Estudos da Torá
Parashá nº 30 – K’doshím (Santos)
Vayicrá/Levítico Lv 19:1-20:27,
Haftará (Separação) Ez 20:2-20; 22:1-19; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 3:1-4:44
1 - INTRODUÇÃO
Daniel Lasar, em seu texto
entitulado “Valores que perpetuamos”, no site Chabad.org, afirma que há uma
importante correlação entre a porção kedoshim e a anterior, a Acharei Mot. Na
porção anterior, D’us ordena ao povo de Israel: “Não use a prática da terra
do Egito na qual você habitou, e não use a prática da terra de Canaã à qual Eu
o trouxe, e não siga as tradições deles” (Vayicrá/Levítico 18:3). Já na
porção atual, a porção kedoshim, o Eterno se dirige ao povo hebreu: “Sereis
santos, pois Eu Sou Santo, HaShem, vosso Deus” (Vayicrá/Levítico 19:2).
Estes dois versículos fornecem uma ênfase esclarecedora sobre não apenas como
vivemos como servos de Adonai, mas do modo que vivemos no contexto de onde
vivemos.
Nesta parashá abordaremos alguns
fatos que demonstram-nos que a qualidade de vida tem a ver com a santidade do
homem. E sendo assim, poderemos perceber que há vários mandamentos que, quando
obedecidos, conduzem-nos a um padrão de santidade cada vez maior. E teremos a
oportunidade de entender que viver segundo os mandamentos do Eterno é melhor
para nós, não apenas no âmbito físico, mas também no âmbito da Santidade.
Ainda, poderemos ver também nessa
porção a questão do amor ao próximo, que muitos pensam ser algo apenas do Novo
Testamento.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
Leiamos
o seguinte texto da Torá:
“Adonai disse a Moshe: “Fale a toda a comunidade de
Israel; diga-lhes: Sejam santos, pois eu, Adonai, o Deus de vocês, sou santo.” (Lv 19:1,2)
A
palavra “congregação” no hebraico pode ser:
- עֵדָה edah - comunidade, público, congregação, assembleia;
- קָהָל qahal - público, povo, comunidade,
congregação, multidão, assembleia, igreja.
No verso
em questão, o termo que aparece no texto em hebraico é “edah”, e o que a
diferenciará das outras é o seu contexto, ou seja, a mensagem que o texto
deseja transmitir. Aqui, ela está indicando “comunidade ou congregação”, e no
Novo Testamento a traduziram como “sinagoga”. Sendo assim, fica claro, através
do texto e de seu contexto, que o povo de Israel deveria receber e encarar
estas instruções como algo que lhes conduziria à santidade, pois o Eterno aqui
declara sua santidade e convoca seu povo para ser santo como Ele é! A
congregação, a assembleia, o povo estava recebendo as instruções ou mandamentos
do Eterno como um conjunto, como uma unidade. Estes versículos também nos
ensinam que a santidade não é apenas para os sacerdotes e levitas, mas sim para
toda a congregação dos filhos de Israel. A santidade consiste em ser separado
dos costumes que são praticados pelos povos que estão afastados do Eterno, e
dedicar-se a Ele em obediência à Sua instrução (mandamentos e estatutos).
O Mandamento sobre os pais e mães e sobre o sábado
“Cada um respeitará a sua mãe e o seu pai e guardará os
meus sábados. Eu sou YHWH vosso Elohim.” (Lv
19.3)
À
santidade estão ligados dois fatores importantes, que já tinham sido
apresentados aos israelitas nas “Dez Palavras” (Dez Mandamentos Ex 20). O
primeiro fator é o que fala sobre reverenciar os pais. Embora isso possa
parecer um pouco antiquado na modernidade, mas este mandamento está ligado à
uma vida longa nesta terra. Honrar aos pais refere-se ao respeito e ao cuidado
que devemos ter à eles como autoridades sobre nossas vidas.
A
palavra hebraica que foi traduzida como “respeitará” é “yaré” e ela
significa também “temer e reverenciar”. Há uma diferença entre este mandamento
e o de Ex 20:12 onde está escrito: “Honra a teu pai e tua mãe para que se
prolonguem o seus dias na terra que YHWH teu Elohim te dá.” Aqui está
escrito que devemos honrar o nosso pai e a nossa mãe, e em Levítico 19 está
escrito “temer”, “reverenciar” o pai e a mãe. Observe que honrar e temer são
conceitos diferentes. Honrar aos pais tem a ver com o suprir a suas
necessidades, como lemos em Mt 15:3-6:
“Ele,
porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por
causa da vossa tradição? Porque Elohim ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e:
Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se
alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta a YHWH aquilo que poderias
aproveitar de mim; esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim,
invalidastes a palavra de Elohim por causa da vossa tradição.”
Veja
que a honra aos pais passa pela ajuda econômica, principalmente na velhice, mas
também implica em obediência, conforme lemos em Ef 6:1-3.
“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é
justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa)
para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.”
Em
Êxodo aparece primeiro o pai e depois a mãe relativamente ao honrar, mas no
texto de Levítico aparece primeiro a mãe e depois o pai relativamente ao temor
e reverência. Será que há uma razão para isso?
De
acordo com os rabinos, geralmente é mais fácil temer, no sentido de respeitar e
reverenciar o pai, por se uma figura masculina, pois a criança tem tendências
para se aproveitar da doçura de sua mãe e do seu caráter suave. Por isso, é
mais fácil faltar com respeito à mãe do que ao pai, e talvez seja por isso que
a Torá põe a mãe em primeiro lugar, para que não deixemos de mostrar respeito
às nossas mães, e respeitemos o pai e a mãe de forma igual.
No
estudo desta parashá do site “emunah a fé dos santos”, encontramos o seguinte
sobre esse assunto:
“ao olharmos para o contexto, vemos que há uma escala de
reverência, mãe, pai e YHWH. É uma escala invertida de autoridade. Segundo esta
ordem, o menino vai aprender durante o crescimento quem está acima dele.
Primeiro aprende a temer a mãe, que é quem passa a maior parte do tempo consigo
durante os primeiros anos de vida. Logo aprende a reverenciar o seu pai, e
finalmente aprende a reverenciar ao Eterno.
O
segundo fator em relação à santidade, e que também está ligado à obediência aos
pais é a guarda do sábado. Ele é a primeira das datas santas! O termo hebraico
para “guardar” é “shamar” e significa “guardar, vigiar, observar,
cumprir, esperar, cuidar, prestar atenção”. A guarda deste mandamento, deste
dia, é um fator fundamental para a manutenção da unidade e da pureza na vida
familiar. É o tempo em que os judeus e os que servem à Adonai se reúnem em
família para celebrarem o shabat, e em obediência ao Eterno gozarem dos
benefícios deste mandamento.
O Mandamento de amar o próximo
Dentre
tantos outros mandamentos nesta parashá, ainda podemos nos ater ao que está
escrito no verso 18: "veahavtá lereachá camocha – ame a seu companheiro como a ti mesmo".
Muitos
pensam que este mandamento foi dado por Yeshua pela primeira vez quando ele
pregava o Reino de Deus, e está registrado no evangelho de Marcos 12:28-31. Ou,
para muitos, é conhecido como um bom slogan, que devem decorar paredes. No
entanto, é um mitsvá, um mandamento, que exige a observância de cada pessoa,
assim como todos os outros.
No
tempo de Yeshua, havia uma discussão sobre a quem se estava a referir a Torá
quando fala sobre o próximo. Em Levítico 19:18 parece que a expressão “teu
próximo” somente faz referência aos “filhos de Israel”, ou seja, está limitado
somente aos israelitas. Será que um membro da nação de Israel só está obrigado
a amar os seus conterrâneos? E quanto a nós, será que devemos amar somente os
nossos domésticos da fé?
Neste caso poderíamos aplicar a
regra de interpretação número 5 do Rav Ishmael que diz que um preceito
particular, “os filhos do teu povo”, é ampliado por um preceito geral que o
segue, “teu próximo”. Yeshua também diz algo sobre isso no texto de Lucas
10:29:37, a parábola do bom samaritano.
Por isso, descobrimos que a
expressão “o próximo” não se limita somente aos filhos de Israel, mas também
aos estrangeiros, aos estranhos. No entanto, o amor deve ser demonstrado em
primeiro lugar aos que estão mais perto. Aquele que não ama a seu irmão que
vive com ele não pode amar o forasteiro que não conhece. O amor inicia com
aqueles que estão próximos, se estende aos resto dos homens, conforme lemos em
2 Pe 1:5-7. Esse mesmo princípio deve se aplicar ao verso 34 de Levítico 19,
onde se introduz a palavra hebraica “guer”, estrangeiro. Um “guer” pode
ser um prosélito ou um estrangeiro que vive com os judeus. Veja parte do verso:
“amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito”. Lembre-se
que os filhos de Israel não foram convertidos no Egito, eram estrangeiros
residentes. Assim, não se aplica a este mandamento, afirmar que “guer” se
refere especificamente ao convertido, mas sim a todo o residente em Israel, e
na sua extensão, no ensina também que temos que amar a todos os homens na
terra. E isso se confirma com o que vimos no texto de Lucas 10:29-36, Yeshua
demonstra que devemos interpretar a palavra “guer” no contexto da Torá,
alinhado a esta porção.
Portanto, para concluir, o nosso
próximo é aquele que está à nossa frente, não importa se é israelita ou
estrangeiro, porque o amor não se limita somente aos que nos tratam bem, como
podemos ler em Rm 5:6-10.
3 – RESUMO
Kedoshim
inicia-se com a ordem de D’us para toda a nação de Israel para ser santa,
imitando a suprema santidade do próprio Criador. A Torá prossegue delineando
uma infinidade de mitsvot através das quais podemos atingir a santidade,
abrangendo uma grande variedade de assuntos, tanto mandamentos positivos como
inferências negativas, lidando com nosso relacionamento ímpar com D’us e com
nosso próximo.
Recebemos ordens de temer nossos pais, guardar o Shabat e
abstermo-nos da adoração de ídolos. D’us nos instrui a deixar vários presentes
de nossa colheita para os pobres e oprimidos, incluindo o canto dos campos e os
feixes que caíram por acaso ao serem juntados. Devemos manter a justiça, fazer
negócios honestos com nossos vizinhos, não praticar a maledicência, e de forma
geral ter pelos outros a mesma consideração que temos por nós mesmos.
Segue-se
uma descrição de várias categorias de kilayim (misturas proibidas) – hibridação
de animais e plantas, e vestir shatnez (uma mistura de lã e linho em uma mesma
peça de roupa) – a Torá discute orlá, a proibição de consumir frutas nos
primeiros três anos após o plantio de uma árvore. A porção continua com uma
lista das punições a serem impostas às pessoas que transgridem e participam das
várias relações proibidas relacionadas na porção da semana anterior. A Parashá
Kedoshim conclui com o mandamento, mais uma vez, para que sejamos um povo santo
e distinto dentre as nações do mundo.
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário