Estudos da Torá
Parashá nº 20 – Tetsaveh (Ordene)
Shemot/Êxodo 27:20 – 30:10
Haftará (separação) Ez 43:10-27 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Fp 4:10-20 e Ef 6.
Tema: O Segredo das Vestes Sagradas: O que a Torah revela sobre Santidade contínua!
Imagine um fogo que nunca pode se apagar. Uma luz que deve brilhar continuamente, dia e noite, sem interrupção. Agora, pergunte-se: como manter essa chama acesa?
A Parashá Tetsaveh nos apresenta um princípio profundo que transcende o tempo: a santidade não é um evento isolado, mas um compromisso diário . O Eterno ordena vestes sagradas, azeite puro para o Menorá e um serviço contínuo no Mishkan. Mas será que esses detalhes cerimoniais têm algo a nos ensinar hoje?
Se a santidade exige constância, como podemos aplicá-la à nossa vida? O que os Cohanim , as vestes sacerdotais e o Mishkan nos revelam sobre nosso relacionamento com o Eterno? E mais: há uma conexão entre essa parashá e as palavras de Shaul sobre a "armadura de HaShem"?
Neste estudo, vamos mergulhar na essência desse chamado divino. Descobriremos como os profetas fortaleceram essa ideia, o que Yeshua ensinou sobre a verdadeira santidade e como Shaul reinterpretou esses conceitos para os discípulos de seu tempo.
Se você deseja entender o que significa estar realmente "vestido de santidade" e como isso impacta seu relacionamento com o Eterno, continue lendo. Este estudo pode mudar sua maneira de enxergar a obediência e o serviço ao Criador.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
A Parashá Tetsaveh (Shemot 27:20–30:10) dá continuidade às instruções do Eterno a Moshe sobre o Mishkan, detalhando a confecção das vestimentas sacerdotais e a consagração de Aharon e seus filhos para o serviço no Mishkan.
O Eterno ordena que o povo de Israel traga azeite de oliva puro para acender continuamente a Menorá dentro do Mishkan. Essa luz simboliza a presença constante do Eterno e a responsabilidade dos israelitas em manter a santidade do Mishkan.
O Eterno escolhe Aharon e seus filhos para servirem como cohanim (sacerdotes) e ordena a arrumação de vestes especiais para eles. Cada peça possui um significado e propósito:
Efod: Um tipo de manto adornado com pedras de ônix nos ombros, representando as tribos de Israel.
Peitoral do Julgamento (Choshen Mishpat): Continha doze pedras preciosas, cada uma simbolizando uma tribo, e os Urim e Tumim, usados para buscar a orientação do Eterno.
Mitznefet (Turbante) e Tzitz (Placa de ouro na testa): Com a inscrição "Kodesh LaHaShem" (Santo para o Eterno), estabelece a consagração de Cohen Gadol.
Ketonet (Túnica), Avnet (Cinto) e Michnasayim (Calções de linho): Vestimentas que garantem a dignidade e a santidade dos sacerdotes ao servirem no Mishkan.
O Eterno detalha o processo de consagração de Aharon e seus filhos como cohanim:
Mikveh (Imersão em água): Como sinal de purificação.
Vestição com as roupas sagradas.
Unção com azeite: O óleo da unção sagrada é derramado sobre Aharon.
Ofertas de sacrifícios: Incluindo um novilho pelo pecado e carneiros para a consagração.
Esse ritual dura sete dias e sela a aliança entre os Cohanim e o Eterno.
O Eterno ordena a oferta diária de dois cordeiros, um pela manhã e outro à tarde, acompanhado de minchá (oferta de grãos) e libação de vinho. Esse sacrifício contínuo simboliza a presença constante do Eterno entre Israel.
O Eterno ordena a construção do altar de ouro para a queima do incenso sagrado dentro do Mishkan. O incenso representa as orações de Israel subindo perante o Eterno.
A Parashá Tetsavê reforça o papel dos Cohanim e sua responsabilidade em manter a santidade do Mishkan. As vestes sacerdotais demonstram a honra e a distinção do serviço ao Eterno. O azeite da Menorá, os sacrifícios diários e o incenso simbolizam a presença contínua do Eterno no meio do povo.
O grande ensinamento dessa parashá é que a santidade deve ser mantida constantemente, não apenas em momentos específicos. O Eterno exige obediência, pureza e serviço contínuo para habitar entre o Seu povo.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Ordene ao povo de Yisrael que traga a você azeite puro de azeitonas prensadas para a luz, e mantenha a lâmpada continuamente queimando. Shemot 27:20
A Parashá Tetsaveh continua o tema da santidade iniciado na porção passada, a Teruma. As duas, mais a próxima, são muito profundas e significativas dentro do Sefer Shemot (livro de Êxodo) no tocante à temática mencionada, pois trata diretamente do papel dos Cohanim e da estrutura do serviço no Mishkan. Nesta parashá, o Eterno ordenou a Moshe que instruísse Aharon e seus filhos sobre sua consagração e as vestes sagradas que deveriam usar para o serviço divino. Mas além do contexto histórico e cerimonial, Tetsaveh traz um princípio fundamental e profético atemporal: a santidade não pode ser um estado ocasional, mas sim um compromisso contínuo e ininterrupto, pois é isso que levará os justos ao Reino do Eterno.
Essa ideia é uma das bases centrais da relação entre Yisrael e o Eterno. A santidade (קדושה - kedushá) não é apenas um conceito abstrato ou uma experiência espiritual momentânea, ela deve permear cada aspecto da vida, do mais solene ao mais cotidiano. Esse princípio pode ser visto tanto nas palavras dos profetas quanto nos ensinamentos de Yeshua e nos escritos de Shaul (Paulo), onde a santidade se manifesta como um revestimento divino – seja pelas vestes sacerdotais, seja pela “armadura de HaShem”.
1. A Santidade Como Um Chamado Contínuo
O Eterno declarou a Moshê:
Ordene ao povo de Yisrael que traga a você azeite puro de azeitonas prensadas para a luz, e mantenha a lâmpada continuamente queimando. Shemot 27:20
No ciclo passado, nessa parashá falamos sobre o azeite, e neste ano, aqui entraremos em um assunto que complementa aquele, veremos que a essência da santidade é a continuidade. A luz da Menorá simboliza a presença do Eterno, mas essa luz não se mantém sozinha. Ela exige o azeite puro, exige o cuidado diário de Cohen. Assim também é a relação entre Yisrael e o Eterno: não basta um único momento de consagração, é preciso manter o fogo aceso todos os dias.
Vemos no sistema religioso as pessoas se enganarem com a ideia de que a santidade vem do Eterno, retirando de si mesmos a responsabilidade de obedecerem aos mandamentos e com isso alcançarem-na. Exemplo disso é o chamado batismo, que além de entenderem tudo errado em relação ao seu verdadeiro significado, ainda fazem isso apenas uma vez, fazendo disso um único ato. Ou às vezes fazem campanhas de oração buscando alcançar alguma bênção, mas em detrimento disso, desobedecem mandamentos simples como não comer certos animais, entre tantos outros exemplos que podem ser dados que esbarram na impossibilidade de se conseguir a verdadeira santificação.
A Toráh reforça esse chamado à santidade constante:
Eu sou o Eterno, vosso Elohim; santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo. Vayicrá/Lv 11:44
A exigência do Eterno não se limita ao Mishkan. Esse mandamento não é apenas voltado para os Cohanim, é para todos. Ele deseja que Seu povo viva em santidade todos os dias, em todas as situações. Os Cohanim são o exemplo, pois eles ensinariam o povo a seguir esse princípio. Por isso, as vestes sacerdotais eram mais do que um símbolo cerimonial – eram um lembrete físico e constante do compromisso de servir ao Eterno com pureza e dedicação.
Os profetas do Eterno que foram enviados ao seu povo ecoaram esse chamado à santidade contínua, à obediência. Mesmo os que se perderam no caminho poderiam retornar à santidade fazendo teshuvah. Observe o que disse Yeshayahu/Isaías 35:1-10, ênfase no verso 8.
2. O Significado das Vestes Sacerdotais
As vestes dos Cohanim não eram simples adornos; cada peça carregava um significado profundo:
- O Avnet (cinto) – Simboliza o autocontrole e a disciplina no serviço ao Eterno.
- A Ketonet (túnica de linho) – Representa a pureza e retidão.
- O Choshen Mishpat (Peitoral do Julgamento) – Continha os nomes das doze tribos, mostrando que o Cohen Gadol representava todo Yisrael diante do Eterno.
- A Mitznefet (turbante) e o Tzitz (placa de ouro na testa) – Levavam a inscrição "Kodesh LaHaShem" (Santo para o Eterno), um lembrete de que a santidade precisa estar sempre "na mente" do sacerdote.
Essas vestes indicavam que o Cohen não poderia se comportar de qualquer maneira diante do Eterno, deveriam estar sempre atentos. Ele deve estar vestido especificamente para exercer seu papel sagrado. Mas o conceito vai além da aparência externa: as vestes simbolizam uma disposição interior de conformidade, retidão e consagração. É claramente um lembrete de que se deve a todo tempo saber que é necessário nos manter separados para o Eterno. Esse mesmo princípio de “vestir-se espiritualmente” ou seja, obedecer ao Eterno de coração e com dedicação constante, é retomado por Yeshua e pelos seus emissários, como Shaul.
3. O Ensino de Yeshua Sobre a Santidade Contínua
Yeshua, como um mestre da Torá que era, reforçou esse conceito de santidade ao dizer:
Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. Matityahu 5:48
Ele estava reforçando a instrução de Vayicrá 11:44 que lemos acima, e isso não significa que ele estava exigindo uma perfeição inatingível, como muitos podem pensar e ensinar, mas sim exigindo um compromisso contínuo de honestidade e obediência, assim como o Cohen Gadol tinha em seus serviços diários no Mishkan.
Além disso, Yeshua ensina que a santidade não deve ser externa e superficial, mas algo interno, verdadeiro e constante, que só depois de transformar o caráter do homem aparece externamente como testemunho que as pessoas dão do justo ao reconhecerem, mesmo que não queiram, a vida de santidade do que está em teshuvah.
Veja o que o messias ensinou:
Ai de vós, escribas e perushim, hipócritas! Pois limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança. Matityahu 23:25
O que ele denuncia aqui não é a observância da Torá, mas a falsa santidade – aquela que se preocupa apenas com a aparência externa, sem um coração verdadeiramente consagrado ao Eterno. Yeshua reforça a ideia de que a santidade deve ser integral, contínua e autêntica, não apenas ritualística.
4. A Relação com a Armadura de HaShem em Efésios 6
Shaul, ao escrever aos discípulos de Yeshua, faz um paralelo interessante entre a consagração sacerdotal e a vida daqueles que desejam andar nos caminhos do Eterno. Ele escreve:
Revesti-vos de toda a armadura de Elohim, para que possam estar firmes contra as ciladas do adversário. Efésios 6:11
Em sua instrução aos crentes em Éfeso, que estavam passando por muitas provações, sendo perseguidos por religiosos e também pelos romanos, o apóstolo faz um midrash das vestes sacerdotais relacionando com uma armadura. Isso porque as pessoas daquele país eram conhecedores de armaduras. Havia a lenda de que aquela cidade fora fundada pelas Amazonas, uma tribo de mulheres guerreiras, não é sem motivo que uma das principais divindades daquela cidade era a Diana dos Efésios.
Assim Shaul descreve as partes da armadura chamando-a de “armadura de Elohim”, uma clara alusão às vestes sacerdotais. Observem abaixo:
- Cinturão da Verdade – Relacionado ao Avnet (cinto) dos Cohanim, que simboliza disciplina e retidão.
- Couraça da Justiça - Assim como o Choshen Mishpat (Peitoral da Justiça) do Cohen Gadol.
- Calçados da Preparação do Evangelho da Paz - Como os pés dos profetas, que levam a palavra do Eterno ao povo (Yeshayahu 52:7).
- Escudo da Confiança Firme - Representa a proteção contra influências externas, assim como o serviço sacerdotal de proteção espiritual de Yisrael.
- Capacete da Salvação → Como a Mitznefet (Turbante), que leva a inscrição "Kodesh LaHaShem".
- Espada da Palavra de HaShem - Representa a Torá e os ensinamentos do Eterno, que são a verdadeira arma contra as trevas.
Shaul não está criando um conceito novo, mas sim reinterpretando o mesmo princípio encontrado na Parashá Tetsavê: para servir ao Eterno, é necessário estar devidamente preparado e revestido da santidade.
Assim como o Cohen Gadol não poderia se aproximar do Mishkan de qualquer maneira, também ninguém pode se aproximar do Eterno sem estar "vestido" de santidade e obediência. Quer ser servo do Eterno? Vista-se de santidade, obediência e faça teshuvah!
Concluindo nosso estudo, vemos que a Parashá Tetsavê não é apenas um relato sobre vestes sacerdotais e rituais antigos. Ela é um chamado atual, profético e eterno para aqueles que desejam servir ao Eterno de maneira genuína. A santidade não pode ser um momento isolado, mas um compromisso diário. Seja no serviço do Mishkan, nos ensinamentos dos profetas, nas palavras de Yeshua ou nas metáforas de Shaul, a mensagem é a mesma:
- Santidade exige preparo.
- Santidade exige compromisso contínuo.
- Santidade é um estado de vida, não uma experiência momentânea.
Se queremos que o Eterno habite entre nós, precisamos manter o fogo aceso todos os dias, sem deixá-lo apagar. Como está escrito:
Amem o Eterno, o seu Elohim e obedeçam sempre aos seus preceitos, aos seus decretos, às suas ordenanças e aos seus mandamentos. Devarim 11:1
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)