Estudos da Torá
Parashá nº 7 – Vayetse (E saiu)
Bereshit/Gênesis 28:10-32:3
Haftará (separação) Os 12:12-14:10 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Jo 1:43-51
Tema: Gerando filhos para o Eterno.
“Dá-me filhos, ou morrerei” Bereshit/Gn 30:1.Você já parou para pensar nesse clamor de Rachel? As palavras desse clamor ecoam não apenas a angústia de uma mulher estéril, mas também um profundo anseio, que é o desejo de continuidade, de propósito e de ver a promessa do Eterno se cumprindo. Essa história tão antiga fala diretamente aos corações de cada um de nós que buscamos viver para algo maior, a participação do plano divino de redenção e restauração.
O que significa, afinal, desejar “gerar filhos para o Eterno”? Como esse clamor de Rachel se conecta ao povo de Yisrael, à missão de Yeshua e à tarefa de seus talmidim? E mais importante ainda, como isso reflete a obra do Eterno de reunir e restaurar Seu povo, a casa de Yisrael, preparando o mundo para a plenitude do Seu Reino? Neste estudo pretendo levar você a explorar essas questões com um pouco mais de profundidade, mergulhando na relação entre a dor de Rachel, as promessas proféticas e o papel de Yeshua como instrumento de multiplicação e restauração. Percorreremos os relatos de Moshê em Bereshit, as vozes dos profetas, os ensinamentos de Yeshua e a obra dos talmidim, descobrindo assim, como o desejo de Rachel aponta para algo muito maior do que sua própria história.
Junte-se a mim nessa jornada reflexiva e instrutiva pelas Escrituras, conectando o passado, o presente e o futuro, iluminando como o clamor de uma mulher representa uma profecia, e como essa promessa nos inclui. Que este estudo inspire seu coração e renove sua esperança na fidelidade do Eterno, que sempre cumpre o que promete. Vamos desvendar as riquezas dessa profunda história e entender como ela pode transformar a maneira como vemos nosso papel como agentes no plano divino.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
A parashá Vayêtse relata uma das jornadas mais significantes das Escrituras, a marcante história da vida de Yaakov, destacada por desafios, revelações e promessas do Eterno. O relato começa com Yaakov, fugindo de seu irmão Esav, deixando a casa dos pais e partindo em direção a Charan, onde residiria com seu tio Lavan. No caminho, ele passa a noite em um lugar especial, onde tem um sonho impactante. Ele vê uma escada que conecta os céus à terra, com malachim/anjos subindo e descendo. Do topo, o Eterno reafirma a aliança feita com Avraham e Yitschak, prometendo a Yaakov que sua descendência herdará a terra de Kena'an e será numerosa como o pó da terra.
Ao chegar em Charan, Yaakov encontra Rachel junto a um poço, logo se apaixona e se oferece para trabalhar para Lavan durante sete anos em troca de sua mão em casamento. No entanto, Lavan engana Yaakov, substituindo Rachel por Lea na noite do casamento. Após uma semana, Yaakov casa-se também com Rachel, mas em troca de mais sete anos de serviço.
A narrativa continua e mostra a rivalidade entre Lea e Rachel. Lea dá à luz seis filhos e uma filha, enquanto Rachel, inicialmente estéril, recorre à sua criada Bilá para ter filhos através dela. Zilpá, criada de Lea, também gerou filhos de Yaakov. Eventualmente, o Eterno se lembra de Rachel curando-a, e ela dá à luz a Yossef.
Durante seus vinte anos na casa de Lavan, Yaakov enfrentou diversas tentativas de engano, mas o Eterno o abençoa fazendo-o prosperar com grandes rebanhos e riquezas. Por fim, depois desses vinte anos, após consultar suas esposas, Yaakov decide fugir de Lavan. Este, indignado, persegue-os alegando de roubar seus ídolos, que Rachel havia escondido sem o conhecimento de Yaakov. Após uma busca infrutífera e uma discussão, eles firmam um pacto de paz e seguem caminhos separados.
Vayêtse é uma parashá que destaca a fidelidade do Eterno às suas promessas, a luta de Yaakov para superar os desafios e a construção de sua família, que se torna o alicerce das doze tribos de Yisrael.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
A fala de Rachel, “Dá-me filhos, ou morrerei” em Bereshit 30:1, é um clamor, uma oração ou intercessão que transcende o contexto pessoal de sua dor. Esse clamor toca em uma dimensão espiritual profunda, o anseio pela continuidade e pelo cumprimento das promessas do Eterno à casa de Yisrael. A angústia da matriarca reflete o desejo de frutificação e crescimento, mas também restauração, ecoando o propósito do Eterno de restaurar os dispersos e formar um povo santo que guarde Seus mandamentos e seja luz para as nações. O comentário de rodapé da Torah da Editora Sefer nos fala que:
Quatro pessoas consideram-se como mortas, disse-nos Rabi Shemuel Bar Nachmani: o cego, o leproso, quem não tem filhos e o pobre. Os três primeiros vivem em constante sofrimento físico e moral, e o quarto é realmente como se não existisse (Ialcut 117). O exegeta Rashi comenta que Elifaz, filho de Esav, foi enviado por seu pai para matar Yaakov. Este disse então ao sobrinho: Toma tudo que eu possuo e poderás dizer a teu pai que já cumpriste a sua ordem. Sendo pobre, serei considerado como um morto, mesmo estando vivo. (página 83)
Esse comentário nos mostra que viver longe dos propósitos do Eterno é o mesmo que estar morto. Se observarmos, Rachel tinha esse pensamento, pois sabia que para o propósito ser cumprido na vida dela era preciso ter filhos. E isso é verdade e vai além dos filhos naturais, a conexão com as profecias de restauração pode ser amplamente explorada através das Escrituras Sagradas e dos textos dos Escritos Nazarenos.
1 – O anseio por filhos e o plano do Eterno
Rachel reflete o desejo ardente pela frutificação, que também é o chamado da casa de Yisrael. O Eterno ordenou em Bereshit/Gn 1:28:
"Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra".
Este mandamento não é apenas físico, mas também profético, isto é, chamar a casa de Yisrael de volta ao caminho e também gerar "filhos para o Eterno", ou seja, pessoas que O sirvam e caminhem em Suas instruções, obedecendo aos seus mandamentos. Esse anseio reflete o papel profético do messias e da congregação em atrair pessoas das nações para o Eterno, conforme Yeshayahu 49:6:
"ele diz: É coisa pequena demais para você ser meu servo para restaurar as tribos de Yaakov e trazer de volta aqueles de Yisrael que eu guardei. Também te farei luz para os gentios, para seres a Minha salvação até os confins da terra".
Rachel representa Yisrael ou a congregação desobediente, que muitas vezes esteve estéril espiritualmente falando, pois afastou-se do Eterno. O clamor da matriarca pode ser comparado à situação espiritual de Yisrael ao longo da história, especialmente em tempos de exílio e dispersão. Os profetas frequentemente comparavam a nação à mulher estéril que ansiava por filhos, o que comprova o uso pelo povo judeu, da palavra chave mulher em se tratando de congregação, como em Yeshayahu/Is 54:1: “Canta, ó estéril... porque mais são os filhos da desolada do que os filhos da casada.” Essa promessa de restauração foi reafirmada pelo Eterno em Yirmeyahu/Jr 31:15-17, onde Rachel chora por seus filhos perdidos, mas está confortada com a garantia de que eles voltarão. Assim, a dor de Rachel antecipa o destino de Yisrael que, mesmo em esterilidade aparente, seria restaurada e multiplicada pela graça do Eterno.
Há outras profecias, como lemos por exemplo, em Oséias 14:4-7, falam da cura dessa esterilidade, prometendo que Yisrael florescerá novamente:
"Curarei a sua rebeldia e os amarei espontaneamente...eles florescerão como a videira, e a sua fama será como o vinho do Líbano".
2 – Yosef como símbolo de crescimento e restauração
Depois de um tempo, o Eterno atende ao clamor de Rachel, e cura-a da esterilidade fazendo-a conceber um filho. E ela lhe dá o nome de Yosef, que significa “que ele acrescente”, em Bereshit/Gn 30:24, profetizando assim, não apenas o nascimento de outro filho que viria ser chamado de Binyamin, mas também a multiplicação e a restauração do povo. Yosef e o significado de seu nome são apontamentos claros para o messias Yeshua e seu propósito messianico de resgatar as ovelhas perdidas de Yisrael. Isso reflete a promessa feita a Avraham, reiterada a Yitzchak e Yaakov, de que a descendência de Yisrael seria como as estrelas dos céus e a areia do mar. Assim como Yossef preservou sua família durante a fome, Yeshua trouxe sustento da Torah para a casa de Yisrael em tempos de aridez e desobediência. Ele ensinou que o Reino do Eterno é como uma semente que cresce e se multiplica, como lemos em MatityahuMt 13:31-32, simbolizando o aumento prometido pelo Eterno.
E vemos que no decorrer da história do povo a dor de Rachel ecoa as palavras de Yirmeyahu 31:15-17, ao falar do choro de Rachel por seus filhos perdidos, simbolizando o exílio e a dispersão de Yisrael.
Isto é o que Adonai diz: Uma voz é ouvida em Ramah, lamento e choro amargo. É Rachel chorando por seus filhos, recusando ser confortada, porque seus filhos não vivem mais. Isto é o que Adonai diz: Cessem seu lamento e sequem seus olhos, porque seu trabalho será recompensado, dia Adonai. Eles retornarão da terra dos inimigos, de modo que há esperança para seu futuro, diz: Seus filhos retornarão a seu próprio território.
No entanto, reparem que a profecia garante: "Há esperança para o teu futuro, diz o Eterno, e os teus filhos voltarão à sua própria terra". Assim, o desejo de Rachel por filhos aponta para o anseio do Eterno de restaurar toda a casa de Yisrael, reunindo as tribos dispersas. Quando correlacionada ao ministério de Yeshua e aos ensinamentos de seus talmidim, essa história aponta para o papel de Yisrael na redenção e a importância da geração de “filhos espirituais” que andem segundo as instruções divinas.
3 – O ministério de Yeshua como restauração de Yisrael
Os ensinamentos de Yeshua e o ministério de seus talmidim depois dele, refletem claramente o cumprimento e a aplicação prática das profecias relacionadas à restauração da casa de Yisrael e o anseio por "filhos para o Eterno". A fala de Rachel e o nome dado a Yosef conectam-se diretamente ao chamado de Yeshua e à missão dada aos seus seguidores, mostrando como o Eterno trabalha para reunir e restaurar Seu povo.
Yeshua em seus ensinos enfatizava a necessidade de frutificar no Reino do Eterno, isso quer dizer, gerar frutos ou filhos para o reino. Em Yohanan/Jo 15:8, Yeshua ensina: "Nisto é glorificado o meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus talmidim". Assim como Rachel ansiava pelos filhos, os talmidim como integrantes da congregação, são chamados a multiplicar o povo do Eterno por meio da obediência e do ensino da Palavra. Yeshua instruiu seus talmidim em Matityahu 28:19-20: "Portanto, ide e fazei talmidim de todas as nações, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado". Esse "fazer talmidim" é o equivalente profético do anseio de Raquel por filhos que sigam os passos do messias e andem em nas instruções do Eterno.
O próprio Yeshua afirmou que veio para "as ovelhas perdidas da casa de Yisrael" em Matityahu/Mt 15:24. Isso reforça a promessa do Eterno de restaurar a descendência dispersa de Yaakov, como profetizado em Yirmeyahu/Jr 31:10: "Aquele que incluiu Yisrael o reunirá". Yeshua, isto é, sua missão, é a escada que conecta os céus e a terra, conforme o sonho de Yaakov Bereshit/Gn 28:12 e Yohanan 1:51, apontando para o papel central de sua missão na reconciliação entre o Eterno e Yisrael. Dessa forma, podemos perceber que o ministério de Yeshua também inclui a incorporação de pessoas das nações, que desejam se aproximar, ao povo do Eterno, como parte do cumprimento das promessas feitas a Avraham de que sua descendência seria uma bênção para "todas as famílias da terra" (Bereshit 12:3). Rav Shaul explica em Efésios 2:11-19 que os gentios que estavam "longe" foram trazidos "para perto" e feitos "concidadãos dos santos", participando das promessas da aliança.
Esse acréscimo de pessoas das nações restauradas aponta para o cumprimento do papel da casa de Yisrael como luz para as nações, um tema central das profecias em Yeshayahu/Is 49:6.
Os talmidim de Yeshua continuaram esse trabalho de multiplicação e geração de filhos. Shaul/Paulo, por exemplo, descreve a si mesmo como "gerando filhos" espiritualmente, como em 1 Coríntios 4:15: "Pois ainda que tivésseis muitos mestres em Mashiach, não tende muitos pais; porque eu vos gerei no Mashiach Yeshua por meio do anúncio das Boas Novas".
Assim como Rachel ansiava por filhos, os talmidim deveriam ansiar por gerar discípulos, ou seja, pessoas que andam nos caminhos do Eterno e se tornam parte da casa restaurada de Yisrael. Rav Shaul escreveu aos Romanos 9:2-3 sobre sua grande tristeza pelo estado de seus irmãos segundo a carne, Yisrael, mostrando como esse anseio por restauração e multiplicação continua nos seguidores de Yeshua.
4 – O Papel da congregação nazarena
A congregação nazarena, composta pela casa de Yehudah, casa de Yisrael, e ex-gentios aproximados ao Eterno, ou seja, por aqueles que seguem as instruções do Eterno e o testemunho de Yeshua, é chamada a gerar "filhos" para o Eterno, pessoas que retornam à aliança e obedecem aos mandamentos. Como Rachel, essa congregação não pode descansar enquanto não houver frutificação. Em Yeshayahu 54:1, lemos:
"Canta, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e clama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da desolada do que os filhos da casada, diz o Eterno".
Essa passagem conecta a esperança de Rachel ao papel da congregação em reunir as nações ao Eterno. Rachel esperou por muitos anos até que o Eterno a atendesse e lhe desse um filho. Isso nos ensina que o crescimento e a frutificação vêm no tempo do Eterno, conforme Sua vontade e promessa. Este é um lembrete para a congregação nazarena de que deve permanecer firme, mesmo em tempos de aparente esterilidade, sempre devemos confiar no Eterno seguindo sua Torah, ensinando-a para trazer os filhos.
Em resumo, a fala de Rachel, o nascimento de Yossef e as profecias sobre a restauração de Yisrael se conectam profundamente. Eles nos apontam para o plano do Eterno: gerar um povo santo e fiel, que viva segundo Suas instruções e seja luz para as nações. Esse anseio por "filhos" é o anseio pela plenitude do Reino do Eterno, em que todas as tribos serão reunidas e a Terra estará cheia do conhecimento do Eterno, como as águas cobrem o mar (Yeshayahu 11:9). Em Apocalipse 7:4-10, vemos os representantes das doze tribos de Yisrael e uma grande multidão de todas as nações diante do Eterno, uma realização plena do desejo expresso por Raquel e da promessa dada a Avraham, Yitzchak e Yaakov.
No futuro, veremos o cumprimento pleno dessa restauração, conforme profetizado em Yirmeyahu 31:31-34, com a nova aliança escrita no coração de todos os membros da casa de Yisrael. O clamor de Raquel, se realizará plenamente quando todos os seus "filhos" retornarem à Terra Prometida e ao Eterno, conforme descrito em Yechezkel 37:21-22: “Eu os tomarei dentre as nações... e os trarei para a sua terra, e farei deles uma só nação.” Esse cenário final será o testemunho do trabalho iniciado por Yeshua e seus talmidim, concluindo o ciclo da redenção e trazendo a plenitude ao Reino do Eterno.
Concluindo nosso estudo, o clamor de Rachel é o clamor do povo do Eterno por restauração, frutificação e cumprimento das promessas. O ministério de Yeshua e a missão de seus talmidim refletem esse mesmo anseio, trazendo uma dimensão profética à geração de filhos para o Eterno, multiplicando e ampliando Yisrael e reunindo tanto os dispersos da casa de Yisrael quanto das nações para o Eterno. O trabalho continua, pois o Eterno deseja "muitos filhos" que andem em Suas instruções e sejam luz para o mundo, até que Sua vontade seja feita plenamente na terra.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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