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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Estudo da Parashá Pinchás - Justiça e Herança: O exemplo das filhas de Tslofchad.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 41 – Pinchas (Pinchas)

B’midbar/Números Nm 25:10-30:1,

Haftará (Separação) Ml 18:46-19:21; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 26:1-30; Mc 14:1-26;

Jo 2:13-22, 7:1-13,37-39.


Tema: Justiça e Herança: O exemplo das filhas de Tslofchad.


No estudo dessa semana vamos refletir sobre justiça e herança à partir dotrecho desta parashá, que trata das filhas de Tslofchad, cinco mulheres que reivindicaram as terras de seu pai como herança, já que ele não teve filhos homens para herdá-la. Veremos alguns aspectos históricos e práticos dessa passagem, bem como os ensinos dos profetas e de Yeshua. Entenderemos como atualmente podemos viver em justiça e o que podemos aprender com os códigos da Torah.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A Parashá Pinchas começa com D'us concedendo sua bênção de paz e sacerdócio a Pinchas, o neto de Aharon, por assassinar um príncipe da tribo de Shimeon e uma princesa midianita enquanto estavam envolvidos em um ato licencioso em público (ao final da Porção da Torah da semana passada).

A reação zelosa de Pinchas salva o povo judeu de uma peste que havia irrompido no campo. D'us ordena a Moshê e Eleazar (filho e sucessor de Aharon como Sumo sacerdote) a conduzir um novo recenseamento de toda a nação, o primeiro feito em quase trinta e nove anos.

A Torá então relata a reivindicação feita pelas cinco filhas de Tslofchad por uma parte da herança na terra de Israel, pois não tinham irmãos e o pai morrera no deserto. D'us concorda, e pelo mérito destas mulheres justas muitas das leis sobre herança são ensinadas. Depois que D'us mostra a terra de Israel do topo de uma montanha, Moshê recebe ordens de transmitir seu manto de liderança a Yehoshua, colocando a mão sobre sua cabeça, pois Moshê não entraria no país.

A porção da Torá conclui com uma completa descrição dos corbanot, sacrifícios, especiais a serem ofertados nos vários dias festivos durante o ano, acima e além do sacrifício (corban tamid) que é trazido toda manhã e tarde. Estas seções são também lidas na Torá por todo o ano, nos dias festivos apropriados.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Vamos ao texto da parashá que diz respeito ao tema de hoje.

1 Aproximaram-se as filhas de Zelofeade, filho de Héfer, neto de Gileade, bisneto de Maquir, trineto de Manassés; pertencia aos clãs de Manassés, filho de José. Os nomes das suas filhas eram Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirza.

2 Elas se prostraram à entrada da Tenda do Encontro diante de Moisés, do sacerdote Eleazar, dos líderes de toda a comunidade, e disseram:

3 "Nosso pai morreu no deserto. Ele não estava entre os seguidores de Corá, que se ajuntaram contra o Senhor, mas morreu por causa do seu próprio pecado e não deixou filhos.

4 Por que o nome de nosso pai deveria desaparecer de seu clã por não ter tido um filho? Dê-nos propriedade entre os parentes de nosso pai".

5 Moisés levou o caso perante o Senhor,

6 e o Senhor lhe disse:

7 "As filhas de Zelofeade têm razão. Você lhes dará propriedade como herança entre os parentes do pai delas, e lhes passará a herança do pai.

8 "Diga aos israelitas: Se um homem morrer e não deixar filho, transfiram a sua herança para a sua filha.

9 Se ele não tiver filha, dêem a sua herança aos irmãos dele.

10 Se não tiver irmãos, dêem-na aos irmãos de seu pai.

11 Se ainda seu pai não tiver irmãos, dêem a herança ao parente mais próximo em seu clã". Esta será uma exigência legal para os israelitas, como o Senhor ordenou a Moisés. Nm 27:1-11


A história das cinco filhas de Tslofchad, registrada na Parashá Pinchas, é um exemplo de justiça e igualdade dentro dos princípios da Torah. Tslofchad, um homem da tribo de Manassés, morreu no deserto sem deixar filhos homens, apenas cinco filhas: Machla, Noa, Hogla, Milca e Tirza. Naquela época, a herança era tradicionalmente passada de pai para filho, excluindo as mulheres. Por isso, elas reivindicaram a porção da herança na Terra de Israel, que pertenceria a seu pai. Esse evento não apenas estabeleceu um precedente legal importante, mas também ecoou através das escrituras subsequentes, ou seja, os profetas e escritos, conhecido como Antigo Testamento, como também nas reflexões dos textos do chamado Novo Testamento. As filhas de Tslofchad, dessa forma, desafiaram a norma da época ao se aproximarem de Moshê e dos líderes de Yisrael a fim de reivindicar o direito à herança de seu pai.

Essa reivindicação não resultou apenas na concessão de sua porção de terra, mas também levou à criação de uma nova lei que permitia que filhas herdassem na ausência de filhos homens, bem como na ausência delas, outros parentes. Este evento é um exemplo claro de como a legislação divina pode ser adaptada para promover justiça e equidade, refletindo também a importância da voz e dos direitos das mulheres na sociedade israelita antiga, ao contrário do que muitos pensam quando leem os textos bíblicos.


Alguns Aspectos Proféticos

Não é difícil perceber que alguns profetas posteriores, como Yeshayahu/Isaías, também tocaram em temas como justiça e equidade, refletindo princípios semelhantes aos demonstrados pelas filhas de Tslofchad. No seguinte texto desse profeta:


Lavem-se! Limpem-se! Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva. Isaías 1:16-17


Também em outro lugar esse mesmo profeta fala sobre justiça trazendo paz e tranquilidade, um ideal que ressoa com a reivindicação dessas mulheres por justiça hereditária, veja o texto:


A justiça habitará no deserto, e a retidão viverá no campo fértil. O fruto da justiça será paz; o resultado da justiça será tranquilidade e confiança para sempre. O meu povo viverá em locais pacíficos, em casas seguras, em tranquilos lugares de descanso, Isaías 32:16-18


Essas conexões proféticas destacam não apenas a continuidade de valores morais ao longo das Escrituras Sagradas, mas também a promessa de um futuro onde a justiça prevalecerá plenamente. Estamos falando de tempos vindouros quando o messias estiver à frente do governo, e portanto, estabelecerá a justiça do Eterno no mundo.

Além disso, a história das filhas de Tslofchad ilustra a importância da responsabilidade social e da integridade moral na administração das leis divinas. Esses princípios transcendem a mera aplicação legal, oferecendo um modelo de conduta ética diária que ecoa através dos séculos na vida dos servos do Eterno.

Podemos também reparar que o livro de Rute apresenta um paralelo interessante a esse respeito. Rute era moabita, e também desafiou as normas em sua época ao reivindicar seu direito de resgate e herança através de Boaz, um parente de seu falecido marido. Essas histórias mostram como as Escrituras dão importância à justiça e ao que é correto. O aspecto profético desse paralelo com Rute mostra como o Eterno está preocupado em que remanescentes que estão aparentemente sem herança reivindique seus direitos ao cumprirem Torah, junto ao parente remidor mais próximo, ou seja, Yeshua HaMashiach.

Podemos ainda, nesse mesmo enfoque observar que outros profetas como Jeremias e Amós, também enfatizaram a importância da justiça e herança. Amós denunciou a injustiça e a corrupção, afirmando que D´us deseja justiça como um rio perene, veja o texto:


Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! Amós 5:23-24.


Outro exemplo significativo é Jeremias 22:3, onde ele diz:


Assim diz o Eterno: Praticai o direito e a justiça, e livrai o oprimido das mãos do opressor; não façais mal nem violência ao estrangeiro, ao órfão, nem à viúva; nem derrameis sangue inocente neste lugar.


Estes versículos destacam a importância de agir com justiça e proteger os mais vulneráveis na sociedade, refletindo a mensagem central dos profetas de Israel. Os profetas frequentemente criticavam a desigualdade e a opressão, chamando o povo de Israel a viver de acordo com os princípios de justiça divina.


Ensinos de Yeshua e Aplicações Práticas

Olhando para o amplo aspecto do assunto dessa parashá poderemos perceber que Yeshua, em seu ministério, frequentemente desafiou as normas sociais e religiosas de seu tempo, compostas por uma série de pesadas chalachot/dogmas, enfatizando a importância da justiça e da compaixão ou misericórdia. Seus ensinamentos sobre amor ao próximo, justiça e igualdade ecoam os princípios estabelecidos na Torah, também vistos no episódio das filhas de Tslofchad. Ele não apenas afirmou a dignidade de todos os remanescentes diante do Eterno, mas também confrontou injustiças estruturais, como visto em seus ensinamentos proféticos sobre o Reino de D’us em Mateus 5-7, conhecido como o sermão do monte.

Yeshua exemplificou a aplicação prática desses princípios ao desafiar interpretações legalistas da Torah e ao promover uma compreensão mais ampla e profunda da justiça divina. Sua abordagem transcendeu o legalismo para enfatizar a importância do coração humano e da responsabilidade social na interpretação das Escrituras. Exemplo disso, encontramos na parábola dos trabalhadores da vinha, em Mt 20:1-16, Yeshua dando um ensinamento profético profundo, mas também trata da generosidade e justiça do Eterno, onde todos que se aproximam e vivem conforme sua vontade recebem o que é justo, independentemente do tempo de serviço. Da mesma forma que as filhas de Tslofchad receberam justiça em sua reivindicação, Yeshua ensina que o Reino de D’us é caracterizado por justiça e equidade para todos, claro que é para todos que cumprem Torah, afinal de contas o Eterno tem apenas um reino.

Outro exemplo é a parábola do Bom Samaritano em Lucas 10:25-37, onde dentre outros ensinos proféticos, Yeshua destaca que a verdadeira justiça e compaixão transcendem barreiras étnicas e religiosas. Ele também defendeu os marginalizados, como quando curou os leprosos, que eram socialmente excluídos, conforme lemos em Lucas 17:11-19, e a tratar os outros com misericórdia e compaixão Mateus 5:7, de buscar a reconciliação em vez de perpetuar conflitos em Mateus 5:23-26, e de agir com justiça e amor, independentemente da reciprocidade em Lucas 6:27-36. Esses ensinamentos refletem uma continuidade com os profetas do TaNaK, que frequentemente exortavam Israel a praticar a justiça verdadeira, cuidando dos oprimidos e dos necessitados.

Os ensinamentos de Yeshua sobre justiça continuam a ser fundamentais para os remanescentes de hoje. Eles nos desafiam a examinar nossas próprias práticas e atitudes em relação à justiça e a tsedakah aos marginalizados em nossa sociedade. Para aplicar esses princípios hoje, podemos começar por promover a prática da justiça em nossas casas e comunidades, seguindo o exemplo dos ensinos do mestre da Galiléia. Isso pode incluir defender os direitos dos marginalizados e trabalhar para reduzir a desigualdade cumprindo o mandamento de fazer tsedakah, com sabedoria e discernimento. Seguir o exemplo de Yeshua e dos profetas significa agir com compaixão e justiça em nossas interações diárias, seja ajudando os necessitados, seja defendendo a verdade e a equidade.

A Torah contém várias leis e mandamentos que visam promover a justiça social. Por exemplo, em Deuteronômio 16:20, é dito:


"Justiça, justiça seguirás, para que vivas e possuas a terra que o Senhor teu D’us te dá."


Este versículo destaca a importância de buscar a justiça como um princípio central da vida comunitária. Além disso, a Torah inclui leis que protegem os direitos dos pobres, órfãos, viúvas e estrangeiros, como em Deuteronômio 24:17-18, onde é ordenado que não se perverta o direito do estrangeiro ou do órfão, nem se tome em penhor a roupa da viúva, entre outros.

Ao vivermos esses princípios, demonstramos aos outros o amor transformador de D’us e a realidade do Reino que Yeshua veio estabelecer como enviado pelo Eterno. Nosso testemunho não é apenas sobre palavras, mas sobre ações que refletem o caráter do Messias, que no fim das contas é o caráter da Torah, ou seja, do Eterno. Conforme vimos até aqui, de acordo com os princípios da Torah, os servos de D’us têm um papel fundamental na promoção da justiça. A Torah enfatiza repetidamente a importância de agir com justiça, defender os oprimidos e garantir que todos sejam tratados com equidade. Este compromisso com a justiça é visto como uma expressão da santidade e do caráter de D’us, que é justo e reto em todos os Seus caminhos.

Ainda no TaNaK, encontramos uma história que pode nos inspirar a praticar a justiça. Neemias, que liderou a reconstrução dos muros de Jerusalém após o exílio babilônico, não apenas se preocupou com a reconstrução física da cidade, mas também com a justiça social entre o povo. Quando soube que os ricos estavam explorando os pobres confrontou os nobres e os oficiais, dizendo:


Não é bom o que fazeis; porventura não deveis andar no temor do nosso D’us, para não serdes o opróbrio das nações, nossos inimigos?” Neemias 5:9


Ele então ordenou que os ricos devolvessem as terras e os bens que haviam tomado dos pobres e que perdoassem as dívidas. Esta ação restaurou a justiça e a equidade na comunidade.


Um Pouco de Gematria

Através do estudo da gematria na parashá podemos confirmar o que estudamos até aqui por meio dos códigos que a Torah trás, permitindo uma análise mais profunda e simbólica dos textos hebraicos das Escrituras. Vamos explorar a conexão das filhas de Tslofchad com a gematria, focando nos aspectos do seu desafio à norma vigente em relação à herança paterna.


- O Nome Tslofchad - צְלָפְחָד

- O nome "Tslofchad" em hebraico consiste nas letras: צ (Tsade), ל (Lamed), פ (Pe), ח (Chet), ד (Dalet).

- Na gematria, cada letra possui um valor numérico correspondente. Por exemplo:

- צ (Tsade) = 90

- ל (Lamed) = 30

- פ (Pe) = 80

- ח (Chet) = 8

- ד (Dalet) = 4

Somando esses valores, obtemos o total de gematria do nome Tslofchad: 90 + 30 + 80 + 8 + 4 = 212.

O valor numérico de 212 pode ter significados simbólicos associados à história das filhas de Tslofchad. Por exemplo, alguns estudiosos interpretam o número 212 como representando um desafio ou uma mudança significativa, refletindo a natureza disruptiva da reivindicação das filhas de Tslofchad em relação à herança. O número 212 dá uma raiz 5 que é a letra הHei, e aponta para os livros da Torah, que são 5.

- Os nomes das cinco filhas de Tslofchad são Machla (מחלה), Noa (נעה), Hogla (חגלה), Milca (מלכה) e Tirza (תרצה). Cada nome possui um valor numérico específico:

- Machla (מחלה): Mem (40) + Chet (8) + Lamed (30) + Hei (5) = 83

- Noa (נעה): Nun (50) + Ayin (70) + Hei (5) = 125

- Hogla (חגלה): Chet (8) + Gimel (3) + Lamed (30) + Hei (5) = 46

- Milca (מלכה): Mem (40) + Lamed (30) + Kaf (20) + Hei (5) = 95

- Tirza (תרצה): Tav (400) + Resh (200) + Tzadi (90) + Hei (5) = 695

Ao somar os valores numéricos dos nomes das filhas de Tslofchad, obtemos um total de 1044 (83 + 125 + 46 + 95 + 695). Este número pode ser analisado em partes para encontrar significados adicionais, porém olhemos este abaixo:

- 1044 é um número que pode ser decomposto em 1 + 0 + 4 + 4 = 9. O número 9 na gematria é frequentemente associado à verdade e à justiça, bem como à plenitude, refletindo a busca das filhas de Tslofchad por justiça e equidade na herança de seu pai. O valor numérico total de seus nomes 1044 e sua redução para a raiz 9 reforçam a ideia de que sua reivindicação estava alinhada com a verdade e a justiça de D’us.

Além disso, o número 9 é associado ao fruto do Espírito Santo que Rav Sha’ul menciona em Gálatas 5:22-23, que inclui atributos como amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio, ou seja, tudo isso é plenitude das bênçãos do Eterno. Esses atributos refletem a virtude e a coragem das filhas de Tslofchad em sua busca por justiça.

Concluindo nosso estudo, devemos entender que os servos de D’us, de acordo com os princípios ensinados pela Torah, são chamados a ser agentes de justiça e equidade preparando pessoas para receberem a herança do Eterno. Através de suas ações, eles refletem o caráter justo de D’us e promovem uma sociedade que será mais justa e correta. A história de Neemias nos lembra que a justiça não é apenas um ideal, mas uma prática diária que exige coragem e compromisso desde agora, para alcançarmos o que está predito pelos profetas, a herança do Eterno.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


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