Estudos da Torá
Parashá
nº
51
– Nitzavim
(Encontram-se)
Devarim/Deuteronômio DT 29:9(10)-30:20,
Haftará (Separação) Is 61:10-63:9; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Rm 9:30-10:13 e Hb 12:14-15.
Parashá
nº
52
– Vayelech
(Ele foi)
Devarim/Deuteronômio DT 31:1-30,
Haftará (Separação) Os 14:1-10; Mq 7:18-20, Jl 2:15-27 e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Hb 13:5-8.
Tema: A Aliança Eterna: Um chamado para todas as pessoas.
Esta semana vamos explorar a abrangência da aliança que o Eterno fez não apenas com Yisrael que estava no deserto, mas também com as gerações futuras e aqueles estrangeiros que, em todas as épocas, se aproximarem Dele e de seus mandamentos. Analisaremos como esta aliança é continuamente renovada e ampliada, e como a missão do messias e de seus seguidores serve como instrumentos do Eterno para trazer todos os povos à esta aliança. Através deste pequeno estudo buscaremos entender a profundidade da inclusão de todos aqueles que escolhem o caminho do Eterno e seus mandamentos, e a importância dessa missão para a restauração futura.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Vamos rever as parashot Nitzavim e Vayelech, cheias de instruções e sabedoria de Moshê em seus últimos dias através desse pequeno, mas interessante resumo.
Parashat Nitzavim começa com Moshê reunindo todo o povo diante do Eterno para renovar a aliança eterna, incluindo homens, mulheres, crianças e estrangeiros. Moshê adverte contra a idolatria e a falsa confiança no perdão automático do Eterno, afirmando que a desobediência leva à destruição e ao exílio. No entanto, ele profetiza um futuro retorno (teshuvá), garantindo que as instruções do Eterno não sejam distantes, mas acessíveis e devem ser seguidas com o coração. A escolha entre vida e morte, bem e mal, é clara: obedecer ao Eterno traz vida.
Em Vayelech, no último dia da vida de Moshê, ele transmite a liderança para Yehoshua e encoraja o povo a ser corajoso, garantindo que o Eterno estará com eles. Moshê institui uma mitsvá de Hakhel, uma reunião a cada sete anos para renovar o compromisso com a Torá. Prevenindo possíveis desvios futuros, ele escreve um cântico e coloca a Torá ao lado da Arca como testemunho eterno, reforçando a importância da fidelidade ao Eterno e de escolher o caminho
ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO
Hoje todos vocês estão na presença do Eterno, do seu Elohim: os seus chefes e homens destacados, os seus líderes e oficiais, e todos os demais homens de Yisrael, juntamente com os seus filhos e as suas mulheres e os estrangeiros que vivem nos seus acampamentos, os cortadores de lenha e os carregadores de água. Vocês estão aqui presentes para entrar em aliança com o Eterno, o seu Elohim, aliança que ele está fazendo com vocês hoje, selando-a sob juramento, para hoje confirmá-los como seu povo, para que ele seja o seu D’us conforme lhes prometeu e jurou aos seus antepassados, Avraham, Ytschak e Yaakov. Não faço esta aliança, sob juramento, somente com vocês que estão aqui conosco na presença do Eterno nosso Elohim, mas também com aqueles que não estão aqui hoje. Vocês mesmos sabem como vivemos no Egito e como passamos por várias nações até chegar aqui. Vocês viram nelas as suas imagens e os seus ídolos detestáveis, feitos de madeira, de pedra, de prata e de ouro. Cuidem que não haja entre vocês nenhum homem ou mulher, clã ou tribo cujo coração se afaste do Eterno, nosso Elohim, para adorar os deuses daquelas nações, e para que não haja no meio de vocês nenhuma raiz que produza esse veneno amargo. Dt 29:10-18
A aliança que o Eterno estabeleceu com Yisrael, conforme descrito nestas porções da Torá, é um tema que se estende não apenas ao povo israelita presente na época de Moshê, mas também às gerações futuras, incluindo os estrangeiros que, em qualquer tempo, decidirem se aproximar do Eterno. Esta aliança, que é renovada ao longo da história, alcança seu ponto culminante na missão do messias e de seus seguidores, que são instrumentos do Eterno para levar essa aliança a todas as nações, ampliando o propósito divino de inclusão e restauração, ou redenção. Exploraremos três aspectos dessa aliança: sua abrangência, a missão do messias como agente do retorno e a função dos seguidores do messias como anunciadores dessa aliança.
A Aliança com Todos os Presentes e Ausentes
Em Devarim 29:14-15, Moshê declara explicitamente que a aliança feita com Yisrael naquele momento não era apenas para aqueles que estavam fisicamente presentes, mas também para “os que não estão aqui hoje”. Este versículo é profundamente significativo, pois já no final de sua vida, Moshê sabia que a mensagem do Eterno não estava limitada apenas ao povo que ele liderava, mas se estendia além das gerações futuras, até mesmo àqueles que não eram nascidos de Yisrael e que escolheriam se aproximar do Eterno. A inclusão dos estrangeiros já era uma realidade nas instruções do Eterno, como lemos em Shemot 12:49, onde se estabelece uma mesma Torá para o nativo e para o estrangeiro.
A mesma Torah se aplicará ao natural da terra e ao estrangeiro residente.
Os profetas, como Yeshayahu, também ampliam essa visão de inclusão, declarando que “os estrangeiros que se achegam ao Eterno” e guardam Seu Shabat serão aceitos na Casa de Oração para todos os povos. Veja:
E os estrangeiros que se unirem ao Senhor para servi-lo, para amarem o nome do Senhor e para prestar-lhe culto, todos os que guardarem o sábado sem profaná-lo, e que se apegarem à minha aliança, esses eu trarei ao meu santo monte e lhes darei alegria em minha casa de oração. Seus holocaustos e seus sacrifícios serão aceitos em meu altar; pois a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Is 56:6-7
Esse texto reforça a ideia de que a aliança do Eterno transcende o tempo e a etnia, estando disponível para qualquer pessoa que se comprometa com Seus mandamentos. O conceito de "estrangeiro" aqui não se refere apenas a não judeus ou pessoas de outras nações, mas a todos aqueles que, mesmo sem terem nascido em Yisrael, escolheram fazer parte do povo do Eterno. Na Torá, e nas Escrituras como um todo, há uma distinção importante entre os termos “ger” (estrangeiro ou residente estrangeiro) e “goyim” (gentios ou nações). Esses termos possuem conotações específicas que ajudam a entender como o Eterno lida com aqueles que não são parte natural de Yisrael, mas que interagem ou se aproximam de Sua aliança. Vejamos um pouco mais de cada um desses termos.
O termo “ger” se refere àquele que não nasceu de Yisrael, mas que escolheu viver entre o povo e, em muitas ocasiões, adotar seus costumes e obedecer aos mandamentos do Eterno. O ger não é simplesmente um visitante ou alguém de passagem; ele é alguém que habita no meio do povo de Yisrael e deseja se submeter às leis e às instruções do Eterno. A posição do ger no contexto da Torá é de grande importância, pois ele é incluído na aliança do Eterno e é, em muitos aspectos, tratado de forma igual ao nativo. Por exemplo, o texto que lemos acima, em Shemot 12:49, no contexto da celebração de Pessach, o Eterno declara: "Haverá uma só Torá para o nativo e para o ger que habita entre vós." Este versículo é um testemunho da inclusão do ger na prática dos mandamentos, mostrando que ele, ao habitar no meio de Yisrael, é chamado a participar das mesmas instruções divinas. O ger pode participar dos rituais e festividades, desde que cumpra as exigências, como a circuncisão, para participar do Pessach. Esta participação reflete uma aliança em que o ger é adotado como parte do povo do Eterno, respeitando e seguindo as mesmas regras que os nativos. Atualmente, enquanto um homem ainda não fez a circuncisão, ele se beneficiar da circuncisão de Yeshua e pode participar do Pessach normalmente, mas isso não pode ser para sempre, deverá haver o tempo em que ele se decidirá por fazer a cisrcuncisão.
Outro exemplo significativo é encontrado em Vayicrá 19:34, onde o Eterno ordena: “O ger que habita convosco será como o nativo entre vós, e tu o amarás como a ti mesmo, pois fostes gerim na terra do Egito; Eu sou o Eterno, vosso Elohim.” Aqui, o Eterno reforça que o tratamento ao ger deve ser marcado pelo amor e a hospitalidade, assim como Yisrael foi tratado por Ele quando estavam como estrangeiros no Egito. Esta ordem mostra que o ger é parte da comunidade e deve ser tratado com respeito e dignidade.
Já o termo “goyim” refere-se amplamente às nações gentias que não fazem parte de Yisrael e, em muitos contextos, não estão submetidas aos mandamentos do Eterno. Os goyim são as nações que seguem seus próprios caminhos, costumes e deuses, e muitas vezes são vistas como opostas à aliança de Yisrael com o Eterno. O termo “goy” em si significa "nação", e no singular, pode ser usado até mesmo para descrever Yisrael como uma nação entre as nações, mas, no plural, geralmente se refere aos povos pagãos que estavam ao redor de Yisrael.
Por exemplo, em Devarim 7:1-6, o Eterno ordena que Yisrael não se misture com as nações/goyim que habitam a terra de Canaã, justamente porque esses povos seguem práticas idólatras que poderiam corromper o povo santo e afastá-los dos caminhos do Eterno. Essas nações, como os cananeus, hititas, jebuseus, entre outros, são mencionadas frequentemente como opositoras ao plano do Eterno, sendo representações do paganismo e da idolatria.
A relação com os goyim muitas vezes carrega uma carga de alerta, como em Yeshayahu 2:2-4, onde o profeta fala do tempo em que pessoas das nações, mesmo sendo goyim, serão finalmente atraídas ao Eterno, buscando aprender de Sua Torá. Assim, enquanto os goyim representam, em grande parte, os povos afastados do Eterno, os profetas também prenunciam um tempo em que pessoas das nações se aproximarão da aliança, atraídas pela luz de Yisrael e pela santidade de Seus mandamentos.
Os profetas de Yisrael antecipam um tempo em que os goyim também seriam atraídos para o Eterno, cumprindo a missão de Yisrael de ser uma luz para as nações. Em Yeshayahu 56:6-7, conforme lemos acima, o Eterno fala de estrageiros (gerim) que guardam seu Shabat e escolhem amá-lo, prometendo que eles serão levados ao Seu santo monte, e que Sua casa será chamada Casa de Oração para todos os povos. Entende-se que um goyim ao crer no Eterno e seguir suas palavras, passa a ser ger e depois que entram para a aliança passar a ser povo.
Nos Escritos Nazarenos, a carta de Shaul aos Efésios 2:11-13 reflete essa mesma mensagem ao afirmar que aqueles que eram "estrangeiros às alianças da promessa" agora, por meio do messias, podem se aproximar do Eterno e ser co-participantes da aliança, não por substituição, mas por inclusão. Portanto, vemos que o plano do Eterno sempre envolveu abrir as portas para todos que desejassem se unir a Ele, sejam nativos de Yisrael ou estrangeiros. É portanto, necessário entender que o messias não substitui a pessoa na aceitação da aliança, ele ensina e possibilita as pessoas a praticarem os mandamentos para elas se tornarem aptas a entrarem na aliança. Tanto o ger quanto o goy aproximado, para se tornarem povo, precisam cumprir os requisitos para entrarem na aliança.
A Missão do Messias: O Retorno e a Inclusão
Em Devarim 30:1-6, Moshê profetiza que, após a desobediência do povo e o subsequente exílio, haverá um tempo de arrependimento e retorno ao Eterno. Este retorno não seria apenas uma restauração física à Terra de Yisrael, mas um retorno espiritual, onde o coração do povo seria circuncidado para amar o Eterno com todo o seu ser. Aqui vemos o início de uma profecia de restauração que envolve o retorno à aliança, tanto para Yisrael quanto para aqueles de fora que se aproximarem, conforme vimos acima.
A figura do messias é essencial nesse processo de retorno e inclusão, pois o Eterno o estabelece como uma ferramenta e depois faz o mesmo com os seus seguidores. Em Yeshayahu 49:6 descreve o messias como aquele que restauraria as tribos dispersas de Yaakov, mas também como “luz para as nações”, para que a salvação do Eterno alcançasse até os confins da Terra.
ele diz: "É coisa pequena demais para você ser meu servo para restaurar as tribos de Yaakov e trazer de volta aqueles de Yisrael que eu guardei. Também farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até aos confins da terra".
O messias, portanto, tem uma dupla missão: trazer de volta os descendentes de Yisrael que se desviaram entre as nações e abrir as portas da aliança para todos os povos. Essa visão de Yeshayahu encontra eco nos Escritos Nazarenos, especialmente em Yochanan 10:16, onde Yeshua afirma que tem “outras ovelhas que não são deste aprisco” e que também serão reunidas, formando um só rebanho sob um só pastor.
Tenho também outras ovelhas que não são desse recinto; preciso trazê-las, e elas ouvirão minha voz; e haverá um rebanho e um pastor. Jo 10:16
A missão do messias, então, não se limita apenas à redenção de Yisrael, mas ao cumprimento do propósito eterno de HaShem, de ser o Elohim de todas as nações, ou melhor, de pessoas de todas as nações. Por meio do messias, a aliança é renovada e oferecida a todos os que se voltam para o Eterno, seja por meio do arrependimento ou pela confiança firme baseada na obediência aos mandamentos.
A Função dos Seguidores do Messias: Anunciadores da Aliança
Após a morte de Moshê, em Devarim 31:9-13, o povo é instruído a realizar a mitsvá de Hakhel, a reunião a cada sete anos onde toda a nação, incluindo estrangeiros, deveria ouvir a leitura da Torá. Esta mitsvá tem como objetivo garantir que todos conheçam e pratiquem as instruções do Eterno, renovando seu compromisso com a aliança. Este mandamento tem um apontamento profético sobre o sétimo milênio e a volta do messias, quando ao final deste tempo, as pessoas da segunda ressurreição terão oportunidade de aprender a Torá. Da mesma forma, os seguidores do messias têm a responsabilidade de anunciar essa aliança e ensinar às pessoas das nações a viverem de acordo com os mandamentos.
Nos Escritos Nazarenos, Yeshua dá uma missão clara aos seus seguidores: fazer discípulos de todas as nações e ensiná-los a guardar tudo o que ele ordenou, ou seja, os mandamentos do Eterno. Assim como Moshê confiou a Yehoshua a tarefa de liderar e ensinar o povo após sua morte, o messias confiou a seus seguidores a responsabilidade de levar a Torá e o conhecimento do Eterno a todos os povos.
Além disso, em Atos dos Apóstolos/Ma’assei HaShlichim 1:8, os discípulos são instruídos a serem testemunhas “até os confins da terra”. Eles, assim como os profetas e o messias, são agentes da aliança, garantindo que o plano do Eterno de trazer todos os povos para Si, se concretize. A inclusão dos estrangeiros, que começou na Torá e foi predita pelos profetas, é cumprida pela obra contínua de seus seguidores, que convidam as nações a se unirem ao Eterno e a guardarem Seus mandamentos.
Concluindo, a aliança que o Eterno estabeleceu com Yisrael e que Moshê reafirma em Nitzavim e Vayelech não é limitada por tempo, espaço ou etnia. Ela é uma aliança eterna e inclusiva, que sempre esteve disponível a qualquer um que escolhesse se aproximar do Eterno. A missão do messias como agente do retorno e inclusão, juntamente com o papel dos seus seguidores como anunciadores da aliança, reforça o plano divino de que todos os povos sejam abençoados por meio de Yisrael.
A aliança com o Eterno é mais do que um chamado a um grupo específico de pessoas ou à uma religião. É uma oportunidade oferecida a todos os que desejam seguir Seus mandamentos. A escolha está diante de nós: a vida ou a morte, o bem ou o mal. E, como Moshê exorta em Devarim 30:19, somos chamados a escolher a vida, para que possamos viver e entrar plenamente na aliança com o Eterno.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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