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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Estudo da Parashá Chayei Sarah - Você é um Eliezer?


 

Estudos da Torá

Parashá nº 05 – Chayei Sarah (A vida de Sara)

Bereshit/Gênesis 23:1-25:18

Haftará (separação) 1Rs 1:1-31 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Mt 8:19-22 e 27:3-10


Você é um Eliezer?


Eliezer, o servo de Avraham, é uma das figuras mais notáveis e exemplares entre os servos mencionados nas Escrituras Sagradas. Embora com um grande significado, seu nome aparece poucas vezes, sua fidelidade, discernimento e submissão ao propósito do Eterno, confirmam sua identidade, e o tornam um modelo de confiança e serviço.

Nesse contexto, vemos que a relação entre Eliezer, o servo fiel de Avraham, e os servos do Eterno que seguem o testemunho do Mashiach Yeshua é profundamente simbólica e instrutiva. A missão de Eliezer em Bereshit 24 não é apenas um relato histórico, mas uma revelação de princípios eternos que descrevem o papel e a postura dos que servem ao Eterno com pureza de coração e cumprem Sua vontade com obediência total. Venha comigo nesse estudo e no final poderá responder se, “você é um Eliezer?”


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Nesta semana estudamos a parashá Chayei Sarah, que inicia com o relato da morte de Sarah, aos cento e vinte e sete anos, e a dedicação de Avraham em encontrar um local digno para seu sepultamento. Ele negocia com Efron, o hitita, e compra por alto preço a caverna de Mearat Hamachpelá, em Hebron, tornando-se o primeiro pedaço de terra realmente adquirido na terra de Kenaan, a mesma que o Eterno havia prometido a ele e à sua descendência. Após sepultar Sarah, Avraham volta sua atenção para seu filho Yitschak, enviando seu servo mais fiel, Eliezer, até Aram Naharayim, sua terra natal, para buscar uma esposa entre seus parentes. Eliezer ora ao Eterno pedindo um sinal para reconhecer a mulher certa, e sua oração é atendida por Rivka, que demonstra bondade e generosidade ao oferecer água a ele e aos seus camelos. Reconhecendo a mão do Eterno no acontecimento, Eliezer leva presentes à família de Rivka e a convida para retornar com ele. Ela aceita e, ao encontrar Yitschak, é recebida por ele como esposa, trazendo consolo após a perda de sua mãe. A parashá conclui com o relato dos últimos anos de Avraham, sua nova união com Keturá, os filhos que teve com ela, e sua morte aos cento e setenta e cinco anos. Ele é sepultado ao lado de Sarah, na caverna de Macpelá, por Yitschak e Yishmael. Esta porção nos ensina sobre confiança, fidelidade e o cumprimento das promessas do Eterno no tempo devido.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Conforme mencionado na introdução deste estudo, Eliezer, o servo de Avraham, é uma das figuras mais notáveis e exemplares entre os servos mencionados nas Escrituras Sagradas, o TaNaK. O nome desse servo, Eliezer - אֱלִיעֶזֶר - vem do hebraico e tem um significado profundo e revelador. Ele é formado por duas partes:

  • Eli” (אֵלִי) - que significa “meu Elohim” ou “meu poderoso”;

  • Ezer” (עֶזֶר) - que significa “ajuda”, “auxílio” ou “socorro”.

Portanto, o significado literal de Eliezer é “Meu Elohim é auxílio” ou “O Eterno é minha ajuda”. Interessante que este é o mesmo nome do Amigo de Yeshua, que tinha como irmãs, Marta e Miriam, e que fora ressuscitado pelo messias de pois de estar morto há quatro dias. Reflita um pouco nesse fato e em algumas possíveis relações entre eles.

Esse nome expressa a essência da confiança que o servo de Avraham demonstrava em toda sua conduta. Ele vivia de acordo com o próprio significado de seu nome, dependendo totalmente da ajuda do Eterno, reconhecendo que toda direção, sucesso e proteção vinham dEle. Esse mesmo nome também aparece em outras partes das Escrituras. Por exemplo, Moshe chamou um de seus filhos de Eliezer, dizendo:

Porque o Elohim de meu pai foi meu auxílio e me livrou da espada de Faraó. Shemot 18:4

Assim, tanto o Eliezer de Damesek, servo de Avraham, quanto o Eliezer filho de Moshe, carregam em seu nome uma mesma declaração de confiança: o Eterno é quem sustenta, livra e conduz os que nEle confiam. Por isso, podemos perceber que este é um nome que representa dependência, fidelidade e submissão, e estas são características que definem os verdadeiros servos do Eterno em todas as gerações.

Embora seu nome apareça poucas vezes nas porções que tratam da história de Avraham, sua fidelidade, discernimento e submissão ao propósito do Eterno o tornam um modelo de confiança e serviço.

Em Bereshit 15:2, Avraham o chama de Eliezer de Damesek (Damasco), indicando que ele provavelmente nasceu ou viveu naquela cidade. Nos tempos de Avraham, por volta do segundo milênio a.E.C, Damesek já era uma cidade importante e estabelecida, uma das mais antigas do mundo continuamente habitadas. Na passagem acima, nosso Patriarca menciona que, na ausência de um filho, Eliezer seria o herdeiro de sua casa. Isso revela o nível de confiança e importância que ele tinha dentro da família de Avraham. Era mais do que um servo, era o administrador de todos os bens de seu senhor, alguém de extrema lealdade e sabedoria. E isso nos ensina como devemos ser no meio do povo do Eterno. O Eterno deve poder confiar em nós, da mesma forma que o patriarca confiava em seu servo.

Em Bereshit 24, nessa parashá, vemos seu caráter sendo revelado de forma mais profunda, quando Avraham o envia em uma missão sagrada, que era, encontrar uma esposa para Yitschak. A responsabilidade era enorme, pois o futuro da promessa do Eterno passava por essa escolha. Eliezer, consciente da grandeza da tarefa, não confia em sua própria inteligência, mas busca a orientação direta do Eterno, conforme lemos:

Eterno, Elohim de meu senhor Avraham, faze que hoje suceda bem comigo e mostra benevolência para com meu senhor Avraham” Bereshit 24:12

Suas palavras ali diante do poço revelam seu coração temente e dependente do Eterno. Sua oração foi respondida de maneira imediata, e Rivka apareceu cumprindo exatamente o sinal pedido: oferecer água a ele e também aos camelos. Eliezer reconhece o agir do Eterno com humildade e gratidão, curvando-se e louvando:

Bendito seja o Eterno, Elohim de meu senhor Avraham, que não retirou Sua benevolência e Sua verdade de meu senhor” Bereshit 24:27.

Essa reação mostra sua sensibilidade espiritual e sua fidelidade à missão recebida.

Outro aspecto marcante em Eliezer é sua total submissão à vontade de Avraham e à direção do Eterno. Mesmo quando é recebido com honra pela família de Rivka, ele não se deixa distrair, antes de comer ou descansar, insiste em cumprir sua missão e relatar o propósito de sua viagem. Isso demonstra zelo, foco e compromisso com o chamado que lhe foi confiado. E torna-se um exemplo para todos nós, como servos do Eterno e seguidores do testemunho do messias.

Eliezer é também símbolo de um servo fiel que age como extensão da vontade de seu mestre. Nos ensinamentos de Yeshua, vemos ecos desse mesmo princípio, o valor do servo que, mesmo tendo autoridade delegada, permanece humilde, obediente e confiante no plano do Eterno. Assim como Eliezer buscou a esposa para o filho de Avraham, os emissários do Mashiach foram enviados ao mundo para reunir a casa de Yisrael e chamar um povo para se unir ao Filho Prometido, Yitschak sendo um símbolo dessa linhagem de promessa.

Sendo assim, podemos perceber a relação existente entre Eliezer, o servo fiel de Avraham, e os servos do Eterno que seguem o testemunho do Mashiach Yeshua, pois é profundamente simbólica e instrutiva. A missão de Eliezer em Bereshit 24 não é apenas um relato histórico, mas uma revelação de princípios eternos que descrevem o papel e a postura dos que servem ao Eterno com pureza de coração e cumprem Sua vontade com obediência total. Vejamos então alguns pontos importantes a serem observados.


1. Eliezer: o servo que age sob autoridade e não busca glória própria

Eliezer foi enviado por Avraham com uma missão de grande responsabilidade, encontrar uma esposa para Yitschak, o herdeiro da promessa do Eterno à Avraham. Normalmente, uma pessoa com caráter duvidoso pegaria qualquer jovem e levá-la. Entretanto, este servo não age por si mesmo, não decide por vontade própria, nem busca reconhecimento. Sua função é representar fielmente seu senhor e cumprir seu propósito. Deste ponto de vista Eliezer também aponta para Yeshua, pois ao contrário do que é ensinado pela teologia, não arroga ser divino, não decide e age em vontade própria e nunca buscou reconhecimento para si mesmo, mas sempre agiu fielmente buscando a vontade do Eterno. Da mesma forma, os servos do Eterno que seguem o testemunho de Yeshua, pois não devem falar de si mesmos, mas devem anunciar as palavras e as instruções do Eterno. Yeshua, o Mashiach, ensinou que o verdadeiro servo é aquele que faz a vontade do Pai e não busca a própria honra. Assim como Eliezer disse:

O Eterno fez prosperar o caminho do meu senhor” Bereshit 24:56

Também os servos do Eterno reconhecem que toda vitória vem dEle e não de si mesmos. Essa postura reflete o que Yeshua ensinou:

O maior entre vós seja como o que serve” Matitiahu 23:11.

O servo verdadeiro se alegra em ver o propósito do Eterno cumprido, ainda que seu próprio nome não seja exaltado, pois entende que a glória é do Eterno.

2. Eliezer: guiado pela confiança e pela oração

Antes de agir, Eliezer busca a direção do Eterno. Sua oração junto ao poço é sincera e prática, ele pede que o Eterno revele claramente quem é a escolhida. Isso mostra sua dependência total da vontade divina e sua confiança firme de que o Eterno guia os passos dos que O servem.

O Chumash Plaut, no comentário sobre este trecho, diz que esta é a primeira oração por orientação divina nas Escrituras, e ela vem do coração e da boca de um indivíduo quase anônimo. Podemos aprender a força do ensino e da prática de Avraham a essa altura da vida, devido a emunah desse homem que era seu servo fiel, mas tornara-se também servo fiel do Eterno, o Elohim de seu senhor.

O comentário desse Chumash, ainda diz que Eliezer pede ao Eterno um sinal, não um milagre. Ele não usa magia, nem adivinhação e não tenta forçar a mão do Eterno. Ele fez o que as pessoas que confiam no Eterno fazem ainda hoje ao orar, buscou por uma manifestação externa do divino, através da confiança na ação do Eterno.

Do mesmo modo, os servos do Eterno, guiados pelos ensinos de Yeshua, não confiam em estratégias humanas, mas buscam discernimento do Alto. O Mashiach ensinou:

Buscai primeiro o Reino do Eterno e Sua justiça” Matitiahu 6:33.

A missão de Eliezer só teve êxito porque foi guiada pela oração e pela confiança; e assim também, os discípulos de Yeshua aprendem a agir somente após buscar a direção do Eterno em todas as coisas. E eu te faço uma pergunta agora. Onde está a direção do Eterno para todas as coisas em nossas vidas? A resposta é na Torá.


3. Eliezer: mensageiro fiel que prepara a noiva para o filho prometido

O ponto mais profundo dessa relação está na natureza simbólica da missão de Eliezer. Ele foi enviado para buscar Rivka, a noiva preparada para Yitschak, o filho da promessa. Ele não escolhe por aparência ou posição, mas por caráter, uma mulher bondosa, generosa e disposta a servir. Esta mulher representa a congregação nazarena.

Essa imagem reflete o papel dos servos do Eterno nos dias atuais. Avraham aponta para o Eterno, Eliezer aponta para Yeshua e os remanescentes resgatados e enxertados que buscam os perdidos, que por sua vez apontam para Rivkah, que vive em meio ao paganismo de Haram, mas deseja se unir ao povo do Eterno, através de seu filho o messias.

Assim como Eliezer preparou e conduziu Rivka até Yitschak, os servos do Eterno que seguem o testemunho de Yeshua são chamados para preparar o povo para o encontro com o Mashiach, não pela força, mas pelo testemunho fiel, pela pureza e pela obediência aos mandamentos do Eterno.

Yeshua enviou seus talmidim ao mundo com a mesma missão: chamar um povo para a fidelidade, ensinar os caminhos do Eterno e conduzir os corações à aliança eterna. Assim como Eliezer conduziu Rivka com presentes e palavras de bênção, os servos do Eterno conduzem outros por meio das palavras da Torá e do exemplo de vida em obediência.

Concluindo este estudo, Eliezer representa o modelo perfeito do servo do Eterno, aquele que é fiel, obediente, humilde e guiado pela confiança. Vemos Yeshua na vida desse servo. Sua vida é um espelho da missão dos que seguem o testemunho de Yeshua, isto é, servir com fidelidade, agir sob autoridade divina e preparar o povo para o cumprimento das promessas do Eterno. Eliezer não buscou recompensa, mas se alegrou em ver o plano do Eterno cumprido. Da mesma forma, o verdadeiro servo hoje vive para que o nome do Eterno seja exaltado e para que o testemunho do Mashiach produza frutos de justiça e obediência.

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Que o Eterno lhes abençoe.


Moshê Ben Yosef

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Estudo da Parashá Vayerá - O Favor do Eterno.

 



Estudos da Torá

Parashá nº 04 – Vayera (E apareceu)

Bereshit/Gênesis 18:1-22:24

Haftará (separação) 2Rs 4:1-37 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Lc 17:26-37; Rm 9:6-9


O Favor do Eterno.


Há momentos em que a alma humana se vê mergulhada em silêncio e medo. Há dias em que o coração se inquieta, e a mente se pergunta: “Por que o Eterno se calou comigo?” Quando, na verdade, é nesse aparente silêncio que Ele mais fala. A parashá Vayera revela uma das faces mais sublimes e, ao mesmo tempo, mais misteriosas do relacionamento entre o Eterno e o homem: o contraste entre a ira que desperta e o favor que vivifica. Entre o rugido do leão e o orvalho sobre a erva, o rei Shelomoh nos ensina que o favor do Eterno é vida, e Sua ira, ainda que terrível, é muitas vezes um chamado à transformação, uma oportunidade de fazer teshuvá.

Não há favor sem prova, nem vida sem confronto interior. Assim como o sol precisa ferir a terra para que ela floresça, também o Eterno permite que Sua luz exponha as sombras do homem, não para destruí-lo, mas para restaurá-lo. É o que aprenderemos neste estudo da Parashá Vayerá.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Na parashá Vayera, o Eterno aparece a Avraham nas planícies de Mamrê, enquanto ele está sentado à entrada de sua tenda. Avraham vê três malachim (mensageiros) e, com grande hospitalidade, corre para recebê-los, oferece-lhes água, pão e um bezerro preparado com pressa. Um dos mensageiros anuncia que Sarah terá um filho, mesmo em sua velhice. Sarah ouve e ri, mas o Eterno confirma que nada é impossível para Ele.

Em seguida, o Eterno revela a Avraham que pretende destruir Sedom e Amorah por causa de sua grande maldade. Avraham intercede, pedindo que as cidades sejam poupadas se nelas houver justos. O Eterno aceita sua intercessão, prometendo poupar o lugar se encontrar dez justos. Dois malachim vão até Sedom, onde Lot os recebe em sua casa e os protege dos homens violentos da cidade. Ao amanhecer, eles tiram Lot, sua esposa e suas filhas, e o mandam fugir. O Eterno faz chover enxofre e fogo sobre Sedom e Amorah, destruindo-as completamente. A esposa de Lot olha para trás e se torna uma estátua de sal.

Lot se refugia em uma caverna com suas filhas, que, pensando que toda a terra havia sido destruída, embriagam o pai e geram filhos dele: Moav e Amon, antepassados dos moavitas e amonitas.

Avraham segue sua jornada e se estabelece em Gerar. O rei Avimelech toma Sarah, mas o Eterno o adverte em sonho, e ele a devolve ilesa. Em tempo determinado, Sarah dá à luz Yitschaq, o filho da promessa. Oito dias depois, Avraham o circuncida conforme o mandamento do Eterno.

Quando Yitschaq cresce, Sarah vê Ishmael zombando e pede que Avraham o mande embora com Hagar. O Eterno diz a Avraham que escute Sarah, pois Yitschaq é o filho da promessa, mas também promete fazer de Ishmael uma grande nação. No deserto, Hagar e Ishmael quase morrem de sede, mas o Eterno ouve o clamor do menino e lhes mostra um poço.

Por fim, o Eterno prova Avraham, pedindo que ofereça Yitschaq em sacrifício no monte Moriá. Avraham obedece sem hesitar, mas no momento em que ergue o cutelo, o Eterno o impede e provê um carneiro preso pelos chifres. Por causa de sua obediência, o Eterno reafirma a bênção sobre Avraham e sua descendência, prometendo que seriam tão numerosos como as estrelas dos shamaym e como a areia do mar.

Esta parashá revela a justiça, a misericórdia e a fidelidade do Eterno, mostrando que Ele prova os corações daqueles que confiam n’Ele e cumpre tudo o que promete


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Vamos iniciar o estudo dessa porção da Torá com um texto do TaNaK que está intimamente ligado ao princípio demonstrado nessa parashá.


A ira de um rei é como o rugido de um leão; mas seu favor é como orvalho no campo. Mishlei (Pv) 19:12.


Segundo Bruno Summa, em Sha’arei Toráh Bereshit 2, Sh’lomoh Hamelech, o Rei Salomão, usa duas hipérboles para explicar o comportamento de um rei frente aos homens que causam sua ira e frente aos homens que merecem o seu favor. E portanto, através dessas palavras, o sábio Sh’lomoh, estaria ensinando que o Eterno, durante Sua ira, se comporta de duas formas diferentes. A primeira, ocorre quando Ele se ira com alguém e não toma nenhuma ação contra essa pessoa imediatamente, nessa ocasião, essa pessoa experienciará medo e uma certa falta de paz interna comparáveis ao indivíduo que sente medo ao ouvir o rugido de um leão. A segunda ocorre quando Hashem toma alguma ação contra o homem em sua ira; nesse caso o resultado não é outro senão a morte, conforme Salomão também ensina:


A ira do rei é o mensageiro da morte. Mishlei (Pv) 16:14


Assim entendemos que, se por um lado a ira de Hashem causa medo e morte, de outro, Seu favor traz paz e vida. Essa comparação descreve a relação entre o Eterno e o homem. Os textos de Mishlei que vimos acima, descrevem a dualidade do caráter divino com clareza. Nessa simples metáfora, descrita pelo sábio, o Eterno se revela como Rei, justo e compassivo, cujos caminhos não são de destruição, mas de correção e amor. O rugido do leão, citado por Summa, anuncia o temor e o juízo; o orvalho traz refrigério e vida. Assim, a ira de HaShem é a expressão de Sua justiça, e Seu favor, expressão de misericórdia.

Na parashá Vayera, vemos ambos os aspectos manifestos:

  • - A ira do Eterno se manifesta sobre Sedom e Amorah, onde a corrupção do homem havia chegado ao limite (Bereshit 18–19).

    - O favor do Eterno repousa sobre Avraham, Sarah, Lot, e sobre todos aqueles que ainda podem ser alcançados pela Sua compaixão. O Eterno diz a Avraham:

O clamor de Sedom e Amorah é grande, e o seu pecado é muito grave. Bereshit 18:20.

E ainda assim, o Eterno ouve a intercessão de Avraham, o que mostra que Sua ira não é destruição imediata, mas um chamado ao arrependimento. Tal como o rugido do leão desperta o medo, o Eterno desperta o homem pela angústia, pelo temor e pela consciência da necessidade de se voltar a Ele.

A parashá Vayerá, cujo nome significa “E apareceu”, nos mostra essa manifestação do Eterno diante de Avraham, o homem que aprendeu a viver entre o temor e o favor.

O texto nos conduz da ternura da promessa feita a Sarah até a severa destruição de Sedom e Amorah. Entre a risada de um nascimento e o fogo que consome as cidades corruptas, compreendemos que a justiça e a misericórdia do Eterno não são opostas, mas duas faces de um mesmo propósito, isto é, restaurar o homem à Sua presença.


1. A ira que Desperta

Ao contrário do que muitos podem pensar, a ira do Eterno não é capricho divino, mas consequência da ordem violada, do mandamento quebrado. Quando o homem se afasta do caminho da verdade, o Eterno se revela como o rugido do leão, despertando pelo temor aquele que se tornou surdo ao chamado da consciência. Foi assim em Sedom, quando o clamor do oprimido chegou até os shamaym.

O clamor de Sedom e Amorah é grande, e o seu pecado é muito grave. Bereshit 18:20

Antes de agir, o Eterno revela a Avraham o que está para fazer. Essa revelação é, por si só, um ato de misericórdia, um convite para que o justo interceda. Eis aí, o chamado para o justo cumprir seu papel. A ira do Eterno não se manifesta sem aviso, mas como um rugido que antecede a destruição, como o toque do shofar avisando sobre o exército inimigo se aproximando, dando ao homem a chance de acordar e se preparar.

Esse mesmo rugido ecoa, por exemplo, na vida de Yonah, quando tenta fugir da missão divina e é lançado ao mar e dali ao ventre do peixe; em Eliyahu, que, abatido, se esconde na caverna; e em Gideon, que teme sua própria incapacidade diante do chamado. Todos eles provaram da “morte” física ou psicológica, e do medo profundo, não como castigo, mas como instrumento de despertar.

O medo, a ansiedade, o colapso da alma, quando não resultam da maldade, mas do afastamento inconsciente da vontade do Eterno, são muitas vezes, sinais de Seu chamado. O Eterno ruge dentro do coração humano, para que ele volte ao caminho, e reconheça que há um propósito maior que o próprio entendimento.

2. O Favor que Vivifica

Para todo aquele que se arrepende, após o rugido vem o orvalho. Após a noite vem a aurora. Assim o Eterno se revelou a Avraham em Vayera:

E a ele apareceu o Eterno. Bereshit 18:1

Essa inversão da ordem, colocando “a ele” antes do Nome do Eterno, não é casual, como sempre dizemos, nada na Torá é aleatório, e quando ocorre certas alterações, devemos buscar mais. Antes, o Eterno aparecia a Avraham; agora, Ele aparece por meio de Avraham. Isso significa que, depois da obediência ao mandamento do Brit Milah, Avraham se torna um canal, uma morada da presença divina na terra.

Bruno Summa, ao comentar este verso inicial de Vayerá, diz que esses versos abordam grandes mistérios que justificam tudo que ocorreria na vida de Avraham desse momento em diante; o autor continua e diz que, logo no primeiro verso a Torá nos mostra o estado espiritual ou de obediência, que Avraham foi capaz de alcançar e como um homem comum, que segue seu exemplo é capaz de atingir à mesma elevação que ele atingiu.

Por isso, podemos entender que o favor do Eterno não é apenas bênção exterior, mas é transformação interior. É quando o homem, purificado pela obediência, se torna reflexo do Criador. Avraham, ao oferecer hospitalidade aos três mensageiros, ao interceder por Sedom, ao entregar Yitschaq no monte Moriá, demonstra que o favor divino não se conquista com palavras, mas com confiança firme e ação.

O profeta Hoshea confirma esse padrão:

Vinde, e tornemos ao Eterno; porque Ele nos despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Hoshea 6:1

Aquele que sente a dor da disciplina divina e faz teshuvá no lugar de se fechar, encontra a cura. O favor do Eterno é o orvalho que desce sobre o coração quebrantado, trazendo vida onde antes havia aridez.


3. O Propósito da Vida

Nessa sidrá ou parashá, vemos o favor do Eterno manifestar-se também em Sarah, que concebe Ytschak, cumprindo a promessa feita a Avraham. Percebemos a vida brotando, através de cura, onde antes havia esterilidade, o orvalho sobre a erva seca.

O mesmo que aconteceu quando Avraham obedece ao mandamento da Brit Milah, ela alcança o mais alto grau de ligação com o Eterno. Como vimos acima, ao obedecer as palavras do Eterno, o homem se torna recipiente da presença divina, um descanso para a Shekihnah nesta realidade. Como está escrito:

Habitarei entre eles, e serei o seu Elohim. Shemot 29:45

Quando o homem santifica seu corpo e sua conduta pelos mandamentos, torna-se um canal da vontade divina sobre a terra, agora e no futuro. Assim, o “favor do Rei” é a própria vida de conexão com o Eterno.

O rei David compreendeu esse segredo:

Porque a Sua ira dura apenas um momento, mas o Seu favor é para a vida. Tehillim 30:6

A vida, portanto, não é apenas existir, mas tornar-se morada do favor do Eterno. Cada mandamento observado, cada ato justo, cada pensamento puro, santifica uma parte do corpo e da alma, até que o homem inteiro se torne recipiente da vontade divina. Por isso, é tão importante refrearmos nossos desejos carnais, e rejeitarmos o que não é do agrado do Eterno.

Kohelet resume essa verdade com perfeição:

Teme a Elohim e guarda os Seus mandamentos, porque isto é a obrigação de todo homem. Kohelet 12:13

Não é uma tarefa restrita a um povo ou tempo; é a vocação universal do ser humano. Segundo Bruno Summa, na Torah existem 248 mandamentos positivos e 365 mandamentos negativos, da mesma forma que os rabinos afirmam que no corpo humano há 248 partes e 365 tendões, de forma metafórica. Isso mostra que cada mandamento observado por uma pessoa, leva a correspondente parte de seu corpo físico, a se tornar santo e purificado. Sobre isso, Eclesiastes nos diz: “tema a Adonai”, isso é, tema a não quebrar aos mandamentos negativos, e “observe aos Seus mandamentos”, isso é, tenha certeza em observar aos Seus mandamentos positivos da melhor forma possível, pois isso é a obrigação de todo homem. Aqui não diz “todo judeu”, nem “todo israelita”, nem “todo sacerdote”, mas diz “todo homem”, não há exclusão de quem deve observar a Torah. Assim, se o povo escolhido é Yisrael, todos devem adentrar a este povo.

Quando o homem vive de modo ético, humilde e obediente, ele se alinha à harmonia da criação. Ele deixa de ser inimigo da ordem divina e passa a ser instrumento de revelação do próprio Criador. Esse é o verdadeiro significado da vida, ser uma “carruagem” da Shekhinah, o local onde o favor do Eterno repousa e se manifesta neste mundo.

Os profetas constantemente repetem esse mesmo padrão: ira que desperta, misericórdia que restaura. Conforme já vimos acima em Hoshea 6:1–2. E em Yeshayahu, o mesmo tema:

Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei. Yeshayahu 54:7

A ira do Eterno é sempre por um instante, pois Seu propósito é a restauração do homem à Sua vontade. Quando o povo se desvia, Ele “ruge como um leão”, conforme vemos através do profeta Hoshea:

Eles seguirão o Senhor; ele rugirá como leão. Quando ele rugir, os seus filhos virão tremendo desde o Ocidente. Oséias 11:10.

Perceba, o rugido não é para destruir, mas para chamar de volta os filhos dispersos.

Nos Escritos Nazarenos, Yeshua ensina o mesmo princípio, fiel ao TaNaK:

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Mattityahu 5:4

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Elohim. Mattityahu 5:8

O sofrimento ou a provação é a forma pela qual o Eterno desperta o homem para o arrependimento e a purificação. Shaul também declara:

A tristeza segundo Elohim produz arrependimento para a vida. 2 Co 7:10

E ainda:

Pois o Eterno disciplina aquele a quem ama. Hb 12:6

Assim, o favor do Rei, que é vida, vem após a disciplina, e a ira momentânea é o instrumento da misericórdia. A pureza não é ausência de erro, mas disposição constante de retornar ao caminho, de fazer teshuvá. O favor do Eterno repousa sobre aqueles que buscam o arrependimento e a retidão.

Então aprendemos que a “vida” não é apenas existência, mas a capacidade de se relacionar com o Eterno nesta realidade. Isso é coerente com as palavras do profeta:

Eu os criei para a Minha glória. Yeshayahu 43:7

E observe ainda, o ensino de Yeshua aos seus talmidim:

Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos shamaym. Mattityahu 5:16

O homem foi criado para refletir a glória do Eterno. Quem vive em conformidade com os mandamentos, tornando-se puro em corpo e ação, torna-se a morada da presença do Eterno, a carruagem da Shekhinah sobre a terra.

Concluindo nosso estudo, tivemos a oportunidade de entender que, o favor do Eterno é a respiração da alma humana. Ele não é o fim de uma jornada, mas o começo de uma nova forma de existir. É o orvalho que desce após a noite do medo, o alívio que vem depois do rugido.

A ira desperta, o favor transforma. O medo nos chama à consciência, mas o favor nos chama à comunhão. Ambos nascem do mesmo amor, pois o Eterno deseja que o homem viva, não apenas respire, mas cumpra o propósito pelo qual foi criado.

Quem sente o rugido e o transforma em busca, vive. Quem recebe o orvalho e o transforma em gratidão, floresce. E assim, cada um que teme o Eterno e guarda os Seus mandamentos se torna o descanso de Sua presença sobre a terra, o sinal vivo de que Sua ira dura apenas um momento, mas Seu favor é para a vida.

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Que o Eterno lhes abençoe.


Moshê Ben Yosef