Estudos da Torá
Parashá nº 19 – Terumah (Coleta)
Shemot/Êxodo 25:1 – 27:19
Haftará (separação) 1Rs 5:26-6:13 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Hb 8:1-6; 9:23,24; 10:1.
Tema: Santidade, Ordem e Dedicação.
A Parashá Terumah nos ensina que a santidade não é um conceito abstrato, mas algo que se manifesta na ordem, dedicação e obediência aos mandamentos do Eterno. O Mishkan (Tabernáculo) foi construído seguindo um modelo preciso, refletindo o princípio de que o serviço ao Criador exige zelo, estrutura e fidelidade às Suas instruções.
Desde a criação do mundo até a construção do Mishkan, vemos que o Eterno age com ordem e propósito. Os profetas reforçaram que a verdadeira adoração não consiste apenas em rituais, mas em uma vida alinhada com a vontade divina. Yeshua e seus emissários também enfatizaram que o serviço ao Criador deve ser feito com integridade e compromisso, pois cada um de nós é chamado a ser parte de um santuário vivo.
Neste estudo, exploraremos como a ordem e a dedicação são essenciais para uma vida de santidade e como podemos aplicar esses princípios em nosso serviço ao Eterno.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Nessa porção da Torah o Eterno ordena a Moshê que peça aos filhos de Yisrael que façam uma coleta (T’rumah) e tragam ofertas voluntárias para a construção do Mishkan (Tabernáculo) e todos os seus utensílios, o local que seria a representação da presença do Eterno habitando no meio do povo. Deveria ser entregues ouro, prata, cobre, tecidos, peles, madeira de acácia, azeite, especiarias e pedras preciosas.
A Aron HaBrit deveria ser feita de madeira de acácia e revestida de ouro puro, contendo dentro dela as Luchot HaBrit (Tábuas da Aliança). Acima dela ficaria o Kaporet (tampa da Arca), com dois keruvim (seres celestiais) de ouro.
A Mesa dos Lechem HaPanim (Pães da Proposição) seria feita de madeira de acácia e revestida de ouro, esta mesa seria usada para colocar doze pães diante do Eterno.
A Menorah deveria ser feita de ouro puro, com sete hastes e decorada com motivos florais, como amêndoas e flores. Ela deveria ser acesa continuamente, iluminando o interior do Mishkan.
O Mishkan deveria ser construído com cortinas de linho fino, lã azul, púrpura e vermelha, além de peles de animais. Sua estrutura era sustentada por tábuas de madeira de acácia revestidas de ouro. O Santo dos Santos (Kodesh HaKodashim) ficava separado do Santo Lugar por um Parochet (véu).
O altar dos sacrifícios deveria ser feito de madeira de acácia e revestido de cobre, com chifres nos quatro cantos. Ele possuía grelhas e utensílios específicos para o serviço.
O Mishkan seria cercado por um pátio delimitado por colunas e cortinas de linho fino. A entrada do pátio deveria ter uma cortina especial feita com fios azuis, púrpura e vermelhos, sustentada por colunas de bronze.
O Eterno não impôs tributos, mas pediu ofertas voluntárias. Isso ensina que o serviço ao Eterno deve vir do coração, com generosidade e desejo sincero. O Mishkan era um sinal de que o Eterno estava no meio de Yisrael. Mas para que essa presença se manifestasse, era necessário obediência e santidade. Ouro, prata e pedras preciosas representam aquilo que é elevado e espiritual, enquanto madeira representa a materialidade e a fragilidade humana. O Mishkan unia esses elementos, mostrando que o serviço ao Eterno envolve tanto o aspecto sagrado quanto o mundo físico.
A Menorah simboliza a luz da sabedoria e do entendimento. Assim como a luz da Menorah iluminava o Mishkan, a Torá ilumina nossas vidas, guiando-nos no caminho do Eterno.
Muitos sábios observam que a construção do Mishkan reflete a criação do mundo. As instruções detalhadas, os materiais preciosos e a ordem divina lembram que o Eterno cria e organiza todas as coisas com propósito.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Adonai disse a Moshê: Fale ao povo de Yisrael que façam uma coleta para mim – aceitem a contribuição de quem quiser colaborar de coração...Eles devem erigir para mim um santuário, para que eu viva entre eles. Sh’mot 25:1 e 8
De acordo com o texto que lemos acima podemos notar que a construção do Mishkan (Tabernáculo) transcende a mera edificação física. Ela se revela como uma metáfora profunda da jornada humana em busca da santidade, entretanto, podemos observar mais como uma profecia profunda da necessidade da busca por santidade os passos que devem ser dados. Este estudo aprofunda a compreensão de como a santidade se manifesta na ordem, na dedicação e na obediência, explorando as nuances históricas, bíblicas e teológicas, e conectando-as à experiência humana.
Bruno Summa em seu livro Sha’arei Torah – Portões da Torah – Shemot 4, comentando esta porção, diz que a parashá Terumah discute primordialmente a construção do Mishkan, de todos seus acessórios e da Arca da Aliança onde a Torah seria colocada. A intenção do Mishkan era de perpetuar a experiência que Yisrael teve no Monte Sinai, toda a revelação divina que lá ocorreu e que durou apenas alguns dias, poderia agora ser acessada a todo instante e sempre que o povo desejasse. Da mesma forma que HaShem se manifestou por apenas alguns dias no Monte Sinai, agora Ele se manifestaria todos os dias através do Mishkan. A essência do Mishkan era a Arca da Aliança, todo o Mishkan foi construído com apenas um único propósito, de abrigar a Arca, a qual, por sua vez, também possuía uma essência e um motivo para que fosse construída, abrigar a Torah. Isso mostra que toda a revelação que ocorreu no Sinai estava agora oculta na Torah e é a Torah que tornaria a manifestação divina nas esferas terrenas como algo permanente e constante. (Página 19)
Outro aspecto interessante e que deve ser notado, é que, segundo o Chumash Plaut, na escravidão egípcia, Yisrael havia construído edifícios para os faraós, agora teriam a oportunidade de dedicar seu trabalho ao Eterno. Mais do que qualquer coisa, isso demonstrava sua liberdade, mostrando para nós o poder que essa porção da Torah aponta para nós em relação a profecia de liberdade e santidade. A santidade, algo exigido pelo Eterno a todos que desejam ser parte da aliança, deve ser conquistada com ordem e dedicação, algo que os filhos de Yisrael tiveram que aprender, bem como cada um de nós deve.
1. O Mishkan: Um Microcosmo Divino de Ordem e Propósito
A narrativa em Shemot/Êxodo detalha a meticulosa construção do Mishkan, um santuário que servia como ponto de encontro entre o Eterno e Seu povo. A ordem e a precisão exigidas na construção refletem a própria natureza divina, como expresso em Shemot 25:9: "Conforme tudo o que Eu te mostrar, a estrutura do Mishkan e a estrutura de todos os seus utensílios, assim o fareis".
Os sábios do povo de Yisrael afirmam que aqui há paralelos entre a construção do Mishkan e a criação, observe:
- Bereshit 1:1 e Shemot 25:8 : A criação do universo e a construção do Mishkan são atos divinos de estabelecimento de ordem e propósito.
- Bereshit 2:2 e Shemot 40:33: O término da obra divina, seja na criação ou no Mishkan, demonstra a perfeição e a completude do plano divino.
- Bereshit 1:31 e Shemot 39:43: A aprovação divina da obra concluída ressalta a importância da execução fiel e obediente.
O Mishkan foi construído em um momento crucial da história de Yisrael, logo após a libertação da escravidão no Egito. Ele servia como um símbolo tangível da presença divina no meio do povo, unificando as tribos e orientando sua jornada no deserto. A precisão na construção do Mishkan contrastava com a desordem e a idolatria das culturas vizinhas, estabelecendo Yisrael como um povo distinto e consagrado ao Eterno.
2. Os Profetas: Santidade Além dos Rituais
Os profetas, como Mikhah e Hoshea, ecoaram a mensagem de que a santidade não se limita à observância de meros rituais, mas exige um coração íntegro e uma vida de retidão e santidade. A retidão é a obediência aos mandamentos, pois é isso que mantém o homem no caminho reto, e isso leva à santidade, à separação das coisas que desagradam ou são contrárias ao Eterno que é Santo. Observe o que dizem os mencionados profetas:
Com que posso aparecer diante de Adonai para me prostrar diante de elohim nas alturas? Posso me apresentar diante dele com ofertas queimadas, com bezerros de 1 ano? Adonai se agradaria com milhares de carneiros, com 10 mil rios de azeite de oliva? Poderia eu dar meu primogênito como pagamento por minhas transgressões, o fruto do meu corpo pelo pecado de minha alma? Ser humano, você já foi informado do que é bom, do que Adonai exige de você – apenas que aja com justiça, que ame a graça e que ande em pureza para com seu Elohim. Mikhah 6:7-8
Este trecho profético enfatiza a importância da justiça, da bondade e da humildade como pilares da verdadeira devoção.
Pois desejo misericórdia, mais que sacrifícios, o conhecimento de Elohim mais que ofertas queimadas. Hoshea 6:6
Aqui, o Eterno expressa Seu desejo por bondade e conhecimento, em vez de meros sacrifícios. Durante o período dos profetas, Yisrael enfrentava desafios internos e externos, como a idolatria, a injustiça social e a ameaça de invasores estrangeiros. Os profetas foram chamados a confrontar, conforme vemos nos textos, a hipocrisia e a corrupção e convocar o povo a um retorno à verdadeira aliança com o Eterno. Nesse aspecto podemos perceber como a ordem e a dedicação verdadeira ao Eterno tem como consequência a santidade.
3. Yeshua: A Santidade na Obediência e no Amor
Nos dias de Yeshua, o povo estava estava dividido em diferentes grupos religiosos, como os fariseus, os saduceus e os essênios, cada um com suas próprias interpretações da Torah. Yeshua desafiou as interpretações legalistas e superficiais da lei, revelando o verdadeiro significado dos mandamentos e convidando o povo a um relacionamento íntimo com o Eterno.
Em seus ensinos o mestre aprofundou a compreensão da santidade, enfatizando a importância da obediência à vontade do Eterno e do amor ao próximo. Observe os textos a seguir:
Nem todo aquele que me diz: Adon, Adon! Entrará no Reino do Céu, mas apenas quem faz o que meu Pai celestial deseja. Mt 7:21
Yeshua deixa bem claro que a entrada no Reino do Céu depende da obediência à vontade do Pai, não apenas de declarações de fé, ou seja, não é superficial e nem legalista ou ritualista.
Hipócritas! Yeshayahu estava certo ao profetizar sobre vocês: “Essas pessoas me honram com seus lábios, mas seu coração está longe de mim. O fato de me adorarem é inútil; porque ensinam regras inventadas por homens como se fossem minhas. Mt 15:7-9
Fazendo um midrash (ensino com referência de textos do TaNaK) de Yeshayahu 29:13 Yeshua condena a hipocrisia dos líderes religiosos que priorizavam tradições humanas em detrimento dos mandamentos divinos. E além disso, devemos nos atentar ao fato de Yeshua, estar se utilizando do TaNaK para ampliar seu ensino de Torah.
4. Os Emissários: A Comunidade como Templo Vivo
Os emissários de Yeshua, como Sha’ul conhecido como Paulo, expandiram a visão da santidade, ensinando que a comunidade de servos do Eterno é o templo vivo de HaShem, e portanto, seu serviço ao Eterno deve ser feito com ordem, dedicação e obediência:
Tudo seja feito com decência e ordem. 1Co 14:40
O apóstolo exorta a comunidade a realizar tudo com decência e ordem, refletindo a natureza divina.
Vós sois edifício do Eterno...Não sabeis que sois santuário de Elohim e que o Espírito de Elohim habita em vós? 1Co 3:9 e 16
Sha’ul mostra que os crentes são o santuário de Elohim, habitado pelo Ruach do Santo (Espírito Santo), demonstrando o mesmo ensino dessa parashá. Essa ideia ecoa o princípio do Mishkan: o Eterno não deseja apenas um templo físico, mas um povo que O sirva com ordem, dedicação e pureza. Após a ascensão de Yeshua, os seguidores formaram as primeiras comunidades messiânicas ou nazarenas, enfrentando perseguições. Em meio a essas adversidades, os emissários ensinaram a importância de viver uma vida de santidade e ordem, refletindo a presença do Eterno em suas ações diárias.
A construção do Mishkan, os ensinamentos dos profetas, de Yeshua e de seus emissários convergem para uma compreensão profunda e humanizada da santidade. Ela não é um estado inatingível, mas uma jornada contínua de transformação, marcada pela ordem, pela dedicação e pela obediência. A santidade se manifesta nas pequenas ações do dia a dia, como a prática da justiça, da bondade e da humildade. Ela se expressa no cuidado com o próximo, no serviço à comunidade e na busca por um relacionamento íntimo com o Eterno e na maneira como lidamos com os desafios e as adversidades, mantendo a fé e a esperança em meio às dificuldades.
Concluindo nosso estudo, a parashá Terumah nos ensina, entre outras coisas, que a santidade não se manifesta no caos, mas na ordem, na dedicação e na obediência aos mandamentos do Eterno. O Mishkan não foi construído de qualquer maneira, mas com precisão e fidelidade às instruções divinas. Da mesma forma, nossa vida deve ser construída com disciplina e alinhamento com a vontade do Criador.
Os profetas alertaram que não basta praticar rituais, é preciso viver com justiça e bondade. Yeshua reforçou essa verdade, mostrando que apenas aqueles que cumprem a vontade do Eterno realmente O servem. Os emissários ampliaram essa visão, ensinando que cada servo do Eterno faz parte de um templo vivo, que deve ser edificado com pureza e compromisso.
Assim como o Mishkan refletia a ordem e a santidade da criação, nossas vidas devem refletir a presença do Eterno por meio da obediência, do zelo e da retidão, sendo santos. Que possamos construir um santuário para o Criador em nosso coração e em nossas ações, servindo-O com dedicação e excelência!
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)