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quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Estudo da Parashá Toldôt (Gerações) - O conceito original de bênção

 


Estudos da Torá


Parashá nº 6 – Toldot (Gerações)

Bereshit/Gênesis Gn 25:19-28:9

Haftará (separação) Ml 1.1-2.7 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 10.1-11:30 e Rm 9:6-16


Tema: O conceito original de bênção


RELEMBRANDO


Vimos nos estudo passado sobre a morte de Sara, e a busca de Avraham por um lugar para sepultá-la, e também falamos sobre a verdade acerca dos termos inferno e sepultura dentro do contexto do TaNaK. Essa semana veremos além da parashá e dentro de seu escopo, o verdadeiro conceito de bênção, conforme podemos encontrá-lo no TaNaK.


A PARASHÁ DA SEMANA


No ano passado iniciei o resumo dessa porção dizendo que ela descreve a vida do patriarca Yitschac. E podemos notar que dos três patriarcas, somente ele ocupa o menor espaço na Torá, ou seja, uma única porção semanal, a parashá Toldôt, essa que estamos estudando.

Nesta parashá vemos o clamor de Yitschac e Rivca para gerarem filhos, pois ela era estéril. E vemos também, o desfecho profético no ventre dessa matriarca do povo de Deus. Dois filhos, dois povos, dois reinos. O mais velho iria servir ao mais novo. Essav e Yakov, Edom e Yisrael.

Yitschac casa-se com Rivca. Após vinte anos sem filhos, vemos o clamor de Yitschac e Rivca e suas preces são atendidas. Ela passa por uma gravidez difícil, pois “as crianças lutam dentro dela”; D’us diz a Rivca que “há duas nações em seu ventre,” e a mais jovem prevalecerá sobre a mais velha.

Essav emerge primeiro; Yakov nasce agarrado ao calcanhar de Essav. Este cresce para ser um “exímio caçador, um homem do campo”; Yakov é um “homem íntegro”, que habita as tendas de estudo. Yitschac favorece Essav; Rivca ama Yakov. Um dia, voltando exausto e faminto de uma caçada certo dia, Essav vende seu direito de primogenitura a Yaacov por um prato de lentilhas.

Em Gerar, na terra dos filisteus, Yitschac apresenta Rivca como sua irmã, por medo de ser morto por alguém que cobice a beleza dela. Ele cultiva a terra, reabre os poços cavados por seu pai Avraham, e abre uma série de poços próprios: sobre os primeiros dois há conflitos com os filisteus, porém as águas do terceiro poço são desfrutadas com tranqüilidade.

Essav casa-se com duas mulheres hititas. Yitschac fica velho e cego, e expressa seu desejo de abençoar Essav antes de morrer. Enquanto Essav sai para caçar o alimento preferido do pai, Rivca veste Yakov com as roupas de Essav, cobre seus braços e pescoço com pele de cabra para simular o toque de seu irmão mais peludo, prepara um prato saboroso de lentilhas, e envia Yakov ao pai.

Yakov deixa o lar e vai para Haran para fugir da ira de Essav e para encontrar uma esposa na família do irmão de sua mãe, Lavan. Essav toma uma terceira esposa, Machlat, filha de Ishmael.


Estudo do Texto da Parashá


Essa parashá recebe o nome “toldôt”, que é o plural da palavra toldá, a palavra hebraica traduzida como “gerações”, mas também como “descendência”, “crônica”, “história” ou “memória”.

Temos conhecimento pelas Escrituras, que muitas mulheres do povo de Yisrael foram estéreis: Sara, Rivca, Rachel e Chanah, a mãe de Sh’muel, entre outras. Avraham e Sara tiveram que esperar mais de 70 anos para verem a resposta às suas orações, por sua vez, Yitschac e Rivca tiveram que esperar 20 anos para que tivessem filhos. No verso 26, do capítulo 25 de Bereshit/Gênesis, está escrito que Yitschac tinha 60 anos quando a sua esposa deu à luz a Essav e Yakov. Isto significa que Yitschac teve que esperar 20 anos para ver o cumprimento da promessa que o Eterno fez a seu pai Avraham.

Podemos aprender várias coisas com o que foi dito acima. Primeiro, isso nos mostra que caminhar com o Eterno não é um caminho fácil. Esse caminho está cheio de problemas e motivos para que a pessoa desista. Depois, aprendemos que o caminho da emunah (fé, confiança, firmeza) consiste em confiar no Eterno para poder superar todos os problemas e ver mudanças radicais em nossas vidas, e acima de tudo, receber força para obter superação nos momentos de crise. Em si mesmo, tudo que já falei aponta para as bênçãos, até mesmo os momentos de dificuldades, pois o fim deles é a nossa elevação, que em si é uma bênção. E devemos compreender que a chave para receber as bênçãos do Eterno, é a nossa perseverança e firmeza em obedecer aos mandamentos de HaShem.

Mas afinal de contas o que é bênção segundo o TaNaK? Qual o conceito original de bênção? Vamos estudar um pouco sobre isso.

Na atualidade podemos ver muitas pessoas buscando bênçãos em todo lugar e a qualquer custo. Qualquer passagem bíblica, mesmo isolada de seu contexto, pode ser um referencial de bênçãos, bem como, qualquer ritual pode atrair muitas pessoas que as buscam.

Então nos perguntamos: Será que benção significa apenas milagres e prosperidades como é proclamado em meio ao sistema religioso?

Vamos ver primeiro o conceito da palavra “bênção”. No Hebraico, a palavra “bênção” é בְּרָכָה – “brakhah”, que vem da raíz בָּרַך – “barakh”, que por sua vez significa ajoelhar-se ou joelho. Essa palavra é bem sugestiva não é? Perceba que sua raiz direciona para o sentido de respeitar, rendição, obediência e até de uma pessoa penitente. Outra coisa interessante é que no estudo da parashá “Balak” eu disse algo a respeito da palavra “bênção”, que repetirei aqui. A bênção e a maldição são opostas. Bênção vem do termo hebraico “barak”, que significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem-sucedido e fecundo em tudo o que fizer.”, vemos isso em Dt 28. Opostamente, o termo “arar” em hebraico é amaldiçoar, e significa “prender por encantamento, cercar com obstáculos, deixar sem forças para resistir.” Mas “brakhah” também pode significar maldição, e falaremos sobre isso mais à frente.

Dessa forma, podemos entender que uma pessoa ao ser abençoada pelo Eterno é difícil que seja amaldiçoada, pois a bênção funciona como um escudo de proteção contra as forças do mal. É importante destacar que, de acordo com o texto de Dt 28, a bênção está intimamente ligada à obediência, assim como a maldição está ligada à desobediência aos mandamentos do Eterno. Por isso, uma pessoa pode ser alcançada pela maldição se houver desobediência, porque a bênção é consequência da obediência, assim como a maldição o é da desobediência. Ou seja, a bênção pode operar em algumas áreas da vida, mas a maldição pode operar em outras áreas onde a Torá não tem sido respeitada. Daí a importância de obedecermos todos os mandamentos que nos cabe obedecer.

Podemos ainda ver a ligação que tem a bênção com a vida de obediência quando lemos o texto do profeta Mal'akhi/Malaquias 1:1-2:7, que está na haftará da parashá dessa semana. Vamos fazer uma rápida leitura desse trecho e observar como é clara a ligação mencionada, fique atento às partes sublinhadas.


Uma advertência: a palavra do Senhor contra Israel, por meio de Mal'akhi/Malaquias. "Eu sempre os amei", diz o Senhor. "Mas vocês perguntam: ‘De que maneira nos amaste? ’ "Não era Esaú irmão de Jacó?", declara o Senhor. "Todavia eu amei Jacó, mas rejeitei Esaú. Transformei suas montanhas em terra devastada e as terras de sua herança em morada de chacais do deserto." Embora Edom afirme: "Fomos esmagados, mas reconstruiremos as ruínas", assim diz o Senhor dos Exércitos: "Podem construir, mas eu demolirei. Eles serão chamados Terra Perversa, povo contra quem o Senhor está irado para sempre. Vocês verão isso com os próprios olhos e exclamarão: Grande é o Senhor, até mesmo além das fronteiras de Israel! "O filho honra seu pai, e o servo o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?", pergunta o Senhor dos Exércitos a vocês, sacerdotes. "São vocês que desprezam o meu nome! " "Mas vocês perguntam: ‘De que maneira temos desprezado o teu nome?’ "Trazendo comida impura ao meu altar! "E mesmo assim ainda perguntam: ‘De que maneira te desonramos? ’ "Ao dizerem que a mesa do Senhor é desprezível. "Na hora de trazerem animais cegos para sacrificar, vocês não vêem mal algum. Na hora de trazerem animais aleijados e doentes como oferta, também não vêem mal algum. Tentem oferecê-los de presente ao governador! Será que ele se agradará de vocês? Será que os atenderá? ", pergunta o Senhor dos Exércitos. "E agora, sacerdotes, tentem apaziguar a Deus para que tenha compaixão de nós! Será que com esse tipo de oferta ele os atenderá?", pergunta o Senhor dos Exércitos. "Ah, se um de vocês fechasse as portas do templo. Assim ao menos não acenderiam o fogo do meu altar inutilmente. Não tenho prazer em vocês", diz o Senhor dos Exércitos, "e não aceitarei as suas ofertas. Pois do oriente ao ocidente grande é o meu nome entre as nações. Em toda parte incenso e ofertas puras são trazidos ao meu nome, porque grande é o meu nome entre as nações", diz o Senhor dos Exércitos. "Mas vocês o profanam ao dizerem que a mesa do Senhor é imunda e que a sua comida é desprezível. E ainda dizem: ‘Que canseira! ’ e riem dela com desprezo", diz o Senhor dos Exércitos. "Quando vocês trazem animais roubados, aleijados e doentes e os oferecem em sacrifício, deveria eu aceitá-los de suas mãos? ", pergunta o Senhor. "Maldito seja o enganador que, tendo no rebanho um macho sem defeito, promete oferecê-lo e depois sacrifica um animal defeituoso", diz o Senhor dos Exércitos; "pois eu sou um grande rei, e o meu nome é temido entre as nações." Mal'akhi/Malaquias 1:1-14


"E agora esta advertência é para vocês, ó sacerdotes. Se vocês não derem ouvidos e não se dispuserem a honrar o meu nome", diz o Senhor dos Exércitos, "lançarei maldição sobre vocês, e até amaldiçoarei as suas bênçãos. Aliás já as amaldiçoei, porque vocês não me honram de coração. "Por causa de vocês eu vou destruir a sua descendência; esfregarei na cara de vocês os excrementos dos animais oferecidos em sacrifício em suas festas e lançarei vocês fora, juntamente com os excrementos. Então vocês saberão que fui eu que lhes dei esta advertência para que a minha aliança com Levi fosse mantida", diz o Senhor dos Exércitos. "A minha aliança com ele foi uma aliança de vida e de paz, que de fato lhe dei para que me temesse. Ele me temeu, e tremeu diante do meu nome. A verdadeira lei estava em sua boca e nenhuma falsidade achou-se em seus lábios. Ele andou comigo em paz e retidão, e desviou muitos do pecado. "Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca todos esperam a instrução na lei, porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos. Mal'akhi/Malaquias 2:1-7


Assim, pelo texto da haftará que está em Mal'akhi/Malaquias, pudemos perceber a ligação da bênção com a obediência e a aceitação do Eterno para com o homem. Por isso podemos compreender o motivo de o Eterno não ter aceitado bem a Shaul, irmão de Yakov, pois era homem que não andava segundo a vontade de HaShem, apesar de ter aprendido os mandamentos com seu avô Avraham e seu pai Yitschak. No comentário de rodapé da Torá da Editora Sêfer, encontramos um comentário rabínico falando sobre o caráter de Esav. O texto diz que o “Targum Onkelos” traduz as palavras ki tsaid befiv, assim: “porque comia de sua boca”, porém a sua tradução literal é “porque havia caça em sua boca”. O Midrash associa a palavra caça à ideia de engano e de armadilha, com a qual o caçador prende os animais, equiparando o malvado ao caçador que engana, pois a maioria dos animais são caçados com enganos. Assim se explicam as palavras “caça da sua boca”, isto é, na boca de Esav, que enganava com suas mentiras e hipocrisias seu pai, o qual não se dava conta e o preferia, enquanto Yakov era um homem íntegro que permanecia nas tendas.

Vemos também na profecia de Mal’akhi/Malaquias falando sobre a rejeição, por parte do Eterno, aos descendentes de Esav, os Edomitas, devido ao que fizeram a Yisrael. E com isso, fica bem compreendido que bênção não é apenas uma consequência da obediência, mas também a própria obediência é uma bênção em si mesma, uma vez que traz a aceitação do Eterno.

Continuemos nossa busca pelo entendimento do conceito original de bênção. Sabemos ser verdade que benção é também prosperidade, como vemos no verso abaixo.


"Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste(berakhta) e o seu gado se tem aumentado na terra." Iyov/Jó 1.10


No verso acima, vemos claramente que as obras da mão de Iyov não foram simplesmente abençoadas, elas se multiplicavam, por que Iyov era um homem abençoado, por ser obediente. E temos diversos textos no TaNaK que nos mostram esse entendimento. Outro exemplo, onde vemos a bênção relacionada à multiplicação, possessão ou prosperidade encontramos em Bereshit/Gn 17.20:


E quanto a Ishmael, também te tenho ouvido; eis aqui o tenho abençoado (berakhti), e fá-lo-ei frutificar, e fá-lo-ei multiplicar grandissimamente; doze príncipes gerará, e dele farei uma grande nação.”


Porém, será que é apenas isso o que temos para extrair desta palavra? Vejamos outro verso.


E sucedeu que, acabando ele de oferecer o holocausto, eis que Sh’muel chegou; e Shaul lhe saiu ao encontro, para o saudar (levarakho).” Shemuel alef/1 Samuel 13.10


Repare que no versículo que lemos acima, a palavra que vem da raíz “barakh” foi traduzida como “saudar-levarakho” e não como “benção”. Este fato é interessante, pois vemos nisto, uma prática Yisraeli/Israelita da qual a saudação é uma benção. Até os dias de hoje é muito comum as pessoas saudarem-se uns aos outros com a palavra “shalom”, e esta saudação é a propagação da benção dada uns aos outros, e isso dentro do conceito do TaNaK. Esta prática nos mostra claramente que é importante não buscarmos bênçãos pessoais, uma vez que elas já nos acompanham se somos obedientes, mas sim, espalharmos bençãos em meio à comunidade de HaShem. Esta prática da saudação deve ser zelada, para que assim um novo Yisrael seja formado e forjado a cada dia.


"Mandou seu filho Hadoram a David, para lhe perguntar como estava, e para o saudar (ulevarakho), por haver pelejado contra Hadad'ézér, que tinha estado em guerra com Toú. E, com Hadoram, mandou todo tipo de utensílios de ouro, de prata e de bronze" Div'rê Hayamim/1 Crônicas 18.10


Percebe-se que este saudar ou abençoar do verso acima, dependendo da versão bíblica, está relacionado ao parabenizar, inclusive algumas traduções trazem desta forma.

Portanto, devemos compreender que reconhecer os atos das pessoas é também uma forma de benção. Talvez você se pergunte: E por que é uma benção? Então cabe a seguinte resposta: Porque quando temos reconhecimento do nosso trabalho, nós somos motivados a continuá-lo e fazer ainda melhor. Portanto, motivar é uma benção e ser motivado é estar abençoado. Claro que, nós não devemos fazer nada em busca de reconhecimento, mas devemos reconhecer o que as pessoas fazem, isso é saudável e agrada ao Eterno.

Segundo o site Yeshua Melekh, além do saudar e parabenizar, o termo barakh – bênção, trás incutido em si o temor ao Eterno. E podemos perceber isso no verso abaixo:


"Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos (nivrekhah) diante do Eterno que nos criou." Tehilim/Salmos 95.6


Note que o termo “nivrekhah” é uma variação da raiz “barakh” e, neste contexto está sendo traduzido como ajoelhar, lembre-se que no início do estudo quando mencionei o conceito da palavra e seus possíveis significados, mostrei que ajoelhar está também ligado a esta raiz. A relação que há entre barakh e brakhah é profunda. Nisto percebemos que não há como obter as bênçãos, sem antes oferecer reverência verdadeira ao Eterno, e quando digo reverência não estou querendo dizer gritar, chorar, cantar, falar o nome, e coisas assim. Estou falando de obedecer e acima de tudo, amar com práticas de um servo fiel.

Vimos então que barakh leva em si, além do que já falamos antes, também os conceitos de reconhecimento e reverência ao Eterno. E se juntarmos estes dois conceitos, o que teremos? Teremos a gratidão.


"Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás (uvêrakh'ta) ao Eterno teu Elohim pela boa terra que te deu." Devarim/Deuteronômio 8.10


No contexto do verso acima, temos o sentido de louvor em gratidão pela boa terra que HaShem dá ao homem. Portanto, incutido com a bênção, está o conceito de gratidão. Ou seja, ser grato ao Eterno é uma demonstração de bênção, e com isso fica bem nítido que é muito mais que receber algo de D’us, mas de atitudes e práticas.

De acordo com o site Yeshua Melekh, existe um caso muito curioso onde barakh tem o sentido inverso, como podemos ver no exemplo abaixo:


"Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Iyov/Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Iyov: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram (uvêrakhu) Elohim no seu coração. Assim fazia Iyov continuamente." Iyov/Jó 1.5


Note como é interessante que a palavra traduzida como benção, no verso acima se transformou em maldição. Quando a brakhah não tem reconhecimento e reverência ao Eterno, não é benção e sim maldição. A mesma palavra pode significar uma coisa ou outra, dependendo do contexto, ou seja, da atitude da pessoa. Sendo assim, é necessário tomar cuidado em nossas vidas e seguir o caminho da santidade, pois, aqueles que buscam prosperidades sem antes viver em compromisso real com o Eterno, pode ter a benção convertida em maldição.

Podemos ainda ver mais um texto do TaNaK com a palavra bênção, e que muitas vezes acaba gerando dúvidas, veja:


"Eu te exaltarei, ó Elohay, rei meu, e bendirei (va'avarakhah) o teu nome (shimkha) pelos séculos dos séculos e para sempre." Tehilim/Salmos 145.1


Perceba que no verso que lemos acima há algo intrigante. No texto hebraico encontramos as palavras “va’avarakhah shimkha, que literalmente significa “abençoar Teu nome”. E aí precisamos refletir, como podemos abençoar o nome de HaShem? Há algum homem em condições para abençoar o nome do Eterno? Antes de respondermos vejamos um outro texto:


Então sua mulher lhe disse: Você ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe (barekh) a D’us e morre!” Yov 2:9


De forma contrária ao verso anterior, aqui a palavra original, da mesma raiz de “barakh”, está aparentemente mostrando a maldição. No entanto, devemos mais uma vez refletir, como podemos amaldiçoar ao Eterno? Há alguém em condições para amaldiçoar o Eterno?

A resposta é um não! Assim como ninguém pode abençoar o Eterno, e nem amaldiçoá-lo, no contexto tradicional da palavra. Porém no contexto semítico e do TaNaK, onde a palavra original tem um sentido mais amplo, aí sim. Pois no primeiro caso os termos “abençoar teu nome” significa então reconhecer a grandeza do Eterno e continuar a viver dentro dos parâmetros da Torá. Da mesma forma, o segundo verso, onde muitos dizem que a esposa de Iyov o manda amaldiçoar ao Eterno, e a tradução assim leva ao pensamento, mas que na verdade, originalmente, está informando que é dito para o personagem reconhecer que o Eterno enviara o mal sobre ele. Assim, o entendimento da palavra é de reconhecimento da autoridade e poderio do Eterno. Podemos ver isso, naquilo que Iyov responde à sua mulher no verso seguinte:


Ele, porém, respondeu: Falas como fazem as mulheres iníquas. Como poderíamos aceitar o bem que emana de D’us e recusar o mal que ele nos manda? E a despeito de tudo, Iyov não pecou através de suas palavras.” Iyov 2:10

Então, respondemos a pergunta acima, e agora nós sabemos como podemos “abençoar” o Eterno, ou seja, agradecendo, reconhecendo e reverenciando Seu nome. E entendendo que nome não está fazendo alusão literal ao “nome” do Eterno ou seu significado, mas sim, ao que o Eterno representa, ou seja, sua justiça, sua vontade, seus mandamentos.

Então, é necessário ter cuidado em nossas vidas no caminho da teshuvah, na busca pela santidade, pois, aqueles que buscam prosperidades sem antes oferecer compromisso com o Eterno, pode ter a benção convertida em maldição.

Concluindo, vimos a respeito do conceito original de benção que, ela pode ser multiplicação de bens ou conquistas materiais, como resultado da obediência. Pode ser uma saudação, um reconhecimento dos atos, um ato de reverência, uma gratidão ou até mesmo nos piores casos, se converter em uma maldição. E com tudo isso, percebemos que o contexto original é mais amplo do que o que é ensinado no sistema religioso.

Que possamos a cada dia ampliar nossa compreensão dos contextos que estão no TaNaK, para que nossa teshuvah continue a cada dia em direção à plena vontade do Eterno para cada um de nós.

Que HaShem lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- El Midrash Dice Bereshit – O Midrash disse

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- https://www.yeshuamelekh.com.br/o_conceito_tanaico_de_beno

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/06_toldot_geraes.pdf


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