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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Estudo da Parashá Ki Tetsê - A cativa vira noiva, uma profecia linda!

 


Estudos da Torá

Parashá nº 49Ki Tetse (Quando saíres)

Devarim/Deuteronômio DT 21:10-25:19,

Haftará (Separação) Is 54:1-10; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 1Co 9:4-18 e 1Tm 5:17,18.


Tema: A cativa vira noiva, uma profecia linda!


Na Parashá Ki Tetse, somos confrontados com um mandamento que, à primeira vista, pode parecer puramente circunstancial, restrito às realidades dos tempos de guerra antigos. No entanto, as palavras do Eterno nunca são vazias, e compreendemos que cada um de Seus mandamentos carrega uma profundidade de sabedoria, verdade e profecia que vai além do óbvio, tocando nos aspectos mais profundos do coração e necessidades humanas.

O mandamento que instrui o tratamento de uma mulher cativa em Devarim/Dt 21:10-14, é um exemplo claro de como o Eterno, até mesmo em meio às situações mais adversas, nos chama a um padrão de justiça e compaixão. Ele revela que o caminho do Eterno não é simplesmente de conquista externa, mas de transformação interior. O verdadeiro guerreiro, conforme mostrado aqui, não é apenas aquele que vence no campo de batalha, mas aquele que governa sobre si mesmo e, mais ainda, sobre suas inclinações. E todo esse ensino é ampliado profundamente por meio de uma profecia que relaciona o messias e os remanescentes. Vamos estudar esse aspecto maravilhoso da parashá juntos.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


No resumo da parashá desta semana, vemos que a porção Ki Tetsê começa discutindo o caso de uma mulher quando capturada por um soldado judeu durante uma batalha. Pelo resto da Porção, a Torá continua com uma lista de várias mitsvot cobrindo vasta gama de tópicos. Relata então os direitos especiais de herança do primogênito, o caso do filho teimoso, a importância de respeitar-se a propriedade de outras pessoas, a obrigação de enxotar a ave mãe do ninho antes de pegar seus filhotes, e que não se deve vestir shatnez, mescla de lã e linho na mesma peça de roupa.

O caso da difamação da mulher casada é então discutido, seguido pela proibição de adultério e outros casamentos proibidos, bem como a ordem de manter o acampamento do exército como local santificado. Após mencionar brevemente o divórcio e o requerimento de um guet (carta de divórcio), a Torá discute o sequestro, a mitsvá de pagar os trabalhadores no tempo apropriado, e o conceito da responsabilidade do indivíduo por suas próprias ações.

A Torá descreve então a consideração especial que deve ser dada a um órfão e a uma viúva, o casamento levirato e a mitsvá de ser honesto nos negócios. Esta Porção da Torá conclui com uma exortação para recordar as atrocidades que a nação de Amalek cometeu contra nós após o Êxodo. (Introdução extraída do site chabad.com.br)


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Quando vocês guerrearem contra os seus inimigos e o Senhor, o seu Deus, os entregar em suas mãos e vocês fizerem prisioneiros, um de vocês poderá ver entre eles uma mulher muito bonita, agradar-se dela e tomá-la como esposa. Leve-a para casa; ela rapará a cabeça, cortará as unhas e se desfará das roupas que estava usando quando foi capturada. Ficará em casa e pranteará seu pai e sua mãe um mês inteiro. Depois você poderá chegar-se a ela e ser o seu marido, e ela será sua mulher. Dt 21:10-13


Sabemos pela Torah que o Eterno estabelece a união física e emocional entre o homem e a mulher, estabelecendo assim, a aliança do casamento. Para seu povo, ele determina que, não se casem com pessoas de outros povos, como um princípio geral. O que nunca impediu que pessoas de outros povos pudessem se tornar sinceros servos de D’us, tornando-se também povo do Eterno e consequentemente possibilitando a união do casamento. Vemos isso em todo o decurso da história do povo de Yisrael, pessoas de outras nações aceitando o Eterno e sua Torah como autoridade sobre suas vidas e casando-se com israelitas.

Nessa parashá, há dois anos atrás, mencionei que a Torah proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que queria servir ao Eterno. Vemos também na Torah instruções a respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode parecer estranho nessa porção a Torah trazer ensinamentos sobre um homem querer se casar com uma mulher cativa.

Naquele estudo eu mencionei que um homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torah tanto preza, e satisfazer seus instintos naturais. E sabe-se historicamente, que em muitos povos as mulheres eram preparadas para atrair os soldados inimigos através da sedução, como ocorreu com as midianitas que foram orientadas por Bilam. Sendo assim, a Torah o protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele vendo uma mulher cativa, bela e formosa, que influenciada pelos conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados, por meio de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com a tal mulher, e mesmo precipitadamente, tomá-la em casamento. E no intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por desejos passageiros, a Torah cria um roteiro para que o soldado que, temente a D’us e obediente as Suas leis, não fosse traído por seus impulsos, e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.

Disse ainda que, para se casar com ela, o israelita deveria seguir algumas orientações prescritas na Torah, que estão nestes versos que estamos analisando, Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso, continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência física agradável de antes, o casamento poderia se realizar. Para mais informações sobre esse estudo busque a parashá Ki Tetse de 2022 em “souperegrinonaterra.blogspot.com.br.

No entanto, no estudo de hoje, vamos observar este assunto sob a ótica profética, buscando o que o Eterno estabeleceu como mensagem sobre o futuro neste mandamento.


A visão Profética

Na parashá Ki Tetsê, em Devarim 21:10-13, encontramos um princípio que, à primeira vista, pode causar estranheza. O Eterno instrui sobre a conduta do soldado israelita que, ao conquistar uma cidade inimiga, sente desejo por uma mulher cativa. O texto detalha um processo que envolve um tempo de espera, a remoção de sinais externos da antiga vida da mulher, e uma reflexão profunda antes que o soldado realmente pudesse se casar com ela. Esse fundamento, apesar de surgir em um contexto de guerra e conquista, é carregado de uma profunda lição sobre paciência, domínio sobre os desejos, e o respeito pela dignidade humana. O Eterno não permite que o instinto ou a pressa guiem o coração do soldado, mas exige um tempo de pausa e consideração, refletindo a maneira como o próprio Eterno trata o Seu povo.

Os profetas no TaNaK reforçam continuamente essa ideia de que o Eterno busca não apenas obediência externa, mas uma transformação interna, que se manifesta em justiça e misericórdia. O profeta Hoshea/Oseias, por exemplo, utiliza a metáfora do casamento para descrever a relação entre o Eterno e Yisrael, mostrando que mesmo quando o povo se desvia e se entrega a outros "amores", o Eterno busca redimi-los. Assim como o soldado é chamado a transformar o desejo bruto em um relacionamento que respeita o processo e o tempo, o Eterno age com paciência, desejando que o coração de Yisrael se volte para Ele de forma sincera e voluntária.

Esse mandamento do Ki Tetsê também pode ser entendido à luz do papel do Mashiach, o ungido do Eterno, que também vem para redimir aqueles que estão "cativos" – não de guerras terrestres, mas dos desejos e inclinações desordenadas do coração e sistemas religiosos. Assim como uma mulher cativa precisa de um tempo de transformação antes de ser integrada à família do Eterno, o Mashiach convida o povo a passar por uma transformação espiritual, se adequando aos mandamentos de HaShem e se submetendo à vontade do Criador. Ele não impõe uma mudança brusca, mas oferece um caminho de retorno ao Eterno, a teshuvah, que envolve reflexão, arrependimento e purificação. O messias é a representação da paciência e a misericórdia que o Eterno sempre demonstrou em Suas relações com Yisrael.

Os profetas, como Yeshayahu, falam de um tempo em que o Mashiach traria as nações para a luz do Eterno, tornando possível que pessoas, até mesmo aquelas de fora do povo de Yisrael conseguissem se juntar a essa aliança, desde que aceitassem os mandamentos e seguissem os caminhos do Eterno. Da mesma forma que uma mulher cativa poderia ser integrada ao povo de Yisrael após um processo de purificação e acessibilidade, as nações também são chamadas a se unirem ao povo do Eterno por meio do Mashiach, em humildade e respeito pela vontade do Eterno.


O Noivo e a noiva

A metáfora do noivo e da noiva é profundamente enraizada nas Escrituras, particularmente no relacionamento entre o Eterno e Yisrael, muitas vezes descrita como um casamento. No contexto de Devarim 21:10-13, onde o soldado é orientado sobre o tratamento de uma mulher cativa, essa metáfora ganha uma nova dimensão, especialmente quando relacionada ao papel do Mashiach e à redenção do povo de Yisrael e dos remanescentes espalhados pelo mundo.

O Mashiach, como o noivo, é aquele que vem buscar aqueles que estão "fora", aqueles que ainda não fazem parte do povo do Eterno. Assim como o soldado é instruído a dar à mulher cativa um tempo de luto e reflexão, o Mashiach, o noivo de Yisrael, não impõe sua vontade ou força uma mudança imediata. Ele oferece um tempo e um caminho de retorno ao Eterno que passa pela transformação voluntária, pelo arrependimento e pelo entendimento de que uma nova vida está sendo oferecida. A mulher cativa é a representação de todos os remanescentes da casa de Yisrael espalhados pelo mundo. O gentio que se aproxima do Eterno, por meio do Mashiach, é convidado a abandonar seus antigos caminhos, a rejeitar o que é contrário aos mandamentos do Eterno, e a adotar uma nova forma de vida, guiada pela Torah e pelos mandamentos.

O Eterno, em Sua infinita sabedoria, sempre manifestou um desejo de redimir não apenas Yisrael, mas também as pessoas das nações. O profeta Yeshayahu declara que Yisrael seria uma luz para as nações conforme lemos em Yeshayahu 42:6:


Eu, o Eterno, o chamei em retidão; segurarei firme a sua mão. Eu o guardarei e farei de você um mediador para o povo e uma luz para os gentios,...


E vemos pelo texto que o Mashiach é o agente dessa redenção, aquele que traz as pessoas que estavam distantes do Eterno e de seus mandamentos, para perto. No contexto do critério em Ki Tetsê, essa proposta é feita com respeito, paciência e uma profunda consideração pelo processo individual de teshuvah de cada pessoa que se aproxima do Eterno. Mas é preciso ficar claro que o Eterno sonda a kavanah ou intenções, se a pessoa realmente está disposta a viver segundo sua vontade.

Aqui é interessante esclarecer que toda profecia tem níveis diferentes de interpretação, pelo menos dois níveis principais. O primeiro é o nível de baixo ou nível humano, e nesse nível percebemos as profecias no nível humano, nas coisas relacionadas com o ser humano. O segundo é nível de cima ou nível do Eterno, que é o nível em que se percebe as profecias no nível de HaShem, nas coisas que se relacionam ao Eterno ou com Ele. Por exemplo, neste texto que acabamos de ler vemos esses dois níveis. O primeiro nível é que o Eterno chama Yisrael para ser luz às nações, e o segundo é que o Eterno chama o Mashiach como seu representante para ser luz para as nações. Outro exemplo se enquadra exatamente nessa parashá, a situação do noivo e da noiva. Há textos no TaNaK que revelam o Eterno como o noivo ou marido e Yisrael como a noiva. E há textos no chamado Novo Testamento que revelam ser Yeshua o noivo ou marido e Yisrael ou a congregação a noiva. Será que há uma contradição? Claro que não! O que acontece é que devemos entender os textos proféticos pelo menos nesses dois níveis. Sendo assim, no primeiro nível o humano vemos Yeshua como o noivo, pois está se relacionando aos homens, a coisas que acontecem aqui, no caso o relacionamento e o chamado das pessoas para serem parte do reino, ou seja, casarem com o noivo. E o segundo nível é o Eterno sendo o noivo de Yisrael em um sentido mais amplo, pois é o criador que foi quem designou este povo como eleito, por isso representa o relacionamento com o Eterno.

Assim a metáfora ou podemos dizer profecia do noivo e da noiva, se encaixa perfeitamente com essa instrução. O Mashiach, como noivo, não busca uma noiva que se preocupe ou sem escolha. Ele, da mesma forma que o soldado no mandamento, deseja que a “noiva” ou a “mulher cativa” venha a ele por sua própria vontade, após ter passado pelo tempo de reflexão e purificação, a teshuvah. E esse processo é carregado de dignidade e respeito, pois o Eterno não impõe um fardo impossível, e assim, consequentemente o messias também não, mas oferece a oportunidade de uma nova vida, com base no amor e no compromisso com os mandamentos.

Portanto, esse mandamento aparentemente simples sobre o tratamento de uma mulher cativa antes dela aceitar se casar com o soldado, na verdade, reflete a profunda sabedoria do Eterno sobre o coração humano e o processo de redenção. Ele não busca forçar a obediência ou impor uma mudança repentina, mas chama para um caminho de transformação voluntária, que respeita o tempo e o processo de cada indivíduo. O Eterno vê a intenção de cada pessoa. O soldado deve aprender a esperar, a desejar o bem da mulher, e não apenas satisfazer seus próprios desejos. E é isso que Yeshua, o messias, faz como o noivo. O Eterno acompanha nosso amadurecimento, sempre nos dando a oportunidade de retornar, de transformar nossos corações e, finalmente, de nos tornarmos parte do Seu povo.

Concluindo, o mandamento de Devarim 21:10-13 é uma bela ilustração do caráter do Eterno. Ele deseja que sejamos mais do que conquistadores exteriores, mas conquistadores de nossos próprios corações. Assim como o soldado precisa aprender a dominar seus impulsos e tratar a mulher cativa com dignidade e paciência, o Mashiach veio para nos ensinar a conquistar o Yetzer harah e a nossa união ao Eterno em verdadeira submissão e confiança. Assim como uma mulher cativa encontra um lar em Yisrael, nós também podemos encontrar nosso lugar no coração do Eterno, quando aceitamos Seu processo de redenção e transformação. O mandamento do soldado e da mulher cativa reflete profundamente o relacionamento entre o Mashiach e as duas casas acompanhado dos gentios que se aproximam do Eterno. Assim como uma mulher cativa pode se tornar parte do povo de Yisrael após um processo de transformação, o gentio, por meio do Mashiach, é convidado a entrar na aliança do Eterno, a abandonar seus antigos caminhos, e a se unir ao povo de Yisrael, com o mesmo respeito, paciência e dignidade que o Eterno sempre demonstrou em Sua relação com Yisrael e com as nações. Portanto, se você ainda não aceitou que é cativo e precisa de redenção, perceba sua situação e volte-se para o noivo que está lhe propondo casamento, aceite as instruções inicie seu processo de teshuvah para no fim fazer parte da aliança.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


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