Parashá nº 2 – Nôach (Noé)
Bereshit/Gênesis 6.9-11.32
Haftará (separação) Is 54.1-55.5; Sl 29 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 24:36-44 e 1Pe 3:18-22
Tema: O sinal do Mashiach e da renovação da criação.
Essa semana estamos estudando a parashá Noach. A história de Noach é um testemunho vivo da justiça, da compaixão e da promessa do Eterno em meio a uma geração envolta em violência e desobediência. Em um tempo em que a terra estava repleta de transgressão, Noach destacou-se como um justo, aquele a quem o Eterno confiou a construção de uma grande arca ou caixa – não apenas como refúgio físico para ele, sua família, mas como sinal de uma esperança renovadora para toda a criação. Neste estudo, exploraremos como a vida de Noach e a construção da tevah/arca/caixa apontam para o papel do Mashiach: um mensageiro de salvação que traria o convite ao retorno para o Eterno, à transformação e à paz. Através do juízo e da renovação, Noach se torna uma sombra do messias, o propósito eterno de HaShem – não apenas punir, mas de restaurar ou redimir – uma promessa que se cumpre em Yeshua, o messias, e que ecoa em todas as gerações. O propósito deste estudo é inspirar a compreensão da história de Noach como uma antecipação dos caminhos do Eterno em direção à redenção e à renovação da criação.
A PARASHÁ DA SEMANA
O Eterno instrui Noach, um homem justo em uma geração profundamente marcada pela violência e corrupção, a construir uma grande tevah, uma arca de madeira cuidadosamente revestida de piche por dentro e por fora. Esse projeto seria uma salvação, pois o Eterno lhe revelaria que um dilúvio varreria toda a vida da face da terra. Por isso, a arca serviria como abrigo para Noach, sua família e um casal de cada espécie animal, e, dos animais limpos, sete pares.
Então, conforme predito, o dilúvio começa, e a água toma a terra durante 40 dias e noites sem interrupção. As águas se espalharam e começaram a dominar a terra por mais 150 dias, até que, finalmente, começaram a baixar. A arca, flutuando em segurança, reservada sobre o Monte Ararat. Da janela da arca, Noach envia primeiro um corvo, depois algumas pombas, para observar o nível das águas e verificar se já estava seguro. Quando a terra seca completamente, aproximadamente um ano após o início do dilúvio, o Eterno ordena que Noach saia da arca, levando todos com ele, para repovoar a terra.
Logo ao sair da arca, Noach constroi um altar e oferece sacrifícios ao Eterno, que se agrada de sua dedicação e faz uma aliança com Noach. Em seguida, Ele instrui sobre a santidade da vida: o assassinato é uma ofensa grave, punível pelo próprio homem, e, embora o Eterno conceda ao homem a permissão para comer carne, proíbe terminantemente o consumo de carne ainda com vida ou sangue.
Com o passar do tempo, Noach planta uma vinha, mas acaba embriagando-se com o vinho que havia produzido e adormece desnudo em sua tenda. Seu filho Cham vê sua nudez e tira proveito disso, enquanto seus irmãos Shem e Yafet honram o pai, cobrindo-o com respeito. Por essa falta, Cham recebe uma maldição, enquanto Shem e Yafet são abençoados.
Os descendentes de Noach, ainda unidos em língua e cultura, formam uma única nação por dez gerações. Contudo, afastaram-se do Eterno ao tentar construir uma torre como símbolo de seu próprio poder e unidade. Em resposta, o Eterno confunde suas línguas e, incapazes de se comunicar, eles abandonaram o projeto e se espalharam, dando origem às setenta nações da terra.
A Parashá de Noach termina traçando uma linha das dez gerações entre Noach e Avram, que mais tarde se tornaria Avraham. Esta genealogia registra a viagem de Avram desde sua terra natal, Ur Casdim, até Charan, em direção à terra de Canaã, preparando o cenário para as promessas que o Eterno faria a ele e a seus descendentes.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Nesse estudo vamos refletir sobre Noach, que conforme as Escrituras, foi um homem justo em sua geração, isto é um fato notável, pois sempre vemos comentários sobre esse fato. Ele foi alguém separado pelo Eterno para trazer salvação e renovação para a terra, isso no contexto histórico, mas em um contexto profético ele é uma sombra, uma indicação de algo mais amplo e pleno. A vida de Noach aponta para temas que ecoam em tempos futuros para ele, como a vinda do Mashiach, e também para nós, como o retorno do Mashiach, uma vez que sabemos que ele já veio. Além disso, Noach, devido a seu caráter, serve como uma figura de esperança e justiça que ressoaria nos tempos futuros através do caráter, vida e obra do Mashiach Yeshua. Observemos três paralelos importantes entre Noach e Yeshua, cada um deles fundamentado nas Escrituras, que nos ensinam a gravidade do pecado, a necessidade de renovação e o papel da graça do Eterno.
1. O Pecado e o Juízo Divino
A Torah nos relata que no tempo de Noach, a terra estava cheia de violência e corrupção. No fim da parashá Bereshit, em Gn 6:5, está escrito que:
HaShem viu que o povo sobre a terra era muito ímpio, que todas as imaginações do coração deles pendiam sempre só para o mal.
Da mesma forma no início dessa parashá, no terceiro verso, encontramos a seguinte informação:
A terra estava corrompida diante de Elohim, repleta de violência. Elohim viu a terra, e ela estava corrompida; porque tinha corrompido toda criatura, o seu caminho sobre a terra. Gn 6:11-12
A fim de buscar entender essa corrupção citada, que levou o Eterno a tomar a decisão de aplicar tal julgamento sobre os seres vivos, vamos ver o que a Torah Oral e os Midrashim falam além da própria Torah.
A Torah diz que os homens começaram a se multiplicar sobre a terra e tiveram filhas, e os filhos de Elohim viram que elas eram formosas e tomaram para si as mulheres que escolheram. Primeiramente precisamos entender quem eram as filhas dos homens e quem eram os filhos de Elohim, que em algumas traduções está filhos de D’us. As filhas dos homens eram descendentes dos outros 70 casais mencionados pela Torah oral que o Eterno formou além de Adam e Chavah. A estes últimos ele os colocou no Édem, e os 70 ele espalhou sobre a terra, se afastaram do Eterno, e deles nasceram as filhas. Os filhos de Elohim são descendentes de Shet, filho de Adam, que detinham o conhecimento do Eterno e ensinavam sobre HaShem. O verdadeiro significado de filhos de Elohim é filhos dos senhores e podemos confirmar isso no comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer, diz o seguinte a respeito dos filhos de Elohim.
A palavra “Elohim” é singular quando se refere a D’us, o criador de tudo. Significa “juízes” como em Ex 21:30; “anjo/mensageiro” em Sl 82:6; “ídolos” em Ex 20:30. Segundo Rashi, neste versículo significa “filhos dos senhores e dos juízes”, porque o termo Elohim implica sempre em julgamento. Também as versões em aramaico de Onkelos e Ionatan bem Uziel traduzem Bnei Haelohim como “filhos dos grandes”. Pág 14
No Entanto, quando estes justos começaram a se casar com as filhas dos homens que eram desobedientes, começaram a se distanciar de HaShem também, e conforme o tempo passou a corrupção aumentou muito. O Midrash Bereshit informa que as pessoas cometiam pecados sexuais com animais, esses líderes invadiam festas de casamento e abusavam sexualmente da noiva e do noivo, e que até mesmo os animais estavam corrompidos misturando-se entre as espécies gerando aberrações. Somente escapavam da corrupção os peixes, pois permaneciam nas águas. Isso por sí, é um apontamento para os remanescentes justos que se mantinham livres das transgressões como os peixes. Até que quando chega a geração de Noach a corrupção estava insuportável aos olhos de HaShem, e Noach procurava se manter fiel ao que aprendeu Shet, Hanoch e Matushelach, os remanescentes justos.
Conforme vimos, a geração de Noach foi tão corrompida, que o Eterno decidiu trazer o juízo sobre a criação através do dilúvio. Esse momento de julgamento aponta para a realidade de que o pecado traz destruição, pois o pecado contamina a terra. E, assim como Noach foi chamado a anunciar sua geração, Yeshua, em sua missão, avisou Yisrael sobre o julgamento que viria por causa da rebelião e afastamento dos princípios do Eterno. O Eterno não escolheu Noach de forma aleatória, ele era justo e íntegro em sua geração, pois andava com D’us.
Em Mattityahu/Mt 24:37-39, Yeshua diz: ...Assim como foi nos dias de Noach, assim também será a vinda do Filho do Homem…, referindo-se ao afastamento do Eterno e à necessidade de arrependimento para evitar o juízo vindouro. Noach e Yeshua, portanto, representam essa mesma advertência: evitar-se do Eterno é colocar-se em risco diante do juízo divino.
2. A Salvação Provida pelo Eterno
O Eterno, em Sua misericórdia, oferece sempre uma porta de fuga para aqueles que O procuram. Noach foi escolhido para construir a arca, que se tornou o meio pelo qual o Eterno poupou um remanescente da criação. Assim como a arca preservou Noach, sua família, alguns remanescentes de pessoas e de animais, Yeshua também trouxe uma mensagem de salvação para aqueles que, pela confiança firme no Eterno, escolhessem retornar a Ele.
Em Yeshayahu 53, o profeta descreve um servo justo, cuja fidelidade e obediência trariam paz para muitos. Da mesma forma, Yeshua veio para anunciar as boas novas e chamar os desviados a retornar aos caminhos do Eterno, abrindo caminho para a redenção, tal como a arca abriu caminho para um novo começo após o dilúvio. A arca, nesse sentido, representa essa porta de salvação para aqueles que escolhem viver em harmonia com o Eterno, assim como Yeshua abriu o caminho para que todos pudessem conhecer e viver de acordo com os mandamentos do Eterno.
O relato que vemos na porção Noach nos ensina sobre a gravidade do pecado, das consequências que trazemos sobre nós e principalmente sobre a criação quando escolhemos o caminho da desobediência. No entanto, a história de Noach também é uma história de salvação e graça de D’us através do seu ungido.
Nesse aspecto, devemos nos lembrar do que Shimeon, um idoso justo que vivia em Jerusalém quando Yeshua foi levado ao Beit Hamikdash para que seus pais cumprissem o mandamento da purificação da mãe e da criança, bem como a oferta pelo primogênito em Lc 2:21-35, ali é dito que Yeshua seria luz para as pessoas das nações, e de fato o que foi dito por aquele idoso concorda com o que o profeta Yeshayahu/Isaías disse cerca de 600 anos antes, em Is 11:10-12:
10 Naquele dia as nações buscarão a Raiz de Yishai, que será como uma bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso.
11 Naquele dia HaShem estenderá o braço pela segunda vez para reivindicar o remanescente do seu povo que for deixado na Assíria, no Egito, em Patros, na Etiópia, em Elão, em Sinear, em Hamate e nas ilhas do mar.
12 Ele erguerá uma bandeira para as nações a fim de reunir os exilados de Yisrael; ajuntará o povo disperso de Yehudáh desde os quatro cantos da terra.
Assim como Noach em sua época foi um sinal para indicar a salvação do Eterno, ou seja a Teiváh/arca/caixa. O messias é o sinal/bandeira paras as nações, a fim de indicar o caminho para onde as pessoas devem retornar. Talvez você possa perguntar: Que caminho o messias irá apontar? Algum profeta fala sobre isso, que a casa de Yisrael e os gentios devem procurar um caminho? A resposta é sim! Veja o que diz Yirmeyahu/Jeremias:
Assim diz o Senhor: “Ponham-se nas encruzilhadas e olhem; perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso”. Mas vocês disseram: ‘Não seguiremos! ’ Jr 6:16
Ou seja, o caminho antigo, o bom caminho mencionado é o caminho da Torah do Eterno, essa é a salvação, cuja observância nos conduz para Jerusalém, Yisrael e o Eterno. E no futuro nos levará a viver lá com Yeshua no Reino de HaShem por toda a Eternidade.
3. A renovação da Criação
Após o dilúvio, Noach e sua família saíram da arca e receberam uma missão: repovoar e renovar a terra, segundo as bênçãos do Eterno. Em Bereshit 9:1, o Eterno abençoa Noach e seus filhos, ordenando-lhes: "Sede fecundos e multiplicai-vos, e enchei a terra." Isso marca um novo começo para a criação.
Em seus ensinamentos, Yeshua também fala de uma renovação que virá após o juízo, algo semelhante ao que Noach viveu ao sair da arca para uma terra purificada. Em Mattityahu 19:28, Yeshua promete que, na renovação de todas as coisas, os justos terão um lugar de honra no reino do Eterno. Assim como Noach foi responsável pela nova fase da humanidade, Yeshua é visto como aquele que traria um tempo de restauração para Yisrael e para todos os que voltassem ao Eterno, preparando a terra para uma nova era de paz e justiça.
Da mesma forma que o nome Noach leva ao significado de descanso, pois através da obediência dele a criação teve descanso das transgressões, um dos nomes do messias é Menachem, que significa consolo, conforto ou descanso.
4. Um pouco de gematria
Vamos comprovar através de um pouco de gematria o que mencionamos neste estudo. O termo Noach/Noé – נֹח – possui gematria de valor 58, e se somarmos 5+8=13, cuja soma 1+3 resulta na raiz 4, apontando para a letra Dálet - ד – que nos pictogramas indica porta e caminho. 4 também é um apontamento para o quarto milênio, que foi quando Yeshua iniciou seu ministério como Mashiach Ben Yosef. Tudo isso nos revela que, assim como Noach foi o caminho para as pessoas se salvarem, Yeshua Hamashiach é a porta e o caminho que leva à verdade e à vida.
Segundo o Rav Yochanan Ben Yaacov, a palavra Tevah - תבה - Caixa/Arca tem gematria 407. A tevah foi um sinal do Eterno para que façamos teshuvah. O termo Sinal - אות também tem gematria 407. Vimos anteriormente que Noach e Yeshua são o sinal do Eterno para mostrar o caminho para o retorno à D’us.
Concluindo nosso estudo, Noach, em sua geração, foi um mensageiro da justiça e da misericórdia do Eterno, uma figura de salvação em meio ao juízo. Ele aponta para o Mashiach que, em tempos posteriores, traria uma mensagem semelhante: um chamado ao arrependimento e à renovação. Ambos, Noach e Yeshua, nos lembram de que a obediência ao Eterno e o compromisso com Seus mandamentos são essenciais para alcançar uma vida plena e a renovação. Quem ama o Eterno e segue Seus mandamentos encontra um caminho de preservação, ainda que haja destruição ao redor, e caminha em direção à promessa de uma criação renovada, uma nova terra onde habitará a justiça.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)