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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Estudo da Parashá Ki Tetsê (Quando saíres)

 



Estudos da Torá


Parashá nº 49 – Ki Tetsê (Quando saíres)

Devarim/Deuteronômio Dt 21:10-25:19

Haftará (Separação) Is 54:1-10; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 12:1-50.


1 - INTRODUÇÃO

No resumo da parashá desta semana, vemos que a porção Ki Tetsê começa discutindo o caso de uma mulher quando capturada por um soldado judeu durante uma batalha. Pelo resto da Porção, a Torá continua com uma lista de várias mitsvot cobrindo vasta gama de tópicos. Relata então os direitos especiais de herança do primogênito, o caso do filho teimoso, a importância de respeitar-se a propriedade de outras pessoas, a obrigação de enxotar a ave mãe do ninho antes de pegar seus filhotes, e que não se deve vestir shatnez, mescla de lã e linho na mesma peça de roupa.

O caso da difamação da mulher casada é então discutido, seguido pela proibição de adultério e outros casamentos proibidos, bem como a ordem de manter o acampamento do exército como local santificado. Após mencionar brevemente o divórcio e o requerimento de um guet (carta de divórcio), a Torá discute o sequestro, a mitsvá de pagar os trabalhadores no tempo apropriado, e o conceito da responsabilidade do indivíduo por suas próprias ações.

A Torá descreve então a consideração especial que deve ser dada a um órfão e a uma viúva, o casamento levirato e a mitsvá de ser honesto nos negócios. Esta Porção da Torá conclui com uma exortação para recordar as atrocidades que a nação de Amalek cometeu contra nós após o Êxodo.

A porção Ki Tetsê, é a 49ª porção semanal, e é a 6ª de Devarim/Deuteronômio. Nela contém 74 mandamentos, abordando os mais diferentes assuntos que são muito importantes ao nosso conhecimento. Há leis referentes à guerra, cativos, despojos e até mesmo aferimento de balanças. Nesta parashá também fala sobre divórcio e casamentos proibidos. Muito há que se aprender ao se estudar essa porção, porém não temos espaço aqui para analisá-la na sua totalidade, veremos apenas uma parte, e no próximo ano mais um pouco e assim por diante. Mas isso não lhe impede de ler e estudar em sua casa, e se preciso pesquisar mais sobre o assunto, o que eu incentivo.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

O nome da porção vem descrito nas primeiras palavras no texto hebraico. “Ki Tetsê” significa “quando saíres”, nesse texto está trazendo da possibilidade da ida para a guerra. Guerra é uma palavra que nos assusta e como servos do Eterno e seguidores dos passos do messias Yeshua, logo pensamos que não podemos participar. No entanto, esse trecho da Torá quebra alguns tabus em relação a isso. Veja o que o comentário da Torá diz sobre isso:

A Torá nos impõe prescrições referentes à guerra. Existem doutrinas que impedem a guerra aos seus crentes, e existem os que pretendem permanecer absolutamente neutros e passivos diante de todo combate, mas não conseguem; ao contrário, caíram nas mãos dos inimigos. Por essa razão, a Torá determina o dever da autodefesa e da luta por nossos direitos. É triste ter de recorrer à guerra e ao derramamento de sangue, mas há momentos em que essa é a única alternativa e tem de ser feito. A Torá não quer, de modo algum, negar isto, mas quando a guerra é necessária, deve legislar até sobre ela. A tática do avestruz que esconde a cabeça é indigna, e se a guerra for necessária, submeter-se-á aos mandamentos (os mandamentos da Torá). No caso de guerra, onde todos os maiores sentimentos humanos são sufocados, a Lei de Moisés impõe prescrições, porque mesmo na guerra não se pode perder a consciência do bem. Em primeiro lugar, a Torá ordena oferecer a paz ao povo inimigo (Dt 20:10); mais adiante (vers. 19), proíbe destruir as árvores frutíferas ao redor da cidade sitiada, pois a guerra não deve significar de maneira nenhuma a destruição; e os primeiros versículos desta parashá tratam das leis relativas aos direitos dos vencedores israelitas sobre as mulheres cativas. O ideal máximo da Torá é a paz. Assim diziam os nossos profetas em suas prédicas: “Não levantarás povo contra povo a espada, e não ensinarão mais a guerra” (Miquéias 4:3). O judaísmo sabe como é triste ter de recorrer à guerra e derramar sangue, mas às vezes esta é a única alternativa. Mas, se a guerra é necessária, mesmo nela devem vigorar as leis humanas. (Torá, Ed. Sefer. pág 566)

Entendendo os princípios desse texto vejamos então um pouco mais de contexto histórico a respeito de guerra para que possamos entender os motivos de Moshê ter falado essas palavras ao povo.

Perceba que no período da antiguidade quando as terras não tinham donos e os Estados soberanos estavam iniciando, era comum que houvessem disputas por territórios, e nessas disputas, os dominados ou derrotados, eram aniquilados ou tornavam-se cativos para posterior servidão, podemos ver isso em vários textos das Escrituras, como no livro de Juízes. E com isso, muitas vezes eram poupados mulheres e crianças que tornadas cativas somavam junto com os despojos de guerra, que era propriedade dos vitoriosos. Encontramos ocorrências destes procedimentos ao consultarmos a literatura clássica grega, e encontramos também a semelhança da legislação contida nesta porção da Torá nas leis escritas no código de Hamurabi e no código de Mari, que são documentos que regulamentavam a vida nas terras próximas naquela época.

Contudo, há uma diferença grande, pois a Torá dava às mulheres prisioneiras o status de seres humanos e não de uma mera propriedade de guerra, e isso com um motivo claro, conforme teremos a oportunidade de verificar nesse estudo.

Voltemos ao texto bíblico dessa porção.


10 Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o SENHOR, teu D’us, os entregar nas tuas mãos, e tu deles levares prisioneiros,

11 e tu, entre os presos, vires uma mulher formosa à vista, e a cobiçares, e a quiseres tomar por mulher,

12 então, a trarás para a tua casa, e ela rapará a cabeça, e cortará as suas unhas,

13 e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.

Sabemos que a Torá proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que queria servir ao Eterno. Vemos também na Torá instruções a respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode parecer estranho nessa porção a Torá trazer ensinamentos sobre hum homem querer se casar com uma mulher cativa.

Um homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torá tanto preza, e satisfazer seus instintos naturais. Sendo assim, a Torá o protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele vendo uma mulher cativa, bela e formosa, que influenciada pelos conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados, por meio de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com a tal mulher, e mesmo precipitadamente, tomá-la em casamento. E no intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por desejos passageiros, a Torá cria um roteiro para que o soldado que, temente a D’us e obediente as Suas leis, não fosse traído por seus impulsos, e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.

Mas para se casar com ela, deveria seguir algumas orientações prescritas na Torá, que estão nestes versos que estamos analisando, Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso, continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência física agradável de antes, o casamento poderia se realizar.


Entendendo o propósito além da letra

Olhando para a história dos povos antigos podemos entender que cada cultura tinha seus cortes de cabelo exclusivo, estilos de vestuário e a decoração das unhas, isso identificava as pessoas a qual povo pertencia. Então, é normal se considerar que pela mudança do corte de cabelo, nas unhas e no vestuário da mulher pelo modo israelita, isto significasse um processo de mudança de sua identidade de uma estrangeira para a possibilidade de tornar-se uma israelita. Porque, ao acabar com tudo que a identificava anteriormente, com os laços de sua vida antiga, tudo é deixado para trás simbolicamente.

Mas e o porquê disso? Segundo o Midrash, as filhas dos povos da antiguidade adornavam-se nos tempos de guerra para seduzir sexualmente os inimigos, conforme já dissemos anteriormente. Sendo assim, quando lemos: “e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.” Dt 21:13. Aqui “veste do seu cativeiro” está se referindo a roupas atrativas que vestia ao ser feita prisioneira. O propósito maior aqui de tirar-lhe as roupas é que o homem já não a encontre atraente como antes, pois era proposital. Antes de realmente se casar com a prisioneira ele deveria esperar um mês para que ela pudesse “chorar pelo seu pai e sua mãe”. Isto nos ensina que o Eterno se interessa que a alma da mulher seja consolada antes do casamento. E também nos ensina, conforme já vimos, que o Eterno não quer que o homem tome uma decisão precipitada. Ela precisaria chorar tanto tempo para que o homem não a visse contente e feliz, mas sim feia e pouco atraente comparativamente com as mulheres israelitas. O Eterno estava também cuidando com isso, da própria mulher que devido à guerra agora estaria à mercê, e condiciona um meio de ser cuidada.

Ainda outro ponto importante a respeito do luto dela pelos pais é que, pela guerra acontecia de os pais ou algum parente ter sido morto, mas não necessariamente esse luto seja por isso. Esse luto também era para que ela tivesse uma oportunidade para esquecer de sua família, assim ela teria condição de recomeçar deixando todo o passado familiar idólatra para trás, devido a cultura a qual estava inserida.

Podemos perceber o princípio desse desligamento com o passado quando Yeshua, no evangelho de Marcos 10:29-30 diz:

Respondeu Yeshua: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho que não receba, já neste mundo, cem vezes mais de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo vindouro, a Vida Eterna.”

Resumindo, podemos ver que a Torá nos dá através desta lei sobre a “mulher cativa”, a essência de “um enxertado na Oliveira”, conforme menciona o Judeu Autônomo em seu Blog, que segundo Yeshua, deve deixar para trás sua cultura familiar (religião familiar, crendices e etc) em favor da cultura e mandamentos do Reino de D’us que se encontram nas Palavras de Yeshua que torna plena a Torá.


E, se não te agradares dela, deixá-la-ás ir à sua própria vontade; porém, de nenhuma sorte, a venderás por dinheiro, nem a tratarás mal, pois a tens humilhado.” Dt 21:14

Podemos entender o propósito deste trato com esta mulher, que é para que não seja agradável para o homem, como já dissemos, ter que vê-la em uma situação diferente. Isso não seria uma situação ideal, para que ele se casasse com ela, pois poderia trazer-lhe consequências negativas no futuro, e por isso, HaShem estabelece estas regras para que finalmente ele se dê conta que não convém casar-se com ela.

Segundo o site Emunah a fé dos santos, a Torá não proíbe este tipo de matrimônio, mas também não o aconselha. Se o homem ainda assim deseja casar com ela, poderia fazê-lo. Contudo, incorre no risco de que com o passar do tempo ela se torne numa mulher aborrecida, segundo os versículos seguintes, e eventualmente nasça um filho rebelde do seu matrimônio, segundo os versículos, que logo se seguem. Segundo o Midrash, a mãe do rebelde Absalão era uma gentia cativa de guerra que o rei David tinha capturado.

Assim, é importante destacar que apesar de não ser a vontade do Eterno, na época era permitido a um homem ter mais de uma esposa. Segundo um midrash do site Chabad, se o soldado israelita já tivesse uma esposa judia, a cativa tornava-se sua segunda esposa. A Torá, através de uma alusão, conforme mostramos acima, devido a atitude impensada, adverte que ele provavelmente odiaria a yefat toar, a cativa de guerra. Como sabemos disto?

Porque o próximo assunto do qual a Torá fala é sobre um marido que tem duas esposas e odeia uma delas. Quando o soldado viu a yefat toar pela primeira vez, ficou cego por sua beleza. Não levou em conta se ela seria ou não uma esposa adequada para si. Uma vez casado, começou a pensar: "Como pude querer essa moça? Ela não é tão fina, delicada e educada como uma esposa judia deve ser!" Ele se lamentaria e se arrependeria de ter se casado com ela, até que, finalmente, começaria a odiá-la.

Se isso acontecesse, ele poderia pensar: “Farei dela uma escrava! Ou talvez a venda como escrava!” Mas a Torá o proíbe de agir assim: "Você a tomou por esposa, agora, deve tratá-la bem!"

O assunto seguinte, está ligado ao que foi mencionado acima, e envolve filhos. A Torá agora vai falar sobre o direito de primogenitura de uma filho ser intransferível independente de qualquer situação. De acordo com um midrash, um homem pode ter duas esposas e não gostar de uma delas. O que acontece se seu filho primogênito é da esposa da qual ele não gosta? O pai pode não querer legar-lhe seu duplo quinhão de primogênito. Em vez disso, pode querer dar a porção dupla ao filho de sua esposa favorita. A Torá o proíbe de agir desta forma. Um pai não pode negar ao primogênito a parte da herança que lhe cabe.

Porque esta lei aparece na Torá após o tema da yefat toar, a cativa de guerra? A Torá indica que mesmo que um homem israelita pudesse eventualmente odiar a yefat toar, ele deveria tratar o primogênito que ela porventura lhe desse de maneira justa e equânime.

Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à tua mãe e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos,” Dt 21:18

A seguir, a Torá explica as leis do filho rebelde. Isto é uma indicação de que a yefat toar poderia dar à luz um filho assim. Tudo isso está nos mostrando o cuidado que devemos ter ao tomar uma decisão de entrar em um relacionamento sem a devida reflexão, análise e entendimento, pois as consequências de nossas atitudes nos acompanharão. E o objetivo da Torá é visivelmente nos instruir para seguirmos por um caminho de paz e serenidade.

Este texto também trata a respeito de alguém que desobedece às palavras do pai. A rebeldia é considerada pelo Eterno como uma atitude gravíssima e por isso tem que ser duramente corrigida na vida de uma criança antes que chegue à adolescência.

O Eterno a todo tempo, através de sua Torá, nos alerta a viver de forma correta, a seguir caminhos planos e a tomar decisões sensatas, pensadas e de acordo com sua vontade. Que possamos aprender e praticar as palavras da Torá. Porque segundo o Rav Shaul (apóstolo Paulo) já nos dizia: “Porque os que ouvem a Lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei serão justificados.” Rm 2:13

Que possamos viver assim, segundo a Torá nos ensina, a cada dia mais praticando aquilo que cabe a nós. E temos aprendido, cada vez mais mandamentos que podemos e devemos praticar, ao contrário do que é ensinado nos sistemas. Vivamos e pratiquemos com amor “a carreira que nos foi proposta.”

Que o Eterno lhes abençoe!

Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://shemaysrael.com/shoftim/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/49_-_ki_tets_quando_sares.pdf

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/09/parashat-ki-tetse-quando-saires.html

- https://www.cafetorah.com/deuterenomio/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822869/jewish/Mensagem-da-Parash.htm

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