de enviar homens até a terra de Canaãn não vem originalmente de
D’us, como o texto parece mostrar. Também poderemos entender que o objetivo
destes doze homens era trazer um relatório de suas observações e explorações.
Sobre o Nome da Parashá e o de Yehoshua
(Josué)
Em
primeiro lugar, vejamos as palavras iniciais que dão nome a nossa porção da
semana.
“VAY’DABER
YHVH EL-MOSHEH LEMOR: SHELACH-LECHAH...”
“Falou Adonai a Moshe dizendo: “Envia
para ti...”
Repare
que a palavra que traduziram meramente para o português como “envia”, no
original hebraico significa mais que isso. O original é “shelach lechah” que
significa “envia para ti”, apontando para o fato de que Adonai não queria ou
não desejava enviar, ou não via necessidade de enviar, mas estava mandando eles
enviarem por eles mesmos.
Entenda,
a tradição judaica diz que há um Midrash (comentário rabínico, ensino) sobre
essa questão. Tal Midrash sugere que os filhos de Israel ficaram temerosos com
a possibilidade de deixar o Sinai para a conquista da Terra Prometida. Isso
porque as sete nações que haviam em Canaã tinham uma reputação de serem muito
violentas, maléficas e extremamente depravadas.
Sendo
assim, de acordo com a tradição judaica, foram os filhos de Israel quem pediram
a Mosheh que enviassem os homens para observarem, a fim de que pudessem avaliar
a terra e a resistência do inimigo, mas também podemos ler sobre isso na
própria Torá em Dt 1:21 e 22: “Vejam: Adonai,
seu Deus, pôs a terra diante de vocês. Subam, tomem posse, como Adonai, o Deus
de seus antepassados, disse a vocês. Não temam, não se assustem. Vocês se
aproximaram de mim, cada um, e disseram: Vamos enviar homens à nossa frente
para explorar a terra por nós e nos trazer uma palavra sobre a rota a ser usada
para subirmos até lá e nos revelar como são as cidades que encontraremos.”
Por isso o Eterno usa a palavra “shelach lechá” - envia por ti ou por
sua conta. Outros sábios judeus também dizem que este termo significava
“enviá-los para seu próprio benefício”. Uma coisa que fica bem clara nisso tudo
é que podemos ver Mosheh indo até o Santo e Bendito, para perguntar sobre a
solicitação, e assim temos o texto dos versos que estamos analisando, onde Ele
manda enviar por eles mesmos.
Agora,
a respeito do nome de Josué, que foi mudado por Mosheh, ao ser escolhido para
ser um dos doze homens que seriam enviados para explorar a terra. O nome dele
antes de ser escolhido era “Hoshea - הושׁע” (Oseias), que
significa “Salvação”. Ao seu nome Mosheh acrescentou no início, a letra “Yud” (י), a fim de fazer com que o nome de Josué começasse com o nome
de D’us, “YAH”, sendo assim, ficou “Yehoshua - יהושׁע”
(Josué), que significa “Yah Salva”.
Entretanto, é provável que a pronúncia “Yehoshua” não
seja a mesma que Moisés deu a este homem, porque mais tarde os escribas, para
camuflar a correta pronúncia do Nome Sagrado (YHWH), a fim de evitar que pagãos
a pronunciassem indiscriminadamente quebrando o mandamento, mudaram certas
vogais nos nomes que contém o Nome do Eterno ao pronunciar.
Dessa forma, possivelmente Moisés nunca o tenha
chamado de “Yehoshua”, mas sim “Yahushua/Yeshua. Isso porque nesse caso, a
forma hebraica antiga do nome do Messias, nosso salvador é Yahushua (Yud, Hey,
Vav, Shin, Ain - י ה ו שׁ ע). A forma abreviada
desse nome é “Yeshua”. Essa forma surge tanto nos textos hebraicos antigos como
nos escritos aramaicos do Tanach (Antigo Testamento). Também é importante mencionar
que o nome Yeshua, também significa “Yah Salva”, de acordo com alguns
estudiosos.
De acordo com o Talmud (a tradição oral compilada em
livros), os rabinos de Israel ensinaram que Mosheh previa a infidelidade e
falta de fé dos homens que foram escolhidos para explorar a terra, por isso
mudou o nome de Hoshea para Yeshoshua para lembrar-lhes que Adonai deve sempre
vir em primeiro lugar (Talmud Sotah 34b).
Espias
ou Exploradores?
Quando olhamos
para o texto de Nm 13:1-2 lemos o seguinte: “Adonai Deus disse a Mosheh:
“Envie alguns homens para fazer o reconhecimento da terra de kena’an,
que dou ao povo de Yisrael. De cada tribo ancestral, envie alguém que seja
líder da tribo.”
Nesse trecho a
Torá utiliza o verbo raiz “TAR”, pois a palavra que aparece no texto em hebraico é
“VEYATURU”. Essa palavra significa “Excursionar, observar, viajar com um
propósito, explorar, examinar e investigar. O verbo “TAR” ocorre 12 vezes neste
capítulo e mais 10 vezes em todo o Tanach (Escrituras Sagradas).
Podemos então perceber através da
observação dessa palavra no original, que o objetivo dos homens não era o de
espiar, mas sim de explorar, observar. Repare que a palavra hebraica para
“Espião” é “Ragel – רגל", e
ela não aparece em nenhuma parte do texto desta parashá (porção), no entanto, a
raiz “TAR”, conforme já mencionamos, é
encontrada 10 vezes. Sendo assim, os homens enviados por Mosheh devem ser
compreendidos ou chamados de Exploradores, e não de espiões; as duas palavras
não são idênticas.
A primeira vez
que a palavra “Ragel” (Espião ou espionar) é usada nas Escrituras, foi uns 40
anos mais tarde já na história de Josué e na preparação da batalha de Jericó,
quando espiões são enviados. A diferença está na natureza e propósito da
viagem. No caso em que estamos estudando o propósito era saber como eram as terras
que receberiam, como eram os povos e as cidades. Já em Josué o propósito era
estritamente militar, pois estavam se preparando para a batalha.
Fatos a entender sobre os doze exploradores:
Antes que
Israel entrasse na terra, houve dois tipos de informações:
- A natureza
da terra; e
- A
praticabilidade de conquista militar.
Este não era
um trabalho a ser feito por espiões militares, pois os espiões são enviados
somente depois que uma nação decidiu iniciar a guerra. Os espiões são enviados
para das informações de como atacar o inimigo, mostrando seus pontos
vulneráveis. E relatariam somente ao seu líder militar, que no caso era Mosheh.
Já no caso dos nossos doze homens, os exploradores ou observadores, se fossem
espiões militares, não haveria razão para publicar seus nomes e Mosheh para
isso não escolheria líderes ou pessoas importantes de cada tribo, conforme Nm
13:1-3.
A missão dos
doze:
Sua missão era
recolher a informação, de acordo com o texto, em seis categorias:
- Como o lugar
era?
- Como eram os
povos do lugar?
- A terra era
apropriada para agricultura?
- Que tipo de
vegetação está no lugar?
- Quais os
fatos sobre as cidades?
- Trazer
algumas amostras dos produtos da terra.
Daí percebemos
a necessidade de que tinham que ser representantes influentes de cada tribo, e
porque relataram tudo a nação inteira e não somente a Mosheh.
Os
observadores foram enviados e quarenta dias depois retornam, no dia 9 de Av,
carregando um enorme aglomerado de uvas, uma romã gigante no tamanho e um
enorme figo. Segundo o Midrash Rabínico os frutos eram tão grandes que
necessitavam de um homem para carregar a romã, outro para levar o figo e de
oito homens para levar o cacho de uvas.
Podemos
aprender com esta passagem que os filhos de Israel cometeram dois erros muito
comuns:
- Não
conseguiram ver que possuir a terra era um ato de fé (emunah – confiança,
fidelidade em D’us). Os 10 observadores foram pessimistas (realistas). O
pessimismo deles contagiou todo o povo, cegando-os para a realidade da
aliança,e os mantendo na realidade do que os homens estavam dizendo.
- Não
apreciaram as bênçãos de D’us tinha prometido se obedecessem a seus mandamentos
(Mitsvot).
Devemos
reconhecer que as dificuldades eram reais na terra, haviam gigantes, cidades
fortificadas e tantas outras coisas, os 10 espias eram realistas, mas eles
também esqueceram de serem realistas em relação a D’us, pois não olharam para a
realidade de que o Eteno já havia feito por eles e o que já havia prometido
fazer por eles.
Portanto,
entendamos que eles cometeram Lashom Hará (maledicência) ao reportar o
pessimismo em relação a Terra, na verdade contra o próprio D-us, pois era como
se tivessem reportado que o povo da terra era maior do que as promessas de
D’us. O pessimismo é uma das grandes barreiras construídas por nós mesmos que
nos impendem de caminhar nas bençãos e nas promessas de D’us. (Nm 14:2) A fé
move-se adiante na base da fidelidade de D’us, não em nossas próprias forças e
habilidades, ou na ‘realidade’.
A realidade
depende do ponto de vista do observador, então a Fé do observador muda a
perspectiva da realidade ou a realidade em si. Além disso, nós nunca podemos
dizer que acreditamos ou temos fé em D’us, se não nos submetemos a Sua Torá. Ela
reflete nossa condição interna, para que possamos fazer os reajustes – Teshuvá
– Arrependimento, retorno, conversão. (Mt 7:24, Jo 14:21, Mt 5:19-20)
E
a Torá aponta para o Messias, é por isto que a rejeição do Messias é
considerada a mais alta traição, para todos os mandamentos de D’us. Rejeitar
Sua Torá é rejeitar o Seu Messias, que por fim, é rejeitar a D’us, aquele que o
enviou. (Lc 10:16)
Sobre
Kaleb, filho de Yefuneh
Calebe foi um dos doze
observadores que foram enviados a Canaã, conforme Nm 13:6. Seu nome em hebraico
“Kalev” pode significar “cachorro” que é “Kelev”, mas também pode aludir a
“coração” que é “Lev”. Ele foi líder da tribo de Judá, ou pelo menos uma pessoa
muito influente ali.
Entretanto, perceba que Calebe
não era um israelita. Ele era um, “Ex Goy” (gentio) convertido ao D’us de
Israel, e tornou-se um membro influente em Judá. Jefuneh, nome de seu pai, não
era um nome propriamente hebreu, o Tanach (Escrituras) nos aponta o caminho
para compreendermos isso. Veja o que diz o texto de Josué 14:6:
“Então,
os filhos de Judá chegaram a Josué em Gilgal; e Calebe, filho de Jefoné, o
quenezeu, lhe disse: Tu sabes o que o Senhor falou a Moisés, homem de Deus, em
Cades-Barnéia, por causa de mim e de ti.”
De onde a tribo Quenezeu veio? As
Escrituras nos dizem: das tribos Cananitas. Veja o que diz Gênesis 15:18-21:
“Nessa mesma ocasião o SENHOR D’us fez uma aliança com Abrão. Ele
disse: Prometo dar aos seus descendentes
esta terra, desde a fronteira com o Egito até o rio Eufrates, incluindo as
terras dos Queneus, dos Quenezeus, dos Cadmoneus, dos Heteus, dos Perizeus, dos
Refains, dos Amorreus, dos Cananeus, dos Girgaseus e dos Jebuseus.”
Jefoné
(Yefuneh) que pode significar “virou-se”, nos sugere o porquê Calebe se afastou
dos esquemas pessimistas dos outros observadores. Podemos pensar que a família
de Calebe vivia no Egito há anos e se juntaram aos filhos de Israel. E isso é
mais uma prova de que uma multidão de povos saiu do Egito com Israel. Na
verdade, Calebe era descendente de Esaú, de um dos filhos dele. Jefoné era
descendente de Quenaz filho de Elifaz, filho mais velho de Esaú (Gn 36:15;
40-42). Há ainda outro texto que menciona Jefoné como “Quenezeu”, leia Nm
32:12.
Talvez alguém
possa se perguntar: “Se ele não era hebreu, como veio a ser tão importante na
tribo de Judá, a ponto de ser escolhido para ir observar a terra?” ou “Como
veio a ser contado como um dos membros da casa de Judá?”
As Escrituras
nos mostram como ele entrou na tribo de Judá. Leia 1Cr 2:3-5; 18. Estes textos
nos mostram duas possibilidades. A primeira é que esse pode não ser o mesmo
Calebe que estamos estudando, e a segunda é que Calebe teria sido recebido como
filho por Hesrom, filho de Perez, que era filho de Judá. Esse é meu palpite,
principalmente levando-se em consideração o tempo decorrido entre as gerações e
a grande possibilidade disso ter acontecido e seguindo os textos das
Escrituras.
Agora quanto a pergunta: “Se ele
não era hebreu, como veio a ser tão importante na tribo de Judá? Podemos
responder entendendo o texto de Nm 14:24, que diz: “Mas o meu servo Calebe,
porque nele houve outro espírito, e porque ele perseverou em seguir-me, eu o
introduzirei na terra em que entrou, e a sua posteridade a possuirá.” Devemos observar que, se houve alguma vez um
caráter de um ex-gentio nas Escrituras que expôs uma atitude positiva em
relação a Adonai ou inspiração diferente em direção ao Eterno e a sua Palavra,
deveria ser Calebe. Na Torá encontramos três pessoas sendo definidas pelo
Eterno como seus servos, e são eles: Abraão, Moisés e Calebe. Isso nos aponta o
caráter de Calebe, e nos indica a direção para entendermos como ele havia sido
transformado por Adonai e assim, veio a fazer parte do povo de D’us e da tribo
de Judá.
Em relação a esse assunto é
importante lembrar que, por meio desse fato a Torá quer nos mostrar o
“mistério” que Paulo (Rav. Shaul) diz em Efésios 3, ou seja, a entrada dos
Gentios ao povo de Adonai, através do Messias e da obediência à Palavra.
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
-
http://www.yeshuachai.org/forums/topic/ שלח-לך
-shlach-lecha-parasha-numeros-131-1541/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com
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