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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Estudo da Parashá Vayeshev - A Firmeza no Sofrimento: Agindo como Yosef.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 09 – Vayeshev (E continuou a viver)

Bereshit/Gênesis 37:1-40:23

Haftará (separação) Am 2:6-3:8 e

Escritos Nazarenos (Novo Testamento) At 7:9-16


A Firmeza no Sofrimento: Agindo como Yosef.


Há uma frase popular que combina muito com parte da história de vida de Yosef, e ela diz: Quando se pensa que chegou ao fim do poço, descobre-se que o poço tem porão. Claro que isso nunca é a história completa, pois o Eterno vê o todo, pois está fora do tempo e da história.

Existem momentos nas Escrituras em que detalhes aparentemente pequenos revelam horizontes imensos sobre o modo como o Eterno conduz a vida humana. Na história de Yosef, quando ele está na prisão, interpretando os sonhos do copeiro e do padeiro, é o exemplo de um desses momentos. No silêncio de uma masmorra, longe da casa de seu pai e injustiçado pelos homens, Yosef torna-se testemunha da fidelidade do Eterno demonstrando firmeza em sua confiança em HaShem. Ali, onde muitos perderiam a confiança e a firmeza, ele mantém o coração alinhado com HaShem. E é justamente no lugar onde ninguém o vê que o Eterno começa a revelar Seus mistérios.

Neste estudo convido você a enxergar a profundidade desse momento, conectando a Torá, os Profetas, os Escritos Nazarenos e os ditos dos sábios de Yisrael, sempre lembrando que a Palavra do Eterno é soberana. Ao caminharmos por essas fontes, veremos que a história de Yosef não é apenas sobre ele, mas sobre o modo como o Eterno trabalha na vida de todos que permanecem fiéis em todos os tempos.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Nesta porção, vemos Yaakov estabelecendo-se na terra que o Eterno prometeu aos seus pais. Entre seus filhos, Yosef se destaca, como um jovem sincero, amado por seu pai, mas profundamente invejado por seus irmãos. Yaakov lhe dá uma túnica especial que gera inveja nos irmãos, e além disso, também passa a ter sonhos revelando que o Eterno tinha um propósito maior para sua vida. Esses sonhos, porém, inflamam o coração dos irmãos ainda mais de ódio e ciúmes.

Movidos por essa má inclinação, os irmãos tramam contra ele. Primeiro querem tirá-lo a vida, mas acabam vendendo-o a mercadores midianitas que o levam ao Egito. Eles apresentam a Yaakov a túnica manchada de sangue, e o pai chora amargamente, convencido de que seu filho foi devorado por uma fera.

Nesta mesma parashá, a Torá nos apresenta a história de Yehudá e Tamar, uma narrativa que revela responsabilidade, justiça e a mão do Eterno conduzindo os acontecimentos, mesmo quando parecem obscuros. Yehudá reconhece sua falha, e dessa união nasce uma linhagem que o Eterno usaria poderosamente nas gerações futuras.

Enquanto isso, no Egito, Yosef é comprado por Potifar. O Eterno o faz prosperar em tudo o que faz, porque Yosef permanece íntegro, mesmo em terra estrangeira. Injustiçado pela esposa de Potifar, ele é lançado na prisão, mas mesmo ali, o Eterno está com ele.

Na prisão, Yosef interpreta os sonhos do copeiro e do padeiro do faraó, mostrando que o Eterno revela mistérios àqueles que continuam firmes em Seus caminhos. Seus dons ainda não o libertam, mas já apontam para o desfecho que o Eterno preparou. A firmeza e a confiança dele no Eterno levaram ao desfecho que já conhecemos.

A parashá Vayeshev nos ensina que mesmo quando somos rejeitados, injustiçados ou lançados em situações que não compreendemos, o Eterno continua conduzindo nossa história.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

A parashá Vayeshev nos apresenta uma sequência de eventos marcantes como o favoritismo de Yaakov, o ódio dos irmãos, a venda de Yosef, a história de Yehudá e Tamar, e finalmente a descida de Yosef à prisão. É nesta última cena, em Bereshit 40, que encontramos Yosef como um exemplo perfeito de alguém que, mesmo em trevas, mesmo quando tudo dá errado e não se tem perspectiva de melhora, mantém viva a sua confiança e firmeza no Eterno.

Quando o copeiro e o padeiro têm sonhos perturbadores, Yosef declara uma frase que ecoa por todo o Tanakh:


As interpretações pertencem ao Eterno. Bereshit 40:8


Esse reconhecimento profundo, de que nenhum dom pertence ao homem, mas é confiado pelo Eterno, é o ponto que abre caminho para a revelação futura e para a elevação de Yosef, ainda que isso não aconteça imediatamente. A partir desse contexto, vamos aprofundar o assunto, trazendo paralelos com os Profetas, com as palavras de Yeshua nos Escritos Nazarenos e com reflexões de sábios antigos que percebem, na história de Yosef, um padrão do agir do Eterno.


1. Yosef na prisão e a revelação divina

Depois de ser vendido pelos irmãos, e ser acusado falsamente pela esposa de Potifar, Yosef estava preso injustamente, porém a Torá nos revela que o Eterno continua com ele, como lemos em Bereshit 39:21. Quando achamos que tudo está tão ruim, é o momento de continuarmos apegados ao Eterno e a seus mandamentos. No caso desse jovem justo, a prisão, que poderia ser um lugar de desespero, torna-se o cenário da fidelidade e da firme confiança de Yosef. Ali, encontrar os dois servos importantes do faraó, o copeiro e o padeiro, os quais, certa noite, recebem sonhos que os perturbam. Vimos acima que Yosef reconhecia que a interpretação não era dele, mas o Eterno é quem revela. Não há arrogância, nem tentativa de autopromoção como podemos ver na atualidade. Yosef apenas reconhece que todo mistério revelado procede de HaShem, e que o ser humano é apenas instrumento, por isso se mantém firme, ao mesmo tempo que, devido a essa firmeza o Eterno lhe revela as coisas.

Assim, ele interpreta os sonhos com precisão: o copeiro será restaurado; o padeiro será executado. E conforme o Eterno lhe revelou acontece. Mesmo assim, no centro da vontade do Eterno, Yosef permanece preso. Seu dom e justiça não o liberta ainda, mas seu reconhecimento público de que apenas o Eterno revela segredos abre o caminho para o futuro que HaShem preparava. Aprendemos que mesmo que em nossa vida em teshuvah busquemos viver de forma justa e isso não nos traga conforto ou bênção imediata, não devemos deixar de viver conforme o Eterno estabeleceu.

A prisão não é apenas um espaço físico, é uma metáfora para momentos de ocultamento na vida humana. Yosef permanece íntegro, e é nesse estado que o Eterno revela mistérios.

Ao olharmos para o TaNaK, podemos notar que os Profetas confirmam esse padrão:

    • Daniel, também exilado e injustiçado, declara: “Há um Elohim no shamaym que revela mistérios.” (Daniel 2:28)

    • Amos reforça que o Eterno não age às ocultas: “O Eterno não fará coisa alguma sem revelar o Seu segredo aos Seus servos.” (Amos 3:7)

Os escritos nazarenos ecoam esse ensinamento quando Yeshua, como um homem obediente ao Eterno, afirma: A doutrina que ensino não é minha, mas d’Aquele que me enviou. Yochanan 7:16

Os sábios de Yisrael também viram nesse episódio de Yosef um princípio espiritual profundo. Rashi, citando tradições antigas, afirma que Yosef foi colocado ali para demonstrar que “o Eterno coloca os justos onde Seu propósito pode florescer, mesmo quando seus olhos não veem”. (Rashi sobre Bereshit 40:1). Assim, vemos que a revelação não depende do lugar, mas da integridade do coração.


2. A dor que prepara para a exaltação

O Tanakh está repleto de servos do Eterno que passam pela aflição antes de serem exaltados. Preciso lembrar que a promessa de elevação é primordialmente no Olam Habah, de acordo com o vemos em Dani’yel 12:2-3, conforme lemos: Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. Aqueles que são sábios reluzirão como o brilho do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre. Porém, em alguns casos pode acontecer na atualidade. Podemos entender que Yosef é o modelo primário dessa dinâmica, mas esse padrão se repete:

    • Yeshayahu descreve o servo justo que sofre injustiça, mas cujo sofrimento resulta em sabedoria e elevação: (Yeshayahu 53:11)

    • Tehilim reforça que o justo é provado: Muitas são as aflições do justo, mas o Eterno o livra de todas. (Tehilim 34:20)

Nos Escritos Nazarenos, Yeshua trilha esse mesmo caminho: perseguido, rejeitado, incompreendido, mas sempre obediente, sempre firme.

Os sábios também veem nisso um padrão divino. O Midrash Tanchuma (Vayeshev 4) diz: O Eterno testa os justos como o oleiro testa o vaso mais forte.

Conforme já vimos Yosef, Daniel, Yirmeyahu e Yeshua têm isso em comum: a prova revela a firme confiança, e a firme confiança abre espaço para o propósito do Eterno.


3. O dom que serve à vida

A interpretação dos sonhos pelo Eterno, através de Yosef, não é um ato isolado, é a primeira peça que se moverá até a grande reconciliação de Bereshit 45. E isto é o que muitos sábios enxergam como um apontamento para o que acontecerá após o sétimo milênio. A revelação é o início de um processo que culminará na preservação de muitas vidas, que virão ao conhecimento e obediência à Torá.

No Tanakh, o Eterno sempre usa Seus servos para revelar caminhos de vida, eles são instrumentos, ferramentas:

    • Yirmeyahu é enviado para anunciar restauração.

    • Hoshea anuncia cura e reconciliação após arrependimento (Hoshea 6:1-2).

    • Yeshayahu fala da reconciliação futura de Yisrael com seu Elohim.

Nos Escritos Nazarenos, Yeshua continuamente chama o povo do Eterno a voltar para o caminho de HaShem, oferecendo palavras e ensinos da Torá, que revelam o oculto dos corações.

O Midrash Rabbah (Bereshit Rabbah 89:1) declara que: Tudo o que aconteceu com Yosef é um sinal para Yisrael.

E muitos sábios interpretaram isso dizendo que Yosef representa o padrão do justo que é rejeitado antes de ser reconhecido, exatamente o que vemos com Yeshua, um enviado aos filhos de Yisrael, rejeitado por muitos, mas cujo exemplo ainda hoje conduz pessoas ao Eterno e sua Torá. Desse modo, vemos que a revelação do sonho é mais do que um fato narrativo: é o primeiro passo para a salvação física da família de Yaakov e um sinal profético para a salvação e restauração daqueles que retornam arrependidos ao Eterno.

Concluindo nosso estudo, aprendemos que a história de Yosef na prisão nos ensina que o Eterno revela mistérios ocultos da maioria aos que permanecem fiéis à sua palavra. Compreendemos que a aflição do justo nunca é perda, mas preparação para cumprimento dos propósitos do Eterno na história. Vimos que Dom algum pertence ao homem, pois tudo procede do Eterno e que a fidelidade nos momentos obscuros prepara a elevação nos momentos de revelação. Conforme já vimos em outros estudos, e estamos confirmando neste, a vida de Yosef e a vida de Yeshua caminham em paralelo como testemunhos de que o Eterno usa os rejeitados para abençoar muitos. Ambos foram fiéis, obedientes e tiveram vida justa, por isso serviram de instrumento de redenção dos remanescentes do Eterno.

Assim como Yosef permaneceu firme no escuro da prisão, somos chamados a permanecer firmes nos dias em que não entendemos o propósito, não apenas quando o caminho é iluminado, mas sobretudo quando tudo parece silencioso. E é justamente nesses momentos que o Eterno prepara a redenção, a reconciliação e a restauração. Fique firme a cada dia, nunca desista de caminhar em teshuvah e obediência aos mandamentos do Eterno.

Que o Eterno lhes abençoe.


Moshê Ben Yosef


quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Estudo da Parashá Vayishlach - Voltando ao Propósito

 


Estudos da Torá

Parashá nº 08 – Vayishlach (E enviou)

Bereshit/Gênesis 32:4-36:43

Haftará (separação) Os 11:7-12:12 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) 1Co 5:1-13, Ap 7:1-12


Voltando ao propósito.


O retorno de Yaakov à terra que o Eterno prometeu a Avraham e Yitzchak não é apenas uma narrativa distante no tempo, é um espelho para cada homem e mulher que decide voltar ao caminho do Eterno após anos de fuga, conflitos e feridas abertas. A jornada de Yaakov é marcada por temor, lembranças dolorosas, encontros decisivos e, acima de tudo, transformação. Assim como ele precisou retornar à terra da promessa, cada um de nós é chamado a retornar ao propósito para o qual fomos formados. E neste retorno, muitas vezes, encontraremos nossos “Esav”, com memórias, feridas, decisões erradas e alianças quebradas.

Esta mesma dinâmica está presente nas palavras dos profetas e na missão de Yeshua, que veio chamar as ovelhas perdidas da casa de Yisrael a retornarem ao Eterno, em teshuvah verdadeira.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

A parashá Vayishlach é uma das porções mais profundas que aprendemos, pois revela tanto a luta interna do homem quanto a fidelidade do Eterno às Suas promessas.

Yaacov, ao retornar à terra que o Eterno havia prometido a seus pais, sabe que precisará encontrar-se novamente com Esav. Ele teme, pois carrega a memória do conflito antigo. Antes de tudo, Yaacov envia mensageiros, divide sua família, prepara presentes e, sobretudo, clama ao Eterno. A confiança dele não está na astúcia, mas na misericórdia de HaShem, pois está escrito que quem ama o Eterno segue os Seus mandamentos.

Naquela noite, Yaacov fica só, e ali luta com um malach até o romper da aurora. Esse encontro não é apenas físico, mas marca a transformação do homem que precisou enfrentar a si mesmo. O malach o fere, mas também declara: “Teu nome não será mais Yaacov, mas Yisrael”, pois ele perseverou. Esta é uma grande lição para nós: o Eterno molda aqueles que se apegam a Ele com firme confiança.

O reencontro com Esav, que antes parecia uma ameaça, termina com lágrimas e abraços. Ainda assim, cada um segue seu caminho, pois os destinos das duas nações já haviam sido revelados a Rivkah, como está escrito em Bereshit 25:23.

Depois disso, ocorre a dor da casa de Yaacov: Dináh sai para ver as filhas da terra e é tomada por Siquém. A injustiça cometida desperta a indignação ardente de Shimon e Levi, que agem com engano e violência. Yaacov os repreende, pois sua atitude trouxe risco para toda a casa. Esta parte da porção nos recorda que alianças com sistemas corruptos sempre trazem perigo, e que a justiça deve sempre seguir o caminho do Eterno, não o impulso do coração humano.

Seguimos então para outro momento de grande dor: Rachel, amada de Yaacov, morre ao dar à luz Binyamin. Yaacov ergue uma coluna sobre seu túmulo, lembrança eterna daquela que partiu no caminho. Em seguida, Yaacov volta a seu pai Yitzchak, que viveu longos 180 anos e é sepultado por seus dois filhos — Yaacov e Esav.

A parashá termina com a descendência de Esav, mostrando que o Eterno cumpre Sua palavra tanto para Yisrael quanto para Edom. Cada linhagem segue seu caminho conforme o Eterno já havia anunciado.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Os mensageiros voltaram a Yaakov, dizendo: Fomos ao encontro de Esav, seu irmão, e ele vem a seu encontro; com ele estão 400 homens. Yaakov sentiu muito medo e angústia. Ele dividiu as pessoas, os rebanhos, o gado e os camelos (que estavam) com ele em dois grupos, dizendo: Se Esav vier a um grupo e o atacar, pelo menos o grupo poupado escapará. Bereshit (Gn) 32:7-9

Ao estudar essa porção da Torá, e este texto em específico, encontramos um assunto importante. O retorno, que no ponto de vista das Escrituras é a Teshuvah, que também indica conversão ou arrependimento verdadeiro. Nessa parashá, quando vemos Yaakov partir de Padam-Aram e se aproximar das fronteiras da terra prometida, percebemos que ele entende que não poderia entrar sem antes se reconciliar com seu passado. Isso me faz lembrar da recomendação do profeta ao dizer que se deve buscar os caminhos antigos:

Assim diz o Senhor: "Ponham-se nas encruzilhadas e olhem; perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso". Mas vocês disseram: Não seguiremos! Jeremias 6:16

Conforme vemos na Torá, Yaakov sente medo e angústia por saber que encontraria seu irmão. Ainda mais depois que Ele ouve que Esav estava vindo ao seu encontro com quatrocentos homens. Seu coração se angustia profundamente. Esse registro da Torá nos mostra que sua consciência ainda carregava o peso do conflito que havia separando os irmãos. Essa angústia, medo e peso estão presentes na vida de todo remanescente, que sente o fato de estar longe do Elohim de Yisrael, mas ainda não conseguem discernir. Porém, quando ouvem a verdade, ou uma canção israelita, ou mesmo quando ouve falar do povo sente algo inexplicável no peito. Parece um sentimento de saudade, de um pertencimento que não consegue entender. É o fato de ser um remanescente afastado do povo e da promessa do Eterno.

A terra da promessa nesta história relatada pela Torá, não é apenas um território, um lugar físico, ela representa a aliança com o Eterno. Ninguém retorna a essa terra, ou seja, à aliança, carregando enganos e feridas não resolvidas. Por isso, Yaakov clama ao Eterno, divide seu acampamento, prepara presentes e, sobretudo, se lança na presença de HaShem. Isso nos mostra que quando a verdade da Palavra nos atinge, decisões sérias devem ser tomadas em nossas vidas. Quando descobrimos a verdade sobre estarmos afastados do Eterno e que precisamos fazer teshuvah, isso nos faz lamentar o tempo perdido, o engano em que vivemos e em nossa rebeldia contra o Eterno ao vivermos da idolatria, mesmo que não tivéssemos noção disso. Assim, só nos resta duas decisões, ou fazemos teshuvah arrependidos, deixando de lado o engano, ou ficamos na situação em que nos encontrávamos, mas agora conscientes da escolha. Não é à toa que antes do encontro com Esav, há um encontro com o malach (mensageiro) do Eterno, onde Yaakov é ferido e renomeado, tornando-se Yisrael, aquele que luta e prevalece. Viu alguma semelhança? É o que acontece com todos que buscam chegar à aliança com o Eterno.

Da mesma forma, vemos os profetas e o próprio Yeshua proclamaram que Yisrael não pode retornar ao Eterno sem enfrentar seu próprio passado, suas rebeldias e suas más inclinações, pois a terra da promessa exige transformação, humildade e obediência. Isso com certeza se aplica a quem deseja, ou pensa ser povo do Eterno. Buscaremos aprofundar um pouco mais sobre esse caminho de conflito, sobre o retorno e a restauração.


1. Um Caminho de Conflito, Temor e Transformação

Pelo texto da parashá, vemos que o retorno de Yaakov à terra não foi triunfal, mas cheio de temor. A memória de Yaakov sobre Esav, seu irmão, pesava como um fardo. Ele precisou encarar a sombra de seu passado para entrar novamente na aliança. Essa experiência nos mostra que ninguém volta ao Eterno sem uma luta interna. Yaakov lutou com o malach, demonstrando que só avança aquele que se esvazia de si e se entrega completamente ao Eterno.

A mudança de nome de Yaakov para Yisrael representa uma restauração de identidade. Antes de encontrar Esav, ele encontra a si mesmo e ao propósito que o Eterno havia traçado desde o ventre de Rivkah. O mesmo acontece com aqueles que se aproximam do Eterno depois do contato com a Torá, pois ocorre mudança de nome, ou seja, de caráter.

Assim como Yaakov, muitos em Yisrael se afastaram do caminho, e o retorno sempre passa por um confronto, com a má inclinação (yetzer harah), com escolhas passadas e com tudo aquilo que precisa ser deixado para trás. Por isso, quem deseja a terra da promessa deve primeiro permitir que o Eterno renomeie sua vida.

2. O Chamado Constante ao Retorno e à Restauração

Os profetas frequentemente retrataram Yisrael como alguém que foge do Eterno, mas que é chamado a voltar, a fazer teshuvah com o coração quebrantado. Em Yirmeyahu, o povo é descrito como aquele que abandonou o Eterno e se uniu a sistemas vazios, como cisternas rachadas:

"O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água. Jeremias 2:13

Assim como Yaakov teve de enfrentar Esav, Yisrael teria de enfrentar seu próprio passado de rebeldia. Yeshayahu declara:

Afastem-se, afastem-se, saiam daqui! Não toquem em coisas impuras! Saiam dela e sejam puros, vocês, que transportam os utensílios do Senhor.” Yeshayahu 52:11.

A mensagem é clara, pois o retorno à terra e ao propósito demanda separação, purificação, coragem e confiança firme no Eterno. Hoshea fala de forma ainda mais profunda:

Vinde, retornemos ao Eterno, pois Ele nos despedaçou, mas nos sarará” Hoshea 6:1.

O retorno nunca é confortável, mas é sempre redentor. Yisrael não é convidado a voltar à força, mas por amor, um amor que disciplina, corrige e cura.

Assim, a experiência de Yaakov figura como um apontamento de todo Yisrael, todos que querem servir ao Eterno:

— primeiro vem o medo,

— depois o confronto,

— depois a transformação,

— e então a restauração na presença do Eterno.


3. O chamado às Ovelhas Perdidas da Casa de Yisrael

Yeshua veio anunciar exatamente o mesmo chamado dos profetas, isto é, teshuvah, o retorno verdadeiro ao Eterno. Ele disse claramente que sua missão era voltada às ovelhas perdidas da casa de Yisrael. Sua mensagem não foi de rompimento com a Torá, mas de restauração do coração do povo. Ele chamou Yisrael a enfrentar seus próprios “Esav”, ou seja, tradições humanas que sufocavam os mandamentos, alianças com sistemas corruptos, corações endurecidos, e caminhos que pareciam certos, mas levavam ao afastamento do Eterno.

Assim como Yaakov lutou com o malach até o amanhecer, Yeshua ensinou a perseverança na busca do Eterno:

— chamou ao arrependimento,

— à humildade,

— ao perdão,

— e à restauração das relações quebradas.

Os talmidim continuaram esse chamado, buscando reunir Yisrael para que o povo voltasse à obediência e ao caminho do Eterno. Yeshua não veio trazer uma nova religião, mas restaurar um povo ferido para sua identidade original, exatamente como Yaakov foi restaurado antes de entrar novamente na terra da promessa.

Concluindo nosso estudo, vimos que a jornada de Yaakov de volta à terra da promessa é a jornada de todo aquele que busca retornar ao Eterno. Ele enfrentou o medo, encarou o passado, lutou com sua própria alma e, ao final, recebeu um novo nome e uma nova missão. O mesmo que ocorre com qualquer que um que se aproxima do Eterno.

Os profetas ecoaram esse chamado e Yeshua veio intensificá-lo, chamando Yisrael de volta ao Caminho eterno, à obediência, à verdade, à justiça e à santidade. A história de Yaakov nos convida a perguntar:

— Estamos preparados para enfrentar nossos próprios conflitos?

— Temos coragem de lutar até o amanhecer por uma vida alinhada ao propósito do Eterno?

— Estamos dispostos a deixar o Eterno transformar nossa identidade para entrarmos na terra que Ele prometeu?

Que possamos, como Yaakov, clamar ao Eterno, retornar ao caminho e caminhar com firme confiança em Sua presença, vivendo a prática da Torá.

Que o Eterno lhes abençoe.


Moshê Ben Yosef