Texto: Jo 4.6-29
Havia ali o poço de Jacó. Jesus,
cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isto se deu por volta do
meio-dia.
Nisso veio uma mulher samaritana
tirar água. Disse-lhe Jesus: "Dê-me um pouco de água". (Os seus
discípulos tinham ido à cidade comprar comida.)
A mulher samaritana lhe perguntou:
"Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para
beber?" (Pois os judeus não se dão bem com os samaritanos.)
Jesus lhe respondeu: "Se você
conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e
ele lhe teria dado água viva".
Disse a mulher: "O senhor não
tem com que tirar a água, e o poço é fundo. Onde pode conseguir essa água viva?
Acaso o senhor é maior do que o
nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem como seus
filhos e seu gado? "
Jesus respondeu: "Quem beber
desta água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca
mais terá sede. Pelo contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte
de água a jorrar para a vida eterna".
A mulher lhe disse: "Senhor,
dê-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise voltar aqui para
tirar água". Ele lhe disse: "Vá, chame o seu marido e volte".
"Não tenho marido",
respondeu ela. Disse-lhe Jesus: "Você falou corretamente, dizendo que não
tem marido.
O fato é que você já teve cinco; e
o homem com quem agora vive não é seu marido. O que você acabou de dizer é
verdade". Disse a mulher: "Senhor, vejo que é profeta.
Nossos antepassados adoraram neste
monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve
adorar".
Jesus declarou: "Creia em
mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste
monte, nem em Jerusalém.
Vocês, samaritanos, adoram o que
não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.
No entanto, está chegando a hora,
e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura.
Deus é espírito, e é necessário
que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade".
Disse a mulher: "Eu sei que o
Messias (chamado Cristo) está para vir. Quando ele vier, explicará tudo para
nós".
Então Jesus declarou: "Eu sou
o Messias! Eu, que estou falando com você".
Naquele momento os seus discípulos
voltaram e ficaram surpresos ao encontrá-lo conversando com uma mulher. Mas
ninguém perguntou: "Que queres saber? " ou: "Por que estás
conversando com ela? "
Então, deixando o seu cântaro, a
mulher voltou à cidade e disse ao povo:
"Venham ver um homem que me
disse tudo o que tenho feito. Será que ele não é o Cristo? "
Em uma conversa com um irmão chamado
Anderson de Carvalho, este também servo do Eterno no messias Yeshua, falávamos
sobre essa passagem da mulher samaritana, e sobre os aspectos e paralelos que
há com a igreja cristã. Daí a motivação para este pequeno artigo, pois se nos
atentarmos bem naquela mulher, poderemos tirar algumas lições importantes a
respeito da igreja cristã.
Quando lemos essa passagem do evangelho
segundo escreveu João, temos uma bela oportunidade de aprender mais a respeito
de nós mesmos, enquanto gentios pertencentes à comunidade dos que crêem no
Messias Yeshua. Bem como perceber os paralelos que existem entre a igreja ou
cristianismo atual e aquela mulher samaritana, que se encontrou com Yeshua
naquele poço.
Em primeiro lugar devemos nos localizar
historicamente e geograficamente. Aquele poço encontrava-se na região onde
habitavam os samaritanos, próximo à cidade de Samaria. Essa era a região ao
norte, onde dez das doze tribos de Israel habitavam desde que tomaram posse da
terra. A animosidade entre os dois povos, no entanto, já vinha de muito tempo,
devido à divisão que houve já desde a época de Jeroboão (IRs 11), que acabou
dividindo a nação em duas partes, Israel formada por dez tribos ao norte e Judá
com duas tribos ao sul. E mais tarde com a derrota de Israel para Senaqueribe,
rei da Assíria, que enviou muitos israelitas para diversas regiões sob seus
domínios e permitiu que pessoas de outros povos passassem a habitar ali,
gerando uma população mista. Por sua vez, este povo passa a se voltar sempre
contra o povo de Judá, em diversos momentos da história os encontramos
aliando-se a diversos inimigos de Judá, constatamos a esse respeito nos textos
de Flávio Josefo, o historiador judeu. Tudo isso, somente aumentou a rivalidade
entre os dois povos até a época de Yeshua. Hoje em dia eles são poucos, sim,
eles ainda existem, e devido a rigidez de suas tradições em relação ao
casamento com pessoas de outras culturas e religiões estiveram à beira da
extinção, a liderança está mudando isso a fim de evitar seu desaparecimento.
Entretanto, é muito interessante quando
estudamos a história, pois verificamos que a igreja dita cristã, desde sua
“fundação” no século IV, pelo imperador romano Constantino, está sempre indo
contra o povo Judeu, assim como os samaritanos daquela época mais antiga.
Podemos notar isso em um artigo do Rabino Messiânico Matheus Zandona Guimarães,
entitulado “O terceiro templo”, onde
em um dos parágrafos menciona que, devido à falsa “teologia da substituição”,
muitos líderes cristãos foram contra a criação do estado de Israel, em 1948,
pois estavam convencidos que o Israel não poderia mais existir, uma vez que a
Igreja agora representa o “Israel espiritual” de Deus. Esse autor ainda
menciona em outro parágrafo do mesmo artigo que, “no final do século XIX,
enquanto judeus de toda Europa se reuniam sob a liderança de Theodor Herzl para
decidirem sobre a criação do Estado de Israel, muitos cristãos entenderam que a
criação de um estado judacio seria algo profético e, … Por outro lado, grandes
foram as manifestações cristãs contra a criação do Estado de Israel. Muitos
pastores evangélicos, padres católicos e outros, se aliaram aos árabes nas
campanhas anti-Israel,...”. Apesar de tudo o Eterno cumpriu sua Palavra e
Israel tornou-se novamente uma nação. Porém, vimos e veremos mais à frente essa
contrariedade contra o povo judeu por parte também do cristianismo. Mas há algo
misterioso nas Escrituras, a respeito dos samaritanos. Encontramos nos escritos
do Novo Testamento, além dessa mulher, a menção a dois outros samaritanos, o da
parábola do bom samaritano e o samaritano leproso que foi curado e voltou para
agradecer.
Com relação à parábola do bom
samaritano (Lc 10.29-36), Yeshua quis ilustrar para um doutor da Lei sobre quem
é o próximo de alguém. E para isso utilizou-se de algo comum em sua época, uma
parábola. Em específico, nessa contada pelo Mestre, o samaritano representava
alguém de bom coração e que tinha amor, demonstrando isso ao ajudar um judeu
caído à beira do caminho. Aqui, Yeshua apresenta uma característica que, bem
poucas pessoas poderiam perceber em um samaritano. Temos também o encontro do
Messias com dez leprosos(Lc 17.12-19), que clamaram por cura e a receberam, mas
apenas um voltou para agradecer a Yeshua, e este era samaritano. Essas três
passagens são muito peculiares, e têm representações importantes para nós, mas
vamos nos ater aqui neste texto, àquela mulher que Yeshua encontrou no poço.
A samaritana falou com Yeshua de forma
questionadora, talvez estranhando o fato de um rabino judeu dirigir a palavra a
ela, o que não era nem um pouco comum devido à mencionada richa. E isso
provavelmente a levou ao questionamento, fazendo com que sua pergunta fosse
muito pertinente ao momento, como se ela falasse por todo o povo samaritano.
Yeshua percebendo isso leva a conversa também de forma generalizada, falando a
respeito do povo judeu e da salvação.
Tendo essas coisas sem mente, tracemos
um paralelo entre os samaritanos e a igreja cristã, sendo assim vejamos:
1 - O povo samaritano, conforme pontuei
no início deste texto era um povo misturado. E atualmente, a igreja cristã
também está assim, devido às várias denominações, tradições e seguimentos.
Atualmente vemos tantas “inovações” na igreja, que às vezes não temos como
discernir se é igreja ou mundo. Há igrejas que no intuito de “evangelizar”
fazem cada coisa que pode espantar. Colocam nos templos rings de MMA, fazem
bailes e festas diversas, promovem desfiles de moda e muito mais. Está uma
mistura generalizada;
2 - Samaritanos tinham e ainda tem sua
própria Toráh, e a forma de interpretá-la. A igreja cristã têm a Escritura, e
diversas formas de interpretá-la. Hoje há Bíblias para todos os gostos, de
todos os formatos e tamanhos. Até aí nenhum problema, a coisa estreita mesmo é
com as diversas interpretações. Há ainda Bíblias de “Vitória Financeira”,
Bíblia “Inclusiva”, onde ensinam sobre a inclusão dos homossexuais no meio
cristão sem precisar se arrepender de seus pecados e onde os textos referentes
relações sexuais ilícitas foram deturpados, e muitas outras;
3 - Os samaritanos eram independentes
de Israel e do povo judeu, e a igreja cristã é independente de Israel e do povo
judeu. Muitos cristãos, se não a maioria está totalmente distantes de Israel.
Ensinam que a Aliança de Deus agora é com a Igreja e por isso o povo judeu não
significa mais nada. Ensinam que a igreja é o Israel agora. Essa linha de
pensamento e interpretação vem da “Teologia da Substituição”, que ensina a
substituição de Israel pela Igreja por Deus, devido à rejeição deles ao
messias;
4 - Eles se consideravam melhores do
que os judeus, e a igreja nutre um sentimento triunfalista em relação aos
judeus. Por causa de doutrinas dispensacionalistas e substitucionalistas o
cristianismo se vê acima de Israel;
5 - Aquele povo pensava que serviam a
D`us da forma correta, e a igreja pensa que é a detentora da Verdade. Por
interpretarem as Escrituras distantes do contexto judaico, a igreja vê a Bíblia
de forma diferente e por isso, anula tudo que diz respeito a Israel e sua forma
de adoração. E isso leva a um entendimento diferenciado, fazendo-os pensar que
sua forma de adoração é a correta;
6 - Os samaritanos negligenciavam a
origem de sua fé, que vinha de Israel e o povo judeu; da mesma forma a igreja
negligencia a origem da sua fé, que vem de Israel e o povo judeu. Com isso
negligenciam também a origem judaica do messias, dos profetas e dos apóstolos,
consequentemente aos escritos deles (Rm 9.4,5);
7 - Eles não tinham comunhão com os
judeus, assim como a igreja não tem comunhão com os judeus. Quase não vemos
judeus e cristãos juntos, mesmo em se tratando de judeus messiânicos, e isso é
devido aos dogmas cristãos que atrapalham o relacionamento entre ambos;
8 - Os samaritanos adoravam a quem não
conheciam, e a igreja cristã adora a quem não conhece. Isso parece estranho,
mas devido aos fatos já mencionados, os cristãos acabam por adorar a um Deus
que eles não conhecem. Se o cristianismo conhecesse mesmo a quem adoram não
distorceriam tanto a interpretação das Escrituras, colocando seus dogmas e
pensamentos totalmente diferentes do que se pode encontrar nas Escrituras. As
interpretações seriam de acordo com o pensamento judaico que é o contexto
correto; e
9 - Eles pensavam que a salvação
pudesse vir deles, a igreja também pensa
que a salvação vem dela mesma. Ou seja, a igreja entende que somente se
tornando cristão alguém pode ser salvo, mas a Escritura afirma que encontram
salvação aqueles que confiam no messias e obedecem a sua palavra. Não basta
somente pertencer à religião, é preciso viver o que o mestre ensinou.
Dessa forma, concluindo esse texto,
convido você a rever sua forma de pensar sua crença em Yeshua(Jesus). Convido a
você a observar com atenção a conversa de Yeshua com aquela mulher de Samaria,
e o que ele quis que ela entendesse. Que possamos viver a salvação que vem dos
judeus através do Messias Yeshua, o filho de Deus. Que nós deixemos de lado os
dogmas e tradições criados ao longo dos séculos pela igreja, nos afastando da
verdadeira forma de agradar a Deus. Que possamos contextualizar a Bíblia do
jeito correto, ou seja, como um livro judaico, escrita para judeus e seguidores
do Messias, para que venhamos ter o entendimento correto acerca do que é o
Reino de Deus. Restauremos as raízes da fé no Eterno e no Messias Yeshua, a
mesma fé que os apóstolos e discípulos seguiam no princípio da comunidade dos
seguidores de Yeshua.
Restauração já