Estudos da Torá
Parashá nº 33 – Bechukotai (Em meus estatutos)
Vayicrá/Levítico Lv 26:3-27:34,
Haftará (Separação) Jr 16:19-17; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 9:1-10:41
1 - INTRODUÇÃO
Nesta parashá, o Sefer Vayicrá
(livro de Levítico) conclui com o fragmento em que Moshé contrasta as
diferentes atitudes que seguiram a obediência ou a violação dos filhos de
Israel aos mandamentos de HaShem. Vamos aprender que a adesão às leis se
traduzia em paz e prosperidade para o povo, e isso é assim até os dias de hoje
com todos os que o seguem. E da mesma forma, o que acontecia caso o povo não obedecesse às leis.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
“Se
andares nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes;” (Lv
26:3)
A
palavra “Se”, em hebraico אִם – IM, estabelece um interdependência
inevitável entre o destino de Israel e sua conduta, ou seja, apresenta uma
condição para o povo de Deus, demonstrando a oportunidade de escolha entre
obedecer e não obedecer, mostrando que seu livre arbítrio estava ativo, mas
também as consequências das más escolhas. Apesar do relacionamento antigo e
especial entre D’us e Seu povo eleito, Israel não desfruta de privilégios
especiais, ao contrário do que os cristãos em geral pensam. Suas bênçãos são
condicionadas ao seu comportamento e ao zelo com que obedece aos mandamentos
Divinos.
A
palavra hebraica “im” começa com a primeira letra do alfabeto hebraico, o alef,
já a última letra da secção das bênçãos, no versículo 13, é a última letra do
mesmo alfabeto, o tav. Como tal, nestes versículos há um resumo de toda a
mensagem das Escrituras, desde o princípio até ao fim, desde o alef até ao tav.
Qual é a mensagem? Se formos fiéis seremos abençoados a todos os níveis. A
obediência é que traz bênçãos às nossas vidas.
Por sua vez, a desobediência traz maldições sobre a vida
pessoal, familiar e nacional. Se queremos ser abençoado e usufruir da companhia
do Eterno segundo as promessas destes versículos, como é que o podemos lograr?
Não
é através do estudo da Torá, tampouco é através da oração ou de sacrifícios,
mas sim, através da obediência. A obediência é melhor que os sacrifícios, como
lemos em 1 Samuel 15:22:
“Porém Samuel disse: Tem, porventura,
YHWH tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua
palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor
do que a gordura de carneiros”.
A
obediência à Torá de Moisés é o caminho para a bênção. É esse o chamado de
Yeshua, que nós, as ovelhas desgarradas, retornemos ao seu aprisco.
Perceba
que, enquanto os minuciosos aspectos das maldições são descritos em 30
versículos (14-43) e as bênçãos em apenas onze (3-13), é óbvio que o peso e a
promessa das bênçãos são predominantes.
Nestes
poucos versículos iniciais, através de cada bênção a Torá descreve um modelo de
vida bastante harmonioso, que podemos entender como etapas a serem galgadas:
1) A prosperidade econômica como
consequência da auto suficiência da terra, não dependendo de importações (vers.
4-5);
2) Segurança, ausência de medo
(final do ver. 5);
3) Paz na terra (vers. 6);
4) Força e coragem para
sobrepujar os inimigos (vers. 7-8);
5) Grande aumento populacional
mediante alta taxa de natalidade (vers. 9); e
6) A presença de D’us entre Seu
povo (vers. 11-13).
Voltando
para as palavras do primeiro verso dessa porção, temos a palavra hebraica que
foi traduzida como “meus estatutos” é “chukotai”. Um mandamento que é
denominado “chuk” é um tipo de mandamento que não tem uma explicação
lógica e compreensível à primeira vista. É o tipo de mandamento mais difícil
para o homem (não é por causa do peso dele, mas devido ao Yetser Hará –
inclinação natural que o homem tem para o pecado.), porque não têm apenas que
se esforçar para os cumprir, mas também têm que travar uma batalha na sua mente
na hora de os obedecer.
Como o homem não entende bem a
razão pela qual tem que cumprir esse tipo de mandamento, a mente natural tende
a rebelar-se e a desprezar o chuk, cf. v. 15, 43. Por essa razão, a mente que
não foi transformada pela Palavra Divina, não ajuda o homem a colocar em
prática os mandamentos de caráter chuk.
Os sábios de Israel dizem que
este é o mandamento que mais eleva o homem espiritualmente, porque incute no
homem uma obediência que desafia as leis da lógica, sem que a mente o apoie e
assim obriga-o a subir a um nível espiritual mais alto. A obediência ao chuk
está relacionada com a relação pai/filho. O filho não entende por que razão o
pai lhe ordena algo, mas obedece simplesmente porque o pai lhe diz, não porque
haja uma explicação para que tenha que fazer isto ou aquilo. Por isso, nossa
obediência a esse mandamento cria uma relação de obediência num nível mais
profundo no espírito e no amor. Ainda que não entendamos, obedecemos
simplesmente porque o Pai nos disse. E não devemos entender isso como uma
confiança cega, mas é uma confiança plena naquele que tudo sabe o que é o
melhor para os seus filhos. Sendo assim, o chuk nos eleva acima do
natural, do lógico, do que é óbvio, segundo a racionalidade humana, e aprofunda
a nossa relação com o Pai celestial.
Com a entrega da Torá, o homem
não é mais escravo, é livre. Tem a liberdade para escolher entre a bênção e a
maldição, tem o poder na sua boca e nas suas mãos para escolher entre a vida e
a morte. Esta autoridade foi dada ao povo de Israel através do pacto no Sinai.
Por isso, aprendemos que cada um de nós tem a capacidade de mudar o rumo das
nossas vidas. Mas esse poder não o temos por nós mesmos, mas foi-nos dado pelo
Eterno.
Através da entrega da Torá e do
pacto a Israel, recebemos a autoridade para dirigir as nossas vidas e as vidas
dos nossos filhos. E através do Messias, os gentios podem entrar em Israel
(deixando assim de ser gentios para ser como os naturais da terra) e obter os
mesmos privilégios. Nós podemos escolher como queremos que seja o nosso futuro,
e tudo dependerá das nossas escolhas. Se escolhemos servir ao Eterno ou ao
mundo.
Tanto a obediência como a
desobediência de um indivíduo pode mudar o destino de uma nação inteira. Não é
por todos os demais pecarem, que nós também temos que pecar. O propósito é
lutar contra a corrente, e ser diferentes, ser santos, ser luz e sal, e por
essa razão é que o Eterno separou um povo para si.
Como já dissemos no início desta
aula, a obediência aos mandamentos que se encontram na Torá (instrução) que é
nada mais nada menos que Genesis, Êxodo Levítico, Números e Deuteronômio é o
caminho para a prosperidade, como está escrito em Josué 1:7-8:
“Tão
somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a
Torá que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita
nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não
cesses de falar deste Livro da Torá; antes, medita nele dia e noite, para que
tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás
prosperar o teu caminho e serás bem sucedido”.
Muitos utilizarão vários textos
bíblicos para fazer afirmações do tipo: “é impossível cumprir todos os
mandamentos”; “Deus não deu a Lei para que fosse cumprida porque o homem não é
capaz de o fazer”.
Então daí surge uma pergunta; por
que razão o Pai celestial deu uma Torá ao homem que é impossível de cumprir?
Não diz a mesma Torá que o mandamento não é difícil? (Deuteronômio 30:11-16).
Se fosse impossível cumprir a Torá, como é possível que David dissesse de si
mesmo que era justo? (2 Samuel 22:21-25).
“Retribuiu-me
YHWH segundo a minha justiça, recompensou-me conforme a pureza das minhas mãos.
Pois tenho guardado os caminhos de YHWH e não me apartei perversamente do meu
Elohim. Porque todos os seus juízos me estão presentes, e dos seus estatutos
não me desviei. Também fui inculpável para com ele e me guardei da iniquidade.
Daí, retribuir-me YHWH segundo a minha justiça, segundo a minha pureza diante
dos seus olhos”.
Se fosse impossível cumprir a
Torá, como é possível que os pais de João Batista o tenham feito? Conforme o
texto de Lucas 1:6:
“Ambos
eram justos diante de Elohim, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos
e mandamentos do Eterno”.
Outros dirão: “A Torá é só para o povo judeu, não
para os gentios”.
Se assim fosse, então não havia
pecadores entre os gentios, uma vez que o pecado é a transgressão da Torá, e se
não há Torá não há pecado, cf. 1 João 3:4; 1 Coríntios 15:56; 1 Timóteo 1:8-11.
Se a Torá realmente não é para os gentios, tampouco há pecado entre os gentios,
e se não há pecado entre os gentios, os gentios não precisam ser salvos e o
Messias morreu em vão por eles. Há que refletir bem antes de tirar conclusões
precipitadas, pois nenhum juiz dá indulto a um criminoso para que ele continue
a pecar.
O propósito do perdão é que a
pessoa adote uma nova conduta. Se o pecado é a transgressão da Lei/Torá segundo
a Bíblia, então para uma pessoa deixar de pecar deve viver segundo os preceitos
estipulados na Lei/Torá. Não com o intuito de ser salvo, porque ninguém se
salva por cumprir a Lei (mas sim pela incomensurável graça divina), mas como
uma consequência do ter sido salvo dos trilhos do pecado.
3 – RESUMO
Observe um resumo dos principais aspectos desta parashá:
- Relação entre as bênçãos e a obediência
das Mitsvôt – 26:3 e ss;
- Relação entre as vitórias e a
obediência das Mitsvôt – 26:6 e ss;
- 5 obedientes derrotam 100 inimigos -
26:8;
- 100 obedientes derrotam 10 mil - 26:8;
- O Eterno manterá a Aliança para com os
obedientes – 26: 9;
- Relação entre o Eterno e seu povo –
26:11 e ss;
- Relação entre Força moral e
desfazimento das “cadeias” egípcias – 26:13;
- Relação entre maldições e o desprezo e
desobediência das Mitsvôt – 26:14-26;
- Relação entre destruição e a
desobediência das Mitsvôt – 26:27 até 39;
- O tempo da TESHUVÁ (retorno) – 26:41
até 46;
- Doações/votos particulares por pessoas
variadas – 27:1 e ss;
- Coisas animais e imóveis doados ao
Eterno se tornam consagradas – 27:9 e ss;
- Dízimos (maaser) pertencentes ao Eterno
– 27:30 e ss.
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
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