Estudos da Torá
Parashá nº 31 – Emor (Fale)
Vayikra/Levítico 21:1-24:23
Haftará (separação) Ez 44:15-31 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 5:38-42; Gl 3:26-29
Tema: Sustentados para Sustentar: Os Ensinos da Mesa Sagrada.
Imagine uma mesa pura de ouro, preparada não pela capacidade humana, mas por ordem direta do Eterno. Sobre ela, doze pães dispostos com precisão, representando cada tribo de Yisra’el. Eles não envelhecem, não se corrompem, não perdem seu aroma. A cada semana, são renovados. A cada Shabat, são lembrança viva de um povo que foi separado, sustentado e colocado diante da presença do Eterno.
Agora, imagine que essa mesa não está apenas no passado do Mishkan. Ela fala conosco hoje. Ela aponta para algo maior. Para alguém que sustentou discípulos com ensino puro. Para uma missão viva, que continua geração após geração.
Neste estudo, não nos limitaremos ao ritual. Vamos mergulhar no propósito eterno por trás da mesa e dos pães. Veremos como Yeshua, o servo obediente do Eterno, preparou seus talmidim como pães vivos, colocados diante da face de HaShem, para alimentar um povo sedento, não de pão físico, mas da Palavra viva.
Este não é um convite a apenas aprender, mas a nos tornarmos parte viva desse propósito: ser pão sobre a mesa do Rei, sustentados por Sua Torá, alimentando outros com justiça, em santidade e firme confiança. Se teu coração tem fome da presença do Eterno, então te convido: aproxima-te da mesa, e vamos juntos partir o pão.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Nesta semana nos debruçamos sobre a porção Emor, que é uma parashá rica e profundamente espiritual, que revela o cuidado do Eterno com a santidade, não apenas do espaço ou do altar, mas dos homens que servem diante d'Ele e de todo o povo de Yisra’el.
O Eterno ordena a Moshê que diga aos filhos de Aharon — os cohanim — que devem manter-se afastados da impureza causada pela morte. Não por orgulho ou superioridade, mas porque foram separados para um serviço sagrado. São instruídos a não se contaminar com mortos, exceto por parentes próximos.
O Cohen Gadol, o sumo sacerdote, tem ainda maiores restrições. Ele não pode nem mesmo tocar em seus próprios pais se morrerem. Por quê? Porque ele carrega o shemen hamishchá (óleo da unção), o sinal da consagração que o liga diretamente ao serviço mais sagrado. Isso nos mostra que quanto mais próximos do altar, maior a responsabilidade de pureza e de consagração. Assim também todo aquele que deseja se achegar ao Eterno deve buscar pureza em seus caminhos.
O Eterno especifica que não se pode oferecer qualquer coisa diante d’Ele: animais defeituosos não são aceitos, nem podem servir no altar os cohanim que tiverem imperfeições físicas. Isso não é por desprezo, mas porque tudo que é trazido ao Eterno deve refletir integridade, ordem e respeito.
Um dos momentos mais sublimes da parashá é quando o Eterno proclama os Seus tempos designados — moedêi HaShem. Essas festas não são invenções humanas, nem tradições culturais. São convocações sagradas determinadas pelo Eterno para todos os que O amam. Ele disse: "São estas as festas fixadas do Eterno, que proclamareis como santas convocações".
A parashá também fala da manutenção perpétua das lâmpadas no Mishkan, usando azeite puro de oliva, e dos doze pães da proposição, que simbolizam as doze tribos de Yisra’el diante do Eterno, continuamente lembradas
Por fim, há o episódio do blasfemador, filho de uma mulher israelita e um egípcio. Ele blasfema contra o Nome e é julgado conforme os mandamentos. O Eterno declara que não importa se é nativo ou estrangeiro, há uma só Torá para todos: “Uma mesma instrução haverá para o estrangeiro e para o natural da terra”
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Vamos então meditar com mais atenção sobre uma das seções finais da Parashá Emor, que trata das luzes perpétuas e dos doze pães da proposição, ambos colocados diante do Eterno no Mishkan. Veremos o apontamento profético para Yeshua e seus talmidim, com um foco principal para a mesa dos pães da proposição e sua indicação da missão dos seguidores do messias.
1. A Luz Perpétua ou Ner Tamid
Ordena aos filhos de Yisra’el que te tragam azeite puro de olivas batidas, para a lâmpada, para manter uma chama contínua. Fora do véu do testemunho, na tenda da reunião, Aharon a manterá em ordem desde a tarde até a manhã diante do Eterno, continuamente; estatuto perpétuo para vossas gerações. Vayicrá 24:2-3
Essa luz representa a presença contínua do Eterno entre o povo, através da Torá. Era alimentada por azeite puro — katit la'or — extraído da primeira prensa da azeitona, o mais refinado. Ela não era uma luz qualquer. Era a chama que não se apagava, sinal da vigilância constante e da comunhão perpétua entre Yisra’el e HaShem.
Nos escritos dos profetas, essa luz é refletida em muitas visões, como em Zekharyah 4, onde ele vê um candelabro de ouro com sete lâmpadas alimentadas por azeite que flui direto de duas oliveiras. Isso é uma imagem poderosa do contínuo suprimento do Eterno por meio de Seus ungidos — o rei e o cohen. Eles apontam para o messias e seus seguidores, judeus fiéis que vivem de acordo com a vontade do Eterno e trabalham em prol do resgate dos remanescentes.
Não por força nem por poder, mas pelo Meu Ruach, diz HaShem Tsevaot. Zekharyah 4:6
Este texto ecoa a ideia de que a luz verdadeira não vem do homem, mas da presença do Eterno sustentando Seu povo com justiça e verdade, levada às casas de Yisrael e Yehudah por todos que se aproximam verdadeiramente do Eterno, vivendo uma vida de justiça, que é a obediência.
Os sábios do povo de Yisrael também entenderam que a ner tamid simboliza a Torá, cuja luz guia os caminhos do homem, conforme lemos no TaNaK:
Porque a mitzvá é lâmpada, e a Torá é luz… Mishlei 6:23
Também viram nisso o papel do Mashiach, o ungido, como portador da luz da verdade. Como está em Yeshayahu 42:6-7:
Eu, HaShem, te chamei com justiça o segurei pela mão, o modelei e fiz de você uma aliança para o povo, para ser a luz dos goyim, a fim de que possa abrir os olhos dos cegos, libertar os prisioneiros do confinamento, os que vivem em trevas no calabouço.
Essa luz, portanto, prefigura a vinda de um servo fiel, que mantém a chama do Eterno acesa entre o povo — não com palavras vazias, mas com vida justa. Mas não apenas ele, os seus seguidores também são essa luz, pois a exemplo de seu mestre, vivem uma vida de justiça, ou seja, de obediência aos mandamentos do Eterno, indicando o caminho para outros.
Yeshua, o filho de Miriam e Yosef, o messias, é mostrado nos Escritos Nazarenos como aquele que viveu essa luz. Não apenas falou dela, mas andou nela. Como ele mesmo disse:
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Yochanan 9:5
Vós sois a luz do mundo. A cidade construída sobre o monte não pode ser escondida. Da mesma forma, quando alguém acende uma candeia, não a cobre com uma vasilha, mas a coloca no suporte para iluminar a todos os que estão na casa. Assim, que a vossa luz brilhe diante das pessoas, para que elas também possam ver as boas coisas que fazem e louvem ao Pai celestial de vocês. Matityahu 5:14-16
Yeshua não reivindicava uma luz sua, mas refletia a luz do Eterno, a justiça de HaShem revelada em sua Torá, assim como a menoráh que só brilhava porque recebia azeite puro. Esse entendimento nos mostra claramente que as profecias e ensinos ocultos nas Escrituras são para os que buscam com sinceridade. Agora vamos aprofundar mais um pouco com os apontamentos da mesa e dos pães da proposição.
2. A Mesa e os Pães da Proposição – Lechem Hapanim
Tomarás da flor da farinha e dela cozerás doze pães; cada pão será de duas décimas de efa. E os porás em duas fileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa pura diante de HaShem. E sobre cada fileira porás incenso puro, que será para o pão como memorial, oferta queimada a HaShem. Em cada Shabat, continuamente, se porão em ordem perante HaShem, recebidos dos filhos de Yisra’el por aliança perpétua. E serão de Aharon e de seus filhos, e os comerão em lugar santo; porque são coisa santíssima para ele, das ofertas queimadas a HaShem; estatuto perpétuo será. Vayicrá 24:5-9
Esses doze pães representavam as doze tribos de Yisra’el, postas diante do Eterno semanalmente, como um memorial contínuo da aliança. Embora fossem comidos pelos cohanim a cada Shabat, estavam sempre expostos durante a semana, simbolizando a constante intercessão e lembrança do povo diante de HaShem.
Os sábios do Talmud, em Menachot 96b, ensinavam que esses pães não ficavam duros nem mofavam, mesmo depois de sete dias, era um milagre que mostrava que na presença do Eterno não há decadência, mas permanência. Da mesma forma acontece com quem vive diante da presença, a corrupção deste mundo não os deturpa.
Rashi comenta que o arranjo dos pães representava shalom bayit, a harmonia entre as tribos, e também a suficiência do povo sustentado pela mão do Eterno. Assim, cada semana, as tribos eram “renovadas” diante de HaShem.
Veja o que diz o profeta Yeshayahu, que nos conecta perfeitamente ao que estamos tratando:
Ah, vós, todos os que tendes sede, vinde às águas; e vós que não tendes prata, vinde, comprai e comei; sim, vinde, comprai sem prata e sem preço, vinho e leite. Por que gastais a prata naquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Yeshayahu 55:1-2
O profeta fala de pão sem preço, dado gratuitamente àqueles que têm sede de justiça. Esse pão que sustenta não é físico apenas, mas simboliza o ensino puro da Torá, que alimenta a alma, ou seja, a vida. Mas isso precisa ser levado. E quem faz isso? Continue acompanhando!
Nos Escritos Nazarenos, Yeshua é visto alimentando multidões com pães, não como milagre apenas, mas como sinal de que o Eterno provê aos que O buscam com confiança firme.
Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Eterno. Devarim 8:3 e Matityahu 4:4
Yeshua também disse:
Eu sou o pão da vida... Yochanan 6:35
Ele não dizia isso como sendo ele o alimento em si, mas como aquele que trazia o verdadeiro alimento: a Torá vivida com integridade. Estava mostrando que era o exemplo a ser seguido.
Vamos adentrar mais um pouco no assunto, continue acompanhando aqui, e reflitamos no que é proposição, e o apontamento para Yeshua e seus seguidores.
3. A Mesa e os Pães como Sombra do Propósito do Eterno
No dicionário on line, “proposição” é um substantivo feminino que traz dois significados comuns. O primeiro é o ato ou efeito de propor. E o segundo, é aquilo que se propõe; uma proposta ou sugestão. No contexto original, Lechem Hapanim, literalmente “pães das faces” ou “pães da presença”, não são uma proposição no sentido moderno, mas sim algo colocado diante da face do Eterno, ou seja, na Sua presença contínua.
E os porás em duas fileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa pura diante do Eterno. Vayicrá 24:6
Estes pães representavam todas as doze tribos de Yisra’el, dispostas diante do Eterno como um sinal perpétuo da aliança. Não era apenas alimento, era memorial, intercessão, e presença contínua do povo diante de HaShem.
Entretanto, observe alguns detalhes importantes que devem ser compreendidos. A mesa sustentava os doze pães, da mesma forma que o Eterno sustenta o povo de Yisra’el e mantém as tribos diante de Si. A mesa não é destacada como objeto central, mas sem ela os pães não teriam onde repousar. É como o que está escrito:
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos… Tehilim 23:5
Essa mesa é suporte, provisão, confiança, e acolhimento do Eterno para aqueles que Nele confiam. E por isso ela é sombra de algo maior, ela aponta para Yeshua, assim como os pães apontam para os talmidim. Vejamos como se dão os apontamentos.
Yeshua, em seu tempo de ministério, sustentou e ensinou os doze talmidim. Ele os alimentou com a Torá, deu-lhes direção, e preparou-os para se tornarem representantes das tribos, não segundo genealogia, mas segundo a função profética e missão.
Da mesma forma que os pães estavam sempre diante da face do Eterno apoiados pela mesa, os talmidim também estiveram diante do Eterno apoiados pelos ensinos de Yeshua, que os moldou conforme o propósito do Eterno. Como está escrito:
Vós que tendes permanecido comigo nas minhas provações… Lucas 22:28
E mais:
Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos assenteis em tronos, julgando as doze tribos de Yisra’el. Luca 22:29-30
Esse texto mostra com clareza que o Eterno estabelece Yeshua, a mesa, como aquele que coloca os talmidim na função dos pães, representando o povo diante do Eterno, comissionados para levar o ensino da Torá ampliada às ovelhas perdidas da casa de Yisrael.
4. A Missão dos Talmidim: Alimentar e Resgatar
Yeshua disse:
Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Yisra’el. Matityahu 15:24
E também:
Shalom Aleikhem! Yeshua repetiu. Como o pai me enviou, eu também os envio. Yochanan 20:21
Aqueles que estavam com Ele à mesa de Pessach foram posteriormente, enviados com a missão de representar as tribos, alimentar os famintos com a Torá do Eterno, e restaurar a casa de Yisra’el. Eles são os "pães", pois levam o sustento espiritual que provém do ensino de Yeshua, que por sua vez provém da Torá.
Assim como os pães eram trocados toda semana e comidos pelos cohanim em santidade, assim também os talmidim foram constantemente renovados pela presença do Eterno através dos ensinos de Yeshua, que os alimentava com a sabedoria do Eterno. Eles não foram apenas guardadores de conhecimento, mas instrumentos vivos. Essa deve ser também nossa prática.
E como está em Yeshayahu:
Então o Redentor virá a Tzion, àqueles em Yaakov que abandonam a rebelião, assim diz o Eterno. Quanto a mim, diz do Eterno, esta é a minha aliança com eles: meu ruach, que repousa sobre você, e minhas palavras, postas em sua boca, não se afastarão de seus lábios, ou dos lábios de seus filhos, ou dos lábios dos filhos de seus filhos, para sempre, diz o Eterno. Yeshayahu 59:20-21
O último sêder de Pessach junto com seus talmidim, registrado nos Escritos Nazarenos é conhecido como “seudat haMelech”, uma refeição com o rei, apontam para o que ocorrerá no futuro. Yeshua parte o pão, e ao fazê-lo declara que aquele momento não é apenas memória, mas envio. Ele está dizendo: “assim como estes pães estão sobre a mesa, vós estareis diante do Eterno para cumprir Sua missão.”
Fazei isto em memória de mim. Luca 22:19
Isto não é a instituição de uma nova “ceia”, nem ele fez isso como ritual, mas como continuação do seu trabalho. Estava passando autoridade para eles, e demonstrou isso, quando lavou seus pés, conforme lemos em Jo 13:1-17. Hoje nós, como seus talmidim, como seguidores de seus ensinos, somos esses pães na presença do Eterno.
Concluindo nosso estudo, vemos que os pães da presença, sustentados pela mesa pura, apontam para a presença constante das tribos diante do Eterno, o sustento que vem da Torá, a necessidade de renovação constante, santidade e um modelo para os discípulos de Yeshua, representando as tribos, sustentados por ele como mesa, alimentados com a instrução do Eterno.
Yeshua não substituiu os pães, mas os preparou para estarem diante do Eterno, como representantes do povo, enviados para resgatar e alimentar as ovelhas com justiça.
Vede, dias vêm, diz HaShem, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras de HaShem. Amos 8:11
A título de fixação, relembro que a missão dos talmidim é para todos os que seguem o exemplo de Yeshua, não está limitada àqueles do primeiro século. Assim como os pães eram renovados semana a semana, todo seguidor da Torá pode ser um desses pães, sustentado pela mesa do ensinamento puro, o ensino de Torá de Yeshua.
Que sejamos como esses pães, colocados diante da face do Eterno, renovados toda semana, alimentando outros com a luz da Torá.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Moshê Ben Yosef
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