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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Estudo da Parashá Re'ê - O impacto silencioso dos falsos profetas.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 47Re’eh (Vejam)

Devarim/Deuteronômio DT 11:26-16:17,

Haftará (Separação) Is 54:11-55:5; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 7:15-23; 1Jo 4:1-6.



Tema: O impacto silencioso dos falsos profetas.


Nesta semana, ao estudarmos a Parashá Reê, vamos nos deparar com um tema de grande importância e desafio: os falsos profetas. A gravidade dessa questão não pode ser subestimada, pois ela toca na essência da confiança e na segurança espiritual do povo do Eterno. Moshêh, em suas instruções, adverte com firmeza sobre o perigo daqueles que tentam desviar o povo com ensinos enganosos, assim como daqueles que são facilmente influenciados por palavras falsas. Esse estudo vai aprofundar nossa compreensão sobre como a Toráh, os escritos dos profetas, e os ensinamentos de Yeshua tratam a questão dos falsos profetas. Analisaremos o impacto negativo que esses líderes espirituais corruptos podem causar, suas intenções reais, e os perigos que representam para a comunidade. Além disso, vamos explorar as medidas que são recomendadas para manter a pureza e a integridade na confiança no Eterno.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


Na Parashá Reê, Moshê continua a exortar o povo de Yisrael a seguir os caminhos da Torá, e a confiar em D’us. Moshê começa a colocar as mitsvot em perspectiva, sem ambiguidade, declarando que o povo de Yisrael será abençoado se cumprir a Torá, e amaldiçoado se não o fizer.

Ele começa então uma longa revisão de várias mitsvot, compreendendo a maior parte do livro Devarim. Primeiro discute alguns dos mandamentos que são relevantes à iminente conquista da Terra de Yisrael pelo povo, conclamando-os novamente a remover qualquer vestígio de idolatria.

Após ensinar-lhes certos detalhes sobre a oferenda e o consumo de corbanot (sacrifícios) a Torá ordena que o povo de Yisrael se abstenha de imitar as nações que os circundam. A eles é dito que permaneçam atentos aos falsos profetas e outras pessoas que poderiam afastá-los de D’us, e não aprendem as leis de uma cidade que tornou-se tão corrupta que a maioria de seus cidadãos sucumbiu à idolatria, recebendo por isso a pena de morte.

A Torá faz uma revisão sobre quais animais são casher, permitidos para consumo, e quais não o são, seguida pelas leis de ma’aser sheni – o segundo "dízimo", que é consumido por seus proprietários, mas apenas na cidade de Jerusalém.

Após ordenar que todas as dívidas sejam canceladas ao final de cada sétimo ano (Shemitah), e que devemos ser calorosos e caridosos com nossos irmãos, a Torá repete as leis relativas ao servo judeu. Ele deve ser libertado incondicionalmente no sétimo ano e coberto de presentes generosos por seu antigo amo.

A Parashat Reê conclui com uma breve descrição das três festas de peregrinação – Pêssach, Shavuot e Sucot – quando todos deveriam ir a Jerusalém e ao Templo com oferendas, para celebrar sua prosperidade.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Em cada época e comunidade, o desafio de distinguir a verdade da mentira permanece como uma constante batalha. Imagine uma nação inteira, abençoada com instruções divinas claras para viver em retidão, enfrentando uma ameaça sorrateira que não vem de fora, mas do próprio meio do povo. A Parashá Reê nos coloca nesse cenário, onde Moshêh, com uma urgência que parece quase profética, alerta contra uma das mais perigosas ameaças à confiança no Eterno: os falsos profetas.

Este estudo nos convida a refletir sobre como essas figuras, por vezes enigmáticas e sempre perniciosas, podem distorcer a verdade, corromper a comunidade e desviar os corações e mentes do verdadeiro caminho do Eterno. Não é apenas um aviso antigo, mas um desafio constante que ressoa ao longo dos séculos. Ao analisar as advertências de Moshêh, as duras críticas dos profetas Yirmiyahu e Yechezkel, e os ensinamentos de Yeshua, percebemos que a luta contra os falsos profetas é, na verdade, uma batalha pela integridade espiritual e pela autenticidade da confiança no Eterno.

Os falsos profetas não apenas introduzem erros nos ensinamentos; eles podem destruir a unidade da comunidade, enfraquecer a moral e distorcer o entendimento sobre o Eterno. Ao nos aprofundarmos nas Escrituras, veremos como essas figuras podem se disfarçar de piedade, promovendo mensagens que parecem verdadeiras, mas que são, na verdade, perigosas e enganosas. O desafio é discernir a verdade do engano, proteger a pureza da confiança no Eterno, e garantir que a comunidade permaneça firme no caminho da retidão.

Este estudo é um convite para despertarmos nossa vigilância e fortalecermos nossa capacidade de discernimento, algo essencial para qualquer comunidade que deseja manter sua integridade diante das incertezas e desafios da vida. Vamos explorar juntos os sinais, os efeitos e as respostas do Eterno para um dos maiores desafios espirituais de todos os tempos, desde a época de Moshêh.


O Conceito de Falsos Profetas na Toráh

Nessa parashá, em Devarim/Dt 13:1-5, lemos o seguinte:

Se aparecer entre vocês um profeta ou alguém que faz predições por meio de sonhos e lhes anunciar um sinal miraculoso ou um prodígio, e se o sinal ou prodígio de que ele falou acontecer, e ele disser: "Vamos seguir outros deuses que vocês não conhecem e vamos adorá-los", não dêem ouvidos às palavras daquele profeta ou sonhador. O Senhor, o seu D’us, está pondo vocês à prova para ver se o amam de todo o coração e de toda a alma. Sigam somente o Senhor, o seu D’us, e temam a ele somente. Cumpram os seus mandamentos e obedeçam-lhe; sirvam-no e apeguem-se a ele. Aquele profeta ou sonhador terá que ser morto, pois pregou rebelião contra o Senhor, contra o seu D’us, que os tirou do Egito e os redimiu da terra da escravidão; ele tentou afastá-los do caminho que o Senhor, o seu D’us, lhes ordenou que seguissem. Eliminem o mal do meio de vocês.


Essa passagem apresenta um dos mais claros avisos da Toráh contra falsos profetas. A Toráh declara que mesmo se um profeta realizar sinais e maravilhas ou se falar e suas palavras se cumprirem, se ele fizer desviar o povo para adorar outros deuses, este profeta deverá ser eliminado. Este princípio marca a gravidade de introduzir ensinamentos que contrariem a Toráh do Eterno, independentemente da aparência de poder ou santidade desses profetas.

Nosso assunto é sobre falsos profetas, e devemos analisar um pouco mais a fundo esse conceito. Observe o termo hebraico para profeta.

- נָּבִיא Navy – profeta

- נ – Nun = 50

- ב – Veit = 2

- י – Yud = 10

- א – Alef = 1

A palavra Navy tem o valor gemátrico 63 com a raíz 9. No alfabeto hebraico essa raiz equivale a letra Tet, e nos pictogramas essa equivale a “cesto”, “cobra” e “rodear”. Esses símbolos neste contexto apontam para prudência e vigilância. Também aponta para o Olam Habáh, pois é uma indicação para o nono milênio ou o início do tempo perfeito, ou seja, a vontade do Eterno em plenitude.

- שֶׁקֶר Sheker - mentira

- ש – Shin = 300

- ק – Kuf = 100

- ר – Resh = 200

A palavra Sheker tem o valor gemátrico 600 com a raíz 6. No alfabeto hebraico essa raíz equivale a letra Vav, e nos pictogramas equivale a “prego” e “gancho”. Esses símbolos neste contexto apontam para o que a mentira faz com a pessoa, a prende no erro. A raíz 6 é uma indicação do homem, do sistema humano do erro que se utiliza da mentira.

Uma outra palavra que deve ser levada em consideração aqui é:

- אמתEmet – Vardade.

- א = 1 - Alef

- מ = 40 - Mem

- 400 = ת - Tav

A palavra Emet tem o valor gemátrico 441 com a raíz 9, que já vimos acima os apontamentos. Dessa froma, vemos que 6 é a raiz da palavra mentira e o 9 é a raiz da palavra verdade.

Assim, a mentira é exatamente o oposto do que o profeta deve ser, que é falar a verdade do Eterno. Por esse motivo, HaShem estabelece na sua Torah o conceito de profeta verdadeiro e de falso profeta, que fala mentira.

No livro do profeta Yirmeyahu/Jeremias, encontramos um paralelo claro:


Assim diz o Eterno dos Exércitos: "Não ouçam o que os profetas estão profetizando para vocês; eles os enchem de falsas esperanças. Falam de visões inventadas por eles mesmos, e que não vêm da boca do Eterno. Vivem dizendo àqueles que desprezam a palavra do Senhor: ‘Vocês terão paz’. E a todos os que seguem a obstinação dos seus corações dizem: ‘Vocês não sofrerão desgraça alguma’. Jr 23:16-17


Com isso, vemos uma crítica aos profetas que proclamavam paz e prosperidade sem base na verdade divina, enquanto o exército babilônico estava vindo para cercar a cidade, revelando assim, como tais profetas enganam o povo e promovem falsas esperanças. Atualmente não é diferente! O sistema religioso desde o terceiro século tem enganado a muitos, colocando falsas esperanças de morada no céu, de um messias divino, de promessas de riquezas e prosperidade em detrimento da obediência às verdades das Escrituras. A advertência de Yirmeyahu reforça a necessidade de discernimento e vigilância para identificar e rejeitar as palavras daqueles que falam em nome do Eterno falsamente.


O Papel dos Profetas Verdadeiros versos Falsos.

Em Devarim/Dt 18:20-22, lemos:


Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe ordenei, ou que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto". Mas vocês perguntem a si mesmos: “Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor?” Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele.

A Toráh estabelece dois critérios importantes para distinguir entre profetas verdadeiros e falsos: a realização de suas palavras e o objetivo do profeta. Os profetas verdadeiros são aqueles que permanecem fiéis aos mandamentos de HaShem, cuja mensagem está alinhada com os mandamentos do Eterno e se o Eterno fizer algo por ele se cumprirá. Mas repare que, não basta saber se a palavra de um profeta se cumpre para distinguir se ele é verdadeiro ou falso. De acordo com o texto que lemos no item anterior, em Dt 13:1-5, se a intenção do profeta for desviar o povo da verdade ele é um falso profeta. E aqui em 18:20-22 suas palavras estarão em prova, se elas não se cumprirem ele é um falso profeta. Mas e se suas palavras se cumprirem e a intenção dele for desviar o povo? Por isso é necessário observar os dois critérios, e não apenas um. Os dois textos precisam andar juntos para termos a compreensão plena dos princípios estabelecidos pelo Eterno. Afinal, um falso profeta pode conseguir fazer algo que disse se cumprir, mas com isso levar o povo a se afastar do Eterno. Por isso Moshêh deixa claro como agir. Estes critérios são vitais para proteger a comunidade de ser desviada por líderes que introduzem doutrinas estranhas e enganosas.

Ezequiel 13:6-9 reforça essa distinção ao criticar os falsos profetas que profetizam sonhos enganosos e mantêm o povo na ilusão. A autenticidade de um profeta é medida não apenas pelas suas predições, mas também pela sua capacidade de confrontar a corrupção e promover a justiça, conforme a verdadeira Lei de D’us. A diferença entre verdade e engano é, portanto, uma questão de fidelidade às revelações divinas e à moralidade proposta pela Toráh.


A Influência dos Falsos Profetas no meio do povo.

A influência dos falsos profetas pode ser devastadora para o povo, conduzindo-a à desobediência e consequentemente, ao pecado. Devarim/Dt 13:6-11, no diz:


Se o seu próprio irmão ou filho ou filha, ou a mulher que você ama ou o seu amigo mais chegado secretamente instigá-lo, dizendo: "Vamos adorar outros deuses! " — deuses que nem você nem os seus antepassados conheceram, deuses dos povos que vivem ao seu redor, quer próximos, quer distantes, de um ao outro lado da terra — não se deixe convencer nem ouça o que ele diz. Não tenha piedade nem compaixão dele e não o proteja. Você terá que matá-lo. Seja a sua mão a primeira a levantar-se para matá-lo, e depois as mãos de todo o povo. Apedreje-o até à morte, porque tentou desviá-lo do Senhor, o seu D’us, que o tirou do Egito, da terra da escravidão. Então todo o Israel saberá disso; todos temerão e ninguém tornará a cometer uma maldade dessas.


Estes versos advertem que a influência de até mesmo, membros da família, que desviam as pessoas deve ser enfrentada com firmeza, evidenciando a gravidade da situação. A presença de falsos profetas pode minar a integridade espiritual e a coesão do povo, tornando essencial a implementação de medidas rigorosas para manter a pureza da fé. Por causa disso, atualmente tantos estão presos no engano, seguindo a dogmas e sem conseguir se desvencilhar, porque no passado não houve quem pudesse resistir aos ensinos e doutrinas que foram surgindo através dos famosos concílios.

O profeta Miquéias, no capítulo 3:5-7, critica os líderes que enganam o povo com falsas profecias e injustiças.


Assim diz o Eterno aos profetas que fazem o meu povo desviar-se; quando lhes dão o que mastigar, proclamam paz, mas proclamam guerra santa contra quem não lhes enche a boca: Por tudo isso a noite virá sobre vocês, noite sem visões; haverá trevas, sem adivinhações. O sol se porá para os profetas, e o dia se escurecerá para eles. Os videntes ficarão envergonhados, e os adivinhos constrangidos. Todos cobrirão o rosto porque não haverá resposta da parte de D’us".


Esta crítica reflete o impacto negativo de uma liderança corrupta, que não apenas desvia o povo do caminho da verdade, mas também se beneficia da exploração e da injustiça. O impacto corrosivo de tais líderes é uma ameaça direta à moralidade e ao bem-estar da comunidade. Quando olhamos para esse texto do profeta temos a oportunidade de observar o claro retrato do que ocorre atualmente com o sistema religioso, que caminha sem a palavras do Eterno, seguindo pensamentos e filosofias criados por homens e dizem que D’us lhes está mandando falar ou que lhes está guiando. No entanto, a palavra diz que eles estão nas trevas, não enxergam um palmo além de seus narizes, estão sem guia caminhando a ermo para a perdição.

A luz da Toráh nessa parashá serve de lanterna ou de lampião para quem está no escuro, mas deseja sair dessa prisão. Nossas palavras ecoam como as palavras dos profetas e devemos ser tão firmes como Moshêh instruiu aos israelitas que estavam para entrar em Kena’am. Não podemos permitir que palavras e ideias erradas nos tirem do caminho correto, enquanto nós mesmos somos luz para quem está perdido.


A Visão de Yeshua sobre os Falsos Profetas

Nesse contexto, podemos perceber que Yeshua como professa e obediente à Toráh, também aborda a questão dos falsos profetas, como está registrado na bessoráh/evangelho segundo escreveu Mateus, veja:


"Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Mt 7:15-20.


O Messias alerta contra aqueles que se apresentam como santos disfarçados de ovelhas, mas são, na verdade, predadores. Yeshua ensina a reconhecer os falsos profetas pelos frutos que eles produzem, isto é, pelas suas intenções, ações e comportamentos. Esse ensinamento ecoa a advertência da Toráh sobre a necessidade de discernimento para evitar a gravidade de seguir falsos guias espirituais.

Assim como a Toráh manda remover falsos profetas para proteger o povo, Yeshua instrui seus seguidores a avaliar as ações e os frutos dos profetas. Pois a mera aparência ou vontade de ser ovelha não faz uma ovelha. Veja o que Yeshua diz na sequencia:


"Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’ " Mt 7:21-23


Por tudo isso, a vigilância e a avaliação contínua de tudo e todos são cruciais para garantir que o povo permaneça alinhado com a verdade e os princípios divinos, protegendo-se assim da corrupção e deturpação de uma vida justa.




Concluindo assim nosso estudo sobre o impacto dos falsos profetas no meio do povo, revelamos um desafio contínuo para a integridade espiritual da comunidade de HaShem. A Toráh e os livros proféticos do TaNaK fornecem diretrizes rigorosas para identificar e enfrentar esses líderes enganosos, da mesma forma que os ensinamentos de Yeshua ressaltam a importância do discernimento e da fidelidade à verdade. A Toráh que o messias ensinou e praticou é a mesma que vemos nessa porção semanal, ambos estão ligados pelo mesmo mover, a saber, a vontade do Eterno. A proteção da pureza espiritual e da coesão do povo exige vigilância, discernimento e a implementação de medidas firmes contra aqueles que buscam desviar o povo de D’us. Através de uma análise crítica e cuidadosa dos textos bíblicos, podemos aprender a reconhecer e confrontar os falsos profetas e seus ensinos, garantindo que a verdade e a justiça permaneçam no centro da nossa vida espiritual.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Estudo da Parashá Ekev - Arrogância e ingratidão, cuidado!

 




Estudos da Torá

Parashá nº 46Ekev (Continuem)

Devarim/Deuteronômio DT 7:12-11:25,

Haftará (Separação) Is 49:14-51:3; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 4:1-11; Tg 5:7-11.



Tema: Arrogância e ingratidão, cuidado!


Essa semana no estudo da Parashá Ekev, encontramos um alerta poderoso: o perigo da falta de humildade e ingratidão. Moshê, transmitindo a mensagem divina, adverte o povo sobre os riscos de se deixar levar pelo orgulho e pela arrogância, especialmente em momentos de prosperidade e sucesso iminente. Através dessa reflexão, somos lembrados de que a verdadeira grandeza reside na humildade e no reconhecimento da fonte de todas as bênçãos. Vamos explorar esses ensinamentos e descobrir como manter uma relação sincera e constante com o Eterno. E confirmaremos os entendimentos expostos pela Toráh e pelos profetas através da gematria de algumas palavras.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


Êkev começa com Moshê encorajando os filhos de Israel a confiar em D’us e nas maravilhosas recompensas que Ele lhes dará se guardarem a Toráh. Moshê assegura-lhes que derrotarão com êxito as nações de Canaã, quando deverão remover todo e qualquer vestígio de idolatria remanescente na Terra Santa.

Moshê os lembra sobre o miraculoso maná e as outras maravilhas com que D’us os cumulou pelos quarenta anos passados, e ele adverte o povo judeu para estar consciente das armadilhas de sua futura prosperidade e orgulho das façanhas militares, o que pode fazê-los esquecer D’us. Ele os relembra ainda de suas transgressões no deserto, recontando toda a história do bezerro de ouro, e descrevendo a abundante misericórdia de D’us.

Moshê enfatiza que a geração do deserto tinha uma responsabilidade especial de permanecer leal às mitsvot, preceitos da Torá, por causa dos muitos milagres que vivenciaram pessoalmente. Após detalhar as numerosas virtudes da Terra Prometida, Moshê ensina ao povo o segundo parágrafo do Shemá, que enfatiza a doutrina fundamental de recompensa e punição, baseada em nosso cumprimento das mitsvot.

Esta Porção da Torá conclui com a promessa de D’us, uma vez mais, de que Ele protegerá o povo judeu se eles cumprirem as Leis da Toráh.



ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Ao lermos a passagem da parashá Ekev em que o Eterno, por meio de Moshê, adverte o povo quanto aos perigos da falta de humildade e da ingratidão, temos a oportunidade de fazer uma profunda reflexão sobre a importância de sermos humildades e agradecidos ao Eterno, diferente de atitudes negativas como arrogância e ingratidão. As Escrituras Sagradas, como nosso verdadeiro manual de instruções, nos trazem elementos importantes que podem nos ajudar a manter uma relação sincera e constante com o Eterno. Vemos no contexto histórico, no nível Pshat ou literal de interpretação judaica das Escrituras, que em um momento de grande prosperidade e sucesso iminente, pois o povo estava prestes a entrar em Kena’an, Moshê alertando o povo para não se deixarem levar pelo orgulho e pela arrogância. Este ensinamento, que ecoa através das gerações, oferece lições valiosas sobre como a verdadeira grandeza está enraizada na humildade e no reconhecimento da fonte de todas as bênçãos. Assim, veremos a seguir, alguns pontos nesse estudo da Toráh, que nos ajudarão a compreender um pouco mais este assunto, para que não venhamos cair em erros tolos como arrogância e ingratidão. E para isso, é importante conectar os ensinamentos da parashá Ekev com a haftará dos profetas e com os ensinamentos de nosso messias Yeshua, e também com os apóstolos.


A Armadilha da Arrogância

A armadilha da arrogância é um tema central. Quando o povo de Yisrael adentrasse a Terra Prometida e desfrutasse da prosperidade, haveria o risco de se exaltarem e esquecerem que todas as bênçãos vêm de D’us. Moshê adverte então, os filhos de Yisrael sobre o perigo de se deixar seduzir pela arrogância. Quando alguém alcança sucesso e prosperidade, como estava ocorrendo com o povo de Yisrael, há uma tendência natural de atribuir os feitos às próprias habilidades e esforços, esquecendo-se que todas as bênçãos vêm de HaShem. A Toráh, no entanto, adverte que toda a riqueza e sucesso vêm de D’us. Esta advertência se alinha claramente com a haftará em Yeshuayahu 49:14-51:3, Também na profecia do livro de Oséias. Este profeta Oséias faz um apelo para que Yisrael reconheça sua dependência de D’us e evite a adoração de ídolos, um reflexo do orgulho e da arrogância, veja o capítulo 3. Ele critica a tendência de atribuir as bênçãos a si mesmo em vez de reconhecer a fonte divina, vejam o capítulo 13 e capítulo 14:8.

Nos Evangelhos, Yeshua também ensina sobre a necessidade de humildade como vemos e Mt 5:5. Em Mateus 23:12, Ele diz: “Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.” A conexão aqui é clara: a humildade é valorizada e necessária para manter uma relação justa com o Eterno, e a arrogância pode levar ao afastamento espiritual e ao esquecimento de nossa dependência d'Ele, não é à toa que Sh’lomoh HaMelech (Rei salomão) disse que: “O orgulho vem antes da destruição…” Pv 16:18.

A arrogância ou orgulho, que se manifesta como uma sensação de superioridade e autossuficiência, pode rapidamente levar ao esquecimento da verdadeira fonte de nossas bênçãos. É essencial reconhecer que, por trás de cada conquista, existe uma força maior que nos guia e nos sustenta. A autossuficiência e o orgulho são, portanto, não apenas falta de caráter, mas também erros espirituais que afastam a pessoa de sua conexão com D’us. Por isso, a humildade e a gratidão são virtudes essenciais. Dessa maneira, reconhecer nossa dependência de D’us nos mantém alinhados com Sua vontade, a Toráh, e nos impede de cair na armadilha da arrogância. Assim, podemos aprender com os filhos de Yisrael, essas lições e cultivar um coração grato, lembrando que todas as bênçãos vêm do Criador.


A Gratidão Como Prática Diária

Moshê instrui o povo a bendizer ao Eterno em cada refeição e ato cotidiano, um lembrete constante de que todas as necessidades e prazeres vêm de HaShem. O texto do profeta Oséias também sublinha a importância da lealdade a D’us, chamando o povo a um retorno sincero à fé e ao agradecimento, contrastando com o comportamento idólatra, veja capítulo 5:5,13 e 7:10.

Nos ensinamentos de Yeshua, vemos uma ênfase semelhante na gratidão e na humildade. Em Lucas 17:11-19, Yeshua cura dez leprosos, mas apenas um retorna para agradecer. Yeshua destaca que o retorno e o agradecimento desse homem mostram a verdadeira fé. Este ato de gratidão não é apenas um gesto, mas uma expressão de reconhecimento da dependência de D’us. Assim, tanto a Toráh quanto os Evangelhos nos chamam a uma prática diária de gratidão que reforça nossa consciência da presença divina em nossas vidas.

A prática da gratidão deve ser um reflexo constante da nossa consciência de que nada do que possuímos é verdadeiramente nosso por direito. A gratidão, ao contrário da arrogância, reforça a nossa conexão espiritual e nos lembra de manter uma atitude de humildade. Ao reconhecer que cada momento de abundância é uma dádiva divina, cultivamos uma prática que nos mantém conscientes da presença e da generosidade de D’us em nossas vidas.

Vamos explorar como aplicar essa lição na vida diária:

- A gratidão glorifica ao Eterno, reconhecendo que tudo o que temos vem d’Ele.

- Ela nos ajuda a ver HaShem em todas as circunstâncias, trazendo paz e confiança.

- A gratidão nos coloca na vontade do Eterno, mesmo nos momentos difíceis.

Podemos destacar ainda exemplos de humildade na Bíblia, personificados nas vidas de alguns personagens, tais como:

- Yoseph, filho de Yaakov,

- Moshê; e

- O próprio Yeshua.

O Perigo do Esquecimento Espiritual

Moshê alerta sobre o esquecimento espiritual que pode ocorrer quando o povo experimentar prosperidade. Quando o povo de Yisrael entrasse na Terra Prometida e experimentasse seus frutos e riquezas, eles poderiam ser tentados a esquecer o D’us que os guiou e sustentou no deserto. Esse esquecimento não é apenas uma falha moral, mas uma forma de desconexão espiritual que pode levar à perda da verdadeira essência da nossa fé. A Toráh nos ensina que o reconhecimento contínuo da presença e da influência de D’us é essencial para uma vida de obediência equilibrada e autêntica.

Em Oséias, o profeta também adverte contra o esquecimento de D’us e o afastamento da verdadeira adoração, vejam Os 2:13 e 8:14, uma falha que leva a desastres espirituais e sociais. Nos escritos dos apóstolos, especialmente em Hebreus 2:1, há um aviso semelhante: “Por isso, convém que nos apeguemos com mais firmeza às coisas que temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas.” A mensagem é clara: a prosperidade e o sucesso podem facilmente nos distrair e nos levar ao esquecimento de nossa fé e dependência de D’us. É necessário um esforço consciente para manter a nossa conexão espiritual e a nossa fidelidade, mesmo em tempos de abundância.

Vejamos como cultivar a humildade diariamente em nossas vidas:

- Praticar a gratidão: Reconhecer nossas bênçãos e valorizar o que temos;

- Buscar sabedoria divina: Ler e estudar a Bíblia para aprender com os exemplos de humildade;

- Ouvir e valorizar os outros: Reconhecer o valor de cada pessoa e tratá-la com dignidade;

- Perdoar: Assim como D’us nos perdoa, devemos perdoar os outros;

- Evitar arrogância e vaidade: Lembrar que somos todos iguais perante D’us; e

- Servir ao próximo: Demonstrando amor e humildade.


A Responsabilidade das Bênçãos

Moshê também destaca que as bênçãos concedidas não são um reflexo da nossa perfeição moral, mas sim um cumprimento das promessas divinas. A terra de Yisrael é um presente, não um prêmio por mérito, e o povo deveria manter-se ciente de que a bondade de D’us é a base de todas as suas conquistas. Esta consciência evita o sentimento de merecimento e reforça a responsabilidade de viver de acordo com as mitsvot e os preceitos da Toráh. Ao manterem essa perspectiva, os filhos de Yisrael poderiam viver com uma verdadeira humildade e gratidão, honrando a promessa divina e as expectativas que vêm com ela.

O mesmo tema aparece no profeta Oséias, onde o povo é chamado a reconhecer que a prosperidade não é um sinal de favor especial, mas uma oportunidade para retornar à lealdade a D’us. Nos escritos dos apóstolos, especialmente em Tiago 1:17, lemos: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes.” O entendimento de que as bênçãos são dádivas e não meramente resultados de nossos próprios méritos reforça a necessidade de humildade e responsabilidade. Devemos viver de acordo com os princípios divinos e usar nossas bênçãos para servir ao Eterno e aos outros.


Algumas conexões gemátricas

Conforme muitos já sabem, a gematria é uma prática fascinante que atribui valores numéricos às letras e palavras hebraicas, revelando conexões ocultas e significados proféticos mais profundos. Vamos explorar alguns dos termos que encontramos nessa porção e suas implicações espirituais:

Ekev - עקב

O termo hebraico "Ekev" – עקב tem o valor numérico de 172, e pode ser analisado em vários contextos. Ele aparece no livro de Devarim/Dt 7:12: “E será que, por ouvirdes estes preceitos, e os guardardes, e os cumprirdes, o Senhor teu Deus guardará para contigo a aliança e a misericórdia que jurou a teus pais.”

Ekev significa “devido”, “como resultado de” ou “aquilo que segue atrás”. Sendo assim, pode representar a obediência contínua e a recompensa que vem como resultado. Este número 172 somado dá como resultado o número 10, que aponta para as dez palavras, para a letra Yud, que nos pictogramas aponta para mão, obras, e pode ser associado a conceitos de "caminho" e "resultados de ações", o que sugere a ideia de que a obediência e a prática das mitsvot levam a consequências positivas e recompensas. Se falamos em “caminho”, essa palavra em hebraico é דרך e seu valor é 224, cuja soma dá o valor de 8, que aponta para o nome do Eterno, a Torah e o nome de Yeshua, se sabemos que nome é caráter e isso aponta para a Torah, e a Torah é o caminho de justiça, a vontade de HaShem para o homem, Ekev aponta para as obras de justiça de Yeshua e dos homens que vivem segundo ele viveu. Isso é o que o Eterno espera que seu povo entenda, ao trazer a instrução nessa parashá.


Gratidão – תודה

O termo “Todah” - תודה cujo significado é "gratidão", “grato”, tem valor numérico 415, O número 415 tem somatório 10, que já disse acima seus apontamentos. No entanto, o valor 10 tem raiz 1, que aponta para a letra “Alef” – א cujo significado é força, e também aponta para o Eterno, por ser um. Isso sugere que a gratidão é um estado de reconhecimento perfeito das bênçãos divinas. A pessoa que é grata fica próxima do Eterno, por estar próximo de seus mandamentos.


Humildade - ענווה

O valor numérico de 137 para "humildade" – “anavah” - ענווה tem a soma 11, que é um duas vezes, cuja raiz é 2, apontando para a letra “Beit” – ב que nos pictogramas indica casa. Levando ao entendimento de que a pessoa humilde encontra refúgio no Eterno, através dos mandamentos ensinados por Yeshua, que veio para resgatar e unir as casas de Yisrael e Yehudah. Assim, a humildade é profundamente ligada à vida espiritual e à capacidade de reconhecer a verdadeira fonte das nossas bênçãos. A humildade não apenas preserva a nossa conexão com D’us, mas também nos mantém vivos quanto à prática da vida justa.

Finalmente, ao concluir nosso estudo, vimos que a porção Ekev da Torá oferece um poderoso lembrete sobre a importância de equilibrar a prosperidade com humildade e gratidão. Moshê ensina que o verdadeiro sucesso não deve levar ao orgulho, mas sim a um reconhecimento mais profundo da bondade e generosidade de HaShem. Conectando essas lições com a haftará de Oséias e os ensinamentos de Yeshua e dos apóstolos, vimos uma consistência clara na ênfase à humildade e à gratidão e os perigos de abandoná-los. A arrogância e o esquecimento espiritual são perigos que devem ser evitados, enquanto a prática constante de gratidão e a consciência da dependência divina são essenciais para uma vida de obediência equilibrada. Assim, percebemos a clareza de que a lição de Ekev, não é apenas um ensino antigo, mas uma verdade perene: a verdadeira grandeza e satisfação vêm do reconhecimento humilde da nossa dependência do Eterno e da prática contínua da gratidão por todas as Suas bênçãos, vivendo em obediência.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)