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domingo, 17 de novembro de 2019

Estudo da Parashá Vaierá (E mostrou-se)


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Estudos da Torá

Parashá nº 4 – Vaierá (E mostrou-se)
Bereshit/Gênesis Gn.18:1-22:24
Haftará (separação) 2Rs. 4:1-37 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Lc 17:26-37, Rm 9:6-9 e Gl 4:21-31


1 - INTRODUÇÃO
                           
    Essa semana a porção da Torá nos trás passagens muito interessantes e que nos trazem muitos aprendizados. Vemos Avraham (Abraão) recebendo a visita de três mensageiros de Adonai, a intercessão dele pelas pessoas em Sodoma e Gomorra, o livramento de Lot (Ló) e a entrega de Yitz’chak (Isaque) em sacrifício por Avraham.
    É recomendado ler os textos na porção dessa semana, pois faremos nesse estudo uma rápida análise em alguns textos de B’rit Hadasha (Nova Aliança/Novo Testamento) que estão alinhadas com a parashá em estudo, a fim de buscarmos um entendimento ampliado dos ensinos das Escrituras.
                  
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
              
       Vejamos os seguintes versos:

"Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e os destruiu a todos. "Aconteceu a mesma coisa nos dias de Ló. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e construindo. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os destruiu a todos. "Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado. Naquele dia, quem estiver no telhado de sua casa, não desça para apanhar os seus bens dentro de casa. Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar atrás por coisa alguma. Lembrem-se da mulher de Ló! Quem tentar conservar a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida a preservará. Eu lhes digo: naquela noite duas pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada. Duas mulheres estarão moendo trigo juntas; uma será tirada e a outra deixada. Duas pessoas estarão no campo; uma será tirada e a outra deixada". "Onde, Senhor? ", perguntaram eles. Ele respondeu: "Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres". Lucas 17:26-37

          Yeshua Hamashiach (Jesus Cristo/Messias/Ungido) estava falando acerca da sua volta e do Reino de D’us, este é o mesmo assunto tratado por Mateus no capítulo 24, podemos perceber como algumas palavras estão sendo repetidas neste texto de Lucas e naquele de Mateus.

         Qual era então o contexto? Ou porque Yeshua fala sobre Noach(Noé) e Lot (Ló)?
      
      Yeshua foi interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de D’us, conforme lemos em Lc 17:20, e responde dizendo que “o Reino de D’us não vem de forma visível, pois estaria dentro de cada um”. Assim ele inicia o discurso onde fala sobre a sua vinda, pois a vida de todo servo de Adonai deve ser em prol da preparação das pessoas para a vinda do Messias, e ele compara aqueles dias com os dias de Noach e Lot, quando as pessoas viviam normalmente suas vidas na desobediência aos mandamentos, sem querer saber qual a vontade de Adonai. Por isso, o Mashiach usa os termos “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento”, pois são coisas costumeiras em uma sociedade. Ou seja, tudo parece muito normal, em meio às transgressões dos homens aos mandamentos de D’us, mas repentinamente, como Yeshua fala, virá destruição sobre esses, e libertação para os obedientes, quando da ocasião da sua volta.
         Um dos assuntos dessa porção é a salvação de Lot da destruição das duas cidades impenitentes, é por isso que estamos ligando o que Yeshua falou com essa parashá, pois ela fala em um contexto de destruição de transgressores, mas também fala sobre livramento dos obedientes, e acima de tudo, do domínio do Eterno sobre seu Reino, pois Ele vê tudo e todos. Esse é o Reino que Yeshua falou que deve estar dentro de nós, através da obediência e do acatamento das ordenanças do Eterno em nossas vidas diárias, através de ações e atitudes que o reflitam.
         Vamos ver outro texto que também guarda uma ligação com essa parashá.

Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Pelo contrário: "Por meio de Isaque a sua descendência será considerada". Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão. Pois foi assim que a promessa foi feita: "no tempo devido virei novamente, e Sara terá um filho". Romanos 9:6-9

          Aqui Paulo está afirmando para alguns que se diziam judeus e descendentes de Avraham, mas seguiam apenas dogmas humanos e legalismos, no lugar da Torá verdadeira, ele estava dizendo que nem todos os que são descendentes de Israel são verdadeiramente Israelitas. Ele diz que não basta ser descendente, tem que obedecer, e isso através de Yeshua.
        Seguindo o mesmo viés do Messias a respeito de como devem viver os verdadeiros servos de Adonai, o apóstolo Sha’ul (Paulo) fala nesse texto transcrito acima sobre os filhos naturais e os filhos da promessa. Nas porções da Torá, vemos o Eterno fazer uma promessa a Abraão a respeito de sua descendência através de um filho, e por serem velhos, ele e Sara decidem, de forma manipuladora e humana, fazer com que essa promessa se cumpra, colocando a escrava Hagar para se deitar com o Patriarca. Dessa relação nasce Ishmael (Ismael), e somente mais tarde quando Deus cumpre a promessa é que nasce Yitz’chak (Isaque). O primeiro é o natural, ou seja, pelas mãos e vontade humana, e o segundo o da promessa, no tempo certo de Deus.
             Uma comparação semelhante também é feita por Paulo no seguinte texto:

Digam-me vocês, os que querem estar debaixo da lei: Acaso vocês não ouvem a lei? Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. O filho da escrava nasceu de modo natural, mas o filho da livre nasceu mediante promessa. Isso é usado aqui como uma ilustração; estas mulheres representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar. Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre, e essa é a nossa mãe. Pois está escrito: "Regozije-se, ó estéril, você que nunca teve um filho; grite de alegria, você que nunca esteve em trabalho de parto; porque mais são os filhos da mulher abandonada do que os daquela que tem marido". Vocês, irmãos, são filhos da promessa, como Isaque. Naquele tempo, o filho nascido de modo natural perseguia o filho nascido segundo o Espírito. O mesmo acontece agora. Mas o que diz a Escritura? "Mande embora a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava jamais será herdeiro com o filho da livre". Portanto, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre. Gálatas 4:21-31

           Nesse caso o apóstolo está fazendo uma alusão aos verdadeiros filhos de D’us, pela analogia dos dois filhos de Avraham. Sabemos através das Escrituras que os filhos de Abraão na carne, são os que detém a promessa, mas não basta ser filho na carne, é preciso se unir a D’us através de Yeshua e obedecer aos mandamentos do Reino, como disse acima e conforme lemos também Yeshua dizer em Jo 8:31-47 e Yohanan o Imersor (João Batista) em Mt 3:9-12 e Lc 3:7-20.
           Essa alegoria ou midrash, falando de Sara e Hagar, usada pelo rabino Sha’ul (apóstolo Paulo), de acordo com o site “Yeshua Chai.org”, é muito citada mas de forma errada, como a representação da distinção entre a “Lei” e a “Graça”, e do mesmo jeito a doutrina da “Lei versus Graça”. Infelizmente, muitos comentaristas e teólogos cristãos através dos séculos têm usado esta alegoria como um meio de rejeitar a importância do estudo e da prática da Torá para o cristão. Podemos perceber isso claramente ao ler o seguinte comentário:

“Paulo estava usando o método alegórico comum dos judeus da época para defender seu ponto de vista. Ele usou essa figura de linguagem para fazer um forte contraste entre dois concertos bíblicos divergentes nas igrejas na Galácia: a promessa abraâmica (Gn 12.1-3) e a Lei de Moisés que Deus deu a Israel no monte Sinai.” (O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais, Editora Central Gospel, 1ª Edição: janeiro/2010, página 493)

          Além de defender a contrariedade entre a Lei e a Graça em um texto que não trata desse assunto, os autores do texto mencionado ainda afirmam que Paulo usa da alegoria comum aos judeus, como se fosse para usar das mesmas ferramentas dos judeus para revidar um ensino. Mas Paulo usa da alegoria simplesmente porque ele era judeu e essa era a forma de ensinar da época, usando-se de alegorias ou midrashins.
            Perceba que o apóstolo não usa desses meios para argumentar contra a Torá e sua importância em nossas vidas, mas para instruir contra o legalismo e contra o ensino errado dos religiosos da galácia, de que a salvação só poderia ser recebida por meio da obediência aos mandamentos e pela circuncisão.
            Assim, conforme já mencionei acima e de acordo com o comentário no site “Yeshua Chai.org”, a concepção de Ishmael foi natural, ou seja, foi da carne, pois é resultado da intervenção humana, já a concepção de Yistz’chak foi sobrenatural, pois Sara já não tinha mais como ter filhos, e o resultado dessa intervenção foi divina. E de acordo com a interpretação de Paulo, as duas mães representam duas promessas distintas: Hagar a escrava, a aliança feita no Sinai, que resulta em filhos nascidos da escravidão. E Sara representa a aliança feita anteriormente com base na promessa do Eterno que resulta em filhos nascidos livres (Gl 4:24-27). O termo escravidão aqui não está ligado a Lei, mas ao fato de Hagar ser escrava, e assim a escravidão é uma alusão ao que está além da promessa, ou seja, a intervenção humana.
               A interpretação de Paulo pode se tornar mais clara para nós quando olharmos a distinção fundamental entre a ideia da Aliança e a Torá. Ainda de acordo com o mencionado no site, se observarmos o contexto geral da carta aos Gálatas, podemos compreender a alegoria como um meio de impugnar a autoridade dos “Legalistas” da época, que afirmavam serem os intérpretes exclusivos da Torá. Eles diziam que de acordo com suas interpretações da Lei, a salvação somente poderia ser conseguida por meio da circuncisão, ou seja, tornando-se judeu. E isso ocorre também hoje com o cristianismo, onde muitos dizem que somente pode-se obter a salvação se alguém se tornar cristão. Mas o que Paulo estava realmente dizendo era que, a circuncisão física (protótipo de transformas em judeu) não é um meio de salvação, e qualquer tentativa de “justificação” com base no mérito pessoal é um passo longe da justificação que vem livremente para aqueles que agarram rápido a promessa do Eterno de herança eterna. Com isso, entendemos que se alguém quer agir, como Sara e Abraão, tomando a frente, e colocando Hagar no meio, não surtirá resultado, pois ele somente pode ser conseguido por meio da esperança da promessa de Abraão e Sara pelo tempo de Deus para o cumprimento da promessa. Ou seja, agindo pela fé na promessa feita pelo Eterno através do Messias, sem tomar ação humana, que no caso do texto era a circuncisão. Assim como não se pode hoje ser salvo alguém que se torna cristão, pois ela somente se consegue pela fé na promessa de Yeshua, não pela religião ou religiosidade.
               O conceito de justificação pela “Hessed”(Graça) e pela “Emuná”(Fidelidade, fé) são fundamentalmente judaicos e perduraram por milênios, e foi amplamente demonstrado e ensinado na Torá, nos profetas e na tradição oral judaica, isso não é exclusividade dos textos do chamado Novo Testamento. Todos os atos de revelação de D’us (incluindo aí, a revelação dada no Sinai, na Cruz no monte Moriá, em Noach e sua família, em Lot e sua família, em David, em Ruth e etc) são manifestações da “Hessed”(Graça) Divina.
               Yeshua disse para a mulher samaritana que a salvação vem dos judeus (Jo 4:22) e o Eterno prometeu que sempre haveria um remanescente do seu povo que iria ser fiel às sua Palavras (Isaías 1:9; 10:21, Jer 23:3; 31:7, Jl 2:32, Rm 9:27; 11:5). Entendemos que no fim, “todo o Israel será salvo” e todas as promessas que o Eterno fez ao povo de Israel através dos profetas serão cumpridas (Rm 11:26).
               Nessa parashá (porção), que vai de Gênesis 18:1-22:24, encontramos muitos ensinamentos para nossas vidas como servos do Eterno, em Yeshua. Ao meditar nesta porção aprendemos com a hospitalidade de Abraão e com seu zeloso serviço ao Senhor, quando ele recebe os três “Malachim” (mensageiros, anjos) do Eterno que devemos primar por servir a D’us. Somos instruídos a aguardar a promessa divina com firmeza e viver intensamente a Aliança do Senhor para conosco. Também aprendemos a ser benção para as pessoas e ainda sermos intercessores pelos que estão perdidos, pois temos o Reino dentro de nós para levar até essas pessoas e prepará-las para a volta do Messias. Através da instrução da Torá, nessa porção, podemos olhar para os Textos do Novo Testamento com mais clareza e entender o que Yeshua e os apóstolos disseram a respeito do Reino de D’us e dos que são filhos desse Reino, e como eles devem agir e que a Lei de D’us é boa para o homem, não sendo fardo algum.
               Aos que se achegam a D’us através de Yeshua, e passam a também fazer parte das promessas, conforme tudo o que disse acima e de acordo com o que Paulo diz em Ef 2, é muito importante observar todo o ensinamento que foi dado aqui com cuidado. Por esse motivo, nós que antes não éramos povo, e agora passamos a ser povo, conforme Ef 2:11-13, nos tornando verdadeiros filhos de Abraão, não somente da carne, mas pela fé, devemos nos aprofundar na Torá, nos esforçar para obedecer aos mandamentos do Eterno, e a viver segundo os princípios do Senhor de acordo com Ef 2:10, pois eles são vida para nós.

Bibliografia:

- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- http://www.yeshuachai.org/forums/topic/a-alegoria-de-agar-e-sara/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/04_vayer_e_apareceu.pdf
- http://shemaysrael.com/parasha-vayera/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771007/jewish/Resumo-da-Parash.htm

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Estudo da Parashá Lech Lechá (Vá por ti)


Estudos da Torá

Parashá nº 3 – Lech Lechá (Vá por ti)
Bereshit/Gênesis 12.1-17.27
Haftará (separação) Is 40.27-41.16 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 5.1-48


1 - INTRODUÇÃO
                           
               Essa parashá é considerada uma das porções muito importantes da Torá, pois ela trata do chamado de Avram(Abrão), o primeiro patriarca da nação de Israel. E nela temos a oportunidade de aprender muitas coisas a respeito da promessa que o Eterno fez a este patriarca e de sua repercussão para as nações do mundo, através de seus descendentes e do que Yeshua HaMashiach fez iniciando a concretização dessas promessas.
               O que a Torá tem a nos ensinar através dessa parte da porção Lech Lechá?
              
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
              
               Na porção passada, a porção Noach, encontramos esse Noach, como sendo um homem justo em meio a sua geração, que estava muito corrompida. Se você não leu a porção passada, sugiro deixar este estudo e procurar o estudo a que estou mencionando, valerá à pena. Mas nessa porção encontramos Avram (Abrão), que apesar de as tradições e midrashim (plural de midrash, comentários rabínicos) judaicos falarem que ele era um homem que se afastava do mal e da idolatria, a Torá nos mostra que o Eterno diz para ele: “...caminhe adiante de mim e seja perfeito”. (Gn 17:1) O que pode nos apontar que ele precisasse corrigir algumas coisas em sua vida. Isso pode ser comprovado com algumas atitudes que ele toma em sua caminhada após começar a seguir a D’us. Mas também podemos ver muitos atributos de seu caráter que foram observados pelo Eterno, como por exemplo: sua emunáh (fé, confiança, firmeza) e obediência naquilo que Adonai o falava.
               Avram descende de uma linhagem de homens que invocavam o Senhor. Vemos isso no final do capítulo 4 de Gênesis, quando a Torá fala que Shet (Sete) teve um filho a quem chamou Enosh (Enos), e que dali em diante voltou-se a invocar o Senhor. Da geração de Shet veio Noach (Noé), que gerou a Shem (Sem), de onde se originam todos os povos semitas incluindo Israel. O Midrash Bereshit (comentário rabínico do livro de Gênesis) diz que o Eterno estava buscando um homem mais justo para ser o antecessor de uma nação temente a D’us. No entanto, não encontrou esse homem na família dos outros dois filhos de Noach, apenas em Shem, mas que ainda assim, preferiu esperar dez gerações até encontrar Avram (Abrão).
               Mas por quê D’us esperou dez gerações?
               De acordo com o Midrash, o Eterno está querendo nos mostrar que passou uma peneira e somente no final encontrou sua joia, Avram. Com isso, podemos notar que o Eterno contempla nosso interior, e age para conosco de acordo com o que Ele vê em nós.
               No entanto, é muito importante lembrarmos que a chamada de Avram se dá na verdade antes do capítulo 12, que é o início dessa porção. Ele inicia no verso 31 do capítulo 11 de Gênesis/Bereshit, quando seu pai, Terach (Tera), sai de Ur em direção a Canaã, conforme lemos em Neemias 9:7 e também no relato de Estevão em Atos 7:2-4. O Midrash conta antes da chamada de Avram, várias ocasiões em que ele demonstra sua fé no D’us criador de todas as coisas, através de livramentos de perigos impostos por idólatras daquela terra. É por esse motivo que Terach (Tera), pai de Avram, decide sair de Ur, a fim de proteger seu filho, terminando por parar em Charan. Naquele momento o Eterno já inha se manifestado a Avram uma vez, chamando-o.
               É interessante que muitos crentes, pregadores repetem o que dizem os livros cristãos sobre Abraão, dizendo que ele era idólatra, por morar em Ur dos Caldeus, uma cidade muito idólatra. Contudo a Torá, e os comentários rabínicos nos mostram que ele já era temente ao Eterno Criador do céu e da terra, antes mesmo de o conhecer, e que por isso foi escolhido pelo Senhor.
               Então no capítulo 12, que é o início dessa parashá(porção), temos a oportunidade de ler sobre o chamado desse patriarca, na verdade o segundo chamado. Onde o Eterno lhe faz promessas que seriam condicionais à sua obediência. Avram não era perfeito como nós não somos, mas Adonai ao se revelar pela segunda vez a ele, estabelece a maneira com a qual ele deveria lhe obedecer ao iniciar sua caminhada com o Elohim, a quem tinha sido fiel até aquele momento. Por isso, o Eterno lhe determina a forma tripla de cumprimento da ordem, onde o patriarca teria que:
               - Sair da terra dele (que agora era Charan)
                   Isso significa que era preciso deixar de lado tudo o que o ligava a sua terra de nascimento, onde havia muita idolatria e pecados diversos;
               - Sair do meio da parentela
                   Renunciar aos parentes e familiares que estão vivendo no erro, cujas transgressões lhes são agradáveis, mas afrontam a D’us;
               - Sair da casa de teu pai
                   Sair da casa do pai aqui significa assumir responsabilidades de um homem, ou seja, viver de forma independente de seu pai, da mesma forma que um homem sai da casa de seu pai para se unir a sua mulher, mas essa independência o levaria a dependente de D’us.
               Ur e Charan eram terras repletas de idolatria, conforme já mencionamos anteriormente, e de acordo com o site “Emunáh a Fé dos Santos”, essa foi uma das razões pela qual Adonai lhe ordenou que saísse de lá. A congregação do Eterno (a Noiva, a Israel de YHWH), estava sendo estruturada, e estava começando com uma ordem direta que se mantém e ecoa até aos dias de hoje, para todos os que vivem na Babilônia, ou que ainda têm no seu coração vestígios dela: “SAI DELA POVO MEU”. Perceba que todos os crentes no Elohim de Avrahan, Ysaac e Yaacov, e que mais tarde receberam o testemunho de Yeshua, recebem a mesma ordem para saírem desse sistema idólatra e devasso, que é a Babilônia, conforme podemos ler em Jer 51:45 e Ap 18:4.

"Saia dela, meu povo! Cada um salve a sua própria vida, da ardente ira do Senhor. Não desanimem nem tenham medo quando ouvirem rumores na terra; um rumor chega este ano, outro no próximo, rumor de violência na terra e de governante contra governante. Portanto, certamente vêm os dias quando castigarei as imagens esculpidas da Babilônia; toda a sua terra será envergonhada, e todos os seus mortos jazerão caídos dentro dela. Então o céu e a terra e tudo o que existe neles gritará de alegria por causa da Babilônia, pois do norte destruidores a atacarão", declara o Senhor. Jeremias 51:45-48

Então ouvi outra voz do céu que dizia: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam! Pois os pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes. Apocalipse 18:4,5

Podemos perceber que há uma ligação entre a saída de Avram de Charan, que é a região da posterior Babilônia, e as passagens de Jeremias e Apocalipse. O Eterno não poderia formar uma nação e um povo seu dentro de uma nação idólatra, e por isso chama aquele que seria o pai de uma grande nação, e benção para as famílias da terra, a sair dela. E da mesma forma a voz de Adonai clama até ao dia de hoje, para que os que ouvem sua voz saiam do meio do erro, do engano e da idolatria, a fim de fazer parte do Reino e da família do Eterno.

Bibliografia:

- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- El Midrash Dice Bereshit
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771006/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/03_lech_lech_sai.pdf
- http://shemaysrael.com/parasha-lech-lecha/
- http://tvsiao.com/player/parashyy-lech-lechyy-prof-matheus-zandona-5775-2014-/230

sábado, 2 de novembro de 2019

Estudo da Parashá Noach (Noé)


Estudos da Torá

Parashá nº 2 – Nôach (Noé)
Bereshit/Gênesis 6.9-11.32
Haftará (separação) Is 54.1-55.5
e B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 3.1-4.25

1 - INTRODUÇÃO
                           
     Nesta segunda porção ou parashá falaremos sobre Noach (Noé) e sua vida justa, falaremos também um pouco de sua geração antes do dilúvio, olhando para o que a tradição judaica nos diz a respeito, e um assunto que trataremos também é sobre como podemos viver de forma justa em tempos como os atuais, que muito se igualam aos tempos de Noach. Qual deve ser nossa conduta como servos de Adonai redimidos pelo Messias Yeshua?
    A Torá tem informações nas entrelinhas de seus textos para cada um de nós, e esse entendimento é profético, nos encaminhando para saber mais sobre o nosso futuro com o Messias.

2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
              
     A Torá nos relata em Bereshit/Gênesis 6:9, que Noach foi um homem justo, perfeito nas suas gerações, diz também que ele andou com D’us. Sabemos que foi o fato de ser ele temente a Elohim, e seu padrão de vida, que permitiu que a humanidade fosse salva da morte e da completa extinção. Foi sua vida e conduta que levaram ao Eterno escolhê-lo para, através da arca, ele e sua família fossem preservados a fim de darem continuidade à raça humana.
     Sabendo de tudo isso sobre Noach e que a Torá nos diz que ele era justo, podemos nos perguntar acerca do contraponto. Se ele era justo nas suas gerações, como eram as pessoas da geração antes do dilúvio? O que eles fizeram para que o Eterno considerasse que eles deveriam ser condenados à morte e somente Noach e sua família vivessem para renovar à humanidade?
      Lemos o seguinte no texto da Torá:
“E o Eterno viu que era grande a maldade do homem na terra, e que todo impulso dos pensamentos do seu coração era exclusivamente mau todo dia. E arrependeu-se o Eterno de ter feito o homem na terra, e pesou-lhe em seu coração. E disse o Eterno: Farei desaparecer o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até o quadrúpede, até o réptil e até a ave dos céus; porque Me arrependi de os haver feito. E Noé achou graça aos olhos do Eterno.” (Gn 6:5-6)
      Antes de começar a falar com detalhes sobre nosso assunto, quero primeiro mencionar a respeito do termo “arrepender” que aparece no texto.
         Talvez você se questione: D’us pode se arrepender de algo?
        O Eterno não se arrepende, mas a Torá nos trás essa expressão para que possamos ter uma clara compreensão do que Ele quis dizer. O objetivo de Elohim é sempre se revelar para nós, por isso se preocupa em como passar as informações para o homem entender através de suas próprias linguagens. Esse é um texto figurativo. Elohim procede ou age de acordo com as atitudes dos homens, segundo as decisões que eles tomam, e as ações que praticam, conforme lemos em Ezequiel 18.
        Passemos à analise do conteúdo da porção à partir do texto anterior a ela, para pegarmos o contexto completo.
         Lemos nos versos acima, que a maldade do ser humano crescia a cada dia. E transgressão após transgressão, ou pecado, o homem se afastava de Adonai, a tal ponto de o Criador intentar eliminar todos os seres vivos da face da terra. Mas todos os seres vivos? O que os animais têm a ver com isso?
        O Midrash Bereshit é um livro que contêm comentários dos sábios de Israel sobre o livro de Bereshit/Gênesis. Assim, descreverei o que o Midrash Bereshit fala a respeito desse povo antediluviano, a fim de que possamos entender o contexto dessa porção Noach.
        Encontramos um comentário espetacular sobre os pecados da geração anterior ao dilúvio. Ele diz que apesar dos seres humanos não viverem mais no Gan Éden (Jardim do Éden), seu estilo de vida antes do dilúvio ainda se assemelhava, durante um tempo, ao que viveram no Éden. A vida era boa, muito boa. Era uma vida de serenidade ininterrupta e prazer. Esse midrash diz que os filhos eram concebidos e nasciam no mesmo dia, diz também que um recém nascido poderia começar a andar muito rapidamente, assim como começar a falar. E nenhuma criança morria enquanto seus pais estavam vivos, na verdade todos os pais viviam para ver os filhos de seus filhos.
      Talvez por isso, a Torá nos conte com tanta clareza, na parashá passada, sobre a morte de Hébel (Abel), porque isso era algo que não era comum quando aconteceu, e nem mesmo tempos imediatamente depois.
    Continuando, o Midrash Bereshit, diz que a geração anterior ao “mabul”(dilúvio) possuía uma enorme força física, conforme podemos ler nos pasuk (verso) 6:4: “Os gigantes estavam na terra naqueles dias, e também depois, ...” Aquelas pessoas eram capazes de retirar cedros inteiros desde a raiz, e consideravam os leões e as panteras tão inofensivos como pulgas. Diz ainda que sua força não diminuía com a velhice, pelo contrário aumentava com a idade. Esta força somente desapareceu após o dilúvio. E daí nós podemos entender, como Noach e seus filhos construíram a Arca. E talvez até possamos divagar sobre as construções dos enormes monumentos como as pirâmides e outros tantos ao redor do mundo, em que a ciência tenta explicar suas construções até hoje.
       Ainda segundo esse Midrash, eles viviam uma vida muito prolongada, eram centenas de anos. E podemos confirmar isso também na parashá bereshit, no capítulo 5. Somente quando seus pecados se multiplicaram que Hashem disse: “...e serão seus dias cento e vinte anos.” (Gn 6:3). E à partir daí eles passaram a viver menos tempo.
    Aqueles seres humanos, descendentes de Adão, não conheciam sofrimento de nenhum tipo, diz o midrash. Também a terra era muito mais produtiva, pois o midrash diz que eles plantavam apenas uma vez a cada quarenta anos e a terra produzia uma quantidade suficiente para os quarenta anos seguintes.
         Não tinham que suportar nem calor e nem frio excessivo, já que não havia variação das estações e o estado do tempo era um contínuo clima típico de primavera, ou seja, suave e prazeroso. Somente depois do dilúvio foi que Adonai disse o que lemos em Gn 8:22: “Ainda em todos os dias da terra, sementeira e ceifa, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite, não cessarão.”
        Mesmo com todos esses benefícios que o Eterno lhes outorgava, eles descartaram a autoridade de Hashem dizendo, para quê necessitamos segui-lo? Nem sequer precisamos de sua ajuda para obter água. Estamos providos de forma abundante de diversas fontes, temos os rios e os poços da terra. E segundo o midrash, o Eterno contestou dizendo: E justamente com a generosidade que eu lhes outorguei que se rebelam contra mim? Lhes castigarei com a mesma substância, ou seja, água, conforme vemos em Gn 6:17: “Eis que eu trago dilúvio de águas sobre a terra, para fazer perecer a toda criatura em que nela haja espírito de vida...”
           Então quais eram os pecados daquela geração?
           Segundo o referido midrash, os pecados são os relacionados abaixo:
               1. Idolatria
               Eles disseram a D’us, afaste-se de nós, porque não desejamos conhecer Teus caminhos. Quem é o Todo Poderoso para que tenhamos que servi-lo? Porque devemos rezar a ele? Eles reforçaram sua independência de Hashem adquirindo experiência com feitiçaria. Abandonaram seu Supremo Criador e serviram a ídolos.
               2. Derramamento de Sangue
               Eles se tornaram assassinos. Sua depravação era similar ao que encontramos na perversa cidade de Sodoma, Gn 6:11 e 12.
               3. Imoralidade
               Estas gerações rejeitaram os mandamentos ensinados por Adam (Gn 1:28) “crescer e multiplicar”. Uma vez que sua meta na vida era agradar seus instintos carnais, trataram de reduzir ao mínimo o número de filhos que geravam. E isso explica as atrocidades abaixo que prevaleciam naqueles tempos.
               - Os homens tomavam duas esposas, uma com o propósito de gerar filhos e outra para o prazer;
                  - Eles trocavam de esposas;
                  - Eles mantinha relações sexuais com animais, cometendo assim, relações proibidas pelo Eterno; e
                  - Os juízes eram corruptos.
       Até os animais naqueles tempos estavam, segundo o midrash, imitando os caminhos errados dos homens corruptos, pois o cão se unia aos lobos e o galo com o pato. E daí, imaginamos o motivo de o Eterno querer destruir todos os seres vivos, até mesmo os animais. Estavam todos corrompidos. E de fato podemos até hoje comprovar isso em escala talvez menor, pois o apóstolo Paulo diz que, toda a criação geme por redenção (Rm 8:22).
               4. Roubo
               Adonai disse: “O fim de toda criatura chegou diante de mim, porque se encheu a terra de roubo...” (Gn 6:13). Porque o veredito final de culpa recaiu sobre o pecado de roubo mais que os delitos de idolatria, derramamento de sangue e imoralidade? A resposta segundo o midrash, é que o roubo consome as fundações básicas de toda a civilização. O conceito de que uma propriedade alheia no pode ser roubada, forma parte do sentido comum. Quando Hashem julga uma pessoa que é culpada de vários delitos, existe um que o delata acima de todos os outros, o pecado de roubo. Assim, podemos entender quando Yeshua fala sobre o ladrão em Jo 10, pois o ladrão mina e despreza a propriedade, por isso ele fala do mercenário.
        Com tudo o que foi exposto até aqui, podemos entender o porquê de Noach se opor à forma de vida de sua época, e o motivo de Adonai ter agido com graça para com Ele. Noach vivia de forma justa, conforme a vontade de D’us.
       Em Gn 6:8 lemos que, “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor” Apesar de muitos hoje pensarem que a graça vem apenas no chamado Novo Testamento, vemos que o Eterno sempre ofereceu graça aos homens que se arrependem do mal e O buscam. Um midrash diz: “Noach foi salvo, não porque merecia, mas sim por causa da graça do Eterno.” O conceito de graça, como favor imerecido, é um dos pilares mais importantes da fé no Eterno.
        Também nós devemos em nossa época viver diferente da forma como as pessoas vivem, devemos obedecer as palavras do Eterno, a Torá, e viver de forma justa, pois também fomos alcançados pela graça. A arca que é Yeshua, nos livrou da morte que tocará esse mundo, e isso é a graça do Eterno para nós.

A Maldade do Homem
        Segundo o site judeu.org, podemos comparar esses dois textos:

“E viu YHWH que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.” (Bereshit/Gênesis 6:5)

“E YHWH sentiu o suave cheiro, e YHWH disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.” (Bereshit/Gênesis 8:21)

        Reparemos que o motivo de o Eterno enviar o dilúvio foi a maldade do homem que se multiplicou, conforme apontamos acima. E de acordo com esse site, podemos nos questionar: Como pode o mesmo motivo que fez com que o Eterno destruísse a terra ser alegado para afirmar que o Eterno não mais destruiria a terra?
         A resposta deles é que:
               “Quando comparado com o 6:5, a linguagem está consideravelmente modificada, e não é mais totalmente inclusiva. A afirmação não é um juízo, mas uma observação de que uma proclividade para o mal está tecida no pano da natureza humana.
       A frase chave é ‘desde a sua juventude’, não desde o nascimento ou desde a concepção, implicando que a tendência ao mal pode ser refreada e redirecionada através da disciplina das leis. Assim, a próxima seção lida com a imposição de leis sobre a humanidade pós-diluviana.” (Nahum Sarna, Comentário da JPS sobre Gn. 8:21)
        Com isso, é nos ensinado a importância de criar um ambiente saudável, e de promoção da disciplina, para que o ser humano possa sujeitar suas paixões. Desde cedo podemos fazer isso com nossos filhos, isto é, ensinando-os a guardar a Palavra do Eterno, e a viver não segundo o curso deste mundo. Nós mesmos devemos nos esquivar do Yetser Hará (inclinação para o mal), que a todo tempo nos rodeia de perto, devemos ir para os pés do Senhor, e como fez Noach, caminhar com Elohim.
      E a grande lição da Torá é que, após um certo ponto de estabelecimento da barbárie, torna-se quase impossível voltar atrás e consertar a situação. E o resultado é que o ímpio será destruído perpetuamente, conforme lemos em Salmos 92:7: “Quando o ímpio cresce como a erva e quando florescem todos os que praticam a iniquidade, é que serão destruídos perpetuamente.”

Bibliografia:

- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- El Midrash Dice Bereshit
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- http://shemaysrael.com/parasha-noach/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/02_noah_no.pdf
- http://judeu.org/pdfs/parashiyot/noah/noahmaldade.pdf