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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Estudo da Parashá Ki Tavô - Primícias, o resgate dos remanescentes.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 50Ki Tavô (Quando entrares)

Devarim/Deuteronômio DT 26:1-29:8(9),

Haftará (Separação) Is 60:1-22; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 13:1-23, Rm 11:1-15.


Tema: Primícias, o resgate dos remanescentes.


Esta semana na Parashá Ki Tavô veremos um aspecto muito interessante sobre a mitsvah ou mandamento dos bikurim, as primícias. Nesse estudo discutiremos sobre a relação desse mandamento com a profecia dos remanescentes e a primeira ressurreição. Veremos que o TaNaK trás apontamentos para esse momento profético, bem como os textos do Escritos Nazarenos, conhecidos como Brit Hadasháh ou Novo Testamento. 

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


Parashat Ki Tavo inicia descrevendo a mitsvá anual aos fazendeiros de Yisrael para que trouxessem seus bicurim, primeiros frutos ou primícias, ao cohen no Templo, quando então o fazendeiro reconhece o importante papel de D’us na provisão de seu sustento. Após novamente exortar o povo judeu a permanecer fiel a D’us, que os elegeu especificamente como Seu povo escolhido dentre todas as nações do mundo, Moshê ensina duas mitsvot especiais que eles deverão cumprir ao entrar na Terra de Yisrael para reafirmar seu compromisso com a Torá.

Primeiro deverão escrever toda a Toráh em doze grandes pedras, e então deverão recitar bênçãos e maldições no vale entre Monte Gerizim e Monte Eival, as quais se aplicarão respectivamente àqueles que cumprem e àqueles que afrontam a Toráh. Seguindo-se uma recontagem das maravilhosas bênçãos que D’us concederá ao povo de Yisrael por permanecer fiel, Moshê faz uma assustadora profecia do que se abaterá sobre o povo israelita por não cumprir a Toráh. Conhecido como admoestação, Moshê descreve com detalhes a horrível destruição que infelizmente acontecerá quando nos desviarmos das mitsvot.

A Porção da Toráh conclui quando Moshê contempla em retrospecto os maravilhosos milagres que D’us realizou pelos quarenta anos anteriores, lembrando o povo da enorme dívida de gratidão que tem com D’us por Seu carinhoso amor.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


E quando entrares à terra que o Eterno, teu Elohim, te dá por herança, a herdares, então tomarás das primícias de todos os frutos do solo, que recolheres da terra, que te dá o Senhor teu D'us, e as porás num cesto, e irás ao lugar que escolher o Senhor teu D'us, para ali fazer habitar o seu nome. E irás ao sacerdote, que houver naqueles dias, e dir-lhe-ás: Hoje declaro perante o Senhor teu D'us que entrei na terra que o Eterno jurou a nossos pais dar-nos. Dt 26:1-3


Ao iniciarmos nosso estudo desta Parashá sob a ótica das primícias e seu significado profético, vejamos em primeiro lugar alguns aspectos históricos para a melhor contextualização do assunto.

Segundo o comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer, no seu princípio, esta Parashá trata do mandamento de Habaat Habicurim (entrega das primícias), que todo israelita levava todo o ano ao templo de Jerusalém. Esta mitsvá dos bikurim, instruia os fazendeiros de Yisrael a levar os primeiros frutos de suas colheitas ao Templo, e com isso reconheceriam a provisão divina sobre suas vidas. Este ato de gratidão não apenas reforçava a dependência de HaShem, mas também simbolizava a consagração do melhor ao Eterno. Históricamente no TaNaK, as primícias são frequentemente mencionadas como um símbolo de dedicação e santidade (Êxodo 23:19, Números 18:12).

No aspecto profético, as primícias agrícolas são um apontamento para algo maior, ou seja, a promessa de uma colheita futura e abundante, mas não de víveres das colheitas, de homens e mulheres tementes a HaShem e obedientes aos seus mandamentos. Em Jeremias 2:3, Yisrael é chamado de “primícias da sua colheita”, indicando um povo separado e santo para D’us. Veja:


Yisrael era santo para o Eterno, os primeiros frutos de sua colheita; todos os que o devoravam eram considerados culpados, e a desgraça os alcançava, declara o Eterno.


Esta imagem profética se estende à vinda do Messias, onde os primeiros a serem ressuscitados são vistos como as primícias de uma nova criação, um novo começo para a humanidade. E isso é comprovado na continuação da Profecia em Jeremias 3:12-18.


Vá e proclame esta mensagem para os lados do norte: "‘Volte, ó infiel Israel’, declara o Eterno, ‘Não mais franzirei a testa cheio de ira contra vocês, pois eu sou fiel’, declara o Eterno, ‘Não ficarei irado para sempre. Mas reconheça o seu pecado: você se rebelou contra o Senhor, o seu Elohim, e ofereceu os seus favores a deuses estranhos, debaixo de toda árvore verdejante, e não me obedeceu’ ", declara o Eterno. "Voltem, filhos rebeldes! Pois eu sou o senhor de vocês", declara o Eterno. "Tomarei vocês, um de cada cidade e dois de cada clã, e os trarei de volta a Sião.  Então eu lhes darei governantes conforme a minha vontade, que os dirigirão com sabedoria e com entendimento. Quando vocês aumentarem e se multiplicarem na sua terra naqueles dias", declara o Eterno, "não dirão mais: ‘A arca da aliança do Eterno’. Não pensarão mais nisso nem se lembrarão dela; não sentirão sua falta nem será feita outra arca. Naquela época, chamarão Jerusalém ‘O Trono do Eterno’, e todas as nações se reunirão para honrar o nome do Eterno em Jerusalém. Não mais viverão segundo a obstinação de seus corações para fazer o mal. Naqueles dias a comunidade de Yehudah caminhará com a comunidade de Yisrael, e juntas voltarão do norte para a terra que dei como herança aos seus antepassados. "


Como disse, o contexto profético aponta para os remanescentes que acordarem na primeira ressurreição, formados por Yisrael, Yehudah e os ex-gentios que se tornaram povo, serem os governantes que guiarão o restante das nações no caminho do Eterno. Eles são as primícias tratadas profeticamente nesta parashá. Veremos ainda o que mais podemos absorver desses ensinos da Torah.


Outras Profecias sobre as primícias no TaNaK

Já ligamos profeticamente as primícias com a primeira ressurreição, e encontramos no TaNaK, a ressurreição dos justos sendo mencionada em várias passagens. Uma delas, a mais notável está em Daniel 12:2, onde está dito:


E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.


Esta rica passagem profética sugere uma ressurreição dual para alguns estudiosos, para outros diz respeito a três, onde os justos são recompensados com a vida eterna, os que não viveram segundo os padrões da Torah acordarão para se envergonhar e se arrepender, e finalmente os ímpios, que acordarão para serem julgados e condenados ou seja, extintos.

Outro exemplo TaNa|K encontramos em Isaías 26:19, que declara:


Os teus mortos viverão; os seus cadáveres ressuscitarão. Despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho é como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos.


Ainda outro texto em Isaías 65:9.


Farei surgir descendentes de Yaakov, e de Yehudah quem recebe por herança as minhas montanhas. Os meus escolhidos as herdarão, e ali viverão os meus servos.

Estas exemplos de profecias, como muitos outros no TaNaK, reforçam a ideia da relação profética das primícias e a esperança na ressurreição e na renovação da vida, pois o Eterno faz novas todas as coias e reveste de glória aos seus santos.


Yeshua e as Primícias da Ressurreição

Na Brit Hadasháh, conhecido popularmente como Novo Testamento, podemos ver também relação das primícias com a profecia sobre a ressurreição dos justos. Nos Bessorot/Evangelhos, Yeshua frequentemente usou metáforas agrícolas para descrever o Reino de D’us e a ressurreição. Em Yochanan/João 12:24, ele diz:


Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.


Lembrando que as palavras de Yeshua em sua maioria eram proféticas, vemos que esta analogia reforça a ideia de que sua morte e ressurreição são o início de uma grande colheita espiritual, assim como a de seus seguidores. E isso complementas os textos do TaNaK que lemos anteriormente.

Ainda podemos encontrar outras falas de Yeshua a respeito dos remanescente e de sua vivificação. Observe Yochanan/João 5:25:


Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de D’us, e aqueles que a ouvirem, viverão.


Este texto fala de dois aspectos da profecia das primícias, a primeira é a de despertas os remanescentes da Casa de Yisrael espalhados pelas nações para viverem em justiça, e o segundo é o aspecto da ressurreição para a vida. Poderíamos ainda destacar aqui as parábolas que Yeshua contou em seu sermão profético relatado por Mateus nos capítulos 24 e 25, onde é dado o ensino sobre o Reino de D’us.

Nas cartas Yeshua é claramente identificado pelos apóstolos e escritores, como as primícias dos que dormem em 1 Coríntios 15:20:


Mas de fato o Messias ressuscitou dentre os mortos, tornando-se as primícias dentre aqueles que dormiram.


O fato de o Eterno o ter ressuscitado dentre os mortos é a garantia e o primeiro exemplo da ressurreição futura de todos os fiéis à HaShem e a seus mandamentos ensinados pelo messias. Assim, como os primeiros frutos eram oferecidos a D’us, Yeshua, ao ser ressuscitado, se ofereceu como o primeiro de muitos que o seguirão em justiça. Vejam o que Rav Sha’ul/Paulo ainda fala em Romanos 8:13:


Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas se pelo Ruach fizerem morrer os atos do corpo, viverão.


As cartas de Rav Sha’ul/Paulo e o livro de Apocalipse expandem a visão que já havia sido dada pelo Eterno aos profetas e à Yeshua. O apóstolo Paulo aborda a ressurreição dos justos em várias de suas cartas. Em 1 Tessalonicenses 4:16-17, ele escreve:


Porque o senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de D’us, e os mortos no Messias ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o senhor.


Em Romanos 8:23, Paulo fala dos crentes como aqueles que têm “as primícias do Espírito”, aguardando a redenção completa de seus corpos.


E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Ruach, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo.


Esta linguagem sobre as primícias sugere que os justos são os primeiros a experimentar a nova vida no Messias, antecipando as ressurreições posteriores.

No livro de Apocalipse, os 144.000 são descritos como “comprados dentre os homens como primícias para D’us e para o Cordeiro”, conforme lemos em Apocalipse 14:4-5:


Estes são os que não se contaminaram com mulheres, pois se conservam castos e seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá. Foram comprados dentre os homens e ofertados como primícias a D’us e ao Cordeiro. Mentira nenhuma foi encontrada em suas bocas; são imaculados.


Eles representam os remanescentes fiéis, aqueles que foram resgatados e separados para D’us. Encontramos mais detalhes sobre a ressurreição dos justos em Apocalipse 20:4-6:


E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Yeshua e pela palavra de D’us, e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem na mão; e viveram e reinaram com o Messias durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de D’us e do Messias, e reinarão com ele mil anos.


Estas passagens destacam a bem-aventurança daqueles que participam da primeira ressurreição, reinando com o Messias durante o milênio. A imagem final de primícias conecta a promessa de ressurreição com a fidelidade e a consagração dos seguidores de Yeshua.

Concluindo nosso estudo, as primícias, tanto no contexto agrícola quanto no profético, simbolizam a consagração do melhor a D’us e a promessa de uma colheita futura. Através de Yeshua, as primícias da ressurreição, vemos a realização dessa promessa, garantindo a ressurreição e o resgate dos remanescentes fiéis. Este tema nos chama a viver em gratidão e fidelidade, reconhecendo que somos parte de uma grande colheita que pertence ao Eterno. As profecias sobre a ressurreição dos justos no TaNaK, nos escritos da Brit Hadasháh e no livro de Apocalipse oferecem uma visão abrangente da esperança na vida eterna. Elas reforçam a promessa de renovação e recompensa para aqueles que permanecem fiéis a D’us. A ressurreição é um tema central que une as Escrituras, apontando para a vitória final sobre a morte e a realização do plano divino de redenção.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


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