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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Estudo da Parashá Korach - Como servir ao Eterno sem o Templo físico?

 


Estudos da Torá

Parashá nº 38 – Korach (Corá)

Bamidbar/Números 16:1-18:32

Haftará (separação) 1Sm 11:14-12:22 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) 2Tm 2:8-21; Jd 1-25


Como servir ao Eterno sem o Templo físico?


Como servir ao Eterno sem um Templo físico? Esse tema tirado da Parashá Korach nos mostra que o serviço ao Eterno nunca dependeu de estruturas, mas sim de ordem, santidade e obediência. Quando a terra se abriu para engolir os rebeldes, não foi apenas um juízo, foi uma lição eterna: HaShem zela por Sua ordem e escolhe quem O serve. Hoje, sem Mikdash, ainda somos chamados a servi-lo com temor e responsabilidade. Mas... como? Esse estudo profundo revela como o serviço sagrado continua em nossos dias, com o coração como altar, nosso corpo e nosso lar como Mishkan, e a vida como oferta. Leia e descubra o peso e a honra de pertencer ao Eterno.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Korach, um levita da linhagem de Kehat, se rebela contra a autoridade de Moshe e Aharon, junto com Datan, Aviram (da tribo de Reuven) e 250 homens de renome entre Yisrael. Eles alegam que “toda a congregação é santa” e questionam por que Aharon e Moshe se destacam entre o povo.

No entanto, a motivação real deles era a inveja, o desejo pelo sacerdócio e por isso promovem uma rebelião contra a ordem estabelecida pelo Eterno.

Moshe cai sobre seu rosto em terra, e propõe uma prova: cada um dos rebeldes oferecerá incenso ao Eterno. Aharon também. O Eterno então faz a terra abrir-se e engolir Korach, Datan, Aviram e suas famílias vivas. Depois, fogo consome os 250 homens que ofereceram incenso indevidamente.

Mesmo após esse juízo, o povo murmura contra Moshe e Aharon, acusando-os de matar o povo do Eterno. Uma praga começa a se espalhar, e Aharon, com incensário, corre entre os vivos e os mortos, intercedendo e cessando a praga.

Para confirmar a escolha divina, HaShem ordena que as tribos tragam varas. A vara de Aharon floresce, brota flores e dá amêndoas, mostrando quem foi escolhido para o serviço sagrado.

A parashá termina com instruções sobre o papel exclusivo dos filhos de Aharon no altar e dentro do Mishkan, o serviço dos levitas como auxiliares, o sustento dos levitas através dos dízimos e a oferta que os levitas devem dar dos dízimos recebidos (o dízimo dos dízimos).


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

O Eterno é justo em todos os seus caminhos, e fiel em todas as suas obras. Podemos observar que após a rebelião de Korach, o Eterno reforçou com mais clareza ainda os mandamentos referentes ao serviço sagrado, especialmente dos levitas e dos sacerdotes, os filhos de Aharon. Isso não foi feito por causa de favoritismo, mas para preservar a vida do povo e manter a santidade do serviço. Vejamos isso de forma um pouco mais aprofundado.

Após a terra engolir os rebeldes e o fogo consumir os 250, ainda houve murmuração entre os filhos de Yisrael. Eles diziam:


Vós tendes matado o povo do Eterno! Bamidbar 17:6


O Eterno então, devido a essas palavras, ordena que cada líder tribal traga uma vara, e a de Aharon floresce:


E eis que a vara de Aharon, pela casa de Levi, floresceu; e brotou flores, e produziu amêndoas maduras. Bamidbar 17:8


Fazendo a vara de Aharon florescer e dar fruto, o Eterno mostra a todos que a vida e o fruto só vêm de quem Ele escolheu. O serviço no Mishkan não é por mérito humano, mas por ordem divina. Quem tenta servir sem ser designado, produz morte. Quem serve conforme o Eterno ordena, produz fruto e vida. A função dos levitas e dos kohanim não é privilégio, é peso de responsabilidade. Eles levam a iniquidade do povo sobre si, se houver transgressão. Isso não é para qualquer um. Note que eu estou falando sobre o serviço no Mishkam sempre no presente, apesar de não haver mais templo físico, e isso é proposital, pois está dentro do nosso tema de estudo. Siga em frente e entenda mais.

Observe o texto abaixo:


... e o estranho que se aproximar será morto. Bamidbar 18:7


A palavra “e o estranho”, em hebraico וְהַזָּרvehazar - aqui se refere a qualquer pessoa que não seja da linhagem de Aharon. Mesmo os levitas não podiam tocar no altar ou entrar no Kodesh HaKodashim, pois era uma tarefa sacerdotal. Isso nos mostra que:

  • O serviço sagrado é santo.

  • Cada um deve conhecer o seu lugar designado.

  • O zelo do Eterno pela ordem e pela santidade é absoluto.

Observemos mais um texto:


A ti dei, como porção, todos os sagrados dons... para que nunca mais os filhos de Yisrael se aproximem da tenda da reunião, para não levarem pecado e morrerem. Bamidbar 18:19-22


Pelo texto, confirmamos que o Eterno estabeleceu os dízimos e as ofertas consagradas para sustentar os que ministram no Mishkan. Isso é justo, pois eles dedicam a vida ao serviço. Lembrando que atualmente ninguém pode receber dízimos como se fossem levitas e sacerdotes. Se há alguma congregação que se reúne em algum local, que gera despesas, essas podem ser divididas entre os membros, mas nunca cobrar dízimos alegando que precisa pagar as contas, etc.

Mas os levitas, por sua vez, também devem separar o dízimo dos dízimos:


E aos levitas falarás quando tomardes dos filhos de Yisrael os dízimos da produção deles que dei a vocês como herança, então dareis deles a oferta do Eterno, o dízimo dos dízimos. Bamidbar 18:26


Assim, podemos aprender algumas lições com esses mandamentos que HaShem reforçou após a punição de Korach e seus seguidores, observe abaixo:

- Serviço sagrado é chamado, não escolha pessoal. Quem tenta se intrometer, principalmente por interesses escusos, como Korach, acaba morrendo.

- Cada tribo tem seu papel dentro do povo. Levi não herdou terra, mas herdou o serviço do Eterno.

- Ordem é proteção. O povo devia temer o Eterno e não ultrapassar limites.

- Santidade não é apenas posição, é responsabilidade. Quanto mais próximo do altar, maior o peso.

Devemos refletir no que diz o Salmo:

Quem pode subir ao monte do Eterno? Quem poderá entrar em seu santo lugar? O que tem mãos limpas e coração puro, que não tornam vãos os propósitos de sua vida nem juram votos apenas para engano. Tehilim 24:3-4


Agora que tivemos uma visão acerca dos mandamentos sobre o serviço ao Eterno e quem pode executá-lo, podemos nos debruçar mais detidamente sobre nosso tema e entender como tudo isso se aplica ao remanescente fiel hoje, os que seguem o caminho do Eterno em obediência, mesmo sem haver Mikdash (templo) físico. Observemos então com temor e discernimento como os ensinos dessa parashá e os mandamentos constantes em Bamidbar 17 e 18 se a´licam a nós hoje, filhos de Yisrael dispersos entre as nações, mas que buscamos andar conforme os caminhos do Eterno.


1. O serviço ao Eterno continua, mesmo sem Mikdash

Embora o Templo não esteja erguido, o Eterno não mudou. Seus mandamentos são eternos, e os princípios de santidade, separação e ordem ainda regem o povo. Ao contrário do que pensam muitos teólogos e líderes religiosos, o Eterno não mudou, sua palavra nunca deixa de valer e a visão distorcida de que tudo mudou com a vinda do messias está totalmente enganada e demonstra falta de conhecimento dos princípios bíblicos. Principalmente porque o próprio messias Yeshua disse que veio para tornar os mandamentos de HaShem plenos, conforme lemos em Mt 5:17, ele ensinou que não veio para invalidar a Torá, como dizem os teólogos, mas para mostrar seu verdadeiro significado e propósito. Veio cumprir o que a Torá apontava, revelando o amor do Eterno em sua plenitude. A palavra do Eterno não muda e Yeshua sabia disso, ele entendia o que disse o profeta:


A Palavra do Eterno permanece para sempre. Yeshayahu 40:8


A santidade continua a ser exigida por HaShem, de todo aquele que se aproxima para servi-lo, seja em oração e práticas, ensino, ou liderança. Quando Yeshua mencionou que veio “dar pleno cumprimento” aos mandamentos de HaShem, indica que ele não apenas obedeceu aos mandamentos, mas também os ensinou e deu exemplo de como cumprir, de forma perfeita. Ele revelou a dimensão espiritual, ou seja, de obediência, e amorosa da Torá, que muitos traduzem tão singelamente como Lei, esse ensino de Yeshua mostra que a verdadeira obediência vai além da mera observância externa. 

Muito do que havia no Mishkan (tabernáculo) e no Mikdash (templo) eram apontamentos proféticos, ou como alguns dizem, sombras de coisas maiores. E quando estudamos a Torá temos a oportunidade de entender essas coisas com mais profundidade. Continuemos então mexendo no fundo desse rio de conhecimento da Palavra de HaShem e vendo o que nos é apresentado, como por exemplo: o que é o altar?


2. O altar hoje é nosso coração e nossas ações

Como não há templo, não há altar e dessa forma também não temos sacrifícios de animais, e sabemos que a Torá nos ensina que o Eterno deseja corações obedientes, e portanto, nossos atos de justiça se tornam como ofertas.


Ofereçam ao Eterno sacrifícios de justiça, e confiem Nele. Tehilim 4:5


A oração dos retos é como incenso diante Dele. Tehilim 141:2


O nosso corpo é o tabernáculo/templo onde o Eterno habita, aprendemos isso na Torá ao estudar a parashá Terumáh, em Shemot 25:1-27:19, e o nosso coração é o altar, pois nele reside a kavanáh, a intenção. Se ela for boa e buscar a obediência ofereceremos sacrifício vivo. Rav Sha’ul entendia esse princípio da Torá, pois disse certa vez em uma de suas cartas:


Ou vocês não sabem que seu corpo é um templo do Ruach HaKodesh (Espírito, Mover, Poder, Sopro do Santo), que habita em vocês, e que vocês receberam da parte de Elohim? A verdade é que vocês não pertencem a si mesmos, mas foram comprados por um preço. Então, usem o corpo para glorificar ao Eterno. 1Co 6:19 e 20


O shaliach (apóstolo, enviado) ensinou sobre a responsabilidade daquele que serve ao Eterno, de cuidar do corpo, pois é o templo, honrando ao Eterno com ele de todas as formas possíveis. Isso não era uma mera metáfora dita pelo apóstolo, mas a expressão de uma verdade do TaNaK. Essa verdade nos chama à responsabilidade de cuidar de nossa vida, nosso corpo como presente do Eterno, principalmente, pois é o lugar que ele escolheu habitar.

Quem se apresenta diante do Eterno em hipocrisia, como Korach, Ananias e Shapira (At 5) ou Shimón (At 8), está se arriscando a ser rejeitado. Mas quem serve com temor, verdade e obediência, é aceito.


3. A ordem ainda deve ser respeitada

Estamos compreendendo de forma clara, que mesmo sem o Templo e os sacerdotes atuantes, a estrutura estabelecida pelo Eterno não foi revogada. A liderança verdadeira e todos que servem a HaShem no meio do povo hoje deve seguir o modelo de Moshe e Aharon: humildade, santidade e serviço sacrificial.


Moshe ouviu e caiu sobre o seu rosto. Bamidbar 16:4


Qualquer pessoa que busca glória própria, influência ou poder, está andando no espírito de Korach. Já os que guiam o povo com temor, lembrando-se que o povo pertence ao Eterno, esses fazem conforme a instrução do Santo.


4. O zelo pelo Eterno deve começar em casa

Tu e teus filhos contigo guardareis o sacerdócio. Bamidbar 18:7


O princípio de sermos o templo deve ser estendido ao nosso lar, pois hoje, cada homem em deve ver seu lar como um pequeno Mishkan. Ele é responsável por:

  • Ensinar os mandamentos aos filhos (Devarim 6:7)

  • Separar o que é santo do comum em sua casa

  • Santificar os tempos designados

  • Zelar pela pureza do que entra e sai de sua casa

Não há sacerdócio ativo, mas, mesmo assim, cada um de nós é desde agora, um sacerdote, e portanto, temos a responsabilidade pessoal diante do Eterno. Esse é o motivo para vivermos e servirmos ao Eterno, mesmo se ter o templo físico, já que o templo somos nós mesmos e não podemos e nem devemos agir como Korach.

Concluindo então, a Parashá Korach nos ensina que o serviço ao Eterno nunca foi uma questão de estrutura física, mas de santidade e ordem. A rebelião de Korach foi julgada porque tentou romper os limites santos estabelecidos por HaShem. Hoje, o Templo físico não está de pé, mas a responsabilidade espiritual aumentou: nós nos tornamos o Mishkan, nossos corações são o altar, e nossas ações são os sacrifícios. O chamado do Eterno permanece o mesmo: “Sejam santos, porque Eu sou santo”. Servir ao Eterno, portanto, é viver em obediência, temor, e separação, começando dentro de nós e se estendendo ao nosso lar, à nossa comunidade e a toda obra das nossas mãos. Que não sejamos como Korach, mas como Aharon: chamados, obedientes e prontos para interceder com zelo.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Estudo da Parashá Shelach L'khá - Tzitzit: Olhe, lembre dos mandamentos.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 37 – Shelach Lekha (Envie para você)

Bamidbar/Números 13:1-15:41

Haftará (separação) Js 2:1-24 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Hb 3:7-19


Tzitzit: Olhe, lembre dos mandamentos.


Num mundo cheio de distrações, onde os olhos facilmente se encantam com o que é passageiro e o coração se ilude com seus próprios desejos, o Eterno nos deixou um lembrete pendente. Pequenos fios nas extremidades das vestes, entrelaçados com um cordão azul. Não são ornamentos, não são tradições vazias — são uma convocação diária, silenciosa, mas constante: “Lembra-te dos Meus mandamentos!” Assim são os tzitzit, o sinal visível e externo ao corpo, de uma aliança invisível e interna, pois inicia na kavanáh (intenção). Uma ordem do Eterno para que o homem, frágil em sua carne, não se esqueça daquilo que pode dar vida. Pois não é o Eterno quem precisa lembrar de Sua aliança; é o homem que constantemente se esquece dela.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

A Parashá Shelach L’kha é uma porção profunda e cheia de advertências para todos que desejam andar nos caminhos do Eterno com firme confiança e obediência. Ela inicia com o Eterno permitiu que Moshê enviasse doze homens, um de cada tribo, para observar a terra de Kena’an, a qual Ele havia prometido dar aos filhos de Yisrael. Esses homens eram líderes entre suas tribos. Eles foram e exploraram a terra por quarenta dias. E constataram que a terra era, de fato, boa e com muitos frutos grandes e férteis, como mostravam os cachos de uva que levaram.

Ao retornarem, dez dos espias desanimaram o povo com palavras de medo, dizendo que os habitantes da terra eram gigantes e que seria impossível vencê-los. Apenas Yehoshua ben Nun e Kalev ben Yefuné mantiveram firme confiança no Eterno.

O povo chorou, murmurou e quis voltar ao Mitsrayim. O Eterno então se irou, e decretou que toda aquela geração acima de 20 anos pereceria no deserto, exceto Kalev e Yehoshua. Assim, eles peregrinariam 40 anos no deserto, um ano para cada dia que espiaram a terra. No entanto, mesmo depois da advertência, alguns tentaram subir por sua própria força, mas foram derrotados pelos amalequitas e cananeus, pois o Eterno não estava com eles.

HaShem deu instruções sobre as ofertas de alimento, vinho e animais ao entrarem na terra prometida, reforçando que essas leis valem para o nascido em Yisrael e para o estrangeiro que habitasse com eles. Instrui-se sobre os sacrifícios para pecados cometidos sem intenção. E em seguida, um homem é encontrado colhendo lenha no dia de Shabat, desrespeitando abertamente as instruções dadas por HaShem. Por ordem do Eterno, ele foi morto por apedrejamento fora do acampamento, para que ficasse registrado como exemplo.

A parashá termina com a ordem de se fazer franjas (tzitzit) nas extremidades das vestes, com um cordão azul, para lembrar todos os mandamentos do Eterno e não seguir após o coração e os olhos.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Em meio ao deserto, onde cada passo era observado pela nuvem do Eterno e cada manhã trazia o maná celestial, ainda assim o povo esquecia. Esquecia das promessas, esquecia dos juízos, esquecia da misericórdia do Eterno. Foi então que o Eterno ordenou um sinal simples, porém eterno: tzitzit, as franjas penduradas nas extremidades das vestes, com um fio azul no meio. Essas franjas não são enfeites, mas uma lembrança viva de um compromisso inquebrável. Uma aliança que não depende do esquecimento do Eterno, mas sim da nossa constante propensão ao esquecimento.

O mandamento dos tzitzit é declarado claramente em Bamidbar/Nm 15:37–41, logo após a narrativa do homem que desobedeceu ao mandamento de observar o Shabat. O Eterno, em sua justiça e misericórdia, oferece uma ferramenta visível para que o homem se recorde daquilo que deve guardar com o coração. Observe as palavras de HaShem:


O Tzitzit servirá para vocês olharem para eles e se lembrarem de todas as mitzvot do Eterno e obedecerem a elas, para que não sejam desviados pelo próprio coração e pelos olhos, sendo levados a se prostituírem. (Bamidbar 15:39)


Podemos perceber que o propósito não é mágico, místico, nem cerimonial. É prático! Observe os verbos que exprimem ação: olhar, lembrar e obedecer. A função dos tzitzit é anular o esquecimento natural do homem e confrontar sua inclinação para o mal, o yetzer harah, com um lembrete diário do compromisso com o Eterno. Eles existem para que o homem olhe para si mesmo e se corrija, não para que ele tente corrigir o Eterno ou “lembrá-lo” do que Ele nunca esqueceu.

Enquanto eu estudava para preparar este conteúdo minha esposa veio perto de mim e disse:

Você já reparou na letra daquela música gospel famosa que diz: “...lembra Senhor, juraste o teu amor e nada pode mudar o que sentes por mim, nem os meus pecados…

Quando ouvi ela falando isso comigo, percebi que o Eterno estava confirmando em meu coração que o assunto que eu devia trazer era justamente sobre o objetivo do Tzitzit. Primeiro, o homem não pode lembrar o Eterno de nada, pois ele de nada esquece. Segundo, é o Eterno quem estabelece um meio para que nós não nos esqueçamos do nosso compromisso com ele, e isto é o tzitzit. E por último, a letra da música fala que nada pode mudar o que o Eterno sente pelo homem, nem seus pecados. E isso é totalmente fora do que aprendemos nas Escrituras, pois ela diz:


Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Elohim; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça. Yeshayahu (Isaías) 59:2


1. O homem se esquece, o Eterno nunca.

Desde Bereshit, o homem demonstra uma tendência ao esquecimento. Adam, mesmo ouvindo diretamente do Eterno, transgrediu. Os filhos de Yisrael, após verem sinais e maravilhas no Mitsrayim, murmuraram no deserto. Em contraste, o Eterno afirma:


Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de Mim, e dos teus pecados não Me lembro. Yeshayahu (Isaías) 43:25


Em um primeiro momento, parece ser contraditório o que mencionei anteriormente, com o que está sendo mencionado agora, mas o profeta demonstra que o povo precisa se arrepender e praticar a justiça para conseguir ter seus pecados apagados.

A lembrança do Eterno não falha. Quando Ele “esquece” algo, é por escolha soberana, não por falha de memória. O Eterno não precisa que o homem diga: "lembra do que disseste!", pois isso revela ignorância sobre quem Ele é. A real necessidade é que o homem lembre o que o Eterno disse! Assim como está escrito:


Lembra-te do caminho que o Eterno, teu Elohim, te fez andar estes quarenta anos no deserto... Devarim 8:2


O esquecimento é nosso — não do Eterno, nunca do Eterno. O mandamento do Tzitzit tem o objetivo direto, que é a lembrança dos mandamentos do Eterno, para que o homem não se desvie, não se entregue às inclinações do coração nem aos desejos que os olhos cobiçam.

É comum, em canções e falas humanas, ouvir frases como: “lembra, Senhor, da tua promessa”. Isso demonstra uma visão limitada e humana do Eterno, como se ele, que criou todas as coisas, necessitassem de um lembrete. Conforme mencionamos o texto de Yeshayahu acima, há também um texto de Tehilim que confirma o que estamos falando, observe:


Pois ele sabe como somos feitos; lembra que somos pó. Tehilim 103:14


Conforme já mencionado, o Eterno é quem escolhe o que lembrar e o que esquecer, não porque se esquece como o homem, mas por decisão justa. Portanto, é um erro grave tentar lembrá-lo de algo que Ele mesmo determinou por Sua sabedoria. O que devemos entender é que, não é o Eterno que precisa de lembretes, é o homem que necessita ser lembrado.


2. Os olhos e o coração, as fontes de desvio.

O texto desta parashá, em Bamidbar 15, diz que os tzitzit existem para que o homem “não siga o seu coração nem os seus olhos”. Isto é, os dois caminhos mais comuns de desvio. E vemos isso no TaNaK:


Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso... Yirmeyahu (Jeremias) 17:9.

Não porás coisa má diante dos teus olhos... Tehilim (Salmos) 101:3


Os olhos veem e desejam. O coração se apaixona pelo que é falso. Os tzitzit são amarras visíveis para conter essa queda. Não basta dizer: “o Eterno conhece meu coração”. Sim, Ele conhece, e é justamente por isso que ordenou lembretes físicos, visíveis, para restringir a inclinação. O homem deve se lembrar da ordem, não inventar desculpas para a desobediência.

O Rabino Aryeh Kaplan em seu livro “Tsitsit um fio de luz”, de 1993, diz que, o Eterno nos deu um mandamento que serve de lembrete constante. A Torá pronuncia co clareza quando diz “Eles serão vossos Tsitsit e vós os vereis e havereis de lembrar todos os mandamentos de D’us e obedecerei, e não vos deixareis levar pelos vossos corações e olhos que vos levarão à imoralidade”. E ele continua e diz que, “no sentido mais simples, então, os Tsitsit cumprem função de lembrete…” E com a fala do referido rabino, temos a oportunidade ver como deve ser o entendimento do que a Torá e os profetas instruem.


3. Lembrar e praticar

Yeshua nunca ensinou que o homem devesse “lembrar o Eterno” de Suas promessas. Pelo contrário, ele alertava para que o homem guardasse os ensinos dos mandamentos da Torá que ele ensinava, pois a prática dos mandamentos é o verdadeiro sinal de firme confiança, conforme pode ser visto:


Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente... Mattityahu (Mateus) 7:24


Ouvir e praticar, essa é a lembrança verdadeira. Os talmidim também exortavam sempre à obediência constante, não à barganha com o Eterno.


Sede cumpridores da Palavra e não apenas ouvintes, enganando a vós mesmos. Yaakov (Tiago) 1:22


A lembrança dos mandamentos é ativa, não passiva. É para nos guardar em santidade, não para tentarmos manipular o Eterno. Quando usamos palavras como: "lembra, Senhor, do que prometeste", mostramos que esquecemos quem é Ele e o que Ele exige de nós. É o ser humano que deve se lembrar da sua posição, da sua necessidade de arrependimento, e de sua obrigação de andar nos caminhos do Eterno. Já que o ser humano deve se lembrar vejamos quem deve obedecer a este mandamento.


4. As mulheres e o Tzitzit

A ordenança dos tzitzit se encontra em Bamidbar (Números) 15:37–41, conforme já vimos anteriormente, mas observe novamente:


Fala aos filhos de Yisrael, e dize-lhes que façam para si tzitzit nas extremidades das suas vestes, pelas suas gerações... E será para vós por tzitzit, para que, vendo-o, vos lembreis de todos os mandamentos do Eterno, e os cumprais…


O texto ordena aos benei Yisrael (filhos de Yisra’el) que coloquem os tzitzit. Essa expressão, apesar de ser interpretada, principalmente pela tradição judaica, como apenas masculina, no hebraico também pode ter um sentido coletivo de “filhos e filhas”, ou seja, todo o povo. E essa compreensão é fortalecida pelo próprio contexto do mandamento:


...para que vos lembreis de todos os mandamentos do Eterno, e os cumprais, e sejais consagrados ao vosso Elohim. (v. 40)


O mandamento dos tzitzit está ligado à lembrança e prática dos mandamentos, conforme vimos até aqui, e estes são iguais tanto para homens quanto para mulheres, como está escrito:


Uma mesma instrução haverá para vós, tanto para o estrangeiro como para o natural da terra. Bamidbar (Números) 15:15


Assim, podemos compreender que as mulheres fazem parte de Yisrael. Elas estavam no Sinai, elas ouviram a voz do Eterno, e a elas também se aplicam os mandamentos. Quando o Eterno disse:


Congrega o povo, homens, mulheres e crianças, e o estrangeiro que está dentro das tuas portas, para que ouçam, e aprendam, e temam ao Eterno, vosso Elohim, e cuidem de cumprir todas as palavras desta Torá. Devarim (Deuteronômio) 31:12


Está claro que há mandamentos que são específicos para homens, outros são específicos para mulheres, e para sacerdotes, mas há mandamentos nas palavras da Torá, que são para todos, são para homens e mulheres.

Não há, em nenhum lugar da Torá ou dos Nevi'im, qualquer proibição às mulheres de usarem tzitzit. E tampouco encontramos nas palavras de Yeshua ou dos talmidim alguma distinção que retire esse mandamento das mulheres. O que se encontra são tradições, leis de cerca, que acabam impedindo as mulheres de obedecerem a este mandamento.

Se o Tzitzit tem o propósito de lembrar, as mulheres também são chamadas pelo Eterno à obediência. Mulheres também têm coração e olhos que podem levá-las a se desviarem. Elas também caminham e enfrentam tentações. Por isso, elas também se beneficiam do sinal visível da aliança. Além disso, o texto diz que o mandamento é “para as vossas gerações”, em hebraico לְדֹרֹתָם – ledorotam, o que abrange todas as gerações do povo, não apenas os líderes ou os homens.

Alguns costumes humanos, ao longo dos séculos, criaram divisões e restrições não encontradas na Torá. Como colocar o tzitzit nas pontas do Talit, o manto de orações, e dizer que só homens o usam. O mandamento fala de prender as franjas nas vestes, não em um manto de orações. Por isso sempre dizemos que a Palavra do Eterno está acima das tradições dos homens e das religiões. Aqueles que dizem que “a mulher não pode usar tzitzit” estão falando sem respaldo nas Escrituras, e com base apenas em tradições e interpretações humanas. Portanto, as mulheres podem, e se quiserem andar em obediência ao Eterno e lembrar dos seus mandamentos, devem usar. Porque o mandamento é universal, ele não é cerimonial, não é sacerdotal e não é exclusivo de homens. É uma instrução de aliança, de santidade, e de fidelidade a todos os filhos de Yisrael, sejam eles homens ou mulheres.

Concluindo nosso estudo, vimos que o Eterno não se esquece. O homem sim. Por isso ele, em sua misericórdia, nos deu o mandamento do Tzitzit, para que olhemos e lembremos. Para que cada fio e cada nó nos acuse e nos chame ao arrependimento, à teshuvah. A lembrança verdadeira é aquela que nos leva à ação, à obediência, à fidelidade. Não se trata de emocionar o Eterno com palavras, mas de sermos tocados pela Sua Palavra e respondermos com obediência viva. Portanto, lembremos sim, mas dos mandamentos. Pois quando os guardamos com firme confiança, então o Eterno lembra-se de nós com compaixão.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef