Estudos da Torá
Parashá nº 8 – Vaiêshev (E habitou)
Bereshit/Gênesis Gn. 37:1 – 40:23
Haftará (separação) Am 2:6-3:8 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 14:1-15:39
1 - INTRODUÇÃO
A parashá Vayêshev tem inicio com a descrição do grande amor de Yaacov (Jacó) por seu filho Yosef (José), o que levou ao ódio de seus irmãos. O ciúme deles aumenta muito quando Yosef conta os dois sonhos demonstrando que seus irmãos serviriam a ele.
Yaacov envia Yosef para vigiar seus irmãos enquanto eles estavam tomando conta dos rebanhos longe de casa, mas ao vê-lo se aproximando intentam matá-lo. Reuven (Rubem) convence-os a não eliminarem Yosef, porém foi incapaz de salvá-lo e acabam vendendo como escravo aos ismaelitas que passavam por ali, que o levam ao Egito e o vendem a Potifar. Enquanto isso, os filhos de Yaacov sujam o casaco de Yosef de sangue e levam para o pai, que acredita que seu filho estava morto por ter sido atacado por um animal.
Passa-se à história de Yehudá e sua nora, Tamar.
E a Torá nos conta como Yosef estava no Egito, onde vive muitos anos como escravo, obtendo sucesso na casa de Potifar, até que a esposa deste tenta seduzí-lo, e por não conseguir, acaba inventando um ardil contra ele, que acaba preso.
Na prisão, Yosef por ser um bom homem, alcança a posição de liderança ficando encarregado pelos presos. Dez anos depois, o mordomo chefe e o padeiro do faraó são jogados na prisão. Em uma noite cada um tem um sonho, que é interpretado por Yosef. A previsão ocorre conforme havia sido dita, o padeiro morre e o mordomo volta à sua posição, mas esquece de Yosef por muito tempo.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
Essa porção da Torá inicia com a palavra “Vayêshev” (E habitou) mostrando para nós que Yaacov viveu na mesma terra que seu pai. Querendo mostrar para nós que é importante termos a referência de nossos pais, mas devemos trilhar nossos caminhos.
“E Jacó habitou na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã.” Gn 37:1
O autor do estudo sobre esta parashá, no site “Emunah a fé dos santos.com, comenta sobre esse verso, que existe uma diferença entre habitar e peregrinar. Um peregrino não tem uma morada fixa, está em constante movimento, de um lugar para outro, é um nômade. Agora Yaakov tem o desejo de assentar e deixar de ser peregrino. Quando um justo quer deixar de lutar para desfrutar da vida, está a tentar receber de antemão aquilo que virá a receber no mundo vindouro.
Mas o Eterno não permitiu isso, e aconteceu o problema com José. É necessário ter lutas nesta vida para poder estar são espiritualmente. Quando não há conflitos e tudo corre bem, há uma tendência para o relaxamento e adormecimento espiritual. Os problemas e as lutas mantém-nos alerta e obrigam-nos a buscar o Eterno a todo o momento. O Filho de Elohim aprendeu a obediência através dos sofrimentos, como lemos em Hebreus 5:8:
“ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu”
Por isso, aquele que pensa em fugir do sofrimento e dos problemas nunca aprenderá a obediência; aliás, os mesmos sofrimentos que passamos neste mundo, no presente século, produzem uma glória que permanecerá no mundo vindouro, como lemos em 2 Coríntios 4:17
“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;”
Em Romanos 8:16-18 está escrito:
“O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de YHWH; e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de YHWH e co-herdeiros do Messias; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada.”
Para ser herdeiro do mundo vindouro, há que padecer com o Messias. Quanto mais sofrermos agora, maior glória teremos então, como lemos em 1 Pedro 1:7:
“para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação do Messias Yeshua”
Hebreus 11:35b “uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição;”
Com isso, devemos realmente entender que as tribulações produzem em nós um peso de glória, pois nesses momentos precisamos nos apegar ao Eterno. Quando nos apegamos ao Eterno e às coisas do céu, nós crescemos e melhoramos a cada dia.
Agora repare, que no verso 2 vai falar sobre as gerações “toldot” de Yaacov, mas inicia falando de Yosef. Isso porque o foco da narrativa passa a ser Yosef, pois esse estava no centro das atenções de seu pai, em detrimento de todos os outros filhos mais velhos. Devemos aprender com a Torá que não devemos ter filhos preferidos, para que não venhamos ser injustos. E também devemos nos lembrar que esses acontecimentos são proféticos e não ocorreram por acaso.
O Midrash Rabá, uma coletânea de ensinos dos rabinos, nos diz: “Guardai-vos de fazer diferença entre vossos filhos e amai igualmente todos eles!”
Nessa parashá podemos perceber que, não só por causa da túnica talar, que Yaacov fez para Yosef, este foi detestado por seus irmãos, causando a discórdia entre toda a família, havia também outro motivo. Vejamos alguns pontos que podemos considerar sobre esses assuntos o qual a Torá nos traz.
À partir do verso 2 lemos:
“2 Estas são as gerações de Yaacov: Yosef, da idade de dezessete anos apascentava com seus irmãos as ovelhas, sendo ainda jovem, com os filhos de Bilá, e com os filhos de Zilpá, mulheres de seu pai. E trazia Yosef más notícias deles a seu pai. 3 E Yshrael amava a Yosef mais que a todos os seus filhos, porque filho da velhice era para ele; e fez-lhe túnica talar com mangas compridas. 4 E viram seus irmãos que seu pai amava mais a ele que a todos seus irmãos, e odiaram-no, e não podiam falar-lhe em paz.”
Podemos perceber que o texto não menciona os filhos de Lia, Rúbem, Judá, Simeão, Levi, Issacar e Zebulom. Fala dos filhos de Bilá e Zilpá, Yosef andava com estes, o que podemos inferir que talvez por um tempo, estes nada tinham contra o jovem irmão, já os mais velhos, filhos de Lia provavelmente já não tinha muito bom relacionamento com ele. Porém, como disse antes, por um tempo estes irmãos nada tinham contra ele, mas como lemos no verso 4, eles viram que seu pai amava mais a Yosef que a “todos” os seus irmãos. O jovem ainda lhes contou os sonhos que tivera e isso também gerou raiva neles. E todos os problemas aumentaram com o presente de Yshrael (Israel/Yaakov) para Yosef, a túnica.
Vejam o que o midrash, contado pelos antigos do povo de Israel, nos fala sobre o relacionamento entre Yossef e seus irmãos. Ele nos fala que, os doze filhos de Yaacov eram todos tsadikim (justos), mas Yossef era o mais especial dentre eles. Era um tsadic tão santo que o incomodava ver os outros cometer um erro, por menor que fosse. Por isso, sempre que Yossef notava alguma coisa que achava que seus irmãos faziam errado, ele contava a seu pai Yaacov.
O midrash continua, e diz que Yossef esperava que o pai repreendesse seus irmãos por suas falhas. Mas Yossef cometeu dois enganos: primeiro, deveria ter falado diretamente com seus irmãos para explicar-lhes o que tinham feito de errado; talvez eles o ouvissem. Segundo, muitas vezes, Yossef pensava que seus irmãos tinham errado quando, na realidade, eles tinham certa razão para agir daquela maneira.
Os rabinos ainda falam que os relatórios de Yossef para Yaacov incomodavam e preocupavam muito os irmãos. Eles achavam que o lashon hará (maledicência) de Yossef ao pai fazia parte de um plano para expulsá-los de casa e ficar sozinho no lugar deles. "Nosso pai Yaacov deve estar muito zangado conosco," preocupavam-se. "Ele pode nos mandar embora (como Avraham fez com Yishmael) e decidir que só Yossef merece ser seu sucessor como pai do povo judeu, porque ele é um tsadic (justo) maior que todos nós." Os irmãos percebiam que Yossef era o favorito de Yaacov. Eles pensavam que seu pai o amava porque ele acreditava no lashon hará (maledicência) que Yossef falava deles.
Na realidade, Yaacov tinha outras razões para seu amor especial por Yossef: ele era filho de Rachel, a principal esposa por quem Yaacov serviu a Lavan. Yaacov também via que Yossef, apesar de sua pouca idade, era um estudioso excepcional da Torá. Ele nunca saía do lado de Yaacov, tão grande era seu desejo de aprender Torá com o pai.
Yaacov decidiu honrar Yossef deixando claro para todos que ele era um filho especial. Comprou de um mercador um fino tecido de lã. Deste tecido, mandou fazer um bonito traje para Yossef.
Os irmãos ficaram ainda mais enciumados, porque o pai tratava Yossef de modo diferente.
Quando alguém é invejoso, não raciocina com clareza. Imagina que "é tratado com injustiça" e considera a pessoa que inveja seu inimigo. Foi isso que aconteceu com os irmãos de Yossef. Por terem ciúmes de Yossef, imaginavam que ele era um "inimigo" perigoso, que tentava prejudicá-los; estavam também convencidos de que tinham razão em puni-lo.
Por compreender que o ciúme é pernicioso, nossos Sábios costumavam rezar: "D'us, guarde-me de ter ciúmes dos outros e não deixe que os outros tenham ciúmes de mim." Em alguns sidurim, estas palavras são encontradas ao final da Amidá diária.
Talvez possamos refletir em tudo isso, e perceber que Yaakov poderia agir assim, pois se lembrava de como era Esav, que não tinha interesse nas coisas do Eterno, e por isso acabava dando mais atenção a Yossef, não que isso fosse correto, claro.
Por isso, aqui devemos parar e meditar em algumas situações práticas para nossas vidas, através dessa parashá.
1 - Os irmãos de Yosef tinham ciúmes dele com o pai, pois queriam a mesma atenção. Nunca podemos dar mais atenção a um e menos a outro filho. Precisamos saber dividir nosso tempo para todos os filhos. A reunião semanal para estudo das escrituras é um bom momento para isso, além de servir para lhes ensinar e admoestar (Dt 6.7; Ef 6.4). Também pode ser utilizado o dia de sábado para passeio com a família, a fim de se ter tempo de qualidade com eles, desde que não seja para fora da cidade em que residem.
2 - Yosef por passar mais tempo com o pai e por aprender mais a respeito das coisas de D’us, da administração dos bens e também a ler e escrever, era considerado justo por Yshrael, justamente por esse motivo ele trazia más notícias sobre os irmãos. Devemos vigiar a nossa língua para não praticarmos a “lashon hará” (maledicência, fofoca), achando que somos mais justos que outros, assim também, como não podemos permitir que nossos filhos comecem com isso, ao ficar trazendo más notícias uns dos outros (Sl 34.13; Pv 13.3; 21.23; Tg 1.26 e 1Pe 3.10). Quando temos um filho preferido e ele(a) começa a praticar “lashon hará” estará entrando por um caminho perigoso, e corremos o sério risco de sermos injustos com outros filhos.
3 - Será que tudo que os irmãos de Yosef faziam era errado? O que sabemos é que ele praticava a “lashon hará” e ainda por cima, em muitas vezes Yshrael o enviava para vigiar e trazer as notícias, incentivando assim o erro, e piorando a situação da discórdia familiar.
4 - Podemos até considerar que Yosef não fazia aquelas coisas por mal, pois não era de sua natureza um caráter maldoso. O que acontecia era que ele pensava estar fazendo a coisa certa, e assim, da mesma forma, muitas pessoas estão enganadas pensando estarem fazendo a coisa certa.
5 - A inveja e o ciúme podem deixar as pessoas cegas. E a cegueira impede a pessoa de ver que pode haver um espaço para comunicação e uma consequente resolução do problema. Veja que a inveja impediu os irmãos de Yosef de se comunicarem, e por causa de sua cobiça estavam tratando-o como uma coisa que podia ser descartada. E nesse contexto podemos destacar Rúbem e Yehudá, o primeiro não permitiu que o matassem dando a ideia do poço, e o segundo, para proteger-lhe a vida, idealiza vendê-lo aos Ismaelitas (versos 22 a 27).
6 - Nunca despreze os sonhos de alguém, pois eles podem ser o aviso do Eterno para algo que irá acontecer. Os irmãos de Yosef tomados pelos ciúmes desprezaram os sonhos que o Eterno dera a seu irmão, mas Yshrael seu pai guardava em seu coração. Sempre há propósitos para tudo nessa vida. Há situações que ocorrem para que possamos nos movimentar, saindo da inércia, a fim de evoluirmos e termos a oportunidade de fazer cumprir a vontade de HaShem em nossas vidas, e através de nós em outros também.
Claramente, a Torá nos mostra que as consequências do favoritismo dos pais podem ser desastrosas, e que é importante que os pais reconheçam as boas qualidades de todos os filhos, mesmo se um deles é especialmente exemplar. Assim também, quando nos lembramos que os outros são nossos irmãos, poderemos nos comportar de uma maneira que possa sobrepujar a inveja e a ira.
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771012/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- https://shemaysrael.com/parasha-vayeshev/
-http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/09-vayeshev_e_habitou.pdf
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