Estudos da Torá
Parashá nº 34 – Bamidbar (No deserto)
Bamidbar/Números Nm 1:1-4:20,
Haftará (Separação) Os 2:1-22; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 1:1-12:59
1 - INTRODUÇÃO
Nesta semana iniciamos o estudo
no livro de Bamidbar - rbdmb
(No deserto), o quarto livro da Torá foi assim intitulado em hebraico, porque
nele é narrada a história dos israelitas em sua longa jornada no deserto. Um
outro nome que o povo de Israel dá a esse livro é “Chumash Hapecudim”
(Livro dos Censos), pelos diversos censos incluídos em seus primeiros
capítulos. A bíblia na “Versão dos Setenta” chamou este livro de “Aritmói”,
palavra grega que significa Números.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
“E
falou o Eterno a Moshé no deserto de Sinai, na tenda da reunião, no primeiro
dia do segundo mês, no segundo ano da saída dos filhos de Israel da terra do
Egito, dizendo:” (Nm 1:1)
Nessa
parashá (porção) estaremos iniciando o livro de Bamidbar (Números) e as lições
que serão aprendidas com o povo de Israel durante sua estadia no deserto. Na
verdade esse é o motivo do nome desse livro, o povo estava no deserto recebendo
as instruções de Adonai. Podemos perceber nesse primeiro verso que Israel serve
a um D’us vivo, pois diz que Ele “falou a Moshe”. Neste período de caminhada do
povo pelo deserto do Sinai esta é uma característica fundamental do Eterno,
pois Ele como o Criador de todas as coisas poderá guiar o seu povo através de
caminhos que Ele mesmo traçou e conhece. Enquanto o povo obedecê-lo não haverá
erros.
A palavra que foi traduzida como
deserto é “midbar”, e vem da raiz “davar”, que por sua vez
significa “falar”. Porém “midbar” não significa somente “deserto” em
todo o seu sentido literal da palavra em português, pois ela denota “uma área
árida, geralmente cheia de areia e com muito pouca ou nenhuma vegetação”. A
palavra original pode apontar para um sítio deserto no sentido de desabitado, e
isso fará mais sentido na medida em que o povo de Israel trouxe muito gado
consigo quando saiu do Egito.
Observe que a Torá não nos diz
que os animais comeram o maná no deserto. Logo podemos inferir que haveria pasto
suficiente para eles durante os 40 anos naquele lugar, conforme Números 32:1.
“E
muito gado tinham os filhos de Rubem e os filhos de Gad, e era em grande
quantidade; e viram a terra de Ya’zêr e a terra de Guilead, e eis que o lugar
era lugar de gado.”
Como o “midbar” se
encontra fora da civilização, constitui-se como um lugar adequado para falar em
privado, sem ter que correr o risco de ser ouvido pelos outros povos. Portanto,
este lugar,onde se pode falar em privado, chegou a ser chamado midbar que
literalmente significa “conversação”. O midbar é o lugar onde se pode
falar de coisas íntimas sem ser molestado por outros, como lemos em Oseias
2:14:
“Portanto,
eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração.”
Veja como o plano de Adonai de
tomar uma noiva, Israel, segue desde a Torá, passando pelos profetas, como
lemos em Oseias acima, e finaliza em Apocalipse 12:6:
“E
ela fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus,
para que ali fosse cuidada durante 1.260 dias.”
Então porque razão o Eterno levou
Israel ao deserto? Para falar pessoalmente com a sua noiva, entrar no pacto
matrimonial com ela e ali entregar-lhe o contrato de casamento (ketubah), a
Torá. É um excelente momento para lembrar que a outorga da Torá foi no deserto,
na festividade de Shavuot (semanas), cinquenta dias depois de Pessach, e
considerando tudo o que aconteceu nessa ocasião, conforme lemos em Ex 19:16-19;
e 20:18, podemos perceber os mesmos sinais no que aconteceu em Atos 2.
Esse contrato de casamento
(ketubáh), a Torá, não foi entregue na terra de qualquer um, mas sim na terra
de ninguém, para mostrar que não pertence somente ao povo de Israel, mas sim a
todos os homens da terra.
Em nossas vidas, quando passamos
por um deserto, não devemos encarar isso como algo negativo, mas como uma
possibilidade de podermos nos aproximar do Eterno, e receber as palavras e
instruções do Pai que nos ama e cuida de nós. Nesses lugares, onde aprendemos a
depender de D’us e não de nossas próprias forças e capacidades é onde temos
mais contato íntimo com nosso Elohim.
Um
Midrash na Parashá
De acordo com o site Chabad.org,
na parashá desta semana, encontramos um Midrash (Ensino) fascinante no primeiro
versículo: "E D'us falou a Moshê no deserto do Sinai.". Esse Midrash
explica que a Torá foi outorgada em associação com três coisas - fogo, água e
no deserto.
Esse site ainda diz que, Rabi
Meir Shapiro dá uma bela explicação sobre a importância destas três coisas. Segundo
ele, o traço de caráter que destacou o povo judeu desde o início é o espírito
de auto-sacrifício. Isso tem sido sempre evidente no cumprimento das leis da
Torá e em nossa aderência à sua fé.
Avraham, o primeiro dos
Patriarcas, segundo a tradição judaica, permitiu-se ser atirado a uma fornalha
ardente por ter quebrado os ídolos de seu pai, e foi salvo apenas por um
verdadeiro milagre de D'us. Por este ato, ele conferiu a todas as gerações
futuras a vontade e a força de morrer por seu judaísmo. Algumas pessoas poderiam
argumentar que este foi um ato de heroísmo isolado de um indivíduo notável.
Deveriam então considerar um segundo exemplo envolvendo todo o povo de Israel.
Quando o Mar Vermelho foi dividido, o povo marchou como uma só nação para as
águas enraivecidas, a um comando do Criador.
É claro que alguém poderia
argumentar ainda que este teste ocorreu em um período de tempo relativamente
curto. Deixemos então que considerem o terceiro exemplo, o fato de toda a nação
israelita voluntariamente entrar no deserto sem comida ou bebida, não sabendo
quanto tempo teriam de lá permanecer. Fizeram isso apenas por amor e lealdade a
D'us, como está escrito em Yirmiyáhu/Jeremias "Lembro-Me da afeição de tua
juventude... como seguiram-Me no deserto, numa terra que não era semeada"
(2:1).
Foi em virtude destes três testes
- pelo fogo, água e deserto - que a Torá foi outorgada ao povo judeu como sua
possessão eterna. A disposição para desistir de suas vidas pela sua crença em
D'us, assegurou nossa sobrevivência até os dias de hoje.
A passagem pelo deserto durante
os 40 anos teve como um dos propósitos, preparar o povo para entrar na terra
prometida, moldar e transformar os seus corações. Cada um de nós em algum
momento da nossa vida, após reconhecermos Yeshua como Nosso Único e Suficiente
Salvador, passamos pelo deserto, onde experienciamos o processo de
santificação, de Teshuvá, isto é, o retorno ao caminho que nos leva ao Pai,
caminho esse que foi reaberto pelo sangue derramado pelo Seu Filho, Yeshua.
3 – RESUMO
Segue
abaixo um resumo da parashá extraído do site “pt.Chabad.org”.
A
Parashá Bamidbar, a primeira porção do quarto livro da Torá, está
principalmente envolvida com o recenseamento do povo judeu feito no segundo mês
de seu segundo ano no deserto. Após relacionarem os líderes das doze tribos de
Israel, a Torá apresenta os totais de homens entre as idades de 20 e 60 anos
para cada tribo, sendo que a contagem totalizou 603.550.
A estrutura do acampamento é
então descrita, com a tribo de Levi no meio, guardando o Mishcan, Tabernáculo,
e cercada pelas doze tribos de Israel, cada uma na área que lhe foi designada.
É feita a designação da tribo de Levi como os líderes espirituais do povo
judeu, e seu próprio censo é realizado, à parte do restante de Israel.
A porção da Torá conclui com as
instruções dadas à família de Kehat, o segundo filho de Levi, pelo seu papel em
lidar com as partes mais sagradas do Mishcan.
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
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