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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Estudo da Parashá Bereshit - Não houve morte de animal no Éden: O engano sobre as túnicas de pele.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 01 – Bereshit (Em um Princípio)

Bereshit/Gênesis 1:1-6:8

Haftará (separação) Is 42:5-43:10 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Mt 1:1-17; 2Pe 3:3-14


Não houve morte de animal no Éden: O engano sobre as túnicas de pele.


Sejam bem vindos a mais um ciclo de estudos da Torá, que é dividida em 54 porções anuais, chamadas parashiot no plural, já que seu singular é parashá. Cada parashá tem um nome que a caracteriza e nos revela importantes ensinos do Eterno para seu povo. Essa parashá, a primeira do ciclo que recomeçou essa semana, chama-se Bereshit, que literalmente podemos traduzir como “Em um princípio”. E tendo em vista este significado gostaria de trazer à tona uma instrução que a Torá traz e que é muito mal interpretado nos meios religiosos que usam a bíblia como livro base. Desejo trazer o princípio da existência do ser humano, e nisso mostrar o estado anterior, perfeito e luminoso, mas também esclarecer que depois da queda o Eterno agiu com bondade e deu-lhes pele para cobrir seu corpo, e não uma roupa feita de couro de animal. Isso mesmo caro leitor, mostrarei que não foi morto um cordeiro para que eles tivessem roupas para vestir. Vem comigo até o final desse estudo, e poderá entender um pouco mais a respeito desse assunto, e ainda acrescentará se assistir a live de comentário desse estudo no meu canal no YouTube (https://youtube.com/SouPeregrinonaTerra)


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

O Eterno, pela Sua palavra, trouxe à existência todas as coisas. Em seis dias Ele organizou o caos: separou luz e trevas, águas e firmamento, terra e mares, e fez brotar toda planta e fruto. Criou os luminares nos céus, as criaturas do mar, as aves e os animais da terra. No sexto dia, formou o homem à Sua imagem (b’tzelem Elohim) e lhe concedeu domínio sobre toda a criação, instruindo-o a frutificar, multiplicar-se e guardar a terra. No sétimo dia, o Eterno cessou Sua obra e abençoou o Shabat (descanso), separando-o como sinal entre Ele e os filhos dos homens, um tempo de descanso e lembrança da criação.

O Eterno formou Adam do pó da terra e soprou nele o fôlego da vida. Plantou um jardim no Éden e o colocou ali para cultivar e guardar o que lhe foi confiado. Vendo que o homem estava só, o Eterno formou Chaváh, auxiliadora e companheira, e os uniu como um só ser.

A serpente levou Chaváh a duvidar da palavra do Eterno. Ela comeu do fruto e deu também a Adam. Com isso, a harmonia se rompeu. A vergonha, o medo e a separação entraram na criação. O Eterno julgou a serpente, a mulher e o homem, e da terra brotariam espinhos e a dureza da terra levaria o homem ao suor, ao cansaço e a fadiga. Mesmo após o erro, o Eterno os revestiu de vestes de pele e os enviou do jardim, para que aprendessem a andar em obediência fora dele, aqui começa a teshuvah na prática.

Hevel ofereceu ao Eterno das primícias de seu rebanho, e Caim do fruto da terra. O Eterno atentou para Hevel, porque sua oferta veio com coração puro e obediente, mas rejeitou Caim, que não possuía um coração obediente como de seu irmão e por isso se encheu de ciúme e o matou. Mesmo assim, o Eterno marcou Caim para que ninguém o matasse, mais uma vez, misericórdia em meio ao juízo.

A Torá então nos mostra as descendências: Set (Shet) substitui Hevel e dele nasce uma linhagem de homens que começam a invocar o Nome do Eterno. Com o tempo, porém, a corrupção se espalha, e muitos homens se inclinam ao erro, levando o Eterno a constatar que “toda a inclinação do coração do homem era má continuamente”. Contudo, Noach achou graça aos olhos do Eterno, pois era um homem justo e bom em sua geração, separado da violência e da corrupção que enchiam a terra.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

No meio dessa porção da Torá, encontramos o primeiro drama do ser humano. O Eterno o havia feito correto e perfeito, cheio de luz que vinha do caráter de HaShem, dando-lhe algo diferente dos demais seres criados nesta terra, o poder de escolha. E com isso, deu ao homem uma instrução que logo foi rejeitada em prol de um desejo gerado pela inclinação para o mal, a serpente. Com isso, o homem antes cheio de luz, agora percebendo sua queda notou que estava nu, a luz não estava mais ali. A palavra do Eterno se cumpre e o homem morre após seu pecado. Depois de três dias o Eterno os refaz demonstrando misericórdia e oportunidade para o homem retornar a Ele. Algo interessante, pois Yeshua sendo justo acaba morto, mas ao terceiro dia o Eterno também o ressuscita. Lembre-se que os relatos da Torá são como profecias que apontam para o futuro, por isso, não estão exatamente em ordem cronológica. Este ato de criar túnicas ou roupas de pele relatado no texto, está ligado com a formação do ser humano após a queda. Veja o texto:

E fez o Eterno Elohim para Adam e sua mulher, túnicas de pele e os vestiu. Gn 3:21

Apesar de tudo que aconteceu e da trágica consequência de seu pecado, ou seja, a morte, o Eterno aplica uma de suas mais marcantes características divinas, o amor. E podemos ver isso aqui, no início da Torá e também no fim dela, na porção que estudamos na semana passada, em Devarim 34:6. Isso é dito por um dos comentaristas da Torá, observe:

A Torá tem no seu princípio um ato de amor: “E fez o Eterno Elohim para Adam e sua mulher, túnicas de pele e os vestiu.” E no fim, um outro: “E sepultou-o (o Eterno a Moshê) no vale, na terra de Moav” (Devarim 34:6) “A beneficência é uma das coisas sobre a qual se sustenta a humanidade.” (Midrash Ialcut 23)...(Comentário de Rodapé da Torah da Editora Sefer, pág 9)

No Chumash Plaut, a Torá da UJR, também há um comentário de rodapé sobre esse contexto, observe abaixo:

Ibn Ezra relata as diversas tentativas de explicar como a pele do animal passou a ser utilizada no jardim do Éden e conclui que não precisamos investigar cada ação do Todo Poderoso. Ele também sugere que “roupas para pele” é uma interpretação possível. O Targum Yonatan especula que era a pele trocada pela serpente. (Comentário de Rodapé página 26).

Na mesma Torá, há outro comentário sobre o assunto e diz o seguinte:

Dois sábios talmúdicos, Rav e Samuel, discutiram sobre o versículo que diz que D’us fez “roupas de peles para Adam e sua mulher”. Rav explicou que D’us os vestiu com algo “derivado de pele”(lã), enquanto Samuel o leu como “roupas para o bem da pele”. Ambos então concordaram que a pele de animais não foi o material do qual D’us fez as roupas. (Talmud Tratado Sotá 14a).

Há ainda muitas palavras ditas pelos sábios em midrashim comentando sobre a pele que o Eterno dá ao homem e à mulher. Estes comentários rabínicos advém da Torá Oral, são variações e falas diferentes, pois ela não pode ser escrita, então se utiliza de técnicas antigas com palavras chaves e histórias para guardar a verdade, que não posso aqui escrever e nem falar em live tais detalhes. Porém, apesar de tanto conhecimento que os judeus possuem e já transmitiram, conforme mostrei acima, ainda assim, o sistema cristão em todas as suas vertentes, despreza tudo e afirma que o Eterno teria matado um animal para fazer as roupas para o casal. Isso, segundo eles, gerou o primeiro sacrifício de animal para cobertura de pecado. Infelizmente, essa informação não poderia estar mais enganada. Vejamos então nos tópicos seguintes o contexto correto de todo esse ensino da Torá.


1. O Homem Criado em Luz e Pureza

No primeiro dia o Eterno cria a luz. Ela já fazia parte de si, pois está implícita em seu caráter. A Torá, em Bereshit 1:26-27, deixa claro que o homem foi criado b’tzelem Elohim, “à imagem de Elohim”. Essa expressão não fala simplesmente da forma física, pois o Eterno não tem forma, mas fala também do caráter e da essência moral, isto é, justiça, misericórdia e pureza. Percebemos aqui a demonstração que, enquanto andavam na obediência, o homem recém criado refletia a or – אור (luz) do Criador, a Torá. Por isso, antes da transgressão, não havia vergonha na nudez (Bereshit 2:25), pois a luz que havia neles não os permitia notar isso, e era do seu interior para o exterior que vinha esse revestimento de luz.

Quando o homem desobedeceu, a luz (or com alef – אור) foi perdida, e o Eterno providenciou e cobriu seu corpo, estando agora, ele “vestido de pele” (or com ayin – עור). Literalmente no texto em hebraico é assim que está escrito o termo pele. A diferença da letra na palavra é profunda, pois simboliza a transição da glória para a materialidade, da pureza para a condição de impureza e mortalidade. Antes um ser puro e próximo do Eterno, agora fraco e tendo que se esforçar muito para voltar a estar próximo do seu Criador. Aqui começa a Teshuvah para o homem.

Rav Shaul HaShaliach, conhecido como apóstolo Paulo, era um proeminente conhecedor da Torá e de seus segredos, tanto que também falou sobre esse assunto nesse contexto, observe:

Pois da mesma forma como em Adam todos morrem, no Mashiach todos serão vivificados. 1 Coríntios 15:22

Quando você semeia, não semeia o corpo que virá a ser, mas apenas uma simples semente, como de trigo ou de alguma outra coisa. Mas D’us lhe dá um corpo, como determinou, e a cada espécie de semente dá seu corpo apropriado. 1 Coríntios 15:37,38

Assim está escrito: “O primeiro homem, Adam, tornou-se um ser vivente”; o último Adam, espírito vivificante. 1 Coríntios 15:45

Quando lemos todo o contexto dessa carta de Paulo, entendemos o assunto da ressurreição e sobre como será os corpos dos justos no futuro. O primeiro homem é Adam, literalmente, aquele que foi criado em luz e santidade, mas caiu, o segundo Adam, é uma referência ao Mashiach Yeshua, criado em corpo mortal e com propensão ao erro, mas que fez o caminho oposto do primeiro, obedecendo em tudo, se tornando o exemplo de justiça. Por isso é tido, por Paulo nesta carta, como espírito vivificante, ou seja, ruach, mover ou poder que dá vida. Depois de observarmos com clareza a verdade, vamos para o que o engano diz.


2. O Engano: a ideia da morte de um animal

A doutrina que ensina que o Eterno matou um animal como sacrifício para vestir o homem não se encontra em lugar algum da Torá. Essa ideia foi introduzida muito tempo depois, especialmente por interpretações externas à tradição judaica, que buscavam vincular o texto a um dogma criado a partir de uma má interpretação do sistema de sacrifícios para cobertura de pecados pela culpa. Observe o erro em um comentário de rodapé da Bíblia Vida Nova diz sobre o verso que estamos estudando em Gn 3:21:

A tentativa feita pelo homem de cobrir-se com folhas, era tão inadequada como o desejo de desculpar-se pelo pecado. A provisão de D’us, fazendo-lhes vestimentas de peles, é o primeiro vestígio da exigência divina de uma vítima sacrificial que ofereça uma cobertura (propiciação: heb caphar) capaz de promover a reconciliação. (Bíblia Vida Nova, página 9).

Vou lhe apresentar um outro comentário que carrega o mesmo erro doutrinário, observe:

D’us, porém, lhes fez “túnicas de peles”, e assim ensinou, por uma figura, a necessidade da morte de uma vítima inocente para que o pecador pudesse ficar coberto e justificado perante D’us. “Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados.” e em folhas de figueira não há sangue derramado. (A Bíblia Explicada, S.E McNair, Editora CPAD 1997, pág 20.).

Como disse, esta linha de raciocínio interpretativa vai contra o ensino da Torá a respeito de kapará, por sacrifícios. O objetivo do sacrifício é mostrar a quem foi ofendido, no caso o Eterno, que se está arrependido e quer fazer teshuvah. Como pode alguém pensar que o ofendido, faria ele mesmo o sacrifício para mostrar a si mesmo, que o ofensor (Adam) está arrependido? E notem que é daqui, que os teólogos tiram a bobagem de que JC sendo Deus, vem para fazer expiação dele mesmo, para aplacar a ofensa que o homem fez contra Ele, para que Deus possa ver que o homem se arrependeu. E chamam erroneamente isso de graça salvadora.

O texto é claro ao dizer que o Eterno fez “roupas de pele”, mas isso não é por acaso, e não está falando de uma roupa, como uma camisa ou uma túnica em si. A palavra no original fala de cobertura - כָּתְנוֹת – katenot, seu significado literalmente, cobrir como faria uma camisa, casaco, veste ou manto. Mas observe que sua raiz é katheph indicando que significa vestir a partir do ombro como extremidade superior, ou seja, desde cima. Indica também suporte apoio, isto significa que a cobertura era para cobrir e apoiar ou dar suporte ao homem, e isto em si, nos mostra a pele e não uma mera roupa. Além disso, a própria palavra pele, que está ligada a este termo que acabamos de ver confirma isso. Observe que pele é עור – or – significando também esconder, couro e pele. Esse termo é usado literalmente para pele humana, e em Ex 34:29, foi usada para descrever a pele do rosto de Moshê que brilhava, ou seja, estava irradiando luz divina, como Adam antes da queda. Com isso, podemos entender ser claro que o que o texto quer dizer é que o Eterno cobriu o homem com peles, pois antes era luz. A pele de carne cobriu o homem, até que volte no tempo certo, se fizer teshuvah, a ter corpo de luz novamente. Veja o que diz o verbo pela boca do profeta Yeshayahu:

É grande o meu prazer no Eterno! Regozija-se a minha alma em meu D’us! Pois ele me vestiu com as vestes da salvação e sobre mim pôs o manto da justiça, qual noivo que adorna a cabeça como um sacerdote, qual noiva que se enfeita com joias. Isaías 61:10

Portanto, sem informações claras como estas, os teólogos sugerirem que o Eterno matou um animal, naquele momento seria contradizer própria instrução de HaShem. Eles não levam em consideração também que a instituição de sacrifícios já vinha da Torá oral, pois Hevel oferece, tempos depois, oferta ao Eterno, dos animais que criava. Essa instrução não veio da confecção de uma roupa.

O que aconteceu, então?

O Eterno não matou, mas revestiu, criou uma nova cobertura para o homem, adequada ao seu novo estado. O homem deixou de ser envolto em luz e passou a ser envolto em matéria, carne, pele, limitação e mortalidade. Esse é o verdadeiro sentido de “kotnot ‘or” — vestimentas de pele, isto é, o corpo perecível que cobre o ser verdadeiro, agora sujeito à dor, ao tempo e à morte.

A ideia de “cobrir” é um tema recorrente nas Escrituras, isto é, no TaNaK, observe alguns paralelos:

- Tehilim 32:1 - Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto.

- Mishlei 10:12 - O amor cobre todas as transgressões.

Não há sangue, nem morte de animal aqui, mas transformação de condição, de vergonha para retidão, ou seja, vida de justiça através da obediência. No caso de Adam e Chaváh, a palavra se cumpriu, eles morreram literalmente como já disse, e se sangue é vida, a deles se foi, se esvaiu na morte, houve então remissão, e o Eterno os trouxe de volta a vida, agora diferente do que eram antes, para viverem de forma diferente, com a promessa de que um seria capaz de retornar perfeitamente ao Eterno e levar consigo, outros que viverem como ele, isto é, o messias e seus seguidores.

Nos escritos nazarenos vemos Yeshua também ensinando esse mesmo princípio, de maneira coerente com o TaNaK. Quando ele ensina a parábola do filho pródigo em Lc 15, conta que o pai, na parábola diz: Trazei depressa a melhor veste e veste-o. O pai não exige sacrifício, apenas cobre a vergonha do filho com amor. Também Rav Shaul escreve: … e se revistam da nova natureza, criada para a piedade, que expressa em si mesma a justiça e a santidade procedentes da verdade. Ef 4:24. Vemos aqui, o mesmo conceito, pois revestir é ser restaurado ao caráter do Eterno, não ser coberto por morte. Dessa forma, o que os escritos ensinam é retorno à luz, não dependência de sangue físico. A morte de um animal não é o fim, o retorno à obediência sempre foi o caminho para a volta da luz.


3. O Ato de Amor e Misericórdia

Mesmo após a desobediência, o Eterno não deixou o homem morto, mas lhe restaurou a vida e o revestiu com pele, permitindo esforçar-se para viver o que não conseguiu em glória, e o enviou para continuar seu caminho, com a possibilidade de retorno (teshuvá). Foi um gesto de chesed, benevolência pura, de amor.

E como vimos anteriormente, a Torá começa e termina com atos de chesed:

  • No início: “E fez o Eterno Elohim para Adam e sua mulher, túnicas de pele e os vestiu.” (Bereshit 3:21)

  • No fim: “E o Eterno o sepultou no vale.” (Devarim 34:6)

O mesmo Eterno que cobre a nudez de Adam é o que cobre o corpo de Moshê, com misericórdia apesar de não lhe ter permitido entrar na terra. Do princípio ao fim, a Torá é revestimento de misericórdia.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


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