Estudos da Torá
Parashá nº 7 - Vayêtse (E Partiu)
Bereshit/Gênesis Gn . 28:10-32:2
Haftará (separação) Os.11:7-14:9 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 12:1-50; Jo 1:43-51
Tema: Partir permanecendo com o Eterno.
No estudo dessa semana veremos como é importante permanecer com o Eterno, mesmo quando precisamos partir. A permanência com o Eterno é fundamental para que possamos seguir nossa jornada, nosso caminho previamente estabelecido por HaShem. Ele sempre está conosco, pois está em todo lugar, mas e nós, será que estamos sempre com ele?
A PARASHÁ DA SEMANA
A parashá Vayêtse começa com Yaakov fugindo de Esav e deixando a casa dos pais para viajar a Charan, onde seu tio Lavan (Labão) habitava. Ao passar a noite no local onde no futuro seria construído o Templo Sagrado, D'us aparece a Yaakov no sonho de uma escada que descia do céu até a terra, na qual anjos sobiam e desciam. Do topo da escada, D'us promete a Yaakov que seus descendentes herdarão a Terra de Yisrael e seriam tão numerosos quanto os grãos de areia da terra.
Na sua chegada em Charan, após rolar uma imensa pedra da boca do poço da cidade para que os pastores do lugar pudessem dar água aos rebanhos, Yaakov encontra a filha de Lavan, Rachel, e concorda em trabalhar para seu pai por sete anos a fim de conseguir sua mão em casamento. Porém, quando finalmente chega a noite do casamento, Lavan engana Yaakov, substituindo Rachel pela sua filha mais velha, Lea. Após esperar uma semana, Yaakov casa-se também com Rachel, mas não antes de ser forçado a prometer cumprir mais sete anos de trabalho.
No tempo que se segue Rachel percebe que é estéril, enquanto os anos passam, Lea dá à luz a seis filhos e uma filha, e Bilá e Zilpá (as criadas de Rachel e Lea, respectivamente) cada uma tem dois filhos de Yaakov.
Até que, o Eterno a abençoa e finalmente Rachel tem um filho, Yossef. Yaakov torna-se muito rico durante sua estadia com Lavan, amealhando um grande rebanho, mesmo enquanto Lavan continuamente tenta enganá-lo por todos os vinte anos de sua permanência.
Depois de aconselhar-se com suas esposas, Yaakov e a família fogem de Lavan, que o persegue e o enfrenta, aborrecido por Yaakov ter ido embora sem se despedir, e arrogantemente afirma que Yaakov roubou seus ídolos. Após Lavan procurar os ídolos (que Rachel escondeu, sem que Yaakov soubesse, para impedir o pai de adorá-los), sem sucesso, discute com Yaakov. Finalmente assinam um acordo, prometendo permanecer em paz, e a porção se encerra quando eles se separam.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Vimos nessa semana de estudos da Torah completando com o que vimos na semana passada, que muitas vezes, ocorrem situações que nos fazem sair de onde estamos, da tranquilidade de nossa zona de conforto. A situação em que Yaakov se encontrava agora era semelhante a de seu avô Avraham, que também precisou sair de sua zona de conforto e seguir com o Eterno para outro lugar. No entanto, Yaakov estava fazendo o caminho inverso de seu antecessor, mas isso tinha um propósito. Às vezes devemos compreender que precisamos recuar para ganhar mais impulso no salto. E quando analisamos a partida de Yaakov para Charan com olhos proféticos podemos perceber muitas coisas importantes que servirão de aprendizado para cada um de nós e para nossa própria caminhada enquanto seguirmos na teshuvah.
Partir
E partiu Yaakov de Beer-Sheva e foi para Charan. Gn 28:10
Esta partida de Yaakov da casa de seus pais e do lugar a que estava acostumado, de acordo com alguns rabinos, é a representação profética das três diásporas que seus descendentes viveriam no futuro. E note que diáspora é ser expulso de sua terra natal, também conhecido em hebraico como Galut. E era exatamente o que estava acontecendo com o patriarca. Vejam o verso a seguir:
Assim, Yitschak mandou Yaakov embora...Gn 28:5a
Em uma versão da Torah da Editora Sefer esse mesmo verso diz:
E enviou Yitschak a Yaakov...Gn 28:5a
Historicamente, uma diáspora sofreria o reino do norte (Efraim ou casa de Yisrael) e duas diásporas o reino do sul (Judá ou casa de Judá). A primeira diáspora é a maior, e corresponde às dez tribos de Yisrael, que começou no ano 722 AEC (Antes da Era Comum) com a invasão da Assíria. Essa diáspora continua nos dias de hoje. No entanto, os profetas falam da reunificação, nos últimos tempos das duas casas de Yisrael, as duas varas voltarão a ser uma. Veja os seguintes textos Ezequiel 37:15- 28; Isaías 11:12; Jeremias 3:18; 16:14-16; 23:5-8; 30:3; 31:27-36; Oseias 1:11; 11:8- 11; Zacarias 8:13, 23; 10:8-12. A casa de Judá, isto é, o povo judeu, passou por dois desterros ou diáspora. O da Babilônia, que durou setenta anos, entre os anos 606-537 AEC. E o segundo que começou no ano 70 EC (Era Comum), e conta-se desde a destruição do segundo templo, no entanto, como o serviço no templo não foi retomado, porque ainda não existe templo, esse desterro também ainda não terminou, principalmente porque há muitos membros da Casa de Judá espalhados pela terra, mesmo depois da declaração do Estado de Israel e do retorno de muitos judeus para a terra, ainda há muitos vivendo em outros países.
No decorrer do estudo do texto da Torah podemos ver que o Eterno diz que ele o traria de volta, da mesma forma que foi profetizado através do TaNaK, que o povo seria tirado de sua terra, mas que HaShem os traria de volta no devido tempo.
Yaakov via a devoção e o amor de seu pai pelo Eterno, mas será que ele tinha essa experiência a vivência com o Eterno? A parashá mostra que ainda não tinha. Sabemos que ele era mais justo que seu irmão Esav, que ele estava mais ligado aos ensinamentos da Torah oral que seu irmão, mas ainda não tinha uma real ligação com HaShem. Essa partida para Charan seria o tempo para Yaakov ter esse encontro e experiência com o Eterno.
O Rabino Isaac Dichi, autor do livro “Nos Caminhos da Eternidade”, ao comentar essa parashá, afirma que continuamente, dentro de cada ser humano, atuam duas energias opostas: o bem e o mal, a luz e a escuridão, ou seja, a yetser hatov e a yetser hará. Por mais estranho que possa parecer, estas forças podem agir ao mesmo tempo. Por isso, foram-nos dados poderes espirituais, a cada um de nós, para vencer o mal. Cabe a nós encontrarmos em cada situação a atitude correta, deixando que a luz ilumine nosso caminho na busca da emet (verdade). Esses poderes espirituais são as bênçãos da obediência à Torah do Eterno, pois a cada mandamento obedecido recebemos força para cumprir mais.
Para isso, é indispensável a constância de nosso comportamento, não variando nossas atitudes dependendo do momento que estamos vivendo. Exemplo fiel de constância, encontramos em nosso patriarca Yaakov. Embora tenha passado por tantas dificuldades, sempre manteve sua conduta correta. Seu próprio nome o identifica como uma pessoa ikvi (constante).
Segundo o autor do mencionado livro, Yaakov passou por apuros com seu irmão Esav e posteriormente com Elifaz, filho de Esav, que o perseguiu, por ordem de seu pai, para matá-lo. E isso é confirmado pela Torah Oral. Ele só não o matou, conforme relato de nossos sábios, por ter crescido junto a Yitschak, tendo recebido uma formação que o impedia de tornar-se um assassino.
Yaakov também passou por situações críticas com Lavan seu tio, irmão de sua mãe e seu sogro. Depois ainda teve de enfrentar o anjo (mensageiro) antes de ir ao encontro de Esav. Teve problemas também com sua filha Diná e quando lhe parecia ter chegado o momento de um pouco de tranquilidade, ocorreu um conflito entre seus filhos, que provocou a venda de Yossef. Estamos vendo como a vida de Yaakov foi tumultuada, como ele foi provado em todo tempo e em várias situações. Contudo, em nenhum momento ele perdeu a paz de espírito, não mudou seu modo de agir e sua personalidade permaneceu incólume, ou seja, sua personalidade não sofreu alteração. Sua fidelidade à Torá e às mitsvot não sofreu nenhum abalo e soube superar todos os obstáculos que apareceram à sua frente.
No livro de Melachim I (1Rs 18:21), encontramos um trecho no qual o profeta Eliyáhu chama a atenção do Povo de Israel, dizendo-lhes: “Ad matay atem possechim al shetê hasseifim”, que quer dizer, “até quando vocês ficarão indecisos, pulando de um lado para o outro”. O profeta Eliyáhu conhecia o grande perigo que um indivíduo passa, quando lhe falta constância; pois sua personalidade fica dividida.
É mais fácil para um idólatra convencer-se de que está no caminho errado e fazer teshuvá (arrepender-se de seus erros, voltando para o caminho da Toráh), do que um não idólatra, que também comete erros. O idólatra poderá abrir seus olhos algum dia e arrepender-se de seus pecados, porque está consciente de que tudo o que fez foi contra os mandamentos de D’us.
Entretanto, aquele que está dividido, que tem em seu íntimo as duas forças atuando, às vezes cometendo transgressões graves e às vezes cumprindo alguns mandamentos, pode eventualmente confortar sua consciência enganando-se, ao imaginar que as atitudes positivas estão dando cobertura a seus erros.
De acordo com o mencionado autor, é por isso, que o profeta Eliyáhu dirigiu-se ao povo dizendo-lhes (Melachim I - 1Rs 18:21): “Im Hashem Haelokim, lechu acharav, veim habáal lechu acharav” – Se D’us é o verdadeiro, sigam-No e se (o verdadeiro) é o ídolo, sigam-no. Ele disse isso para que os B’nei Yisrael não se iludissem adorando ídolos, por um lado e por outro, cumprindo alguns mandamentos da Toráh.
Sobre essa constância ou permanência, também há um trecho no Pirkêi Avot que nos ensina, que não devemos achar que nossas boas ações encobrem nossos pecados. No Capítulo 4, mishná 21, está escrito: “Velô micach shôchad” – o Todo-Poderoso não aceita suborno. A explicação do comentarista Rabênu Ovadyá Mibartenura é que D’us não aceita as boas ações como desculpa pelas más, ou seja, recebemos recompensas pelas boas ações que fazemos, mas também recebemos castigos pelas más (mesmo que sejam poucas).
Andando com D’us
Na parashá passada vimos Rivka aceitando seguir El’azar em um caminho que a levaria ao encontro de seu futuro marido, e ela fez isso sem nem mesmo saber qual a sua aparência, nem seu caráter, nem que tipo de homem ele era. Ela aceitou seguir o caminho que El’azar havia dito que tinha sido guiado pelo Eterno. Sua decisão foi a de andar com o mesmo D’us de seu parente Avraham e do servo dele, e consequentemente, de seu filho que seria seu futuro marido. Creio que podemos entender que Rivka decidiu deixar sua terra e seus parentes para seguir o caminho com D’us.
Agora, Yaakov estava seguindo por um caminho também, andando com D’us, pois aquele era o propósito para a vida dele. Andar com o Eterno é uma decisão que deve ser feita por quem deseja servir a D’us. E Yaakov decidiu isso verdadeiramente quando chegou “no lugar” e teve o sonho da escada que da terra ia ao céu.
E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Elohim subiam e desciam por ela; Gn 28:11-12
Temos muitos apontamentos proféticos nessa porção, mas essa passagem aponta para os seguidores de mashiach que tendo entrado no caminho se transformam em uma escada, ou seja tornam-se mensageiros, que levam pessoas ao Reino de D’us através do ensino da Torah. Assim, como Rivka e Yaakov, decidem entrar no caminho e servir ao propósito estabelecido pelo Eterno, cada um de nós deve também seguir os mesmos passos.
É importante destacar que quando se toma a decisão de caminhar com D’us, buscando ser firme no propósito, o Eterno também se mantém firme conosco. Vemos isso bem claro nessa parashá, observe:
Seus descendentes serão como o pó da terra, e se espalharão para o Oeste e para o Leste, para o Norte e para o Sul. Todos os povos da terra serão abençoados por meio de você e da sua descendência. Estou com você e cuidarei de você, aonde quer que vá; e eu o trarei de volta a esta terra. Não o deixarei enquanto não fizer o que lhe prometi". Gn 28:14,15
De acordo com o site Emunah a fé dos Santos, aqui há uma referência à descendência de Yaakov que seria uma bênção para todas as famílias da terra. Para algumas pessoas, esta profecia tem se cumprido gradualmente, através das invenções tecnológicas, e não só, desenvolvidas pelos israelitas e que os prêmios Nobel são apenas um reflexo.
A descendência de Yaakov é uma bênção para todo o mundo nesses momentos, além de ter entregado ao mundo a Toráh e o Messias para a salvação de todo aquele que se voltar para o Eterno. Por isso está escrito, na tua descendência/semente, como uma referência ao Messias.
Aqui aparece a mesma palavra que há e no texto de Gênesis 12:3, “benditas” que no texto hebraico a palavra correspondente é “venivrechu”, e essa bênção que tornarão as pessoas benditas pode ser entendida como “o processo de enxerto no povo”, levando mais pessoas a andarem com D’us através da obediência à Toráh.
Concluindo nosso estudo, de acordo com o que vimos até aqui podemos entender que para permanecermos com o Eterno devemos partir de nossa zona de conforto e andar com D’us em todo o tempo e durante todo o caminho. O exemplo que encontramos na vida de Yaakov é muito claro para nós, e nos leva a refletir na nossa teshuvah, e em como estamos vivendo. Permanecer firme no caminho da Torah do Eterno é estar no centro da vontade do Eterno e ele estará ligado a você enquanto estiver firmado na sua vontade.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Pr/Rav Marcelo Peregrino Silva (Marcelo Santos da Silva - Moshê Ben Yosef)