Estudos da Torá
Parashá
nº 37 – Shelach Lechá (Envie para você)
B’midbar/Números Nm 13:1-15:41,
Haftará (Separação) Js 2:1-24; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 17:1-18:43 e Hb 3:7-19.
Tema: Entenda a coragem e ousadia na teshuvah.
Na parashá dessa semana a Torah nos lembra da importância da confiança, da coragem e da ousadia em nossa jornada espiritual. O medo pode paralisar uma pessoa, mas a confiança no Eterno o faz avançar. E veremos como podemos colocar em prática a confiança no Eterno.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Iniciando com o resumo da parashá da semana, vemos que esta porção começa com o incidente principal do mau relatório dos espias sobre a Terra de Kena’an. Enquanto o povo hebreu se preparava para entrar na Terra de Kena’an, doze importantes líderes são enviados para pesquisar a Terra Prometida, dos quais dez retornam e fazem um relatório muito negativo ao povo, dizendo que seria impossível conquistar as poderosas nações que lá viviam.
Recusando-se a dar ouvidos ao relatório positivo de Kalev e Yehoshua, a nação inteira chora e reclama por toda uma noite em uma total histeria. O Eterno ameaça o povo de extermínio, quando então Moshê suplica com sucesso para que não sejam totalmente aniquilados. Mesmo assim, D'us declara que serão punidos com quarenta anos vagando pelo deserto, e durante este tempo toda aquela geração morrerá. Percebendo seu grave erro, um grupo insiste em avançar imediatamente na direção do país, contra a vontade do Eterno, sendo completamente aniquilados pelas famosas nações de Amalec e Kena’an.
A Torá então muda para a descrição das libações de vinho que acompanhavam muitas das oferendas levadas ao Mishkan (Tabernáculo), conforme lemos no livro de Vayicrá/Levítico. Após ensinar os detalhes da chalá (não confundir com o pão que comemos no Shabat), esta refere-se à porção a ser separada de cada fornada de massa e doada a um Kohen. A Torá menciona ainda, várias leis tratando da proibição de adoração de ídolos, e o infeliz caso do homem que recebeu a pena de morte por profanar o Shabat.
A Parashá Shelach termina com o terceiro parágrafo da prece do Shemá, contendo a mitsvá de colocar tsitsit, que serve como um constante lembrete para nós, de D'us e Seus mandamentos.
Esta parashá trás uma carga emocional muito forte, pelo menos ao meu ver. Aqui a Torá já nos mostrou tudo o que o Eterno Criador dos céus e da terra, o Libertador, fez por este povo e agora prestes a entrar na terra a qual herdariam cometem algo que os impedem de seguir em frente e conquistar a vitória. O que me deixa emocionado nessa porção são os motivos do povo de Israel para agirem da forma que agiram, e ainda a suas atitudes após o que fizeram. Vamos seguir neste estudo pois ele é maravilhoso!
ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO
Ao estudar essa parashá em anos anteriores, e durante essa semana vimos que dez dos doze espias demonstraram medo e falta de confiança em D’us. Isso nos ensina sobre a importância de confiar em HaShem, mesmo quando enfrentamos desafios aparentemente insuperáveis. Kalev e Yehoshua ao contrário, nos ensinam a manter a fé e a coragem, mesmo quando outros ao nosso redor estão céticos.
Com a reflexão que devemos fazer nessa parashá vemos uma perspectiva positiva e uma negativa. A diferença entre as perspectivas dos dez espias e as de Kalev e Yehoshua destaca como nossa mentalidade pode afetar nossas ações e resultados. E isso pode vir a ser muito prejudicial em nossa caminhada com o Eterno, conforme notamos claramente no decorrer da porção semanal.
No estudo dessa parashá no ano passado, comentamos como a visão pode deturpar a perspectiva fazendo muitas pessoas morrerem no deserto, busque lá no meu Blog pelo tema “Para o quê você está olhando”.
Sendo assim, nesse estudo que falaremos também sobre a haftará, precisamos refletir muito sobre como passamos por situações desafiadoras e como podemos cultivar uma perspectiva ou visão positiva, trocando o medo pela confiança, pela coragem e ousadia. E perceba que não falaremos sobre positivismo, mas sobre a prática da confiança no Eterno, que levam o ser humano a ter coragem e ousadia em situações cruciais.
Nessa reflexão, como falamos acima, devemos levar em consideração também, a coragem e a ousadia de Raabe, na haftará dessa porção, demonstrando muita coragem ao esconder os espias em sua casa e os ajudando na fuga da cidade. Com isso, ela arriscou sua vida para protegê-los. O que nos leva a uma pergunta: Como podemos ser corajosos e ousados em nossa fé e ações, mesmo quando enfrentamos obstáculos? A resposta nos leva mais uma vez à confiança no Eterno, a exemplo dos dois homens de D’us que deram bom testemunho ao povo.
Conceitos de Coragem e Ousadia
No dicionário on line encontramos os seguintes significados para o termo coragem: moral forte perante o perigo, os riscos; bravura; intrepidez; firmeza de espírito para enfrentar situação emocional ou moralmente difícil. Podemos então compreender que a coragem é a capacidade de enfrentar o medo, a incerteza ou o perigo com determinação e bravura. Ela não significa ausência de medo, mas sim agir apesar dele.
Também encontramos no dicionário o significado de ousadia dizendo que é qualidade ou característica de ousado; arrojo, coragem, em um ponto de vista negativo ousadia é falta de reflexão; imprudência; temeridade. Assim, entendemos que ousadia está relacionada à audácia e à disposição para assumir riscos calculados. É a capacidade de agir de forma destemida, mesmo quando as chances de sucesso parecem pequenas.
Mais uma vez, nesta porção, Yehoshua e Kalev demonstraram coragem ao se posicionar contra o relatório negativo dos espias. Ele acreditava na promessa do Eterno e estava disposto a enfrentar a oposição e os perigos. Do mesmo jeito, Raabe foi ousada ao esconder os espias em Jericó. Ela arriscou sua vida para protegê-los, confiando no D’us do povo de Yisrael que os trouxera até ali, conforme os relatos que ela, com certeza, deve ter ouvido.
O medo saudável e o medo paralisante
O povo de Yisrael durante as dez pragas e na saída do Egito, e mesmo durante a caminhada pelo deserto, enfrentou o medo em diversas situações. Mas nada se compara ao que eles enfrentaram com o relato negativo que os espias trouxeram. Podemos observar o medo de duas formas, o medo saudável e o paralisante, e eles têm diferenças significativas um do outro.
- Medo Saudável - O medo saudável nos alerta sobre perigos reais. É uma resposta natural do nosso sistema de sobrevivência, ele foi colocado em nós pelo Eterno como uma defesa. É proporcional à situação. Por exemplo, sentir medo ao atravessar uma rua movimentada é saudável. Pode nos motivar a agir com cautela e tomar decisões informadas. É com ele que aprendemos a antes de tudo saber se estamos de acordo com a Torah antes de tomar uma decisão.
- Medo Paralisante - O medo paralisante é desproporcional à ameaça real. Pode ser irracional e debilitante. Em vez de nos motivar, ele nos paralisa, impedindo ação ou tomada de decisão. Pode levar à ansiedade crônica, fobias ou ataques de pânico.
Em resumo, o medo saudável é adaptativo e nos protege, enquanto o medo paralisante prejudica nosso funcionamento normal. Reconhecer a diferença é importante para lidar com eles de maneira saudável. Veja o salmista diz:
O Eterno é a minha luz e a minha salvação; de quem terei temor? O Eterno é o meu forte refúgio; de quem terei medo? Sl 27:1
Mas eu, quando estiver com medo, confiarei em ti. Sl 56:3
Como posso lidar com o medo quando se enfrenta desafios?
Lidar com o medo quando enfrentamos os desafios diários é uma jornada pessoal, mas aqui nessa parashá encontramos algumas estratégias que podem ajudar. Vejam o que Yehoshua e Kalev dizem:
Somente não sejam rebeldes contra o Eterno. E não tenham medo do povo da terra, porque, nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Eterno está conosco. Não tenham medo deles! Nm 14:9
Autoconhecimento - Reconheça seus medos e ansiedades. Identifique o que está causando o medo e por quê. Pergunte-se: “O que estou realmente temendo? É realista?” Aprendemos com a Torah que precisamos ser calmos e equilibrados para não permitir que o medo atrapalhe na caminhada.
Perspectiva Positiva - Refreie seus pensamentos, não permita que a ansiedade tome o lugar da confiança no Eterno. No lugar de focar no que pode dar errado, concentre-se no que pode dar certo, ou seja, no cumprimento da Torah e nas promessas do Eterno aos obedientes. Lembre-se de experiências anteriores em que você superou desafios, como por exemplo, o fato de ter conseguido chegar onde está hoje.
Informação e Preparação - Quanto mais você souber sobre o desafio, menos assustador ele parecerá. Pesquise, aprenda e se prepare. Eis a necessidade de se cumprir o mandamento de estudar a Torah e praticá-la, é uma preparação para enfrentar os momentos difíceis. O conhecimento e a confiança no Eterno Conhecimento reduz o medo.
Aplicação Prática
Sempre dizemos que não podemos apenas estudar sobre os mandamentos, mas que devemos aplicá-los em nossas vidas praticando-os. Então, como podemos aplicar esses conceitos em nossa vida cotidiana?
- Enfrentar os Desafios: Quando nos deparamos com obstáculos, podemos lembrar da coragem de Kalev e enfrentar as dificuldades com fé e determinação.
- Tomar Iniciativa: A ousadia nos leva a agir, mesmo quando a situação parece desfavorável. Às vezes, é necessário dar o primeiro passo sem garantias absolutas.
Reflita sobre momentos em que você precisou ser corajoso ou ousado. Como essas atitudes impactaram sua vida e as vidas dos outros? Como podemos cultivar essas qualidades em nosso relacionamento com D’us e com os outros? Lembre-se de que a coragem e a ousadia não são apenas virtudes históricas, mas também princípios que podem nos guiar hoje. Kalev, ao se deparar com a hostilidade dos outros espiões, silenciou o povo e declarou:
“Então Kalev fez o povo calar-se perante Moshêh e disse: Subamos e tomemos posse da terra. É certo que venceremos!” Números 13:30.
Enfrentamos desafios em nossa vida cotidiana, incertezas, medos, relacionamentos, saúde, trabalho e etc. E nesses momentos, se estamos vivendo em obediência e cumprindo os mandamentos do Eterno podemos ser corajosos e ousados em nossa fé, utilizando das seguintes ferramentas:
- Orar com confiança - Quando enfrentar desafios, ore com fé, acreditando que D’us está ao seu lado. Peça coragem para enfrentar o desconhecido.
- Perdoar e buscar reconciliação - Assim como Yeshua ensinou, pratique o perdão. Isso demonstra amor e compaixão. .
- Persistir mesmo diante de obstáculos – Seja persistentes e tome decisões corajosas, mesmo quando outros desencorajam. Seja como Kalev e Raabe, que acreditou na promessa divina. Quando encontrar obstáculos, persista. Lembre-se de que D’us está com você, independentemente das circunstâncias.
- Acreditar que D’us está conosco, independentemente das circunstâncias - Assim como os israelitas acreditaram na conquista da Terra Prometida, acredite que suas lutas terão um resultado positivo.
Ao observar as ações práticas mencionadas acima, fica claro para todos que as nossas ações falam mais alto que palavras. Seja corajoso em suas atitudes, mostrando sua confiança em D’us. Inspire outros com sua obediência, fé e coragem. Mostre que é possível viver uma vida de propósito e confiança. Lembre-se de que a aplicação desses princípios aprendidos com a Torah é um processo contínuo, que chamamos de teshuvah. À medida que você pratica os mandamentos da Torah, eles se tornarão parte integrante de seu caráter sendo cada vez mais perceptível em sua vida durante sua jornada espiritual, sou seja, durante sua vida com o Eterno seguindo os passos do messias Yeshua.
Concluindo nosso estudo, a Parashá Shelach Lechá nos lembra da importância da confiança, da perspectiva da coragem e da ousadia em nossa jornada espiritual. Que possamos aprender com os erros dos espias e seguir o exemplo de Kalev, Yehoshua e Raabe.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)