Estudos da Torá
Parashá
nº
47
– Re’eh
(Vejam)
Devarim/Deuteronômio DT 11:26-16:17,
Haftará (Separação) Is 54:11-55:5; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 7:15-23; 1Jo 4:1-6.
Tema: O impacto silencioso dos falsos profetas.
Nesta semana, ao estudarmos a Parashá Reê, vamos nos deparar com um tema de grande importância e desafio: os falsos profetas. A gravidade dessa questão não pode ser subestimada, pois ela toca na essência da confiança e na segurança espiritual do povo do Eterno. Moshêh, em suas instruções, adverte com firmeza sobre o perigo daqueles que tentam desviar o povo com ensinos enganosos, assim como daqueles que são facilmente influenciados por palavras falsas. Esse estudo vai aprofundar nossa compreensão sobre como a Toráh, os escritos dos profetas, e os ensinamentos de Yeshua tratam a questão dos falsos profetas. Analisaremos o impacto negativo que esses líderes espirituais corruptos podem causar, suas intenções reais, e os perigos que representam para a comunidade. Além disso, vamos explorar as medidas que são recomendadas para manter a pureza e a integridade na confiança no Eterno.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Na Parashá Reê, Moshê continua a exortar o povo de Yisrael a seguir os caminhos da Torá, e a confiar em D’us. Moshê começa a colocar as mitsvot em perspectiva, sem ambiguidade, declarando que o povo de Yisrael será abençoado se cumprir a Torá, e amaldiçoado se não o fizer.
Ele começa então uma longa revisão de várias mitsvot, compreendendo a maior parte do livro Devarim. Primeiro discute alguns dos mandamentos que são relevantes à iminente conquista da Terra de Yisrael pelo povo, conclamando-os novamente a remover qualquer vestígio de idolatria.
Após ensinar-lhes certos detalhes sobre a oferenda e o consumo de corbanot (sacrifícios) a Torá ordena que o povo de Yisrael se abstenha de imitar as nações que os circundam. A eles é dito que permaneçam atentos aos falsos profetas e outras pessoas que poderiam afastá-los de D’us, e não aprendem as leis de uma cidade que tornou-se tão corrupta que a maioria de seus cidadãos sucumbiu à idolatria, recebendo por isso a pena de morte.
A Torá faz uma revisão sobre quais animais são casher, permitidos para consumo, e quais não o são, seguida pelas leis de ma’aser sheni – o segundo "dízimo", que é consumido por seus proprietários, mas apenas na cidade de Jerusalém.
Após ordenar que todas as dívidas sejam canceladas ao final de cada sétimo ano (Shemitah), e que devemos ser calorosos e caridosos com nossos irmãos, a Torá repete as leis relativas ao servo judeu. Ele deve ser libertado incondicionalmente no sétimo ano e coberto de presentes generosos por seu antigo amo.
A Parashat Reê conclui com uma breve descrição das três festas de peregrinação – Pêssach, Shavuot e Sucot – quando todos deveriam ir a Jerusalém e ao Templo com oferendas, para celebrar sua prosperidade.
ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO
Em cada época e comunidade, o desafio de distinguir a verdade da mentira permanece como uma constante batalha. Imagine uma nação inteira, abençoada com instruções divinas claras para viver em retidão, enfrentando uma ameaça sorrateira que não vem de fora, mas do próprio meio do povo. A Parashá Reê nos coloca nesse cenário, onde Moshêh, com uma urgência que parece quase profética, alerta contra uma das mais perigosas ameaças à confiança no Eterno: os falsos profetas.
Este estudo nos convida a refletir sobre como essas figuras, por vezes enigmáticas e sempre perniciosas, podem distorcer a verdade, corromper a comunidade e desviar os corações e mentes do verdadeiro caminho do Eterno. Não é apenas um aviso antigo, mas um desafio constante que ressoa ao longo dos séculos. Ao analisar as advertências de Moshêh, as duras críticas dos profetas Yirmiyahu e Yechezkel, e os ensinamentos de Yeshua, percebemos que a luta contra os falsos profetas é, na verdade, uma batalha pela integridade espiritual e pela autenticidade da confiança no Eterno.
Os falsos profetas não apenas introduzem erros nos ensinamentos; eles podem destruir a unidade da comunidade, enfraquecer a moral e distorcer o entendimento sobre o Eterno. Ao nos aprofundarmos nas Escrituras, veremos como essas figuras podem se disfarçar de piedade, promovendo mensagens que parecem verdadeiras, mas que são, na verdade, perigosas e enganosas. O desafio é discernir a verdade do engano, proteger a pureza da confiança no Eterno, e garantir que a comunidade permaneça firme no caminho da retidão.
Este estudo é um convite para despertarmos nossa vigilância e fortalecermos nossa capacidade de discernimento, algo essencial para qualquer comunidade que deseja manter sua integridade diante das incertezas e desafios da vida. Vamos explorar juntos os sinais, os efeitos e as respostas do Eterno para um dos maiores desafios espirituais de todos os tempos, desde a época de Moshêh.
O Conceito de Falsos Profetas na Toráh
Nessa parashá, em Devarim/Dt 13:1-5, lemos o seguinte:
Se aparecer entre vocês um profeta ou alguém que faz predições por meio de sonhos e lhes anunciar um sinal miraculoso ou um prodígio, e se o sinal ou prodígio de que ele falou acontecer, e ele disser: "Vamos seguir outros deuses que vocês não conhecem e vamos adorá-los", não dêem ouvidos às palavras daquele profeta ou sonhador. O Senhor, o seu D’us, está pondo vocês à prova para ver se o amam de todo o coração e de toda a alma. Sigam somente o Senhor, o seu D’us, e temam a ele somente. Cumpram os seus mandamentos e obedeçam-lhe; sirvam-no e apeguem-se a ele. Aquele profeta ou sonhador terá que ser morto, pois pregou rebelião contra o Senhor, contra o seu D’us, que os tirou do Egito e os redimiu da terra da escravidão; ele tentou afastá-los do caminho que o Senhor, o seu D’us, lhes ordenou que seguissem. Eliminem o mal do meio de vocês.
Essa passagem apresenta um dos mais claros avisos da Toráh contra falsos profetas. A Toráh declara que mesmo se um profeta realizar sinais e maravilhas ou se falar e suas palavras se cumprirem, se ele fizer desviar o povo para adorar outros deuses, este profeta deverá ser eliminado. Este princípio marca a gravidade de introduzir ensinamentos que contrariem a Toráh do Eterno, independentemente da aparência de poder ou santidade desses profetas.
Nosso assunto é sobre falsos profetas, e devemos analisar um pouco mais a fundo esse conceito. Observe o termo hebraico para profeta.
- נָּבִיא – Navy – profeta
- נ – Nun = 50
- ב – Veit = 2
- י – Yud = 10
- א – Alef = 1
A palavra Navy tem o valor gemátrico 63 com a raíz 9. No alfabeto hebraico essa raiz equivale a letra Tet, e nos pictogramas essa equivale a “cesto”, “cobra” e “rodear”. Esses símbolos neste contexto apontam para prudência e vigilância. Também aponta para o Olam Habáh, pois é uma indicação para o nono milênio ou o início do tempo perfeito, ou seja, a vontade do Eterno em plenitude.
- שֶׁקֶר – Sheker - mentira
- ש – Shin = 300
- ק – Kuf = 100
- ר – Resh = 200
A palavra Sheker tem o valor gemátrico 600 com a raíz 6. No alfabeto hebraico essa raíz equivale a letra Vav, e nos pictogramas equivale a “prego” e “gancho”. Esses símbolos neste contexto apontam para o que a mentira faz com a pessoa, a prende no erro. A raíz 6 é uma indicação do homem, do sistema humano do erro que se utiliza da mentira.
Uma outra palavra que deve ser levada em consideração aqui é:
- אמת – Emet – Vardade.
- א = 1 - Alef
- מ = 40 - Mem
- 400 = ת - Tav
A palavra Emet tem o valor gemátrico 441 com a raíz 9, que já vimos acima os apontamentos. Dessa froma, vemos que 6 é a raiz da palavra mentira e o 9 é a raiz da palavra verdade.
Assim, a mentira é exatamente o oposto do que o profeta deve ser, que é falar a verdade do Eterno. Por esse motivo, HaShem estabelece na sua Torah o conceito de profeta verdadeiro e de falso profeta, que fala mentira.
No livro do profeta Yirmeyahu/Jeremias, encontramos um paralelo claro:
Assim diz o Eterno dos Exércitos: "Não ouçam o que os profetas estão profetizando para vocês; eles os enchem de falsas esperanças. Falam de visões inventadas por eles mesmos, e que não vêm da boca do Eterno. Vivem dizendo àqueles que desprezam a palavra do Senhor: ‘Vocês terão paz’. E a todos os que seguem a obstinação dos seus corações dizem: ‘Vocês não sofrerão desgraça alguma’. Jr 23:16-17
Com isso, vemos uma crítica aos profetas que proclamavam paz e prosperidade sem base na verdade divina, enquanto o exército babilônico estava vindo para cercar a cidade, revelando assim, como tais profetas enganam o povo e promovem falsas esperanças. Atualmente não é diferente! O sistema religioso desde o terceiro século tem enganado a muitos, colocando falsas esperanças de morada no céu, de um messias divino, de promessas de riquezas e prosperidade em detrimento da obediência às verdades das Escrituras. A advertência de Yirmeyahu reforça a necessidade de discernimento e vigilância para identificar e rejeitar as palavras daqueles que falam em nome do Eterno falsamente.
O Papel dos Profetas Verdadeiros versos Falsos.
Em Devarim/Dt 18:20-22, lemos:
Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe ordenei, ou que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto". Mas vocês perguntem a si mesmos: “Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor?” Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele.
A Toráh estabelece dois critérios importantes para distinguir entre profetas verdadeiros e falsos: a realização de suas palavras e o objetivo do profeta. Os profetas verdadeiros são aqueles que permanecem fiéis aos mandamentos de HaShem, cuja mensagem está alinhada com os mandamentos do Eterno e se o Eterno fizer algo por ele se cumprirá. Mas repare que, não basta saber se a palavra de um profeta se cumpre para distinguir se ele é verdadeiro ou falso. De acordo com o texto que lemos no item anterior, em Dt 13:1-5, se a intenção do profeta for desviar o povo da verdade ele é um falso profeta. E aqui em 18:20-22 suas palavras estarão em prova, se elas não se cumprirem ele é um falso profeta. Mas e se suas palavras se cumprirem e a intenção dele for desviar o povo? Por isso é necessário observar os dois critérios, e não apenas um. Os dois textos precisam andar juntos para termos a compreensão plena dos princípios estabelecidos pelo Eterno. Afinal, um falso profeta pode conseguir fazer algo que disse se cumprir, mas com isso levar o povo a se afastar do Eterno. Por isso Moshêh deixa claro como agir. Estes critérios são vitais para proteger a comunidade de ser desviada por líderes que introduzem doutrinas estranhas e enganosas.
Ezequiel 13:6-9 reforça essa distinção ao criticar os falsos profetas que profetizam sonhos enganosos e mantêm o povo na ilusão. A autenticidade de um profeta é medida não apenas pelas suas predições, mas também pela sua capacidade de confrontar a corrupção e promover a justiça, conforme a verdadeira Lei de D’us. A diferença entre verdade e engano é, portanto, uma questão de fidelidade às revelações divinas e à moralidade proposta pela Toráh.
A Influência dos Falsos Profetas no meio do povo.
A influência dos falsos profetas pode ser devastadora para o povo, conduzindo-a à desobediência e consequentemente, ao pecado. Devarim/Dt 13:6-11, no diz:
Se o seu próprio irmão ou filho ou filha, ou a mulher que você ama ou o seu amigo mais chegado secretamente instigá-lo, dizendo: "Vamos adorar outros deuses! " — deuses que nem você nem os seus antepassados conheceram, deuses dos povos que vivem ao seu redor, quer próximos, quer distantes, de um ao outro lado da terra — não se deixe convencer nem ouça o que ele diz. Não tenha piedade nem compaixão dele e não o proteja. Você terá que matá-lo. Seja a sua mão a primeira a levantar-se para matá-lo, e depois as mãos de todo o povo. Apedreje-o até à morte, porque tentou desviá-lo do Senhor, o seu D’us, que o tirou do Egito, da terra da escravidão. Então todo o Israel saberá disso; todos temerão e ninguém tornará a cometer uma maldade dessas.
Estes versos advertem que a influência de até mesmo, membros da família, que desviam as pessoas deve ser enfrentada com firmeza, evidenciando a gravidade da situação. A presença de falsos profetas pode minar a integridade espiritual e a coesão do povo, tornando essencial a implementação de medidas rigorosas para manter a pureza da fé. Por causa disso, atualmente tantos estão presos no engano, seguindo a dogmas e sem conseguir se desvencilhar, porque no passado não houve quem pudesse resistir aos ensinos e doutrinas que foram surgindo através dos famosos concílios.
O profeta Miquéias, no capítulo 3:5-7, critica os líderes que enganam o povo com falsas profecias e injustiças.
Assim diz o Eterno aos profetas que fazem o meu povo desviar-se; quando lhes dão o que mastigar, proclamam paz, mas proclamam guerra santa contra quem não lhes enche a boca: Por tudo isso a noite virá sobre vocês, noite sem visões; haverá trevas, sem adivinhações. O sol se porá para os profetas, e o dia se escurecerá para eles. Os videntes ficarão envergonhados, e os adivinhos constrangidos. Todos cobrirão o rosto porque não haverá resposta da parte de D’us".
Esta crítica reflete o impacto negativo de uma liderança corrupta, que não apenas desvia o povo do caminho da verdade, mas também se beneficia da exploração e da injustiça. O impacto corrosivo de tais líderes é uma ameaça direta à moralidade e ao bem-estar da comunidade. Quando olhamos para esse texto do profeta temos a oportunidade de observar o claro retrato do que ocorre atualmente com o sistema religioso, que caminha sem a palavras do Eterno, seguindo pensamentos e filosofias criados por homens e dizem que D’us lhes está mandando falar ou que lhes está guiando. No entanto, a palavra diz que eles estão nas trevas, não enxergam um palmo além de seus narizes, estão sem guia caminhando a ermo para a perdição.
A luz da Toráh nessa parashá serve de lanterna ou de lampião para quem está no escuro, mas deseja sair dessa prisão. Nossas palavras ecoam como as palavras dos profetas e devemos ser tão firmes como Moshêh instruiu aos israelitas que estavam para entrar em Kena’am. Não podemos permitir que palavras e ideias erradas nos tirem do caminho correto, enquanto nós mesmos somos luz para quem está perdido.
A Visão de Yeshua sobre os Falsos Profetas
Nesse contexto, podemos perceber que Yeshua como professa e obediente à Toráh, também aborda a questão dos falsos profetas, como está registrado na bessoráh/evangelho segundo escreveu Mateus, veja:
"Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Mt 7:15-20.
O Messias alerta contra aqueles que se apresentam como santos disfarçados de ovelhas, mas são, na verdade, predadores. Yeshua ensina a reconhecer os falsos profetas pelos frutos que eles produzem, isto é, pelas suas intenções, ações e comportamentos. Esse ensinamento ecoa a advertência da Toráh sobre a necessidade de discernimento para evitar a gravidade de seguir falsos guias espirituais.
Assim como a Toráh manda remover falsos profetas para proteger o povo, Yeshua instrui seus seguidores a avaliar as ações e os frutos dos profetas. Pois a mera aparência ou vontade de ser ovelha não faz uma ovelha. Veja o que Yeshua diz na sequencia:
"Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’ " Mt 7:21-23
Por tudo isso, a vigilância e a avaliação contínua de tudo e todos são cruciais para garantir que o povo permaneça alinhado com a verdade e os princípios divinos, protegendo-se assim da corrupção e deturpação de uma vida justa.
Concluindo assim nosso estudo sobre o impacto dos falsos profetas no meio do povo, revelamos um desafio contínuo para a integridade espiritual da comunidade de HaShem. A Toráh e os livros proféticos do TaNaK fornecem diretrizes rigorosas para identificar e enfrentar esses líderes enganosos, da mesma forma que os ensinamentos de Yeshua ressaltam a importância do discernimento e da fidelidade à verdade. A Toráh que o messias ensinou e praticou é a mesma que vemos nessa porção semanal, ambos estão ligados pelo mesmo mover, a saber, a vontade do Eterno. A proteção da pureza espiritual e da coesão do povo exige vigilância, discernimento e a implementação de medidas firmes contra aqueles que buscam desviar o povo de D’us. Através de uma análise crítica e cuidadosa dos textos bíblicos, podemos aprender a reconhecer e confrontar os falsos profetas e seus ensinos, garantindo que a verdade e a justiça permaneçam no centro da nossa vida espiritual.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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