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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Estudo da Parashá Nitzavim e Vayelech - A Aliança Eterna: Um chamado para todas as pessoas.


 

Estudos da Torá

Parashá nº 51Nitzavim (Encontram-se)

Devarim/Deuteronômio DT 29:9(10)-30:20,

Haftará (Separação) Is 61:10-63:9; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Rm 9:30-10:13 e Hb 12:14-15.

Parashá nº 52Vayelech (Ele foi)

Devarim/Deuteronômio DT 31:1-30,

Haftará (Separação) Os 14:1-10; Mq 7:18-20, Jl 2:15-27 e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Hb 13:5-8.


Tema: A Aliança Eterna: Um chamado para todas as pessoas.


Esta semana vamos explorar a abrangência da aliança que o Eterno fez não apenas com Yisrael que estava no deserto, mas também com as gerações futuras e aqueles estrangeiros que, em todas as épocas, se aproximarem Dele e de seus mandamentos. Analisaremos como esta aliança é continuamente renovada e ampliada, e como a missão do messias e de seus seguidores serve como instrumentos do Eterno para trazer todos os povos à esta aliança. Através deste pequeno estudo buscaremos entender a profundidade da inclusão de todos aqueles que escolhem o caminho do Eterno e seus mandamentos, e a importância dessa missão para a restauração futura.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


Vamos rever as parashot Nitzavim e Vayelech, cheias de instruções e sabedoria de Moshê em seus últimos dias através desse pequeno, mas interessante resumo.

Parashat Nitzavim começa com Moshê reunindo todo o povo diante do Eterno para renovar a aliança eterna, incluindo homens, mulheres, crianças e estrangeiros. Moshê adverte contra a idolatria e a falsa confiança no perdão automático do Eterno, afirmando que a desobediência leva à destruição e ao exílio. No entanto, ele profetiza um futuro retorno (teshuvá), garantindo que as instruções do Eterno não sejam distantes, mas acessíveis e devem ser seguidas com o coração. A escolha entre vida e morte, bem e mal, é clara: obedecer ao Eterno traz vida.

Em Vayelech, no último dia da vida de Moshê, ele transmite a liderança para Yehoshua e encoraja o povo a ser corajoso, garantindo que o Eterno estará com eles. Moshê institui uma mitsvá de Hakhel, uma reunião a cada sete anos para renovar o compromisso com a Torá. Prevenindo possíveis desvios futuros, ele escreve um cântico e coloca a Torá ao lado da Arca como testemunho eterno, reforçando a importância da fidelidade ao Eterno e de escolher o caminho



ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Hoje todos vocês estão na presença do Eterno, do seu Elohim: os seus chefes e homens destacados, os seus líderes e oficiais, e todos os demais homens de Yisrael,  juntamente com os seus filhos e as suas mulheres e os estrangeiros que vivem nos seus acampamentos, os cortadores de lenha e os carregadores de água. Vocês estão aqui presentes para entrar em aliança com o Eterno, o seu Elohim, aliança que ele está fazendo com vocês hoje, selando-a sob juramento, para hoje confirmá-los como seu povo, para que ele seja o seu D’us conforme lhes prometeu e jurou aos seus antepassados, Avraham, Ytschak e Yaakov. Não faço esta aliança, sob juramento, somente com vocês que estão aqui conosco na presença do Eterno nosso Elohim, mas também com aqueles que não estão aqui hoje. Vocês mesmos sabem como vivemos no Egito e como passamos por várias nações até chegar aqui. Vocês viram nelas as suas imagens e os seus ídolos detestáveis, feitos de madeira, de pedra, de prata e de ouro. Cuidem que não haja entre vocês nenhum homem ou mulher, clã ou tribo cujo coração se afaste do Eterno, nosso Elohim, para adorar os deuses daquelas nações, e para que não haja no meio de vocês nenhuma raiz que produza esse veneno amargo. Dt 29:10-18


A aliança que o Eterno estabeleceu com Yisrael, conforme descrito nestas porções da Torá, é um tema que se estende não apenas ao povo israelita presente na época de Moshê, mas também às gerações futuras, incluindo os estrangeiros que, em qualquer tempo, decidirem se aproximar do Eterno. Esta aliança, que é renovada ao longo da história, alcança seu ponto culminante na missão do messias e de seus seguidores, que são instrumentos do Eterno para levar essa aliança a todas as nações, ampliando o propósito divino de inclusão e restauração, ou redenção. Exploraremos três aspectos dessa aliança: sua abrangência, a missão do messias como agente do retorno e a função dos seguidores do messias como anunciadores dessa aliança.


A Aliança com Todos os Presentes e Ausentes

Em Devarim 29:14-15, Moshê declara explicitamente que a aliança feita com Yisrael naquele momento não era apenas para aqueles que estavam fisicamente presentes, mas também para “os que não estão aqui hoje”. Este versículo é profundamente significativo, pois já no final de sua vida, Moshê sabia que a mensagem do Eterno não estava limitada apenas ao povo que ele liderava, mas se estendia além das gerações futuras, até mesmo àqueles que não eram nascidos de Yisrael e que escolheriam se aproximar do Eterno. A inclusão dos estrangeiros já era uma realidade nas instruções do Eterno, como lemos em Shemot 12:49, onde se estabelece uma mesma Torá para o nativo e para o estrangeiro.


A mesma Torah se aplicará ao natural da terra e ao estrangeiro residente.


Os profetas, como Yeshayahu, também ampliam essa visão de inclusão, declarando que “os estrangeiros que se achegam ao Eterno” e guardam Seu Shabat serão aceitos na Casa de Oração para todos os povos. Veja:


E os estrangeiros que se unirem ao Senhor para servi-lo, para amarem o nome do Senhor e para prestar-lhe culto, todos os que guardarem o sábado sem profaná-lo, e que se apegarem à minha aliança, esses eu trarei ao meu santo monte e lhes darei alegria em minha casa de oração. Seus holocaustos e seus sacrifícios serão aceitos em meu altar; pois a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Is 56:6-7


Esse texto reforça a ideia de que a aliança do Eterno transcende o tempo e a etnia, estando disponível para qualquer pessoa que se comprometa com Seus mandamentos. O conceito de "estrangeiro" aqui não se refere apenas a não judeus ou pessoas de outras nações, mas a todos aqueles que, mesmo sem terem nascido em Yisrael, escolheram fazer parte do povo do Eterno. Na Torá, e nas Escrituras como um todo, há uma distinção importante entre os termos “ger” (estrangeiro ou residente estrangeiro) e “goyim” (gentios ou nações). Esses termos possuem conotações específicas que ajudam a entender como o Eterno lida com aqueles que não são parte natural de Yisrael, mas que interagem ou se aproximam de Sua aliança. Vejamos um pouco mais de cada um desses termos.

O termo “ger” se refere àquele que não nasceu de Yisrael, mas que escolheu viver entre o povo e, em muitas ocasiões, adotar seus costumes e obedecer aos mandamentos do Eterno. O ger não é simplesmente um visitante ou alguém de passagem; ele é alguém que habita no meio do povo de Yisrael e deseja se submeter às leis e às instruções do Eterno. A posição do ger no contexto da Torá é de grande importância, pois ele é incluído na aliança do Eterno e é, em muitos aspectos, tratado de forma igual ao nativo. Por exemplo, o texto que lemos acima, em Shemot 12:49, no contexto da celebração de Pessach, o Eterno declara: "Haverá uma só Torá para o nativo e para o ger que habita entre vós." Este versículo é um testemunho da inclusão do ger na prática dos mandamentos, mostrando que ele, ao habitar no meio de Yisrael, é chamado a participar das mesmas instruções divinas. O ger pode participar dos rituais e festividades, desde que cumpra as exigências, como a circuncisão, para participar do Pessach. Esta participação reflete uma aliança em que o ger é adotado como parte do povo do Eterno, respeitando e seguindo as mesmas regras que os nativos. Atualmente, enquanto um homem ainda não fez a circuncisão, ele se beneficiar da circuncisão de Yeshua e pode participar do Pessach normalmente, mas isso não pode ser para sempre, deverá haver o tempo em que ele se decidirá por fazer a cisrcuncisão.

Outro exemplo significativo é encontrado em Vayicrá 19:34, onde o Eterno ordena: “O ger que habita convosco será como o nativo entre vós, e tu o amarás como a ti mesmo, pois fostes gerim na terra do Egito; Eu sou o Eterno, vosso Elohim.” Aqui, o Eterno reforça que o tratamento ao ger deve ser marcado pelo amor e a hospitalidade, assim como Yisrael foi tratado por Ele quando estavam como estrangeiros no Egito. Esta ordem mostra que o ger é parte da comunidade e deve ser tratado com respeito e dignidade.

Já o termo “goyim” refere-se amplamente às nações gentias que não fazem parte de Yisrael e, em muitos contextos, não estão submetidas aos mandamentos do Eterno. Os goyim são as nações que seguem seus próprios caminhos, costumes e deuses, e muitas vezes são vistas como opostas à aliança de Yisrael com o Eterno. O termo “goy” em si significa "nação", e no singular, pode ser usado até mesmo para descrever Yisrael como uma nação entre as nações, mas, no plural, geralmente se refere aos povos pagãos que estavam ao redor de Yisrael.

Por exemplo, em Devarim 7:1-6, o Eterno ordena que Yisrael não se misture com as nações/goyim que habitam a terra de Canaã, justamente porque esses povos seguem práticas idólatras que poderiam corromper o povo santo e afastá-los dos caminhos do Eterno. Essas nações, como os cananeus, hititas, jebuseus, entre outros, são mencionadas frequentemente como opositoras ao plano do Eterno, sendo representações do paganismo e da idolatria.

A relação com os goyim muitas vezes carrega uma carga de alerta, como em Yeshayahu 2:2-4, onde o profeta fala do tempo em que pessoas das nações, mesmo sendo goyim, serão finalmente atraídas ao Eterno, buscando aprender de Sua Torá. Assim, enquanto os goyim representam, em grande parte, os povos afastados do Eterno, os profetas também prenunciam um tempo em que pessoas das nações se aproximarão da aliança, atraídas pela luz de Yisrael e pela santidade de Seus mandamentos.

Os profetas de Yisrael antecipam um tempo em que os goyim também seriam atraídos para o Eterno, cumprindo a missão de Yisrael de ser uma luz para as nações. Em Yeshayahu 56:6-7, conforme lemos acima, o Eterno fala de estrageiros (gerim) que guardam seu Shabat e escolhem amá-lo, prometendo que eles serão levados ao Seu santo monte, e que Sua casa será chamada Casa de Oração para todos os povos. Entende-se que um goyim ao crer no Eterno e seguir suas palavras, passa a ser ger e depois que entram para a aliança passar a ser povo.

Nos Escritos Nazarenos, a carta de Shaul aos Efésios 2:11-13 reflete essa mesma mensagem ao afirmar que aqueles que eram "estrangeiros às alianças da promessa" agora, por meio do messias, podem se aproximar do Eterno e ser co-participantes da aliança, não por substituição, mas por inclusão. Portanto, vemos que o plano do Eterno sempre envolveu abrir as portas para todos que desejassem se unir a Ele, sejam nativos de Yisrael ou estrangeiros. É portanto, necessário entender que o messias não substitui a pessoa na aceitação da aliança, ele ensina e possibilita as pessoas a praticarem os mandamentos para elas se tornarem aptas a entrarem na aliança. Tanto o ger quanto o goy aproximado, para se tornarem povo, precisam cumprir os requisitos para entrarem na aliança.


A Missão do Messias: O Retorno e a Inclusão

Em Devarim 30:1-6, Moshê profetiza que, após a desobediência do povo e o subsequente exílio, haverá um tempo de arrependimento e retorno ao Eterno. Este retorno não seria apenas uma restauração física à Terra de Yisrael, mas um retorno espiritual, onde o coração do povo seria circuncidado para amar o Eterno com todo o seu ser. Aqui vemos o início de uma profecia de restauração que envolve o retorno à aliança, tanto para Yisrael quanto para aqueles de fora que se aproximarem, conforme vimos acima.

A figura do messias é essencial nesse processo de retorno e inclusão, pois o Eterno o estabelece como uma ferramenta e depois faz o mesmo com os seus seguidores. Em Yeshayahu 49:6 descreve o messias como aquele que restauraria as tribos dispersas de Yaakov, mas também como “luz para as nações”, para que a salvação do Eterno alcançasse até os confins da Terra.


ele diz: "É coisa pequena demais para você ser meu servo para restaurar as tribos de Yaakov e trazer de volta aqueles de Yisrael que eu guardei. Também farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até aos confins da terra".


O messias, portanto, tem uma dupla missão: trazer de volta os descendentes de Yisrael que se desviaram entre as nações e abrir as portas da aliança para todos os povos. Essa visão de Yeshayahu encontra eco nos Escritos Nazarenos, especialmente em Yochanan 10:16, onde Yeshua afirma que tem “outras ovelhas que não são deste aprisco” e que também serão reunidas, formando um só rebanho sob um só pastor.


Tenho também outras ovelhas que não são desse recinto; preciso trazê-las, e elas ouvirão minha voz; e haverá um rebanho e um pastor. Jo 10:16


A missão do messias, então, não se limita apenas à redenção de Yisrael, mas ao cumprimento do propósito eterno de HaShem, de ser o Elohim de todas as nações, ou melhor, de pessoas de todas as nações. Por meio do messias, a aliança é renovada e oferecida a todos os que se voltam para o Eterno, seja por meio do arrependimento ou pela confiança firme baseada na obediência aos mandamentos.


A Função dos Seguidores do Messias: Anunciadores da Aliança

Após a morte de Moshê, em Devarim 31:9-13, o povo é instruído a realizar a mitsvá de Hakhel, a reunião a cada sete anos onde toda a nação, incluindo estrangeiros, deveria ouvir a leitura da Torá. Esta mitsvá tem como objetivo garantir que todos conheçam e pratiquem as instruções do Eterno, renovando seu compromisso com a aliança. Este mandamento tem um apontamento profético sobre o sétimo milênio e a volta do messias, quando ao final deste tempo, as pessoas da segunda ressurreição terão oportunidade de aprender a Torá. Da mesma forma, os seguidores do messias têm a responsabilidade de anunciar essa aliança e ensinar às pessoas das nações a viverem de acordo com os mandamentos.

Nos Escritos Nazarenos, Yeshua dá uma missão clara aos seus seguidores: fazer discípulos de todas as nações e ensiná-los a guardar tudo o que ele ordenou, ou seja, os mandamentos do Eterno. Assim como Moshê confiou a Yehoshua a tarefa de liderar e ensinar o povo após sua morte, o messias confiou a seus seguidores a responsabilidade de levar a Torá e o conhecimento do Eterno a todos os povos.

Além disso, em Atos dos Apóstolos/Ma’assei HaShlichim 1:8, os discípulos são instruídos a serem testemunhas “até os confins da terra”. Eles, assim como os profetas e o messias, são agentes da aliança, garantindo que o plano do Eterno de trazer todos os povos para Si, se concretize. A inclusão dos estrangeiros, que começou na Torá e foi predita pelos profetas, é cumprida pela obra contínua de seus seguidores, que convidam as nações a se unirem ao Eterno e a guardarem Seus mandamentos.

Concluindo, a aliança que o Eterno estabeleceu com Yisrael e que Moshê reafirma em Nitzavim e Vayelech não é limitada por tempo, espaço ou etnia. Ela é uma aliança eterna e inclusiva, que sempre esteve disponível a qualquer um que escolhesse se aproximar do Eterno. A missão do messias como agente do retorno e inclusão, juntamente com o papel dos seus seguidores como anunciadores da aliança, reforça o plano divino de que todos os povos sejam abençoados por meio de Yisrael.

A aliança com o Eterno é mais do que um chamado a um grupo específico de pessoas ou à uma religião. É uma oportunidade oferecida a todos os que desejam seguir Seus mandamentos. A escolha está diante de nós: a vida ou a morte, o bem ou o mal. E, como Moshê exorta em Devarim 30:19, somos chamados a escolher a vida, para que possamos viver e entrar plenamente na aliança com o Eterno.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Estudo da Parashá Ki Tavô - Primícias, o resgate dos remanescentes.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 50Ki Tavô (Quando entrares)

Devarim/Deuteronômio DT 26:1-29:8(9),

Haftará (Separação) Is 60:1-22; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 13:1-23, Rm 11:1-15.


Tema: Primícias, o resgate dos remanescentes.


Esta semana na Parashá Ki Tavô veremos um aspecto muito interessante sobre a mitsvah ou mandamento dos bikurim, as primícias. Nesse estudo discutiremos sobre a relação desse mandamento com a profecia dos remanescentes e a primeira ressurreição. Veremos que o TaNaK trás apontamentos para esse momento profético, bem como os textos do Escritos Nazarenos, conhecidos como Brit Hadasháh ou Novo Testamento. 

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


Parashat Ki Tavo inicia descrevendo a mitsvá anual aos fazendeiros de Yisrael para que trouxessem seus bicurim, primeiros frutos ou primícias, ao cohen no Templo, quando então o fazendeiro reconhece o importante papel de D’us na provisão de seu sustento. Após novamente exortar o povo judeu a permanecer fiel a D’us, que os elegeu especificamente como Seu povo escolhido dentre todas as nações do mundo, Moshê ensina duas mitsvot especiais que eles deverão cumprir ao entrar na Terra de Yisrael para reafirmar seu compromisso com a Torá.

Primeiro deverão escrever toda a Toráh em doze grandes pedras, e então deverão recitar bênçãos e maldições no vale entre Monte Gerizim e Monte Eival, as quais se aplicarão respectivamente àqueles que cumprem e àqueles que afrontam a Toráh. Seguindo-se uma recontagem das maravilhosas bênçãos que D’us concederá ao povo de Yisrael por permanecer fiel, Moshê faz uma assustadora profecia do que se abaterá sobre o povo israelita por não cumprir a Toráh. Conhecido como admoestação, Moshê descreve com detalhes a horrível destruição que infelizmente acontecerá quando nos desviarmos das mitsvot.

A Porção da Toráh conclui quando Moshê contempla em retrospecto os maravilhosos milagres que D’us realizou pelos quarenta anos anteriores, lembrando o povo da enorme dívida de gratidão que tem com D’us por Seu carinhoso amor.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


E quando entrares à terra que o Eterno, teu Elohim, te dá por herança, a herdares, então tomarás das primícias de todos os frutos do solo, que recolheres da terra, que te dá o Senhor teu D'us, e as porás num cesto, e irás ao lugar que escolher o Senhor teu D'us, para ali fazer habitar o seu nome. E irás ao sacerdote, que houver naqueles dias, e dir-lhe-ás: Hoje declaro perante o Senhor teu D'us que entrei na terra que o Eterno jurou a nossos pais dar-nos. Dt 26:1-3


Ao iniciarmos nosso estudo desta Parashá sob a ótica das primícias e seu significado profético, vejamos em primeiro lugar alguns aspectos históricos para a melhor contextualização do assunto.

Segundo o comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer, no seu princípio, esta Parashá trata do mandamento de Habaat Habicurim (entrega das primícias), que todo israelita levava todo o ano ao templo de Jerusalém. Esta mitsvá dos bikurim, instruia os fazendeiros de Yisrael a levar os primeiros frutos de suas colheitas ao Templo, e com isso reconheceriam a provisão divina sobre suas vidas. Este ato de gratidão não apenas reforçava a dependência de HaShem, mas também simbolizava a consagração do melhor ao Eterno. Históricamente no TaNaK, as primícias são frequentemente mencionadas como um símbolo de dedicação e santidade (Êxodo 23:19, Números 18:12).

No aspecto profético, as primícias agrícolas são um apontamento para algo maior, ou seja, a promessa de uma colheita futura e abundante, mas não de víveres das colheitas, de homens e mulheres tementes a HaShem e obedientes aos seus mandamentos. Em Jeremias 2:3, Yisrael é chamado de “primícias da sua colheita”, indicando um povo separado e santo para D’us. Veja:


Yisrael era santo para o Eterno, os primeiros frutos de sua colheita; todos os que o devoravam eram considerados culpados, e a desgraça os alcançava, declara o Eterno.


Esta imagem profética se estende à vinda do Messias, onde os primeiros a serem ressuscitados são vistos como as primícias de uma nova criação, um novo começo para a humanidade. E isso é comprovado na continuação da Profecia em Jeremias 3:12-18.


Vá e proclame esta mensagem para os lados do norte: "‘Volte, ó infiel Israel’, declara o Eterno, ‘Não mais franzirei a testa cheio de ira contra vocês, pois eu sou fiel’, declara o Eterno, ‘Não ficarei irado para sempre. Mas reconheça o seu pecado: você se rebelou contra o Senhor, o seu Elohim, e ofereceu os seus favores a deuses estranhos, debaixo de toda árvore verdejante, e não me obedeceu’ ", declara o Eterno. "Voltem, filhos rebeldes! Pois eu sou o senhor de vocês", declara o Eterno. "Tomarei vocês, um de cada cidade e dois de cada clã, e os trarei de volta a Sião.  Então eu lhes darei governantes conforme a minha vontade, que os dirigirão com sabedoria e com entendimento. Quando vocês aumentarem e se multiplicarem na sua terra naqueles dias", declara o Eterno, "não dirão mais: ‘A arca da aliança do Eterno’. Não pensarão mais nisso nem se lembrarão dela; não sentirão sua falta nem será feita outra arca. Naquela época, chamarão Jerusalém ‘O Trono do Eterno’, e todas as nações se reunirão para honrar o nome do Eterno em Jerusalém. Não mais viverão segundo a obstinação de seus corações para fazer o mal. Naqueles dias a comunidade de Yehudah caminhará com a comunidade de Yisrael, e juntas voltarão do norte para a terra que dei como herança aos seus antepassados. "


Como disse, o contexto profético aponta para os remanescentes que acordarem na primeira ressurreição, formados por Yisrael, Yehudah e os ex-gentios que se tornaram povo, serem os governantes que guiarão o restante das nações no caminho do Eterno. Eles são as primícias tratadas profeticamente nesta parashá. Veremos ainda o que mais podemos absorver desses ensinos da Torah.


Outras Profecias sobre as primícias no TaNaK

Já ligamos profeticamente as primícias com a primeira ressurreição, e encontramos no TaNaK, a ressurreição dos justos sendo mencionada em várias passagens. Uma delas, a mais notável está em Daniel 12:2, onde está dito:


E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.


Esta rica passagem profética sugere uma ressurreição dual para alguns estudiosos, para outros diz respeito a três, onde os justos são recompensados com a vida eterna, os que não viveram segundo os padrões da Torah acordarão para se envergonhar e se arrepender, e finalmente os ímpios, que acordarão para serem julgados e condenados ou seja, extintos.

Outro exemplo TaNa|K encontramos em Isaías 26:19, que declara:


Os teus mortos viverão; os seus cadáveres ressuscitarão. Despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho é como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos.


Ainda outro texto em Isaías 65:9.


Farei surgir descendentes de Yaakov, e de Yehudah quem recebe por herança as minhas montanhas. Os meus escolhidos as herdarão, e ali viverão os meus servos.

Estas exemplos de profecias, como muitos outros no TaNaK, reforçam a ideia da relação profética das primícias e a esperança na ressurreição e na renovação da vida, pois o Eterno faz novas todas as coias e reveste de glória aos seus santos.


Yeshua e as Primícias da Ressurreição

Na Brit Hadasháh, conhecido popularmente como Novo Testamento, podemos ver também relação das primícias com a profecia sobre a ressurreição dos justos. Nos Bessorot/Evangelhos, Yeshua frequentemente usou metáforas agrícolas para descrever o Reino de D’us e a ressurreição. Em Yochanan/João 12:24, ele diz:


Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.


Lembrando que as palavras de Yeshua em sua maioria eram proféticas, vemos que esta analogia reforça a ideia de que sua morte e ressurreição são o início de uma grande colheita espiritual, assim como a de seus seguidores. E isso complementas os textos do TaNaK que lemos anteriormente.

Ainda podemos encontrar outras falas de Yeshua a respeito dos remanescente e de sua vivificação. Observe Yochanan/João 5:25:


Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de D’us, e aqueles que a ouvirem, viverão.


Este texto fala de dois aspectos da profecia das primícias, a primeira é a de despertas os remanescentes da Casa de Yisrael espalhados pelas nações para viverem em justiça, e o segundo é o aspecto da ressurreição para a vida. Poderíamos ainda destacar aqui as parábolas que Yeshua contou em seu sermão profético relatado por Mateus nos capítulos 24 e 25, onde é dado o ensino sobre o Reino de D’us.

Nas cartas Yeshua é claramente identificado pelos apóstolos e escritores, como as primícias dos que dormem em 1 Coríntios 15:20:


Mas de fato o Messias ressuscitou dentre os mortos, tornando-se as primícias dentre aqueles que dormiram.


O fato de o Eterno o ter ressuscitado dentre os mortos é a garantia e o primeiro exemplo da ressurreição futura de todos os fiéis à HaShem e a seus mandamentos ensinados pelo messias. Assim, como os primeiros frutos eram oferecidos a D’us, Yeshua, ao ser ressuscitado, se ofereceu como o primeiro de muitos que o seguirão em justiça. Vejam o que Rav Sha’ul/Paulo ainda fala em Romanos 8:13:


Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas se pelo Ruach fizerem morrer os atos do corpo, viverão.


As cartas de Rav Sha’ul/Paulo e o livro de Apocalipse expandem a visão que já havia sido dada pelo Eterno aos profetas e à Yeshua. O apóstolo Paulo aborda a ressurreição dos justos em várias de suas cartas. Em 1 Tessalonicenses 4:16-17, ele escreve:


Porque o senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de D’us, e os mortos no Messias ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o senhor.


Em Romanos 8:23, Paulo fala dos crentes como aqueles que têm “as primícias do Espírito”, aguardando a redenção completa de seus corpos.


E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Ruach, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo.


Esta linguagem sobre as primícias sugere que os justos são os primeiros a experimentar a nova vida no Messias, antecipando as ressurreições posteriores.

No livro de Apocalipse, os 144.000 são descritos como “comprados dentre os homens como primícias para D’us e para o Cordeiro”, conforme lemos em Apocalipse 14:4-5:


Estes são os que não se contaminaram com mulheres, pois se conservam castos e seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá. Foram comprados dentre os homens e ofertados como primícias a D’us e ao Cordeiro. Mentira nenhuma foi encontrada em suas bocas; são imaculados.


Eles representam os remanescentes fiéis, aqueles que foram resgatados e separados para D’us. Encontramos mais detalhes sobre a ressurreição dos justos em Apocalipse 20:4-6:


E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Yeshua e pela palavra de D’us, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem na mão; e viveram e reinaram com o Messias durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de D’us e do Messias, e reinarão com ele mil anos.


Estas passagens destacam a bem-aventurança daqueles que participam da primeira ressurreição, reinando com o Messias durante o milênio. A imagem final de primícias conecta a promessa de ressurreição com a fidelidade e a consagração dos seguidores de Yeshua.

Concluindo nosso estudo, as primícias, tanto no contexto agrícola quanto no profético, simbolizam a consagração do melhor a D’us e a promessa de uma colheita futura. Através de Yeshua, as primícias da ressurreição, vemos a realização dessa promessa, garantindo a ressurreição e o resgate dos remanescentes fiéis. Este tema nos chama a viver em gratidão e fidelidade, reconhecendo que somos parte de uma grande colheita que pertence ao Eterno. As profecias sobre a ressurreição dos justos no TaNaK, nos escritos da Brit Hadasháh e no livro de Apocalipse oferecem uma visão abrangente da esperança na vida eterna. Elas reforçam a promessa de renovação e recompensa para aqueles que permanecem fiéis a D’us. A ressurreição é um tema central que une as Escrituras, apontando para a vitória final sobre a morte e a realização do plano divino de redenção.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)