Estudos da Torá
Parashá nº 38 – Korach (Corá)
Bamidbar/Números 16:1-18:32
Haftará (separação) 1Sm 11:14-12:22 e
B’rit Hadashah (Aliança Renovada) 2Tm 2:8-21; Jd 1-25
Como servir ao Eterno sem o Templo físico?
Como servir ao Eterno sem um Templo físico? Esse tema tirado da Parashá Korach nos mostra que o serviço ao Eterno nunca dependeu de estruturas, mas sim de ordem, santidade e obediência. Quando a terra se abriu para engolir os rebeldes, não foi apenas um juízo, foi uma lição eterna: HaShem zela por Sua ordem e escolhe quem O serve. Hoje, sem Mikdash, ainda somos chamados a servi-lo com temor e responsabilidade. Mas... como? Esse estudo profundo revela como o serviço sagrado continua em nossos dias, com o coração como altar, nosso corpo e nosso lar como Mishkan, e a vida como oferta. Leia e descubra o peso e a honra de pertencer ao Eterno.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Korach, um levita da linhagem de Kehat, se rebela contra a autoridade de Moshe e Aharon, junto com Datan, Aviram (da tribo de Reuven) e 250 homens de renome entre Yisrael. Eles alegam que “toda a congregação é santa” e questionam por que Aharon e Moshe se destacam entre o povo.
No entanto, a motivação real deles era a inveja, o desejo pelo sacerdócio e por isso promovem uma rebelião contra a ordem estabelecida pelo Eterno.
Moshe cai sobre seu rosto em terra, e propõe uma prova: cada um dos rebeldes oferecerá incenso ao Eterno. Aharon também. O Eterno então faz a terra abrir-se e engolir Korach, Datan, Aviram e suas famílias vivas. Depois, fogo consome os 250 homens que ofereceram incenso indevidamente.
Mesmo após esse juízo, o povo murmura contra Moshe e Aharon, acusando-os de matar o povo do Eterno. Uma praga começa a se espalhar, e Aharon, com incensário, corre entre os vivos e os mortos, intercedendo e cessando a praga.
Para confirmar a escolha divina, HaShem ordena que as tribos tragam varas. A vara de Aharon floresce, brota flores e dá amêndoas, mostrando quem foi escolhido para o serviço sagrado.
A parashá termina com instruções sobre o papel exclusivo dos filhos de Aharon no altar e dentro do Mishkan, o serviço dos levitas como auxiliares, o sustento dos levitas através dos dízimos e a oferta que os levitas devem dar dos dízimos recebidos (o dízimo dos dízimos).
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
O Eterno é justo em todos os seus caminhos, e fiel em todas as suas obras. Podemos observar que após a rebelião de Korach, o Eterno reforçou com mais clareza ainda os mandamentos referentes ao serviço sagrado, especialmente dos levitas e dos sacerdotes, os filhos de Aharon. Isso não foi feito por causa de favoritismo, mas para preservar a vida do povo e manter a santidade do serviço. Vejamos isso de forma um pouco mais aprofundado.
Após a terra engolir os rebeldes e o fogo consumir os 250, ainda houve murmuração entre os filhos de Yisrael. Eles diziam:
Vós tendes matado o povo do Eterno! Bamidbar 17:6
O Eterno então, devido a essas palavras, ordena que cada líder tribal traga uma vara, e a de Aharon floresce:
E eis que a vara de Aharon, pela casa de Levi, floresceu; e brotou flores, e produziu amêndoas maduras. Bamidbar 17:8
Fazendo a vara de Aharon florescer e dar fruto, o Eterno mostra a todos que a vida e o fruto só vêm de quem Ele escolheu. O serviço no Mishkan não é por mérito humano, mas por ordem divina. Quem tenta servir sem ser designado, produz morte. Quem serve conforme o Eterno ordena, produz fruto e vida. A função dos levitas e dos kohanim não é privilégio, é peso de responsabilidade. Eles levam a iniquidade do povo sobre si, se houver transgressão. Isso não é para qualquer um. Note que eu estou falando sobre o serviço no Mishkam sempre no presente, apesar de não haver mais templo físico, e isso é proposital, pois está dentro do nosso tema de estudo. Siga em frente e entenda mais.
Observe o texto abaixo:
... e o estranho que se aproximar será morto. Bamidbar 18:7
A palavra “e o estranho”, em hebraico וְהַזָּר – vehazar - aqui se refere a qualquer pessoa que não seja da linhagem de Aharon. Mesmo os levitas não podiam tocar no altar ou entrar no Kodesh HaKodashim, pois era uma tarefa sacerdotal. Isso nos mostra que:
O serviço sagrado é santo.
Cada um deve conhecer o seu lugar designado.
O zelo do Eterno pela ordem e pela santidade é absoluto.
Observemos mais um texto:
A ti dei, como porção, todos os sagrados dons... para que nunca mais os filhos de Yisrael se aproximem da tenda da reunião, para não levarem pecado e morrerem. Bamidbar 18:19-22
Pelo texto, confirmamos que o Eterno estabeleceu os dízimos e as ofertas consagradas para sustentar os que ministram no Mishkan. Isso é justo, pois eles dedicam a vida ao serviço. Lembrando que atualmente ninguém pode receber dízimos como se fossem levitas e sacerdotes. Se há alguma congregação que se reúne em algum local, que gera despesas, essas podem ser divididas entre os membros, mas nunca cobrar dízimos alegando que precisa pagar as contas, etc.
Mas os levitas, por sua vez, também devem separar o dízimo dos dízimos:
E aos levitas falarás quando tomardes dos filhos de Yisrael os dízimos da produção deles que dei a vocês como herança, então dareis deles a oferta do Eterno, o dízimo dos dízimos. Bamidbar 18:26
Assim, podemos aprender algumas lições com esses mandamentos que HaShem reforçou após a punição de Korach e seus seguidores, observe abaixo:
- Serviço sagrado é chamado, não escolha pessoal. Quem tenta se intrometer, principalmente por interesses escusos, como Korach, acaba morrendo.
- Cada tribo tem seu papel dentro do povo. Levi não herdou terra, mas herdou o serviço do Eterno.
- Ordem é proteção. O povo devia temer o Eterno e não ultrapassar limites.
- Santidade não é apenas posição, é responsabilidade. Quanto mais próximo do altar, maior o peso.
Devemos refletir no que diz o Salmo:
Quem pode subir ao monte do Eterno? Quem poderá entrar em seu santo lugar? O que tem mãos limpas e coração puro, que não tornam vãos os propósitos de sua vida nem juram votos apenas para engano. Tehilim 24:3-4
Agora que tivemos uma visão acerca dos mandamentos sobre o serviço ao Eterno e quem pode executá-lo, podemos nos debruçar mais detidamente sobre nosso tema e entender como tudo isso se aplica ao remanescente fiel hoje, os que seguem o caminho do Eterno em obediência, mesmo sem haver Mikdash (templo) físico. Observemos então com temor e discernimento como os ensinos dessa parashá e os mandamentos constantes em Bamidbar 17 e 18 se a´licam a nós hoje, filhos de Yisrael dispersos entre as nações, mas que buscamos andar conforme os caminhos do Eterno.
1. O serviço ao Eterno continua, mesmo sem Mikdash
Embora o Templo não esteja erguido, o Eterno não mudou. Seus mandamentos são eternos, e os princípios de santidade, separação e ordem ainda regem o povo. Ao contrário do que pensam muitos teólogos e líderes religiosos, o Eterno não mudou, sua palavra nunca deixa de valer e a visão distorcida de que tudo mudou com a vinda do messias está totalmente enganada e demonstra falta de conhecimento dos princípios bíblicos. Principalmente porque o próprio messias Yeshua disse que veio para tornar os mandamentos de HaShem plenos, conforme lemos em Mt 5:17, ele ensinou que não veio para invalidar a Torá, como dizem os teólogos, mas para mostrar seu verdadeiro significado e propósito. Veio cumprir o que a Torá apontava, revelando o amor do Eterno em sua plenitude. A palavra do Eterno não muda e Yeshua sabia disso, ele entendia o que disse o profeta:
A Palavra do Eterno permanece para sempre. Yeshayahu 40:8
A santidade continua a ser exigida por HaShem, de todo aquele que se aproxima para servi-lo, seja em oração e práticas, ensino, ou liderança. Quando Yeshua mencionou que veio “dar pleno cumprimento” aos mandamentos de HaShem, indica que ele não apenas obedeceu aos mandamentos, mas também os ensinou e deu exemplo de como cumprir, de forma perfeita. Ele revelou a dimensão espiritual, ou seja, de obediência, e amorosa da Torá, que muitos traduzem tão singelamente como Lei, esse ensino de Yeshua mostra que a verdadeira obediência vai além da mera observância externa.
Muito do que havia no Mishkan (tabernáculo) e no Mikdash (templo) eram apontamentos proféticos, ou como alguns dizem, sombras de coisas maiores. E quando estudamos a Torá temos a oportunidade de entender essas coisas com mais profundidade. Continuemos então mexendo no fundo desse rio de conhecimento da Palavra de HaShem e vendo o que nos é apresentado, como por exemplo: o que é o altar?
2. O altar hoje é nosso coração e nossas ações
Como não há templo, não há altar e dessa forma também não temos sacrifícios de animais, e sabemos que a Torá nos ensina que o Eterno deseja corações obedientes, e portanto, nossos atos de justiça se tornam como ofertas.
Ofereçam ao Eterno sacrifícios de justiça, e confiem Nele. Tehilim 4:5
A oração dos retos é como incenso diante Dele. Tehilim 141:2
O nosso corpo é o tabernáculo/templo onde o Eterno habita, aprendemos isso na Torá ao estudar a parashá Terumáh, em Shemot 25:1-27:19, e o nosso coração é o altar, pois nele reside a kavanáh, a intenção. Se ela for boa e buscar a obediência ofereceremos sacrifício vivo. Rav Sha’ul entendia esse princípio da Torá, pois disse certa vez em uma de suas cartas:
Ou vocês não sabem que seu corpo é um templo do Ruach HaKodesh (Espírito, Mover, Poder, Sopro do Santo), que habita em vocês, e que vocês receberam da parte de Elohim? A verdade é que vocês não pertencem a si mesmos, mas foram comprados por um preço. Então, usem o corpo para glorificar ao Eterno. 1Co 6:19 e 20
O shaliach (apóstolo, enviado) ensinou sobre a responsabilidade daquele que serve ao Eterno, de cuidar do corpo, pois é o templo, honrando ao Eterno com ele de todas as formas possíveis. Isso não era uma mera metáfora dita pelo apóstolo, mas a expressão de uma verdade do TaNaK. Essa verdade nos chama à responsabilidade de cuidar de nossa vida, nosso corpo como presente do Eterno, principalmente, pois é o lugar que ele escolheu habitar.
Quem se apresenta diante do Eterno em hipocrisia, como Korach, Ananias e Shapira (At 5) ou Shimón (At 8), está se arriscando a ser rejeitado. Mas quem serve com temor, verdade e obediência, é aceito.
3. A ordem ainda deve ser respeitada
Estamos compreendendo de forma clara, que mesmo sem o Templo e os sacerdotes atuantes, a estrutura estabelecida pelo Eterno não foi revogada. A liderança verdadeira e todos que servem a HaShem no meio do povo hoje deve seguir o modelo de Moshe e Aharon: humildade, santidade e serviço sacrificial.
Moshe ouviu e caiu sobre o seu rosto. Bamidbar 16:4
Qualquer pessoa que busca glória própria, influência ou poder, está andando no espírito de Korach. Já os que guiam o povo com temor, lembrando-se que o povo pertence ao Eterno, esses fazem conforme a instrução do Santo.
4. O zelo pelo Eterno deve começar em casa
Tu e teus filhos contigo guardareis o sacerdócio. Bamidbar 18:7
O princípio de sermos o templo deve ser estendido ao nosso lar, pois hoje, cada homem em deve ver seu lar como um pequeno Mishkan. Ele é responsável por:
Ensinar os mandamentos aos filhos (Devarim 6:7)
Separar o que é santo do comum em sua casa
Santificar os tempos designados
Zelar pela pureza do que entra e sai de sua casa
Não há sacerdócio ativo, mas, mesmo assim, cada um de nós é desde agora, um sacerdote, e portanto, temos a responsabilidade pessoal diante do Eterno. Esse é o motivo para vivermos e servirmos ao Eterno, mesmo se ter o templo físico, já que o templo somos nós mesmos e não podemos e nem devemos agir como Korach.
Concluindo então, a Parashá Korach nos ensina que o serviço ao Eterno nunca foi uma questão de estrutura física, mas de santidade e ordem. A rebelião de Korach foi julgada porque tentou romper os limites santos estabelecidos por HaShem. Hoje, o Templo físico não está de pé, mas a responsabilidade espiritual aumentou: nós nos tornamos o Mishkan, nossos corações são o altar, e nossas ações são os sacrifícios. O chamado do Eterno permanece o mesmo: “Sejam santos, porque Eu sou santo”. Servir ao Eterno, portanto, é viver em obediência, temor, e separação, começando dentro de nós e se estendendo ao nosso lar, à nossa comunidade e a toda obra das nossas mãos. Que não sejamos como Korach, mas como Aharon: chamados, obedientes e prontos para interceder com zelo.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Moshê Ben Yosef