Estudos da Torá
Parashá
nº 38 – Korach (Coré)
B’midbar/Números Nm 16:1-18:32,
Haftará (Separação) 1Sm 11:14-12:22; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) 2Tm 2:8-21, Jd 1-25.
Tema: É necessário agir como Arão!
No estudo dessa semana vamos explorar na parashá Korach a atitude sacerdotal de Aharon ao se colocar entre os mortos pela praga e os vivos, levando a cessá-la, como lemos em Números 17:11-13. E relacionaremos essa situação com o texto de 1 Samuel 12:20-25, da haftará. Também discutiremos o papel do sacerdote e sua conexão com Yeshua, o Messias. Por fim, abordaremos como os seguidores de Yeshua podem aplicar essas lições em suas vidas diárias.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
A Parashá Kôrach, segundo o site Chabad, começa com a infame rebelião liderada por Kôrach contra seus primos, Moshê e Aharon, alegando que os dois haviam usurpado o poder do restante do povo de Israel.
Após tentar convencer os rebeldes a uma retirada, Moshê diz aos dissidentes e a Aharon que cada um deve oferecer incenso a D'us. A oferenda do verdadeiro líder seria aceita pelo Eterno, enquanto que o restante do povo teria uma morte não natural. A um pedido de Moshê, D'us faz com que a terra miraculosamente se abra e engula Kôrach, enquanto o restante dos líderes da rebelião são consumidos por uma chama enviada por D'us. Quando os sobreviventes reclamam sobre a morte em massa, D'us ameaça destruí-los também, e irrompe uma peste.
Mais uma vez, Moshê e Aharon intervêm, oferecendo incenso para impedir a extinção do resto do povo. Deste modo, e com o miraculoso brotar do cajado de Aharon dentre aqueles dos outros líderes das tribos, Moshê e Aharon provam ser os líderes escolhidos. O papel de Aharon como Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é reiterado, e a Torá descreve os dons a serem concedidos aos Cohanim como recompensa por seu serviço no Mishkan (Tabernáculo), incluindo o direito de comer determinadas porções dos Corbanot (Sacrifícios). Os Levitas devem também ser sustentados pela sua dedicação recebendo ma'asser, ou a décima parte de todas as colheitas produzidas pelo povo na Terra de Israel.
ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO
A Parashá Korach entre outras coisas narra a rebelião liderada por Korach, Datan e Abiran contra Mosheh e Aharon. Como já estudamos em anos anteriores Korach, um levita, questionou a liderança de Mosheh e Aharon, alegando que todos os filhos de Yisrael eram santos e não precisavam de intermediários, o que no final se provou ser um engano gigantesco que muitos cometem até os dias de hoje.
Vamos observar mais atentamente o texto de Bamidbar/Números 17:11-13 a fim de reparar na atitude de Aharon durante a crise gerada depois da morte de Korach e seus companheiros.
O papel de Aharon como intercessor
Desde os tempos bíblicos até os dias atuais, a figura do sacerdote desempenhou um papel crucial na relação entre D´us e seu povo. Na parashá Korach encontramos um exemplo marcante e muito claro em Aharon, o sumo sacerdote, que intercedeu pelos fiéis diante do julgamento divino devido à revolta do povo. Essa história nos oferece valiosas lições para os seguidores de Yeshua, o Messias, que assim como Aharon, também agiu como mediador e intercessor, não da humanidade como é ensinado por aí, mas da casa de Yisrael e dos remanescentes. Neste estudo exploraremos a necessidade de imitar Aharon, que era um apontamento profético para o messias, e como aplicar essas lições em nossa vida cotidiana.
É importante notar que, justamente o que estava em questão em todo o conflito era o sacerdócio de Aharon e a liderança de Mosheh, porém depois de tudo o que ocorreu o Eterno confirmou a escolha de Aharom como Kohem Hagadol (Sumo Sacerdote), fazendo sua vara florescer, na sequência do mesmo capítulo 17.
Retornando portanto aos versos 11 a 13 vemos que a murmuração dos revoltosos que sobraram da rebelião de Korach causou a deflagração de um julgamento do Eterno em forma de uma praga. Quando isso ocorreu, Aharon se colocou entre os vivos e os mortos, oferecendo incenso para aplacar a ira divina. O incenso é um apontamento para as obras de justiça, ou seja, a obediência, que dá autoridade para a intercessão. Aharon demonstrou compaixão e amor, intercedendo pelo povo mesmo quando parte deles estavam em rebelião.
A tarefa do sacerdote é justamente fazer expiação e fazer o papel de intermediador entre o povo e o Eterno. Reparem o texto abaixo, principalmente a palavra circulada:
A palavra para “e fez expiação” ou “e expiou” é וַיְכַפֵּר – vayekhaper, que vem da raiz כִּפֵּר – kiper, trazendo os seguintes significados: perdoar, desculpar; apaziguar; expiar, reparar. Note os significados, e todos estão ligados com a missão do sacerdote bem como a do messias, e no fim das contas ambos são realmente um messias, cujo significado é ungido, e essa unção é para um propósito do Eterno.
Há algo espetacular nessa palavra e em seu radical, uma mensagem maravilhosa que demonstra justamente a missão do sacerdote e do messias. Vejamos um pouco de gematria, observe abaixo:
- A palavra וַיְכַפֵּר - vayekhaper - “e expiou” tem o valor de 316, cuja raiz é 10.
- A palavra כִּפֵּר – kiper – “expiar” tem o valor de 300, cuja raiz é 3.
Perceba que a diferença entre as duas palavras é kiper é o verbo no infinitivo e vayekhaper é o verbo flexionado, ou seja, a realização da ação. E para que isso seja feito foi preciso acrescentar duas letras. Não por acaso as letras são justamente um - י - yud e um - וַ - vav, cujos significados pictográficos são, respectivamente, mão e prego. O que claramente nos diz que para haver a ação da expiação precisa de uma mão e de um prego. Justamente o que ocorreu com Yeshua! Será que isso é uma coincidência? Outra coisa a diferença entre os valores gemátricos é também representativo, pois yud = 10 e vav = 6, cuja soma é 16 dando uma raiz 7 que aponta para o shabat, o milênio e para a letra ז – záin, cujo significado pictográfico é cortar. Nos dando o entendimento de que para haver o corte da transgressão precisa haver expiação e para isso, é necessário acrescentar a mão e o prego, ou seja, a obra de intercessão do sacerdote ou messias. E veja que o resultado entre a diferença das raízes das duas palavras 10-3=7 também, indicando que isso é um código perfeito deixado pelo Eterno no texto da Torah.
Aqui, ainda é importante destacar que no verso 14 temos o número de mortos, que também não é um acaso, o valor é 14.700. Se somarmos esse número teremos uma raiz 3, a mesma raiz da palavra kiper – expiar. Demonstrando que o juizo do Eterno sobre aquelas pessoas foi justamente para expiar a transgressão. E a ação de Aharon ao ir para o meio com o incensário para gerar expiação, é o apontamento para a vida justa de Yeshua com a prática da Toráh que o leva a morte no madeiro tendo suas mãos e pés pregados com pregos. O que nos leva ao próximo tópico.
Yeshua como Sumo Sacerdote
De acordo com tudo que vimos até aqui, é correto concordar com o autor aos Hebreus que diz que Yeshua é o Sumo Sacerdote de uma ordem anterior e superior. Veja:
Yeshua, porém, tornou-se kohen pelo juramento pronunciado por D’us, ao dizer: Adonay jurou e não mudará de ideia: Você é kohen para sempre. Isso mostra também quão superior é a aliança da qual Yeshua se tornou fiador. Hb 7:21-22
Como Sumo Sacerdote, Yeshua intercede pelos servos do Eterno, oferecendo expiação, perdão, reconciliação. Da mesma forma que Aharon, Yeshua se coloca entre o homem que se aproxima do Eterno arrependido e o próprio Eterno com sua justiça.
O exemplo deixado por Yeshua ecoa até os dias de hoje ao estudarmos a Torah e da forma como ele instruiu. Dentre muitos textos podemos citar Jo 17, quando Yeshua orou pelos seus discípulos, e essa oração ficou conhecida como a oração sacerdotal. Ele perdoou transgressores, orou e curou enfermos, demonstrando compaixão, amor e misericórdia, agindo como o mediador perfeito, como um Sumo Sacerdote. Yeshua cumpriu claramente o que encontramos nos códigos da Torah a respeito do messias e seu papel de resgatador das casas de Yisrael e Yehudah.
A prática na atualidade
Como seguidores de Yeshua, devemos obedecer aos mandamentos do Eterno, a fim de estarmos aptos e puros para orar pelos que ainda não tiveram seus olhos abertos para a verdade da Palavra. Devemos ser como pontes de intercessão, fazendo o papel de sacerdotes, levando as necessidades dos outros diante de D’us.
Na verdade esse é o papel de todo servo do Eterno, todos que se aproximam de HaShem e de seu povo se tornam sacerdotes, e começam a exercer um papel profético que se cumprirá plenamente a partir do sétimo milênio. Precisamos ser mediadores de reconciliação, da mesma forma que Aharon, devemos levar reconciliação entre D’us e as pessoas. Isso ocorre ao vivermos e ensinarmos a prática das instruções do Criador, a Torah. Quando as pessoas começam a praticar os mandamentos ocorre perdão, amor, e ajuda aos necessitados. E aqui é um bom momento para lermos um dos textos da sugestão de leitura da Brit hadashá para essa porção, registrado em 2Tm 2:8-21.
Por isso, é muito importante, que em nossa vida diária, imitemos o exemplo de nosso messias Yeshua, servindo ao Eterno com obediência, compaixão e amor. Devemos ser compassivos com os que ainda estão perdidos e feridos no sistema, mostrando sempre que possível e houver oportunidade o amor prático, estendendo a mão, julgando com a reta justiça e vivendo segundo a vontade do Criador.
Concluindo, a atitude de Aharon nessa parashá, e o exemplo de Yeshua, nos lembram que o papel do sacerdote e do seguidor do Messias vai além de rituais e dogmas. Devemos ser agentes da justiça, da santidade, do amor, intercessão e reconciliação em um mundo que precisa desesperadamente desses princípios. Que possamos seguir o exemplo de Aharon e, acima de tudo, de Yeshua o messias, agindo como mediadores e servos compassivos, refletindo a misericórdia, conhecido como graça, e o amor de D’us.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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