Estudos da Torá
Parashá nº 53 – Ha’azinu (Ouçam)
Devarim/Deuteronômio 32:1-52
Haftará (separação) 2Sm 22:1-51 e
B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Rm 10:14-21 e Hb 12:28-39
A Torá não é trivial, mas vida que flui.
Quantas vezes em nossa jornada somos tentados a considerar os mandamentos do Eterno como algo pesado, repetitivo ou até secundário diante das pressões da vida? Ou ainda algo pior, considerar a Torá algo banal. No entanto, a parashá Haazinu nos confronta com uma verdade fundamental, pois as palavras da Torá não são palavras vazias, mas a própria vida que flui. Quando Moshê, ao final de seu cântico, exorta Yisrael, ele não oferece apenas uma lembrança histórica, mas uma advertência atemporal, porque jamais devemos considerar a Torá como algo trivial. Gostou desse assunto? Acompanhe até o final deste estudo e entenda sobre a vida que flui da Palavra do Eterno.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
A parashá Haazinu é o cântico que Moshê entoou diante de todo Yisrael pouco antes de sua partida. É um testemunho solene que o Eterno ordenou que fosse colocado na boca do povo como lembrança perpétua.
Moshê começa chamando os shamaym (céus) e a aretz (terra) como testemunhas, para que ouçam suas palavras, pois o ensino que ele transmite é como chuva que desce suavemente e como orvalho que alimenta a terra. Ele exalta o Nome do Eterno, declarando que Ele é a Rocha, perfeito em todas as suas obras, justo e reto.
Em seguida, o cântico descreve como Yisrael foi escolhido pelo Eterno, separado e cuidado como a menina de Seus olhos, conduzido e protegido no deserto, alimentado e sustentado por Sua bondade. Contudo, quando saciados e engrandecidos, tornaram-se rebeldes e ingratos, abandonando o Eterno e se voltando a ídolos e vaidades.
Por causa disso, Moshê anuncia que o Eterno ocultaria Seu rosto, permitindo que calamidades e inimigos viessem sobre Yisrael. Ainda assim, o cântico revela que o Eterno jamais destruirá completamente Seu povo, pois Ele é compassivo e zeloso pelo Seu Nome. No final, Ele julgará as nações e terá compaixão de Israel, restaurando Seu povo e mostrando que somente Ele é o Eterno, não há outro.
O cântico encerra reafirmando que todas as palavras são vida para Israel e devem ser ensinadas a seus filhos, pois nelas está a chave da permanência na terra prometida.
Assim, Haazinu é tanto advertência quanto consolo: revela a fidelidade eterna de HaShem, a ingratidão de Israel, as consequências da desobediência, mas também a certeza de que o Eterno não rejeita Seu povo, antes o corrige e o redime.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Nos versos de Devarim 32:44-47, Moshê, acompanhado de Yehoshua, declara diante de todo Yisrael que as palavras pouco antes faladas devem permanecer no coração e ser ensinadas diligentemente aos filhos. Ele adverte: Pois não é palavra trivial para vós, antes é a vossa vida; e por esta palavra prolongareis os vossos dias sobre a terra, para possuí-la. V 47.
Neste contexto encontramos uma chave poderosa, isto é, a ligação entre vida, permanência e fidelidade aos mandamentos. A questão não é apenas obedecer por simples obediência, pois corre o risco de virar legalismo, mas compreender que tudo o que o Eterno ordena é fonte de vida, preservação e permanência na herança concedida. Quando Yisrael negligenciava, colhia destruição. No entanto, quando se apegava, desfrutava plenitude. Essa tensão atravessa toda a Torá, ecoa nos profetas e escritos, e é reafirmada nos escritos nazarenos, mostrando que a Palavra nunca deve ser reduzida ao banal.
1. Vida e Permanência
Na Torá, vida e obediência são inseparáveis. Em Devarim 30:19-20, Moshê já havia dito:
Tenho colocado diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando o Eterno teu Elohim, ouvindo a sua voz e apegando-te a Ele, pois Ele é a tua vida.
Além disso, em Vayicrá 18:5, lemos o seguinte:
Guardareis os meus estatutos e os meus juízos; o homem que os cumprir, por eles viverá.
Portanto, obedecer à Torá é entrar em sintonia com o próprio ritmo da criação e com o cuidado contínuo do Eterno. Isto é o mesmo que estar entrando em sintonia com a vida. Chamá-la de trivial seria rejeitar a própria fonte da vida. Quem em sã consciência, sabendo da fonte da vida iria, simplesmente considerá-la como uma mera fonte de água?
2. O Peso da Palavra
Os profetas constantemente advertiram contra negligenciar a Palavra do Eterno. Em Yirmiyahu 6:19, o Eterno declara:
Eis que trarei mal sobre este povo, o fruto dos seus pensamentos, porque não deram ouvidos às minhas palavras e rejeitaram a minha Torá.
O desprezo pela instrução, ou seja, a Torá, nunca é inofensivo, pois abre portas para a ruína. Por outro lado, em Tehilim 19:7-11, David celebra:
A Torá do Eterno é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Eterno é fiel e dá sabedoria aos simples… São mais desejáveis do que o ouro, sim, do que muito ouro refinado; e mais doces do que o mel e o destilar dos favos.
O contraste sobre a relação com a Palavra do Eterno é claro, pois aquele que a despreza sofre, mas quem a guarda encontra prazer, sabedoria e proteção. Este é o princípio da vida que flui. Espero que esteja entendendo.
3. Palavra Encarnada em Obediência
Nos escritos nazarenos, conhecidos popularmente como Novo Testamento, Yeshua e os emissários (apóstolos) reafirmam o mesmo princípio a respeito da Torá. Vemos em Yochanan 6:63, Yeshua declarando:
As palavras que vos digo são ruach (espírito, mover, poder) e chayim (vida).
Não há trivialidade nas palavras do Mashiach, pois ele falava da Torá, o que há é poder de vivificação que vem da parte do Eterno.
Yaakov (Tiago), irmão de Yeshua, ecoa as palavras da Torá ao dizer em Yaakov 1:22:
Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes, enganando a vós mesmos.
O autor da carta, alerta que ouvir sem obedecer é enganar a si mesmo, é tratar a Palavra como algo sem peso, sem importância. E Shaliach Shaul (apóstolo Paulo), em 2 Timoteo 3:16-17, reafirma:
Toda Escritura é inspirada pelo Eterno e útil para ensinar, repreender, corrigir e instruir em justiça, para que o homem do Eterno seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
Perceba que o Shaliach demonstra que a Escritura não é acessória, mas central e essencial para a formação do homem íntegro. Ele estava se referindo ao TaNaK (Torá, Neviím–profetas e Ketuvim-escritos), não à sua carta ou a qualquer outro texto que ainda nem tinha sido escrito. Escrituras Sagradas foi, é e sempre será a Torá e os Profetas. Neste textos encontramos vida.
Concluindo nosso pequeno estudo, tivemos a grata oportunidade de entender que o cântico de Haazinu nos convida a um exame profundo: temos tratado a Palavra como vida ou como detalhe? Moshê encerra sua missão deixando claro que negligenciar a Torá é escolher morte e exílio, mas abraçá-la é escolher vida e permanência.
Vimos também que os profetas reafirmaram, os salmos celebraram e Yeshua e seus emissários renovaram a mesma mensagem, de que a Palavra do Eterno nunca é trivial.
O convite que deixo para você é simples e urgente. Não relegue Torá do Eterno a um canto da vida, mas tomá-las como o próprio alicerce da existência, aquilo que dá vida. Pois quem a guarda encontra vida abundante, e quem a despreza, esvazia sua própria herança, terminando em morte eterna. Siga o exemplo das palavras de Moshê: ...Por causa dela, vocês viverão muitos anos na terra… v. 47
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Moshê Ben Yosef
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