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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Estudo da Parashá Noach - O sinal do Mashiach e da renovação da criação.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 2 – Nôach (Noé)

Bereshit/Gênesis 6.9-11.32

Haftará (separação) Is 54.1-55.5; Sl 29 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 24:36-44 e 1Pe 3:18-22


Tema: O sinal do Mashiach e da renovação da criação.


Essa semana estamos estudando a parashá Noach. A história de Noach é um testemunho vivo da justiça, da compaixão e da promessa do Eterno em meio a uma geração envolta em violência e desobediência. Em um tempo em que a terra estava repleta de transgressão, Noach destacou-se como um justo, aquele a quem o Eterno confiou a construção de uma grande arca ou caixa – não apenas como refúgio físico para ele, sua família, mas como sinal de uma esperança renovadora para toda a criação. Neste estudo, exploraremos como a vida de Noach e a construção da tevah/arca/caixa apontam para o papel do Mashiach: um mensageiro de salvação que traria o convite ao retorno para o Eterno, à transformação e à paz. Através do juízo e da renovação, Noach se torna uma sombra do messias, o propósito eterno de HaShem – não apenas punir, mas de restaurar ou redimir – uma promessa que se cumpre em Yeshua, o messias, e que ecoa em todas as gerações. O propósito deste estudo é inspirar a compreensão da história de Noach como uma antecipação dos caminhos do Eterno em direção à redenção e à renovação da criação.


A PARASHÁ DA SEMANA

O Eterno instrui Noach, um homem justo em uma geração profundamente marcada pela violência e corrupção, a construir uma grande tevah, uma arca de madeira cuidadosamente revestida de piche por dentro e por fora. Esse projeto seria uma salvação, pois o Eterno lhe revelaria que um dilúvio varreria toda a vida da face da terra. Por isso, a arca serviria como abrigo para Noach, sua família e um casal de cada espécie animal, e, dos animais limpos, sete pares.

Então, conforme predito, o dilúvio começa, e a água toma a terra durante 40 dias e noites sem interrupção. As águas se espalharam e começaram a dominar a terra por mais 150 dias, até que, finalmente, começaram a baixar. A arca, flutuando em segurança, reservada sobre o Monte Ararat. Da janela da arca, Noach envia primeiro um corvo, depois algumas pombas, para observar o nível das águas e verificar se já estava seguro. Quando a terra seca completamente, aproximadamente um ano após o início do dilúvio, o Eterno ordena que Noach saia da arca, levando todos com ele, para repovoar a terra.

Logo ao sair da arca, Noach constroi um altar e oferece sacrifícios ao Eterno, que se agrada de sua dedicação e faz uma aliança com Noach. Em seguida, Ele instrui sobre a santidade da vida: o assassinato é uma ofensa grave, punível pelo próprio homem, e, embora o Eterno conceda ao homem a permissão para comer carne, proíbe terminantemente o consumo de carne ainda com vida ou sangue.

Com o passar do tempo, Noach planta uma vinha, mas acaba embriagando-se com o vinho que havia produzido e adormece desnudo em sua tenda. Seu filho Cham vê sua nudez e tira proveito disso, enquanto seus irmãos Shem e Yafet honram o pai, cobrindo-o com respeito. Por essa falta, Cham recebe uma maldição, enquanto Shem e Yafet são abençoados.

Os descendentes de Noach, ainda unidos em língua e cultura, formam uma única nação por dez gerações. Contudo, afastaram-se do Eterno ao tentar construir uma torre como símbolo de seu próprio poder e unidade. Em resposta, o Eterno confunde suas línguas e, incapazes de se comunicar, eles abandonaram o projeto e se espalharam, dando origem às setenta nações da terra.

A Parashá de Noach termina traçando uma linha das dez gerações entre Noach e Avram, que mais tarde se tornaria Avraham. Esta genealogia registra a viagem de Avram desde sua terra natal, Ur Casdim, até Charan, em direção à terra de Canaã, preparando o cenário para as promessas que o Eterno faria a ele e a seus descendentes.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Nesse estudo vamos refletir sobre Noach, que conforme as Escrituras, foi um homem justo em sua geração, isto é um fato notável, pois sempre vemos comentários sobre esse fato. Ele foi alguém separado pelo Eterno para trazer salvação e renovação para a terra, isso no contexto histórico, mas em um contexto profético ele é uma sombra, uma indicação de algo mais amplo e pleno. A vida de Noach aponta para temas que ecoam em tempos futuros para ele, como a vinda do Mashiach, e também para nós, como o retorno do Mashiach, uma vez que sabemos que ele já veio. Além disso, Noach, devido a seu caráter, serve como uma figura de esperança e justiça que ressoaria nos tempos futuros através do caráter, vida e obra do Mashiach Yeshua. Observemos três paralelos importantes entre Noach e Yeshua, cada um deles fundamentado nas Escrituras, que nos ensinam a gravidade do pecado, a necessidade de renovação e o papel da graça do Eterno.


1. O Pecado e o Juízo Divino

A Torah nos relata que no tempo de Noach, a terra estava cheia de violência e corrupção. No fim da parashá Bereshit, em Gn 6:5, está escrito que:


HaShem viu que o povo sobre a terra era muito ímpio, que todas as imaginações do coração deles pendiam sempre só para o mal.


Da mesma forma no início dessa parashá, no terceiro verso, encontramos a seguinte informação:


A terra estava corrompida diante de Elohim, repleta de violência. Elohim viu a terra, e ela estava corrompida; porque tinha corrompido toda criatura, o seu caminho sobre a terra. Gn 6:11-12


A fim de buscar entender essa corrupção citada, que levou o Eterno a tomar a decisão de aplicar tal julgamento sobre os seres vivos, vamos ver o que a Torah Oral e os Midrashim falam além da própria Torah.

A Torah diz que os homens começaram a se multiplicar sobre a terra e tiveram filhas, e os filhos de Elohim viram que elas eram formosas e tomaram para si as mulheres que escolheram. Primeiramente precisamos entender quem eram as filhas dos homens e quem eram os filhos de Elohim, que em algumas traduções está filhos de D’us. As filhas dos homens eram descendentes dos outros 70 casais mencionados pela Torah oral que o Eterno formou além de Adam e Chavah. A estes últimos ele os colocou no Édem, e os 70 ele espalhou sobre a terra, se afastaram do Eterno, e deles nasceram as filhas. Os filhos de Elohim são descendentes de Shet, filho de Adam, que detinham o conhecimento do Eterno e ensinavam sobre HaShem. O verdadeiro significado de filhos de Elohim é filhos dos senhores e podemos confirmar isso no comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer, diz o seguinte a respeito dos filhos de Elohim.


A palavra “Elohim” é singular quando se refere a D’us, o criador de tudo. Significa “juízes” como em Ex 21:30; “anjo/mensageiro” em Sl 82:6; “ídolos” em Ex 20:30. Segundo Rashi, neste versículo significa “filhos dos senhores e dos juízes”, porque o termo Elohim implica sempre em julgamento. Também as versões em aramaico de Onkelos e Ionatan bem Uziel traduzem Bnei Haelohim como “filhos dos grandes”. Pág 14


No Entanto, quando estes justos começaram a se casar com as filhas dos homens que eram desobedientes, começaram a se distanciar de HaShem também, e conforme o tempo passou a corrupção aumentou muito. O Midrash Bereshit informa que as pessoas cometiam pecados sexuais com animais, esses líderes invadiam festas de casamento e abusavam sexualmente da noiva e do noivo, e que até mesmo os animais estavam corrompidos misturando-se entre as espécies gerando aberrações. Somente escapavam da corrupção os peixes, pois permaneciam nas águas. Isso por sí, é um apontamento para os remanescentes justos que se mantinham livres das transgressões como os peixes. Até que quando chega a geração de Noach a corrupção estava insuportável aos olhos de HaShem, e Noach procurava se manter fiel ao que aprendeu Shet, Hanoch e Matushelach, os remanescentes justos.

Conforme vimos, a geração de Noach foi tão corrompida, que o Eterno decidiu trazer o juízo sobre a criação através do dilúvio. Esse momento de julgamento aponta para a realidade de que o pecado traz destruição, pois o pecado contamina a terra. E, assim como Noach foi chamado a anunciar sua geração, Yeshua, em sua missão, avisou Yisrael sobre o julgamento que viria por causa da rebelião e afastamento dos princípios do Eterno. O Eterno não escolheu Noach de forma aleatória, ele era justo e íntegro em sua geração, pois andava com D’us.

Em Mattityahu/Mt 24:37-39, Yeshua diz: ...Assim como foi nos dias de Noach, assim também será a vinda do Filho do Homem…, referindo-se ao afastamento do Eterno e à necessidade de arrependimento para evitar o juízo vindouro. Noach e Yeshua, portanto, representam essa mesma advertência: evitar-se do Eterno é colocar-se em risco diante do juízo divino.


2. A Salvação Provida pelo Eterno

O Eterno, em Sua misericórdia, oferece sempre uma porta de fuga para aqueles que O procuram. Noach foi escolhido para construir a arca, que se tornou o meio pelo qual o Eterno poupou um remanescente da criação. Assim como a arca preservou Noach, sua família, alguns remanescentes de pessoas e de animais, Yeshua também trouxe uma mensagem de salvação para aqueles que, pela confiança firme no Eterno, escolhessem retornar a Ele.

Em Yeshayahu 53, o profeta descreve um servo justo, cuja fidelidade e obediência trariam paz para muitos. Da mesma forma, Yeshua veio para anunciar as boas novas e chamar os desviados a retornar aos caminhos do Eterno, abrindo caminho para a redenção, tal como a arca abriu caminho para um novo começo após o dilúvio. A arca, nesse sentido, representa essa porta de salvação para aqueles que escolhem viver em harmonia com o Eterno, assim como Yeshua abriu o caminho para que todos pudessem conhecer e viver de acordo com os mandamentos do Eterno.

O relato que vemos na porção Noach nos ensina sobre a gravidade do pecado, das consequências que trazemos sobre nós e principalmente sobre a criação quando escolhemos o caminho da desobediência. No entanto, a história de Noach também é uma história de salvação e graça de D’us através do seu ungido.

Nesse aspecto, devemos nos lembrar do que Shimeon, um idoso justo que vivia em Jerusalém quando Yeshua foi levado ao Beit Hamikdash para que seus pais cumprissem o mandamento da purificação da mãe e da criança, bem como a oferta pelo primogênito em Lc 2:21-35, ali é dito que Yeshua seria luz para as pessoas das nações, e de fato o que foi dito por aquele idoso concorda com o que o profeta Yeshayahu/Isaías disse cerca de 600 anos antes, em Is 11:10-12:


10 Naquele dia as nações buscarão a Raiz de Yishai, que será como uma bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso.

11 Naquele dia HaShem estenderá o braço pela segunda vez para reivindicar o remanescente do seu povo que for deixado na Assíria, no Egito, em Patros, na Etiópia, em Elão, em Sinear, em Hamate e nas ilhas do mar.

12 Ele erguerá uma bandeira para as nações a fim de reunir os exilados de Yisrael; ajuntará o povo disperso de Yehudáh desde os quatro cantos da terra.


Assim como Noach em sua época foi um sinal para indicar a salvação do Eterno, ou seja a Teiváh/arca/caixa. O messias é o sinal/bandeira paras as nações, a fim de indicar o caminho para onde as pessoas devem retornar. Talvez você possa perguntar: Que caminho o messias irá apontar? Algum profeta fala sobre isso, que a casa de Yisrael e os gentios devem procurar um caminho? A resposta é sim! Veja o que diz Yirmeyahu/Jeremias:


Assim diz o Senhor: “Ponham-se nas encruzilhadas e olhem; perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso”. Mas vocês disseram: ‘Não seguiremos! ’ Jr 6:16


Ou seja, o caminho antigo, o bom caminho mencionado é o caminho da Torah do Eterno, essa é a salvação, cuja observância nos conduz para Jerusalém, Yisrael e o Eterno. E no futuro nos levará a viver lá com Yeshua no Reino de HaShem por toda a Eternidade.


3. A renovação da Criação

Após o dilúvio, Noach e sua família saíram da arca e receberam uma missão: repovoar e renovar a terra, segundo as bênçãos do Eterno. Em Bereshit 9:1, o Eterno abençoa Noach e seus filhos, ordenando-lhes: "Sede fecundos e multiplicai-vos, e enchei a terra." Isso marca um novo começo para a criação.

Em seus ensinamentos, Yeshua também fala de uma renovação que virá após o juízo, algo semelhante ao que Noach viveu ao sair da arca para uma terra purificada. Em Mattityahu 19:28, Yeshua promete que, na renovação de todas as coisas, os justos terão um lugar de honra no reino do Eterno. Assim como Noach foi responsável pela nova fase da humanidade, Yeshua é visto como aquele que traria um tempo de restauração para Yisrael e para todos os que voltassem ao Eterno, preparando a terra para uma nova era de paz e justiça.

Da mesma forma que o nome Noach leva ao significado de descanso, pois através da obediência dele a criação teve descanso das transgressões, um dos nomes do messias é Menachem, que significa consolo, conforto ou descanso.


4. Um pouco de gematria

Vamos comprovar através de um pouco de gematria o que mencionamos neste estudo. O termo Noach/Noé – נֹח – possui gematria de valor 58, e se somarmos 5+8=13, cuja soma 1+3 resulta na raiz 4, apontando para a letra Dálet - ד – que nos pictogramas indica porta e caminho. 4 também é um apontamento para o quarto milênio, que foi quando Yeshua iniciou seu ministério como Mashiach Ben Yosef. Tudo isso nos revela que, assim como Noach foi o caminho para as pessoas se salvarem, Yeshua Hamashiach é a porta e o caminho que leva à verdade e à vida.

Segundo o Rav Yochanan Ben Yaacov, a palavra Tevah - תבה - Caixa/Arca tem gematria 407. A tevah foi um sinal do Eterno para que façamos teshuvah. O termo Sinal - אות também tem gematria 407. Vimos anteriormente que Noach e Yeshua são o sinal do Eterno para mostrar o caminho para o retorno à D’us.

Concluindo nosso estudo, Noach, em sua geração, foi um mensageiro da justiça e da misericórdia do Eterno, uma figura de salvação em meio ao juízo. Ele aponta para o Mashiach que, em tempos posteriores, traria uma mensagem semelhante: um chamado ao arrependimento e à renovação. Ambos, Noach e Yeshua, nos lembram de que a obediência ao Eterno e o compromisso com Seus mandamentos são essenciais para alcançar uma vida plena e a renovação. Quem ama o Eterno e segue Seus mandamentos encontra um caminho de preservação, ainda que haja destruição ao redor, e caminha em direção à promessa de uma criação renovada, uma nova terra onde habitará a justiça.


Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)






quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Estudo da Parashá Bereshit - A sabedoria da Torah: A planta da criação.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 1 – Bereshit (No Princípio)

Bereshit/Gênesis 1.1-6.8

Haftará (separação) Is 42.5-43.10 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Jo 1:1-51; Mc 10:1-12 e Hb 1:1-3, 3:7-4:11


Tema: A sabedoria da Torah: A planta da criação


Essa semana reiniciamos o ciclo anual de estudos da Torah. Se você chegou agora no caminho da teshuvah e está começando o estudo da Torah nesse ciclo, pode consultar depois no blog: SouPeregrinonaTerra.blogspot.com.br, todos os estudos do ciclo passado publicados lá em texto, e estão disponíveis para pesquisa além de muitos outros estudos. Também os estudos estão disponíveis em vídeo nos canais do YouTube Sou Peregrino na Terra e Kahal Teshuvah Brasil.

Bereshit é o começo de tudo. É o primeiro livro da Bíblia, é a primeira porção de leitura e estudo das Escrituras, é a primeira palavra na Torah. O significado de Bereshit é tradicionalmente entendido como “no princípio”, mas é bem mais amplo que isso, e essa parashá é fundamental para compreendermos a criação do mundo e a origem da humanidade segundo a vontade do Eterno. Na parashá Bereshit estão descritos os eventos mais significativos do início de tudo que existe.


A PARASHÁ DA SEMANA

No resumo da parashá dessa semana vemos que o Eterno cria os céus/shamaym e a terra/haarets em seis dias. Cada dia traz um aspecto diferente da criação: a luz, a separação das águas, os astros celestes, os seres vivos nas águas, nos céus e na terra, até o ápice da criação, a humanidade. O homem é criado "à imagem e semelhança" do Eterno, e no sexto dia, o Eterno vê que tudo é muito bom. No sétimo dia, Ele descansa, estabelecendo o Shabat como um dia separado e sagrado.

A parashá relata como o Eterno formou o homem/Adam do pó da terra e soprou nele o fôlego de vida, tornando-o um ser vivo. O Eterno planta um Jardim no Éden, um lugar de abundância, e coloca o homem ali para cultivá-lo e guardá-lo. Elohim estabelece um princípio: não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Depois, Ele cria a mulher/Chaváh, a partir de uma parte do homem, para lher ser uma companheira condizente.

A yetser haráh, na forma de uma serpente, engana Chaváh para que ela coma do fruto da árvore do conhecimento, ela não somente come, mas também dá a Adam. Eles desobedecem ao Eterno, seus olhos se abrem, e eles percebem que estão nus. Como consequência de seu erro morrem. Segundo a Torah oral três dias depois o Eterno os ressuscita sem a perfeição que tinham antes, e como consequência, conforme vemos nos textos da Torah, são expulsos do Éden, e o trabalho, a dor e a morte se tornam parte da vida humana.

O relato da história dos filhos de Adam e Chaváh é marcada pela inveja e pela violência. Caim, o primogênito, mata seu irmão Hevel por ciúmes, após perceber que o Eterno aceitou a oferta de Hevel e rejeitou a sua. O Eterno confronta Caim, que é amaldiçoado e condenado a ser errante sobre a terra.

Finalmente, a parashá também detalha as descendências de Adam e Chaváh, apresentando os nomes de seus filhos e as gerações que se seguirão, chegando até Noach, aquele que foi escolhido para sobreviver ao dilúvio que virá na próxima parashá.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Você pode pensar que a Toráh é apenas um livro religioso, pois o que lhe mostram e falam apontam para isso, o que você vê as pessoas falarem mostram um livro com relatos, leis e princípios estabelecidos. Entretanto, a cada estudo de parashá semanalmente, temos percebido que a Palavra do Eterno, a Toráh, é muito mais que isso. E nesse estudo vou apresentar alguns argumentos e entendimentos que corroboram para o fato de que a Toráh é a planta de toda a criação. Ela é o projeto que estabeleceu os parâmetros para tudo o que foi criado, e por isso Yochanan, o autor do evangelho/bessoráh, entendia muito bem isso. Você pode buscar o estudo dessa parashá no ano passado no blog ou no canal do Youtube, quando falamos da criação da luz.

A Toráh pode ser compreendida como o "projeto" ou a "planta" de toda a criação. As Escrituras nos mostram que a vontade e os mandamentos do Eterno, revelados na Toráh, formam uma estrutura fundamental sobre a qual o mundo foi criado e pelo qual ele é sustentado. E os sábios do povo de Yisrael, bem como estudos gemátricos corroboram para esse entendimento. Vamos então aprofundar um pouco mais este assunto sabendo que não temos a mínimo condição de esgotá-lo, mas de dar um ponta pé para o entendimento que é muito profundo.


A sabedoria do Eterno na criação

Observemos um texto interessante do TaNaK, conhecido como Antigo Testamento, que nos mostra que o Eterno usa algo importante, e que já existia, ao criar todas as coisas. Note que eu disse algo não alguém!


O Eterno, pela sua sabedoria fundou a terra, por sua compreensão estabeleceu o firmamento, Mishlei/Pv 3:19


A "sabedoria" aqui mencionada é muitas vezes entendida como a própria Toráh, pois a Toráh contém parte da sabedoria infinita do Eterno. Assim, podemos ver que HaShem usou Sua sabedoria, expressa na Toráh, como o fundamento da criação. Segundo as Escrituras e a tradição judaica, a Toráh já existia antes da criação do mundo. Já comentei algo a respeito disso em minhas lives de Comentário do livro Pirkei Shimon de Bruno Summa, que você pode buscar no meu canal no YouTube. Esse entendimento, de que a Toráh já existia é sugerido, por exemplo, em Tehilim/Salmos 119:89, onde lemos:


A tua palavra, ó Eterno, para sempre está firmada nos céus.

Isso demonstra que a palavra do Eterno, que inclui Suas instruções e mandamentos, estava presente e ativa antes mesmo da criação do mundo material. A Torá que foi inicialmente dada ao povo de Yisrael, reflete a ordem e a justiça com as quais o Eterno governa toda a criação, pois ela é ampla, ou seja, além da escrita entregue ao povo no Sinai. A palavra "Toráh" significa instrução, direção ou ensino. No livro de Devarim /Deuteronômio 30:19-20, o Eterno nos diz que a escolha de seguir a Toráh é a escolha pela vida:


"Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Eterno teu Elohim, obedecendo à Sua voz, e apegando-te a Ele."


Isso nos mostra que a Toráh contém as instruções essenciais para a vida, essas mesmas instruções são reflexos da ordem do universo. Assim como o Eterno distribuiu leis físicas para governar o mundo natural, Ele deu a Toráh como leis espirituais e morais para governar a vida humana em harmonia com a criação. Vejamos então, como podemos aprender ainda mais, pois a primeira palavra dessa parashá é significativamente importante, e carrega uma quantidade enorme de ensino.

Bruno Summa, em seu livro Sha’arei Torah – Portões da Torah – Bereshit 1, onde comenta essa parashá, diz que o significado preciso da palavra BERESHIT pode ser um tanto enigmático. Ele afirma que pela tradução simples e literal, a qual estamos acostumados na língua portuguesa, seu significado seria “no início” ou “no princípio”, no entanto, se esse fosse o caso, diz o autor, a Toráh não começaria com BERESHIT e sim com BARESHIT, já que “no princípio” deixa implícito um princípio único e específico, pois na palavra “no” se esconde o artigo “o”, o qual define a esse princípio. De acordo com o autor, a diferença entre as preposições na língua hebraica Ba e Be é que a primeira define o substantivo enquanto a segunda não, ou seja, BERESHIT, por não possuir artigo, deve ser compreendido como “em um princípio”, um dentre outros.

Segundo o mencionado autor, a respeito desses entendimento, os sábios do povo de Yisrael ensinam que o “princípio” relatado pelo sefer/livro de Bereshit é, na verdade o oitavo “princípio”, pois antes dele, sete outras coisas tiveram seus princípios, a saber:

- a Torah, a qual foi criada para estabelecer como toda a criação deveria se comportar em relação ao estabelecimento da vontade do Eterno nessa realidade;

- O Trono da Glória, o local de onde provém toda emanação de HaShem;

- A Teshuvah, sem a qual o mundo não se sustentaria;

- O Gehinam, que representa a jsutiça divina;

- O Gan Edem, que é o mérito do Tzadik;

- O Nome do Mashiach, a quem tudo será dado; e

- O Beit Hamikdash ou Templo Sagrado, a habitação do Criador em meio ao seu povo.

E isso é dito também pelo Talmud Bavili.


O mesmo autor, ainda diz que, outra prova de que o “no princípio” conforme Gn 1:1 não é “o princípio”, encontra-se na própria palavra BERESHIT. Caso a Toráh estivesse falando sobre o primeiro e único princípio de todas as coisas, a palavra de abertura da Toráh deveria ser BARESHONAH – בראשונה, termo que possui um significado mais preciso sobre um “início absoluto” do que BERESHIT – בראטית.

Podemos perceber quanto é profundo o entendimento da Toráh. A palavra BERESHIT, conforme já dissemos é a primeira palavra, mas ela começa com a segunda letra do alfabeto hebraico, e isso também traz um ensino profundo. A escolha do Eterno para que a Toráh comece com a letra Beit - ב na palavra Bereshit é rica em significados profundos. Embora não haja uma explicação direta nas Escrituras sobre essa escolha específica, a tradição judaica e os estudiosos das Escrituras meditaram sobre o simbolismo dessa letra e seu lugar no início da Toráh, revelando assim, um ensino importante.

A letra Beit tem um formato que se abre para frente, mas é fechado por trás. Isso indica que a Toráh escrita começa a partir de um ponto em que o passado (o que veio antes da criação) estava além do nosso conhecimento, conforme já mencionamos acima. O homem deve focar no que está à frente (o que é revelado) e não se concentrar no que está oculto ou antes da criação do mundo, pois isso pertence apenas ao Eterno, embora ele tenha revelado muita coisa através da Torah oral. A palavra Beit é associada a "casa" (Bait em hebraico). A criação do mundo é como uma casa que o Eterno preparou para a humanidade. Dessa forma, assim como o homem habita em uma casa, o Eterno criou os céus e a terra como uma "morada" para Suas criaturas. Começar com a letra Beit pode significar que o mundo é a "casa" que o Eterno coloca para a humanidade, e esta é chamada a cuidar e preservar essa criação conforme as instruções do Eterno.

Outra coisa interessante é que a letra Beit é a segunda letra do alfabeto hebraico, tendo o número dois como seu valor numérico. Alguns estudiosos enxergam nisso uma representação da dualidade presente na criação, observe: os céus e a terra, a luz e a escuridão, o homem e a mulher, o bem e o mal. Isso reflete o equilíbrio e a interação de forças opostas no mundo criado pelo Eterno, estabelecendo o princípio da escolha ou livre arbítrio. O Beit, sendo a segunda letra, nos revela que a criação não começou com a letra Alef, a primeira letra, pois Alef - א representa o Eterno, que é único e anterior a toda a criação. A criação começa com a segunda letra, o Beit, estabelecendo que o mundo já foi criado em um estado onde existe o "dois", ou seja, a possibilidade de escolha e dualidade. Isso reflete o livre-arbítrio dado à humanidade, que deve escolher entre o caminho da obediência ou da desobediência.

Por isso, o fato de a Toráh não começar com Alef, a primeira letra, pode nos ensinar que o Eterno não revela o princípio absoluto de todas as coisas naquele momento, pois Ele está além da compreensão. Mas a revelação que Ele nos deu, a partir de Beit, comprova que havia outros princípios, isso é suficiente para que possamos seguir Seus ensinos e viver de acordo com Sua vontade. O homem deve começar seu entendimento da criação a partir da revelação da divina, sem tentar buscar além do que foi mostrado. Assim, a escolha de Beit em "Bereshit" nos instrui sobre o equilíbrio, a dualidade do mundo, a criação como uma morada para a humanidade, e que a Toráh, sendo a planta da criação, é nossa porta de entrada para entender a vontade do Eterno e o propósito da existência.

É importante que tenhamos em mente, que ao buscarmos um entendimento mais profundo dessas primeiras palavras da Toráh, é que segundo Bruno Summa, ela não fala sobre o princípio de algo como normalmente imaginamos, mas o relato da criação de todas as coisas não nos foram revelados para sabermos que um dia houve um início, mas sim como tudo foi criado, os motivos que foram criados e para quê foram criados. Esse entendimento revelam os verdadeiros segredos que estão por trás de cada ato da criação pelo Eterno.


A Toráh como a Planta da criação

Conforme já mencionamos, a Toráh, criada antes de outras coisas, é a planta da criação, e se é assim, como deveríamos compreender esse primeiro verso da parashá Bereshit?

Mais uma vez, podemos voltar ao TaNaK, pois Sh’lomor Hamelech/Rei Salomão escreveu algo que o Eterno lhe revelou.


O Eterno me criou como o princípio de seu caminho, antes das suas obras mais antigas. Pv 8:22


Algumas pessoas que não conhecem a forma original de interpretar as Escrituras consideram este verso como uma referência à pré existência de JC, mas isso está totalmente fora do contexto, pois conforme estamos mostrando no estudo, a Torah é a sabedoria do Eterno, e ela foi criada antes. Note que Brunno Summa em seu livro já mencionado aqui, faz uma leitura desse verso de forma diferente, mas correta e em concordância com o contexto das Escrituras e da tradição judaica. Observe:


Adonai me criou (Toráh) como RESHIT (início) de Seu curso, como a primícia de Seus trabalhos na antiguidade. Pv 8:22


É demonstrado que Salomão afirma que a Toráh foi criada pelo Eterno no começo de tudo, aludindo à criação das criações. Há um midrash que trata desse assunto, observe abaixo:


Existe também um comentário sobre Rashi no Daat Zkenim, observe:


Rashi entende a palavra RESHIT em referência à Toráh, pois é chamada de RESHIT em outro lugar.


Essa afirmação de Rashi se dá porque em Tehilim/Salmos encontramos um verso que nos confirma o pensamento.


Então, ao lermos cada uma das referências mencionadas acima e compreendendo que Be aponta para o termo “pela” e RESHIT seria um apontamento para a “Toráh”, poderemos reler o primeiro verso de Bereshit da seguinte forma:


Pela Toráh criou Elohim os céus e a terra. Gn 1:1


Podemos ainda verificar o que estamos falando pela gematria da palavra BERESHIT:


BERESHIT - בראשית 

= 913

Esse é o mesmo valor de uma frase, veja:

BATORAH YATZARבתורה יצר – COM A TORAH FORMOU

= 913

Há um outro segredo gemátrico que encontramos através da observação através do contexto original, olhando para o ensino do povo de Yisrael. Vimos que BERESHIT tem valor 913, e que ele aponta para a Toráh. Esta é composta por 5 livros conhecido como Chamesh, no entanto, o livro de Bamidbar/Números seria subdividido em três livros, o que geraria o total de 7 livros na Torah, e conhecida como Sheva – sete, uma palavra que possui o seguinte valor:


SHEVAשבע – Sete

= 372

Sabendo que a Torah foi entregue a Yisrael, vejamos o valor dessa palavra:


Yisraelישראל

= 541

Assim, podemos perceber que se juntarmos a Torah de sete livros com o povo que o recebe, encontramos o real propósito da criação, observe:


Yisrael-541 + Sheva-372 = Bereshit-913


Dessa forma, conforme Bruno Summa fala, tudo que HaShem criou, gerou e formou, foi antes idealizado por Ele e escolhido nas letras e nas palavras que formam a Torah nas esferas espirituais.


A Harmonia entre a criação e a obediência à Toráh

Com tudo que já vimos até agora, percebemos que a obediência à Toráh não é apenas um aspecto moral, mas também uma forma de viver em harmonia com o universo que o Eterno criou. Quando o homem segue os princípios do Eterno, ele vive de acordo com o projeto da criação. Se olharmos para as instruções sobre Shabat, por exemplo, vemos que o descanso no sétimo dia reflete o próprio padrão da criação, conforme relatado em Bereshit 2:2-3, onde o Eterno deixou de criar no sétimo dia. Assim, a vida humana deve espelhar a ordem da criação que está embutida na Toráh.

O relato da criação em Bereshit nos mostra que o Eterno trouxe ordem do caos, separando luz e escuridão, águas e terra, e criando todas as coisas em sequência, de acordo com Sua vontade. Da mesma forma, a Torá estabelece ordem na vida humana, mostrando como o homem deve viver de acordo com os princípios para que haja harmonia na criação. O Eterno criou o mundo com um propósito, e esse propósito é baseado e revelado na Toráh, já que ela é anterior. Quando o homem desobedece às instruções da Toráh, ele perturba essa harmonia, como vimos com o pecado de Adam e Chaváh e suas consequências para toda a criação.

Não é à toa o que o salmista escreve em Tehilim/Salmos 119:105:


Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho.


Isso nos ensina que a Toráh, como a planta ou projeto do Eterno, sendo a luz, ilumina o caminho da vida, guiando o homem para andar de acordo com o propósito pelo qual foi criado. Assim como uma planta arquitetônica guia a construção de uma casa, a Toráh guia a construção de uma vida em alinhamento com o projeto divino da criação.

Portanto, ao finalizar nosso estudo, tenhamos em mente que ao estudarmos e obedecermos à Toráh, estamos nos conectando ao projeto original do Eterno para o mundo e para a humanidade. A Toráh revela os princípios eternos que sustentam a criação e a vontade do Eterno, para que vivamos em harmonia com esses princípios. Ela é, em essência, o "plano mestre" que o Eterno percorreu desde o início. Que possamos seguir esse plano com firme confiança, vivendo de acordo com suas instruções.


Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)