Páginas

Boas Vindas

Seja Bem Vindo e Aproveite ao Máximo!
Curta, Divulgue, Compartilhe e se desejar comente.
Que o Eterno o abençoe!!

sexta-feira, 26 de julho de 2024

A aliança do Eterno e o futuro.

 


A aliança do Eterno e o futuro.

No capítulo 31 do livro do profeta Jeremias, especialmente nos versículos 31-38, é um trecho muito importante para entender a natureza e a continuidade da aliança que D'us estabeleceu com Israel. Neste trecho o Eterno anuncia uma nova aliança, ou melhor, a renovação da aliança, que pelo texto, será diferente daquela feita no passado, uma aliança baseada não apenas em cumprimento de regras externas ou meramente legalista, mas na transformação interna dos corações do povo.

A aliança feita no tempo de Moisés, foi quebrada repetidamente pelos pecados do povo, conforme declarado no versículo 32. Apesar disso, D'us promete uma nova aliança que será inquebrável, não devido à perfeição humana, mas à Sua própria fidelidade e à transformação interior que Ele opera nos corações. Essa nova aliança será caracterizada pelo perdão completo dos pecados (versículo 34) e pelo conhecimento íntimo de D'us por todos os que vivem debaixo de sua vontade (versículo 34).

A relação entre essas profecias e o advento de Yeshua é um fator muito importante no contexto profético. Nos evangelhos, no chamado Novo Testamento, Yeshua se identifica como o início do cumprimento dessa nova aliança. Em Lucas 22:20, durante sua última celebração de Pessach, Yeshua diz: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vós." Para quem já celebrou esta festa, sabe que este cálice, na celebração é chamado de cálice da redenção, pois indica justamente o trabalho do messias de redimir o povo. O messias é aquele que possibilita a verdadeira comunhão com D'us, através do ensino e da prática verdadeira dos mandamentos, possibilitando o perdão dos pecados a todos que confiam no exemplo da sua vida justa.

Quanto à volta de Yeshua e a implantação do Reino de D’us durante o sétimo milênio, isso se refere à esperança profetizada a respeito do messias, o retorno de Yeshua é o cumprimento de profecias e a consumação do Reino do Eterno, com o messias como seu representante. A Bíblia menciona um período milenar de paz e justiça após a vinda do Messias (Apocalipse 20:1-6), onde Ele reinará sobre a Terra. Isso está intimamente ligado às promessas de restauração e bênção para Israel, conforme mencionado por Jeremias.

Portanto, a profecia de Jeremias 31:31-38 destaca a fidelidade de D'us em estabelecer uma aliança eterna com Seu povo, que é cumprida no Messias. Esta aliança não foi anulada, pois o compromisso divino permanece intacto, não apenas com a nação de Israel, mas com todas as pessoas que acatam os mandamentos do Eterno e recebem o messias Yeshua como instrumento de D'us para justificação e para redenção. A vinda de Yeshua é o ponto central dessa nova aliança, trazendo reconciliação, perdão e a promessa de um futuro glorioso sob Seu reinado.

Devemos explorar um pouco mais a fundo o entendimento da profecia de Jeremias e sua conexão com a nova aliança através do messias, assim como sua relevância para o futuro do Reino de D'us.

A Profecia de Jeremias e a Nova Aliança

Quando observamos Jeremias 31:31-34, percebemos que é um texto fundamental no TaNaK, conhecido como Antigo Testamento, que descreve uma nova aliança que D'us faz com Seu povo, contrastando com a antiga aliança feita no Sinai, que foi quebrada repetidamente pelo povo de Israel devido ao legalismo que adotaram no lugar de obedecer simplesmente aos mandamentos, e devido a isso, transgrediram ou pecaram contra o Eterno. Podemos destacar alguns pontos-chaves a respeito da renovação da aliança para melhor compreensão:

1. Natureza da Nova Aliança

Ao contrário da antiga aliança, cujo povo se baseava em obediências legalistas das leis escritas em tábuas de pedra, embora os próprios mandamentos não fossem legalistas. A nova aliança será escrita nos corações das pessoas (Jeremias 31:33). Isso significa uma transformação interior onde o conhecimento de D'us e a obediência às Suas leis não serão apenas externos, mas internos e motivados pelo amor, pela justiça e pela misericórdia.

2. Promessas da Nova Aliança

D'us promete perdoar os pecados e não mais se lembrar das transgressões do Seu povo (Jeremias 31:34). Essa promessa de perdão completo e de um relacionamento restaurado com D'us é central para a nova aliança. No entanto, as pessoas que se achegam ao Eterno devem, de forma arrependida, se colocar sob seu senhorio e de sua Palavra. Só podem ser parte do povo restaurado as pessoas, sejam judeus ou ex-gentios, que sirvam verdadeiramente ao Eterno, e para isso, devem obedecer à Torah que o messias ensinou.

3. Cumprimento no Messias

No chamado Novo Testamento, Yeshua é identificado como o messias que é o cumprimento dessa nova aliança. Ele ensinou que Seu sangue, ou melhor, sua vida justa, é a indicação da nova aliança, para transformação de muitos e remissão de pecados (Lucas 22:20). No Messias, vemos o perdão e a reconciliação com D'us sendo oferecidos a todos que creem no seu testemunho de justiça.

Relação com a Segunda Vinda do Messias e o Reino de D'us

A segunda parte da profecia de Jeremias 31:35-37 e outras passagens proféticas do TaNaK, bem como em muitos textos do chamado Novo Testamento, falam da restauração final de Israel e da chegada do Reino de D'us. E podemos observar alguns pontos importantes:

1. Segunda Vinda do Messias

A promessa da nova aliança inclui a volta do Messias para estabelecer plenamente o Reino de D'us. Como sabemos ele já veio e cumpriu parte das profecias, mas voltará para julgar o mundo, restaurar Israel espiritual e fisicamente, e estabelecer o governo justo sobre toda a Terra, cumprindo e fazendo cumprir a Torah (Apocalipse 19:11-16).

2. Reino de Deus durante o sétimo milênio 

Embora as interpretações variem, muitos entendem que após o retorno do Messias haverá um período de mil anos (o sétimo milênio) em que Yeshua iniciará o reino de forma visível sobre a Terra (Apocalipse 20:4-6). À partir deste tempo, a justiça, a paz e a plenitude da presença de D'us serão experimentadas de maneira sem precedentes.

A profecia de Jeremias não apenas prediz antecipadamente sobre a vinda do Messias, como o cumprimento da nova aliança, mas também estabelece a base para a esperança do futuro glorioso que D'us reserva para Seu povo. A nova aliança oferece perdão, reconciliação e a promessa da restauração final de todas as coisas sob o governo perfeito. O retorno de Yeshua e a implantação do Reino de D'us são eventos esperados que completarão o plano divino de redenção e restauração para Israel e para pessoas de toda a humanidade que segue o testemunho do messias Yeshua.

Cabe ressaltar ainda que não é apenas este profeta que fala sobre esse tempo futuro. A profecia de Jeremias 31 sobre a nova aliança tem uma conexão significativa com a profecia de Isaías 2 e ambas se relacionam com o Messias de várias maneiras.

Conforme vimos até aqui, Jeremias 31:31-34 enfoca uma nova aliança que D'us fará com Seu povo. Esta aliança é caracterizada pela seguinte transformação:

- Escrita nos Corações

Em contraste com a aliança anterior que foi escrita em tábuas de pedra, a nova aliança será escrita nos corações das pessoas. Isso significa uma transformação interior e pessoal, onde o conhecimento de D'us e a obediência às Suas leis não são apenas externos, mas internos e motivados pelo amor e pela graça.

- Perdão e Reconciliação

D'us promete perdoar os pecados e não mais se lembrar das transgressões do Seu povo. Essa promessa de perdão completo e de um relacionamento restaurado com D'us é central para a nova aliança.

Relação com o profeta Isaías

Agora observemos a Profecia de Isaías 2 e o Reinado do Messias. Isaías 2:1-4 é uma profecia que fala do futuro glorioso do monte do Eterno nos últimos dias. Ou seja, fala de coisas que ocorreram durante o reinado do Messias, em complemento e ampliação ao que foi predito por Jeremias. Alguns pontos importantes devem ser destacados:

- Exaltação de Jerusalém

O monte do Senhor será exaltado sobre todas as colinas, e todos os povos virão a ele para aprender os caminhos de D'us. Montes aqui, ultrapassa o contexto literal, pois além de representar o monte do Templo, profeticamente aponta para pessoas, ou seja, os justos da primeira ressurreição, que estarão reinando com ele e ensinarão os decretos do Eterno aos homens.

- Julgamento e Justiça

 O Rei julgará entre as nações e resolverá disputas entre muitos povos, estabelecendo paz verdadeira e justiça duradoura através da Torah.

- O Reinado do Messias

O texto sugere um reinado messiânico onde o Messias governará com justiça e correção, conforme disse acima, será através da Torah, trazendo paz e prosperidade.

Conexões com o Messias

Ambas as profecias estão ligadas ao Messias de várias maneiras conforme estamos tendo a oportunidade de perceber.

Recapitulando o que já dissemos antes, no chamado Novo Testamento, Yeshua é identificado como o cumprimento das profecias messiânicas de Isaías e das promessas de uma nova aliança em Jeremias. Ele é o Messias esperado que veio para estabelecer o Reino de D'us na Terra, mas isso não se deu de uma vez. Ainda há profecias que serão cumpridas em sua volta.

- Reino de Paz e Justiça

Tanto em Isaías quanto em Jeremias, o Messias é visto como aquele que trará paz, justiça e reconciliação não apenas para Israel, mas para todas as nações. Isaías descreve um tempo em que as nações buscarão a instrução de D'us e viverão em harmonia sob o governo do Messias como representante do Eterno.

- Nova Aliança no Messias

A nova aliança descrita por Jeremias, onde os corações são transformados e os pecados são perdoados, é realizada por meio da obra redentora da vida justa de Yeshua, cumprindo parte de seu papel de Messias na primeira parte de seu ministério. Ele é o mediador dessa nova aliança entre D-us e a humanidade, assim como o sacerdote o era, proporcionando perdão e reconciliação através de sua vida.

Conclusão

As profecias de Jeremias 31 e Isaías 2 convergem no Messias como o cumprimento das promessas de D’us para Seu povo. Yeshua HaMashiach é visto como aquele que traz a nova aliança através de Seu sacrifício e como aquele que governará com justiça e paz quando estabelecer o Reino de D’us na Terra. Ambas as profecias apontam para um futuro de esperança e restauração sob o reinado do Messias, cujo governo trará bênçãos e reconciliação para toda a humanidade.

Rav Marcelo Peregrino Silva (Moshê Ben Yossef)


Estudo da Parashá Pinchás - Justiça e Herança: O exemplo das filhas de Tslofchad.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 41 – Pinchas (Pinchas)

B’midbar/Números Nm 25:10-30:1,

Haftará (Separação) Ml 18:46-19:21; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 26:1-30; Mc 14:1-26;

Jo 2:13-22, 7:1-13,37-39.


Tema: Justiça e Herança: O exemplo das filhas de Tslofchad.


No estudo dessa semana vamos refletir sobre justiça e herança à partir dotrecho desta parashá, que trata das filhas de Tslofchad, cinco mulheres que reivindicaram as terras de seu pai como herança, já que ele não teve filhos homens para herdá-la. Veremos alguns aspectos históricos e práticos dessa passagem, bem como os ensinos dos profetas e de Yeshua. Entenderemos como atualmente podemos viver em justiça e o que podemos aprender com os códigos da Torah.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A Parashá Pinchas começa com D'us concedendo sua bênção de paz e sacerdócio a Pinchas, o neto de Aharon, por assassinar um príncipe da tribo de Shimeon e uma princesa midianita enquanto estavam envolvidos em um ato licencioso em público (ao final da Porção da Torah da semana passada).

A reação zelosa de Pinchas salva o povo judeu de uma peste que havia irrompido no campo. D'us ordena a Moshê e Eleazar (filho e sucessor de Aharon como Sumo sacerdote) a conduzir um novo recenseamento de toda a nação, o primeiro feito em quase trinta e nove anos.

A Torá então relata a reivindicação feita pelas cinco filhas de Tslofchad por uma parte da herança na terra de Israel, pois não tinham irmãos e o pai morrera no deserto. D'us concorda, e pelo mérito destas mulheres justas muitas das leis sobre herança são ensinadas. Depois que D'us mostra a terra de Israel do topo de uma montanha, Moshê recebe ordens de transmitir seu manto de liderança a Yehoshua, colocando a mão sobre sua cabeça, pois Moshê não entraria no país.

A porção da Torá conclui com uma completa descrição dos corbanot, sacrifícios, especiais a serem ofertados nos vários dias festivos durante o ano, acima e além do sacrifício (corban tamid) que é trazido toda manhã e tarde. Estas seções são também lidas na Torá por todo o ano, nos dias festivos apropriados.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Vamos ao texto da parashá que diz respeito ao tema de hoje.

1 Aproximaram-se as filhas de Zelofeade, filho de Héfer, neto de Gileade, bisneto de Maquir, trineto de Manassés; pertencia aos clãs de Manassés, filho de José. Os nomes das suas filhas eram Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirza.

2 Elas se prostraram à entrada da Tenda do Encontro diante de Moisés, do sacerdote Eleazar, dos líderes de toda a comunidade, e disseram:

3 "Nosso pai morreu no deserto. Ele não estava entre os seguidores de Corá, que se ajuntaram contra o Senhor, mas morreu por causa do seu próprio pecado e não deixou filhos.

4 Por que o nome de nosso pai deveria desaparecer de seu clã por não ter tido um filho? Dê-nos propriedade entre os parentes de nosso pai".

5 Moisés levou o caso perante o Senhor,

6 e o Senhor lhe disse:

7 "As filhas de Zelofeade têm razão. Você lhes dará propriedade como herança entre os parentes do pai delas, e lhes passará a herança do pai.

8 "Diga aos israelitas: Se um homem morrer e não deixar filho, transfiram a sua herança para a sua filha.

9 Se ele não tiver filha, dêem a sua herança aos irmãos dele.

10 Se não tiver irmãos, dêem-na aos irmãos de seu pai.

11 Se ainda seu pai não tiver irmãos, dêem a herança ao parente mais próximo em seu clã". Esta será uma exigência legal para os israelitas, como o Senhor ordenou a Moisés. Nm 27:1-11


A história das cinco filhas de Tslofchad, registrada na Parashá Pinchas, é um exemplo de justiça e igualdade dentro dos princípios da Torah. Tslofchad, um homem da tribo de Manassés, morreu no deserto sem deixar filhos homens, apenas cinco filhas: Machla, Noa, Hogla, Milca e Tirza. Naquela época, a herança era tradicionalmente passada de pai para filho, excluindo as mulheres. Por isso, elas reivindicaram a porção da herança na Terra de Israel, que pertenceria a seu pai. Esse evento não apenas estabeleceu um precedente legal importante, mas também ecoou através das escrituras subsequentes, ou seja, os profetas e escritos, conhecido como Antigo Testamento, como também nas reflexões dos textos do chamado Novo Testamento. As filhas de Tslofchad, dessa forma, desafiaram a norma da época ao se aproximarem de Moshê e dos líderes de Yisrael a fim de reivindicar o direito à herança de seu pai.

Essa reivindicação não resultou apenas na concessão de sua porção de terra, mas também levou à criação de uma nova lei que permitia que filhas herdassem na ausência de filhos homens, bem como na ausência delas, outros parentes. Este evento é um exemplo claro de como a legislação divina pode ser adaptada para promover justiça e equidade, refletindo também a importância da voz e dos direitos das mulheres na sociedade israelita antiga, ao contrário do que muitos pensam quando leem os textos bíblicos.


Alguns Aspectos Proféticos

Não é difícil perceber que alguns profetas posteriores, como Yeshayahu/Isaías, também tocaram em temas como justiça e equidade, refletindo princípios semelhantes aos demonstrados pelas filhas de Tslofchad. No seguinte texto desse profeta:


Lavem-se! Limpem-se! Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva. Isaías 1:16-17


Também em outro lugar esse mesmo profeta fala sobre justiça trazendo paz e tranquilidade, um ideal que ressoa com a reivindicação dessas mulheres por justiça hereditária, veja o texto:


A justiça habitará no deserto, e a retidão viverá no campo fértil. O fruto da justiça será paz; o resultado da justiça será tranquilidade e confiança para sempre. O meu povo viverá em locais pacíficos, em casas seguras, em tranquilos lugares de descanso, Isaías 32:16-18


Essas conexões proféticas destacam não apenas a continuidade de valores morais ao longo das Escrituras Sagradas, mas também a promessa de um futuro onde a justiça prevalecerá plenamente. Estamos falando de tempos vindouros quando o messias estiver à frente do governo, e portanto, estabelecerá a justiça do Eterno no mundo.

Além disso, a história das filhas de Tslofchad ilustra a importância da responsabilidade social e da integridade moral na administração das leis divinas. Esses princípios transcendem a mera aplicação legal, oferecendo um modelo de conduta ética diária que ecoa através dos séculos na vida dos servos do Eterno.

Podemos também reparar que o livro de Rute apresenta um paralelo interessante a esse respeito. Rute era moabita, e também desafiou as normas em sua época ao reivindicar seu direito de resgate e herança através de Boaz, um parente de seu falecido marido. Essas histórias mostram como as Escrituras dão importância à justiça e ao que é correto. O aspecto profético desse paralelo com Rute mostra como o Eterno está preocupado em que remanescentes que estão aparentemente sem herança reivindique seus direitos ao cumprirem Torah, junto ao parente remidor mais próximo, ou seja, Yeshua HaMashiach.

Podemos ainda, nesse mesmo enfoque observar que outros profetas como Jeremias e Amós, também enfatizaram a importância da justiça e herança. Amós denunciou a injustiça e a corrupção, afirmando que D´us deseja justiça como um rio perene, veja o texto:


Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! Amós 5:23-24.


Outro exemplo significativo é Jeremias 22:3, onde ele diz:


Assim diz o Eterno: Praticai o direito e a justiça, e livrai o oprimido das mãos do opressor; não façais mal nem violência ao estrangeiro, ao órfão, nem à viúva; nem derrameis sangue inocente neste lugar.


Estes versículos destacam a importância de agir com justiça e proteger os mais vulneráveis na sociedade, refletindo a mensagem central dos profetas de Israel. Os profetas frequentemente criticavam a desigualdade e a opressão, chamando o povo de Israel a viver de acordo com os princípios de justiça divina.


Ensinos de Yeshua e Aplicações Práticas

Olhando para o amplo aspecto do assunto dessa parashá poderemos perceber que Yeshua, em seu ministério, frequentemente desafiou as normas sociais e religiosas de seu tempo, compostas por uma série de pesadas chalachot/dogmas, enfatizando a importância da justiça e da compaixão ou misericórdia. Seus ensinamentos sobre amor ao próximo, justiça e igualdade ecoam os princípios estabelecidos na Torah, também vistos no episódio das filhas de Tslofchad. Ele não apenas afirmou a dignidade de todos os remanescentes diante do Eterno, mas também confrontou injustiças estruturais, como visto em seus ensinamentos proféticos sobre o Reino de D’us em Mateus 5-7, conhecido como o sermão do monte.

Yeshua exemplificou a aplicação prática desses princípios ao desafiar interpretações legalistas da Torah e ao promover uma compreensão mais ampla e profunda da justiça divina. Sua abordagem transcendeu o legalismo para enfatizar a importância do coração humano e da responsabilidade social na interpretação das Escrituras. Exemplo disso, encontramos na parábola dos trabalhadores da vinha, em Mt 20:1-16, Yeshua dando um ensinamento profético profundo, mas também trata da generosidade e justiça do Eterno, onde todos que se aproximam e vivem conforme sua vontade recebem o que é justo, independentemente do tempo de serviço. Da mesma forma que as filhas de Tslofchad receberam justiça em sua reivindicação, Yeshua ensina que o Reino de D’us é caracterizado por justiça e equidade para todos, claro que é para todos que cumprem Torah, afinal de contas o Eterno tem apenas um reino.

Outro exemplo é a parábola do Bom Samaritano em Lucas 10:25-37, onde dentre outros ensinos proféticos, Yeshua destaca que a verdadeira justiça e compaixão transcendem barreiras étnicas e religiosas. Ele também defendeu os marginalizados, como quando curou os leprosos, que eram socialmente excluídos, conforme lemos em Lucas 17:11-19, e a tratar os outros com misericórdia e compaixão Mateus 5:7, de buscar a reconciliação em vez de perpetuar conflitos em Mateus 5:23-26, e de agir com justiça e amor, independentemente da reciprocidade em Lucas 6:27-36. Esses ensinamentos refletem uma continuidade com os profetas do TaNaK, que frequentemente exortavam Israel a praticar a justiça verdadeira, cuidando dos oprimidos e dos necessitados.

Os ensinamentos de Yeshua sobre justiça continuam a ser fundamentais para os remanescentes de hoje. Eles nos desafiam a examinar nossas próprias práticas e atitudes em relação à justiça e a tsedakah aos marginalizados em nossa sociedade. Para aplicar esses princípios hoje, podemos começar por promover a prática da justiça em nossas casas e comunidades, seguindo o exemplo dos ensinos do mestre da Galiléia. Isso pode incluir defender os direitos dos marginalizados e trabalhar para reduzir a desigualdade cumprindo o mandamento de fazer tsedakah, com sabedoria e discernimento. Seguir o exemplo de Yeshua e dos profetas significa agir com compaixão e justiça em nossas interações diárias, seja ajudando os necessitados, seja defendendo a verdade e a equidade.

A Torah contém várias leis e mandamentos que visam promover a justiça social. Por exemplo, em Deuteronômio 16:20, é dito:


"Justiça, justiça seguirás, para que vivas e possuas a terra que o Senhor teu D’us te dá."


Este versículo destaca a importância de buscar a justiça como um princípio central da vida comunitária. Além disso, a Torah inclui leis que protegem os direitos dos pobres, órfãos, viúvas e estrangeiros, como em Deuteronômio 24:17-18, onde é ordenado que não se perverta o direito do estrangeiro ou do órfão, nem se tome em penhor a roupa da viúva, entre outros.

Ao vivermos esses princípios, demonstramos aos outros o amor transformador de D’us e a realidade do Reino que Yeshua veio estabelecer como enviado pelo Eterno. Nosso testemunho não é apenas sobre palavras, mas sobre ações que refletem o caráter do Messias, que no fim das contas é o caráter da Torah, ou seja, do Eterno. Conforme vimos até aqui, de acordo com os princípios da Torah, os servos de D’us têm um papel fundamental na promoção da justiça. A Torah enfatiza repetidamente a importância de agir com justiça, defender os oprimidos e garantir que todos sejam tratados com equidade. Este compromisso com a justiça é visto como uma expressão da santidade e do caráter de D’us, que é justo e reto em todos os Seus caminhos.

Ainda no TaNaK, encontramos uma história que pode nos inspirar a praticar a justiça. Neemias, que liderou a reconstrução dos muros de Jerusalém após o exílio babilônico, não apenas se preocupou com a reconstrução física da cidade, mas também com a justiça social entre o povo. Quando soube que os ricos estavam explorando os pobres confrontou os nobres e os oficiais, dizendo:


Não é bom o que fazeis; porventura não deveis andar no temor do nosso D’us, para não serdes o opróbrio das nações, nossos inimigos?” Neemias 5:9


Ele então ordenou que os ricos devolvessem as terras e os bens que haviam tomado dos pobres e que perdoassem as dívidas. Esta ação restaurou a justiça e a equidade na comunidade.


Um Pouco de Gematria

Através do estudo da gematria na parashá podemos confirmar o que estudamos até aqui por meio dos códigos que a Torah trás, permitindo uma análise mais profunda e simbólica dos textos hebraicos das Escrituras. Vamos explorar a conexão das filhas de Tslofchad com a gematria, focando nos aspectos do seu desafio à norma vigente em relação à herança paterna.


- O Nome Tslofchad - צְלָפְחָד

- O nome "Tslofchad" em hebraico consiste nas letras: צ (Tsade), ל (Lamed), פ (Pe), ח (Chet), ד (Dalet).

- Na gematria, cada letra possui um valor numérico correspondente. Por exemplo:

- צ (Tsade) = 90

- ל (Lamed) = 30

- פ (Pe) = 80

- ח (Chet) = 8

- ד (Dalet) = 4

Somando esses valores, obtemos o total de gematria do nome Tslofchad: 90 + 30 + 80 + 8 + 4 = 212.

O valor numérico de 212 pode ter significados simbólicos associados à história das filhas de Tslofchad. Por exemplo, alguns estudiosos interpretam o número 212 como representando um desafio ou uma mudança significativa, refletindo a natureza disruptiva da reivindicação das filhas de Tslofchad em relação à herança. O número 212 dá uma raiz 5 que é a letra הHei, e aponta para os livros da Torah, que são 5.

- Os nomes das cinco filhas de Tslofchad são Machla (מחלה), Noa (נעה), Hogla (חגלה), Milca (מלכה) e Tirza (תרצה). Cada nome possui um valor numérico específico:

- Machla (מחלה): Mem (40) + Chet (8) + Lamed (30) + Hei (5) = 83

- Noa (נעה): Nun (50) + Ayin (70) + Hei (5) = 125

- Hogla (חגלה): Chet (8) + Gimel (3) + Lamed (30) + Hei (5) = 46

- Milca (מלכה): Mem (40) + Lamed (30) + Kaf (20) + Hei (5) = 95

- Tirza (תרצה): Tav (400) + Resh (200) + Tzadi (90) + Hei (5) = 695

Ao somar os valores numéricos dos nomes das filhas de Tslofchad, obtemos um total de 1044 (83 + 125 + 46 + 95 + 695). Este número pode ser analisado em partes para encontrar significados adicionais, porém olhemos este abaixo:

- 1044 é um número que pode ser decomposto em 1 + 0 + 4 + 4 = 9. O número 9 na gematria é frequentemente associado à verdade e à justiça, bem como à plenitude, refletindo a busca das filhas de Tslofchad por justiça e equidade na herança de seu pai. O valor numérico total de seus nomes 1044 e sua redução para a raiz 9 reforçam a ideia de que sua reivindicação estava alinhada com a verdade e a justiça de D’us.

Além disso, o número 9 é associado ao fruto do Espírito Santo que Rav Sha’ul menciona em Gálatas 5:22-23, que inclui atributos como amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio, ou seja, tudo isso é plenitude das bênçãos do Eterno. Esses atributos refletem a virtude e a coragem das filhas de Tslofchad em sua busca por justiça.

Concluindo nosso estudo, devemos entender que os servos de D’us, de acordo com os princípios ensinados pela Torah, são chamados a ser agentes de justiça e equidade preparando pessoas para receberem a herança do Eterno. Através de suas ações, eles refletem o caráter justo de D’us e promovem uma sociedade que será mais justa e correta. A história de Neemias nos lembra que a justiça não é apenas um ideal, mas uma prática diária que exige coragem e compromisso desde agora, para alcançarmos o que está predito pelos profetas, a herança do Eterno.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)