Páginas

Boas Vindas

Seja Bem Vindo e Aproveite ao Máximo!
Curta, Divulgue, Compartilhe e se desejar comente.
Que o Eterno o abençoe!!

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Estudo da Parashá Shelach L'khá - Tzitzit: Olhe, lembre dos mandamentos.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 37 – Shelach Lekha (Envie para você)

Bamidbar/Números 13:1-15:41

Haftará (separação) Js 2:1-24 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Hb 3:7-19


Tzitzit: Olhe, lembre dos mandamentos.


Num mundo cheio de distrações, onde os olhos facilmente se encantam com o que é passageiro e o coração se ilude com seus próprios desejos, o Eterno nos deixou um lembrete pendente. Pequenos fios nas extremidades das vestes, entrelaçados com um cordão azul. Não são ornamentos, não são tradições vazias — são uma convocação diária, silenciosa, mas constante: “Lembra-te dos Meus mandamentos!” Assim são os tzitzit, o sinal visível e externo ao corpo, de uma aliança invisível e interna, pois inicia na kavanáh (intenção). Uma ordem do Eterno para que o homem, frágil em sua carne, não se esqueça daquilo que pode dar vida. Pois não é o Eterno quem precisa lembrar de Sua aliança; é o homem que constantemente se esquece dela.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

A Parashá Shelach L’kha é uma porção profunda e cheia de advertências para todos que desejam andar nos caminhos do Eterno com firme confiança e obediência. Ela inicia com o Eterno permitiu que Moshê enviasse doze homens, um de cada tribo, para observar a terra de Kena’an, a qual Ele havia prometido dar aos filhos de Yisrael. Esses homens eram líderes entre suas tribos. Eles foram e exploraram a terra por quarenta dias. E constataram que a terra era, de fato, boa e com muitos frutos grandes e férteis, como mostravam os cachos de uva que levaram.

Ao retornarem, dez dos espias desanimaram o povo com palavras de medo, dizendo que os habitantes da terra eram gigantes e que seria impossível vencê-los. Apenas Yehoshua ben Nun e Kalev ben Yefuné mantiveram firme confiança no Eterno.

O povo chorou, murmurou e quis voltar ao Mitsrayim. O Eterno então se irou, e decretou que toda aquela geração acima de 20 anos pereceria no deserto, exceto Kalev e Yehoshua. Assim, eles peregrinariam 40 anos no deserto, um ano para cada dia que espiaram a terra. No entanto, mesmo depois da advertência, alguns tentaram subir por sua própria força, mas foram derrotados pelos amalequitas e cananeus, pois o Eterno não estava com eles.

HaShem deu instruções sobre as ofertas de alimento, vinho e animais ao entrarem na terra prometida, reforçando que essas leis valem para o nascido em Yisrael e para o estrangeiro que habitasse com eles. Instrui-se sobre os sacrifícios para pecados cometidos sem intenção. E em seguida, um homem é encontrado colhendo lenha no dia de Shabat, desrespeitando abertamente as instruções dadas por HaShem. Por ordem do Eterno, ele foi morto por apedrejamento fora do acampamento, para que ficasse registrado como exemplo.

A parashá termina com a ordem de se fazer franjas (tzitzit) nas extremidades das vestes, com um cordão azul, para lembrar todos os mandamentos do Eterno e não seguir após o coração e os olhos.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Em meio ao deserto, onde cada passo era observado pela nuvem do Eterno e cada manhã trazia o maná celestial, ainda assim o povo esquecia. Esquecia das promessas, esquecia dos juízos, esquecia da misericórdia do Eterno. Foi então que o Eterno ordenou um sinal simples, porém eterno: tzitzit, as franjas penduradas nas extremidades das vestes, com um fio azul no meio. Essas franjas não são enfeites, mas uma lembrança viva de um compromisso inquebrável. Uma aliança que não depende do esquecimento do Eterno, mas sim da nossa constante propensão ao esquecimento.

O mandamento dos tzitzit é declarado claramente em Bamidbar/Nm 15:37–41, logo após a narrativa do homem que desobedeceu ao mandamento de observar o Shabat. O Eterno, em sua justiça e misericórdia, oferece uma ferramenta visível para que o homem se recorde daquilo que deve guardar com o coração. Observe as palavras de HaShem:


O Tzitzit servirá para vocês olharem para eles e se lembrarem de todas as mitzvot do Eterno e obedecerem a elas, para que não sejam desviados pelo próprio coração e pelos olhos, sendo levados a se prostituírem. (Bamidbar 15:39)


Podemos perceber que o propósito não é mágico, místico, nem cerimonial. É prático! Observe os verbos que exprimem ação: olhar, lembrar e obedecer. A função dos tzitzit é anular o esquecimento natural do homem e confrontar sua inclinação para o mal, o yetzer harah, com um lembrete diário do compromisso com o Eterno. Eles existem para que o homem olhe para si mesmo e se corrija, não para que ele tente corrigir o Eterno ou “lembrá-lo” do que Ele nunca esqueceu.

Enquanto eu estudava para preparar este conteúdo minha esposa veio perto de mim e disse:

Você já reparou na letra daquela música gospel famosa que diz: “...lembra Senhor, juraste o teu amor e nada pode mudar o que sentes por mim, nem os meus pecados…

Quando ouvi ela falando isso comigo, percebi que o Eterno estava confirmando em meu coração que o assunto que eu devia trazer era justamente sobre o objetivo do Tzitzit. Primeiro, o homem não pode lembrar o Eterno de nada, pois ele de nada esquece. Segundo, é o Eterno quem estabelece um meio para que nós não nos esqueçamos do nosso compromisso com ele, e isto é o tzitzit. E por último, a letra da música fala que nada pode mudar o que o Eterno sente pelo homem, nem seus pecados. E isso é totalmente fora do que aprendemos nas Escrituras, pois ela diz:


Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Elohim; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça. Yeshayahu (Isaías) 59:2


1. O homem se esquece, o Eterno nunca.

Desde Bereshit, o homem demonstra uma tendência ao esquecimento. Adam, mesmo ouvindo diretamente do Eterno, transgrediu. Os filhos de Yisrael, após verem sinais e maravilhas no Mitsrayim, murmuraram no deserto. Em contraste, o Eterno afirma:


Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de Mim, e dos teus pecados não Me lembro. Yeshayahu (Isaías) 43:25


Em um primeiro momento, parece ser contraditório o que mencionei anteriormente, com o que está sendo mencionado agora, mas o profeta demonstra que o povo precisa se arrepender e praticar a justiça para conseguir ter seus pecados apagados.

A lembrança do Eterno não falha. Quando Ele “esquece” algo, é por escolha soberana, não por falha de memória. O Eterno não precisa que o homem diga: "lembra do que disseste!", pois isso revela ignorância sobre quem Ele é. A real necessidade é que o homem lembre o que o Eterno disse! Assim como está escrito:


Lembra-te do caminho que o Eterno, teu Elohim, te fez andar estes quarenta anos no deserto... Devarim 8:2


O esquecimento é nosso — não do Eterno, nunca do Eterno. O mandamento do Tzitzit tem o objetivo direto, que é a lembrança dos mandamentos do Eterno, para que o homem não se desvie, não se entregue às inclinações do coração nem aos desejos que os olhos cobiçam.

É comum, em canções e falas humanas, ouvir frases como: “lembra, Senhor, da tua promessa”. Isso demonstra uma visão limitada e humana do Eterno, como se ele, que criou todas as coisas, necessitassem de um lembrete. Conforme mencionamos o texto de Yeshayahu acima, há também um texto de Tehilim que confirma o que estamos falando, observe:


Pois ele sabe como somos feitos; lembra que somos pó. Tehilim 103:14


Conforme já mencionado, o Eterno é quem escolhe o que lembrar e o que esquecer, não porque se esquece como o homem, mas por decisão justa. Portanto, é um erro grave tentar lembrá-lo de algo que Ele mesmo determinou por Sua sabedoria. O que devemos entender é que, não é o Eterno que precisa de lembretes, é o homem que necessita ser lembrado.


2. Os olhos e o coração, as fontes de desvio.

O texto desta parashá, em Bamidbar 15, diz que os tzitzit existem para que o homem “não siga o seu coração nem os seus olhos”. Isto é, os dois caminhos mais comuns de desvio. E vemos isso no TaNaK:


Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso... Yirmeyahu (Jeremias) 17:9.

Não porás coisa má diante dos teus olhos... Tehilim (Salmos) 101:3


Os olhos veem e desejam. O coração se apaixona pelo que é falso. Os tzitzit são amarras visíveis para conter essa queda. Não basta dizer: “o Eterno conhece meu coração”. Sim, Ele conhece, e é justamente por isso que ordenou lembretes físicos, visíveis, para restringir a inclinação. O homem deve se lembrar da ordem, não inventar desculpas para a desobediência.

O Rabino Aryeh Kaplan em seu livro “Tsitsit um fio de luz”, de 1993, diz que, o Eterno nos deu um mandamento que serve de lembrete constante. A Torá pronuncia co clareza quando diz “Eles serão vossos Tsitsit e vós os vereis e havereis de lembrar todos os mandamentos de D’us e obedecerei, e não vos deixareis levar pelos vossos corações e olhos que vos levarão à imoralidade”. E ele continua e diz que, “no sentido mais simples, então, os Tsitsit cumprem função de lembrete…” E com a fala do referido rabino, temos a oportunidade ver como deve ser o entendimento do que a Torá e os profetas instruem.


3. Lembrar e praticar

Yeshua nunca ensinou que o homem devesse “lembrar o Eterno” de Suas promessas. Pelo contrário, ele alertava para que o homem guardasse os ensinos dos mandamentos da Torá que ele ensinava, pois a prática dos mandamentos é o verdadeiro sinal de firme confiança, conforme pode ser visto:


Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente... Mattityahu (Mateus) 7:24


Ouvir e praticar, essa é a lembrança verdadeira. Os talmidim também exortavam sempre à obediência constante, não à barganha com o Eterno.


Sede cumpridores da Palavra e não apenas ouvintes, enganando a vós mesmos. Yaakov (Tiago) 1:22


A lembrança dos mandamentos é ativa, não passiva. É para nos guardar em santidade, não para tentarmos manipular o Eterno. Quando usamos palavras como: "lembra, Senhor, do que prometeste", mostramos que esquecemos quem é Ele e o que Ele exige de nós. É o ser humano que deve se lembrar da sua posição, da sua necessidade de arrependimento, e de sua obrigação de andar nos caminhos do Eterno. Já que o ser humano deve se lembrar vejamos quem deve obedecer a este mandamento.


4. As mulheres e o Tzitzit

A ordenança dos tzitzit se encontra em Bamidbar (Números) 15:37–41, conforme já vimos anteriormente, mas observe novamente:


Fala aos filhos de Yisrael, e dize-lhes que façam para si tzitzit nas extremidades das suas vestes, pelas suas gerações... E será para vós por tzitzit, para que, vendo-o, vos lembreis de todos os mandamentos do Eterno, e os cumprais…


O texto ordena aos benei Yisrael (filhos de Yisra’el) que coloquem os tzitzit. Essa expressão, apesar de ser interpretada, principalmente pela tradição judaica, como apenas masculina, no hebraico também pode ter um sentido coletivo de “filhos e filhas”, ou seja, todo o povo. E essa compreensão é fortalecida pelo próprio contexto do mandamento:


...para que vos lembreis de todos os mandamentos do Eterno, e os cumprais, e sejais consagrados ao vosso Elohim. (v. 40)


O mandamento dos tzitzit está ligado à lembrança e prática dos mandamentos, conforme vimos até aqui, e estes são iguais tanto para homens quanto para mulheres, como está escrito:


Uma mesma instrução haverá para vós, tanto para o estrangeiro como para o natural da terra. Bamidbar (Números) 15:15


Assim, podemos compreender que as mulheres fazem parte de Yisrael. Elas estavam no Sinai, elas ouviram a voz do Eterno, e a elas também se aplicam os mandamentos. Quando o Eterno disse:


Congrega o povo, homens, mulheres e crianças, e o estrangeiro que está dentro das tuas portas, para que ouçam, e aprendam, e temam ao Eterno, vosso Elohim, e cuidem de cumprir todas as palavras desta Torá. Devarim (Deuteronômio) 31:12


Está claro que há mandamentos que são específicos para homens, outros são específicos para mulheres, e para sacerdotes, mas há mandamentos nas palavras da Torá, que são para todos, são para homens e mulheres.

Não há, em nenhum lugar da Torá ou dos Nevi'im, qualquer proibição às mulheres de usarem tzitzit. E tampouco encontramos nas palavras de Yeshua ou dos talmidim alguma distinção que retire esse mandamento das mulheres. O que se encontra são tradições, leis de cerca, que acabam impedindo as mulheres de obedecerem a este mandamento.

Se o Tzitzit tem o propósito de lembrar, as mulheres também são chamadas pelo Eterno à obediência. Mulheres também têm coração e olhos que podem levá-las a se desviarem. Elas também caminham e enfrentam tentações. Por isso, elas também se beneficiam do sinal visível da aliança. Além disso, o texto diz que o mandamento é “para as vossas gerações”, em hebraico לְדֹרֹתָם – ledorotam, o que abrange todas as gerações do povo, não apenas os líderes ou os homens.

Alguns costumes humanos, ao longo dos séculos, criaram divisões e restrições não encontradas na Torá. Como colocar o tzitzit nas pontas do Talit, o manto de orações, e dizer que só homens o usam. O mandamento fala de prender as franjas nas vestes, não em um manto de orações. Por isso sempre dizemos que a Palavra do Eterno está acima das tradições dos homens e das religiões. Aqueles que dizem que “a mulher não pode usar tzitzit” estão falando sem respaldo nas Escrituras, e com base apenas em tradições e interpretações humanas. Portanto, as mulheres podem, e se quiserem andar em obediência ao Eterno e lembrar dos seus mandamentos, devem usar. Porque o mandamento é universal, ele não é cerimonial, não é sacerdotal e não é exclusivo de homens. É uma instrução de aliança, de santidade, e de fidelidade a todos os filhos de Yisrael, sejam eles homens ou mulheres.

Concluindo nosso estudo, vimos que o Eterno não se esquece. O homem sim. Por isso ele, em sua misericórdia, nos deu o mandamento do Tzitzit, para que olhemos e lembremos. Para que cada fio e cada nó nos acuse e nos chame ao arrependimento, à teshuvah. A lembrança verdadeira é aquela que nos leva à ação, à obediência, à fidelidade. Não se trata de emocionar o Eterno com palavras, mas de sermos tocados pela Sua Palavra e respondermos com obediência viva. Portanto, lembremos sim, mas dos mandamentos. Pois quando os guardamos com firme confiança, então o Eterno lembra-se de nós com compaixão.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


Nenhum comentário:

Postar um comentário